A prova do Enem e a falta de servidores para monitorar o desmatamento
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🔸 O Egito suspendeu ontem o processo de evacuação da Faixa de Gaza. Com isso, os 34 brasileiros inscritos na lista de saída continuam presos na região. “A gente está destruído. É cada dia pior do que o outro. A gente come uma vez por dia, não tem gás de cozinha. As coisas estão complicadas. Não temos água encanada, nem energia”, diz Hasan Rabeem, comerciante brasileiro que aguarda autorização. O Nexo conta que grupos de centenas de pessoas têm sido liberadas diariamente, mediante negociações entre autoridades.
🔸 “Atualmente, o Oriente Médio abriga uma das maiores populações de refugiados e deslocados internos do planeta”, escrevem Murilo Fagundes e Paula Vieira, especialistas em Direito Internacional, em artigo no MigraMundo. Segundo eles, em 2023, o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur) relatou que, na região, mais de 10 milhões eram refugiados e 20 milhões deslocados internos. As migrações têm impactos demográficos e econômicos – ao impulsionar o crescimento populacional em Israel, Jordânia e Líbano, os deslocamentos põem em xeque o desenvolvimento dos países, com a demanda por ajuda humanitária aos acolhidos. “O deslocamento humano é um desafio de longa duração com consequências devastadoras para os indivíduos, famílias e comunidades afetadas”, afirmam os especialistas.
🔸 Com mais de 3,9 milhões de inscritos, o Enem foi aplicado ontem em todo o país. Uma suposta imagem do exame circulava nas redes sociais pouco depois do início do exame. De acordo com o Terra, o possível vazamento da prova levou autoridades do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) a acionar a Polícia Federal. A página divulgada na internet tinha as orientações para a redação, que, neste ano, teve como tema os “Desafios para o enfrentamento da invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pela mulher no Brasil”. O portal também narra a história de um estudante que cruzou 40 km em cerca de uma hora e meia para chegar à prova do Enem em SP.
🔸 Cem mães e familiares de vítimas de violência do Estado vão receber formação, por meio de uma parceria do Movimento Independente Mães de Maio, da Conectas Direitos Humanos e do Centro Antropologia e Arqueologia Forense da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). “A ideia do projeto é tentar fortalecer os movimentos de defesa dos direitos humanos aqui do Brasil, especificamente com foco nas mães e nos familiares de vítimas”, afirma Javier Amadeo, pesquisador do Centro de Arquivologia e Antropologia Forense da Unifesp. A Ponte explica que as vítimas terão encontros regionais e nacionais com a participação de mães-ativistas de São Paulo, Rio de Janeiro, Bahia e Ceará.
📮 Outras histórias
Estudantes da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB), em Vitória da Conquista, fecharam as portas da instituição na semana passada, durante um dia de protestos. Eles pedem a reforma de laboratórios e da residência universitária e o reajuste nas bolsas de auxílio para a permanência dos estudantes na universidade. O Conquista Repórter traz a lista completa de reivindicações, que inclui a demanda por mudanças no programa de assistência estudantil do governo estadual. O “Mais Futuro” não tem reajuste nas bolsas há mais de seis anos.
📌 Investigação
“Eles diziam que eu não tinha Deus no coração. Que eu tinha que me adequar à religião deles. Que se eu não me adequasse, nunca ia ter a salvação para o vício que eu tinha. Mas que vício? Eu tinha depressão”, relata Jackeline Lopes, que foi interna do Centro de Assistência Social e Apoio Especializado Esdras, uma comunidade terapêutica fundada em dezembro de 2019 em Cajamar (SP). O Intercept Brasil revela que, além da conversão forçada para a fé evangélica, a instituição prendeu mulheres, torturou e ainda pediu apoio para a eleição do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). O Ministério Público de São Paulo identificou que no local funcionava uma “organização criminosa” que praticava os crimes de tortura e cárcere privado.
🍂 Meio ambiente
Há apenas cinco servidores dedicados exclusivamente ao Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) para monitorar o desmatamento no país. O Programa de Monitoramento da Amazônia e Demais Biomas Brasileiros conta com outros dez servidores concursados, mas em regime de dedicação parcial. Na Coordenação Espacial da Amazônia, centro do Inpe em Belém (PA) onde são gerados todos os meses os dados de alerta de desmatamento (Deter), há apenas um servidor concursado na área técnica. O Eco destaca que a maioria da equipe é formada por bolsistas do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). São 74 profissionais com graduação, mestrado ou doutorado, que recebem salários de, no máximo, R$ 5,5 mil e não possuem direito a outros benefícios trabalhistas.
📙 Cultura
“As marisqueiras cristovenses/ Exímias profissionais/ Uma profissão tão nobre/ Levam cestos ou bornais.” Os versos citados são de “Às Marisqueiras de São Cristóvão”, cordel escrito por Alda Santos Cruz. Mulher preta, idosa e nordestina, ela é uma voz feminina potente de uma das principais expressões culturais da literatura da poesia popular brasileira. O Meus Sertões conta que a cordelista, às vésperas de completar 94 anos, agora é homenageada no Centro de Excelência Manoel Messias Feitosa, escola pública de Nossa Senhora da Glória, no sertão sergipano. Seu nome estampa a Cordelteca Alda Cruz, espaço que busca conservar e popularizar a herança literária do cordel de Sergipe e do Brasil, especialmente os produzidos por mulheres.
Na Comunidade do Rosário dos Homens Pretos da Penha, na zona leste de São Paulo, nasceram as Pastoras do Rosário. O grupo musical formado por Dona Margarida, Lara de Jesus, Carla Lopes, Marlei Madalena, Sol Majestade, Sandrinha do Rosário, Wilma Ayó e Neuza de Lima traz a preservação da memória histórica e do legado da contribuição negra para a ancestralidade do país. Em texto para o Nós, Mulheres da Periferia, a artista e curadora Aline Bispo narra a trajetória e os detalhes da audição do lançamento do primeiro álbum das Pastoras do Rosário. “A presença de mulheres negras mais velhas e vivas nos mostra a beleza da ação do tempo, nos lembram da importância de coisas que aprendemos no chão de terreiro, sobre o respeito aos mais velhos”, escreve.
🎧 Podcast
Rios secos, mortandade de peixes e cidades cobertas por fumaças são alguns dos eventos extremos que assolam a Amazônia, em que os povos que mais sofrem também são os que menos causam a destruição. O último episódio da série “Guardiões e Guardiãs da Floresta: Direito Territorial e Clima na Amazônia”, do “Guilhotina”, podcast do Le Monde Diplomatique Brasil, busca compreender os impactos extremos das mudanças climáticas para comunidades tradicionais e também como elas atuam para tentar mitigá-los.
✊🏽 Direitos humanos
Entre 42 parlamentares federais entrevistados pela pesquisa “Além do Plenário”, quase 23% afirmam não conhecer a expressão “violência obstétrica”, mesmo existindo uma comissão na Câmara dos Deputados instalada para lidar com esse tipo de ataque à integridade física e mental de gestantes. Todos os entrevistados que disseram desconhecer o termo são homens. Segundo a revista AzMina, o questionário elencou oito condutas condenadas mundialmente e perguntava se eles consideravam como violência obstétrica. Alguns deles não viram problemas em algumas dessas práticas.