Promessas vãs, lobby e pistoleiros no Pará
Uma curadoria do melhor do jornalismo digital, produzido pelas associadas à Ajor. Novos ângulos para os assuntos do dia
Esta é a Brasis, nova newsletter da Associação de Jornalismo Digital (Ajor), que traz uma seleção diária do conteúdo produzido pelas nossas associadas. Eu sou Audrey Furlaneto, editora responsável. Muito prazer! Se você recebeu este e-mail é porque faz parte dos nossos membros, parceiros ou já participou do Festival 3i. Este é um produto que vem sendo pensado há meses, com muito carinho. Nessa curadoria, buscamos diferentes perspectivas para assuntos do dia e apresentamos casos desconhecidos da mídia tradicional, investigações aprofundadas e histórias de grande impacto local e nacional.
Espero que você goste e que a gente consiga dar ainda mais visibilidade para o jornalismo digital brasileiro. Agora, vamos para a primeira edição!
🔸 “Vai ter R$ 600 ano que vem.” Foi o que Bolsonaro disse na terça-feira, referindo-se à continuidade do programa Auxílio Brasil em 2023, segundo o Metrópoles, depois de um evento de campanha.
🔸 Não vai ter R$ 600 no ano que vem. É o que está escrito no Projeto de Lei Orçamentária Anual de 2023, encaminhado ao Congresso na tarde de ontem. A promessa de Bolsonaro não está no texto do Ministério da Economia. Lá, o valor programado para o ano que vem é outro. Ainda de acordo com o Metrópoles, a pasta chefiada por Paulo Guedes prevê o pagamento de R$ 405 mensais para 21,6 milhões famílias – quase R$ 200 abaixo do valor destinado hoje aos beneficiários.
🔸 Como os eleitores se posicionam sobre casamento homoafetivo? Para 69% dos potenciais eleitores de Lula (PT) e para 38% dos de Jair Bolsonaro (PL), é um direito. O Jota e o Instituto Brasileiro de Pesquisa e Análise de Dados ouviram 5 mil entrevistados sobre este e outros temas. As respostas inspiraram um jogo no site Nosso Papo Reto, uma iniciativa do Jota, que mostra que o diálogo entre apoiadores de candidatos opostos é possível.
🔸 Vale lembrar: a possibilidade de união estável entre LGBTQIA+ só foi possível por meio do Supremo Tribunal Federal. Ainda segundo o Jota, o Congresso Nacional nunca aprovou nenhuma lei sobre o tema.
📮 Outras histórias
“De mês em mês, os camponeses são atacados por pistoleiros mascarados que passam a noite inteira aterrorizando e dizendo que vão chegar mais grupos para acabar com todo mundo”, afirma a irmã Jane Dwyer, sucessora da missionária assassinada Dorothy Stang, em Anapu, no Pará. A região é marcada por um histórico sangrento de conflitos por terras. A Repórter Brasil relata a preocupação das famílias que vivem no Lote 96 – elas já sofreram três ataques desde maio.
📌 Investigação
Nutrindo o lobby. A Danone está tentando fazer com que seus produtos sejam recomendados pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Para isso, a empresa francesa, juntamente com seu setor de nutrição especializada, a Nutricia, e com uma consultoria mineira chamada LitHealth, elaborou um documento chamado “Sugestão para atualização e inclusão da 10ª diretriz da Política Nacional de Alimentação e Nutrição (PNAN)”, direcionada especialmente para crianças pequenas e idosos. Além do lobby direto no Ministério da Saúde por meio de consultores e ex-gestores da pasta, a Danone já conseguiu participar de uma Audiência Pública no Congresso. O Joio e o Trigo conta detalhes da investida da empresa e ouve especialistas que confrontam evidências da tal “nutrição especializada” proposta por ela.
📋 Checagem
“A primeira coisa é que eles têm que saber é que aqui tem vagabundo, aqui tem traficante, aqui tem bandido.” É falsa a frase atribuída a Lula, candidato do PT à Presidência. O Aos Fatos checou e conta que a declaração foi extraída de um vídeo de 2017, gravado numa visita do ex-presidente a uma ocupação em São Bernardo do Campo – e agora editado para suprimir a palavra “não” que aparece na fala original. O vídeo falso circula nas redes e ontem já passava de 54 mil interações no TikTok.
🍂 Meio ambiente
Dias de fogo. Entre 10 e 11 de agosto de 2019, a Amazônia viveu seu recorde de queimadas em único dia: foram mais de 3.350 focos de calor em 24 horas. Esses dados foram divulgados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e, logo em seguida, o episódio ganhou o nome de “Dia do Fogo”. O InfoAmazonia mostra imagens aéreas inéditas, feitas entre os dias 18 e 24 de agosto daquele ano, das chamas destruindo a floresta no sul do Amazonas. O jornal também revela que a taxa de desmatamento não para de subir, especialmente na chamada Zona de Desenvolvimento Sustentável do Abunã-Madeira, região que abrange pedaços dos estados do Amazonas, Acre e Rondônia.
Planejando a extinção. De 25 espécies de primatas mais ameaçadas de extinção no mundo, quatro estão no Brasil. É o caso, por exemplo, do zogue-zogue, natural da região do Mato Grosso: pesquisadores estimam que 42% das florestas em que a espécie vivia já foram destruídas. E não para por aí. Como mostra o site O Eco, já está previsto um complexo de hidrelétricas em seu habitat, além de parlamentares que tentam retirar o estado da Amazônia Legal para diminuir a área de vegetação nativa protegida.
📙 Cultura
Artista é profissão? Trabalhar no setor cultural envolve preconceitos e precarização das atividades. Pesquisador da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Gustavo Portella entrevistou profissionais da capital carioca de diferentes áreas para identificar como os trabalhadores sobrevivem. O Nonada acompanhou a análise dos resultados e mostra conclusões preocupantes para a cultura nacional, que já sofre com acesso a políticas de incentivo muito antes da pandemia.
🎧 Podcast
Por muito tempo, a ciência excluiu cobaias fêmeas de seus estudos – quem quer lidar com a variação dos ciclos hormonais do sexo feminino, afinal? E, assim, muito do que sabemos sobre o funcionamento do corpo humano foi construído a partir de estudos em cobaias machos, no caso das pesquisas com animais, ou indivíduos do sexo masculino. O quarto episódio do podcast Corpo Especulado, produção da revista AzMina, mostra como isso teve efeitos desde laboratórios até consultórios médicos.
🙋🏾♀️ Raça e gênero
Primeira professora travesti de uma escola no Distrito Federal, Andy da Silva Souza tem medo de tratar de assuntos como diversidade de gênero em sala de aula. “Tenho muito receio de abordar sobre tal tema e sofrer retaliações”, afirma Andy ao Portal Catarinas, na segunda reportagem do especial sobre Gênero na Escola. O texto mostra como a cruzada antigênero dos últimos anos resultou na autocensura de docentes em meio a uma atmosfera de medo e insegurança.
Em vídeo: como parte da primeira reportagem do especial, o Portal Catarinas explica por que as perseguições a professores são inconstitucionais e o que docentes podem fazer caso sejam alvos de censuras, ameaças ou perseguição.