A proibição do celular nas escolas e a venda de textos acadêmicos
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🔸 Este será o primeiro ano letivo sem celular nas escolas. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sancionou ontem a lei que proíbe o uso dos aparelhos em sala de aula na rede pública e na rede privada de ensino do país. Nos próximos 30 dias, o Ministério da Educação deve definir as regras para a aplicação da lei. Mas, como conta o Lunetas, desde o ano passado, as escolas já se mobilizam para reduzir o uso de celulares dentro das salas de aula e, mesmo antes da lei federal, ao menos 12 estados já tinham legislações ou orientações para proibir os smartphones no ambiente escolar. Diretor de uma escola privada em São Paulo, Max Franco lembra que não houve consenso na reunião de pais quando o celular foi proibido por iniciativa do colégio. “O principal argumento deles é a insegurança de não poder falar ou monitorar o filho o tempo todo”, afirma. A aluna Beatriz, de 12 anos, lembra como foi deixar o celular de lado na escola: “Eu fiquei chocada quando percebi que dá tempo de fazer um monte de coisas no intervalo, que eu nem sabia que era possível. Antes, muitas vezes eu nem comia para ficar no celular”.
🔸 Como o anúncio da Meta de dar fim ao programa de checagem de fatos afeta questões raciais? Em artigo na Alma Preta, Paulo Victor Melo responde: “Se mesmo com as políticas de moderação de conteúdo, já foi possível identificar as mulheres negras como maiores vítimas dos discursos de ódio no Facebook, o que esperar após o dono desta plataforma dizer que a moderação serviu para ‘silenciar opiniões, e excluir pessoas com ideias diferentes’ e que, por isso, quer ‘garantir que as pessoas possam compartilhar suas crenças e experiências’?”. Ele afirma ainda que “Mark Zuckerberg é uma das mais emblemáticas materializações do colonialismo digital” e destaca que a essência da Meta é a “acumulação e concentração de riqueza construída à base da exploração de territórios e corpos racializados, especialmente de países da África e América Latina”.
🔸 A propósito: o programa da Meta contra a desinformação surgiu em 2016, em meio às críticas às notícias falsas que ajudaram a levar Donald Trump ao poder. Então, “o Facebook anunciou às pressas um programa em que pagaria mensalmente agências de checagem para analisar as postagens virais que fossem denunciadas por usuários”, explica Natalia Viana, na newsletter “Xeque na Democracia”, da Pública. Segundo ela, os jornalistas apuravam as postagens e enviavam ao Facebook, que, por fim, decidia o que fazer com cada uma delas. “Ou seja: se houve ‘censura’, nome que a direita usa para edição, sempre foi o próprio Facebook que a praticou. Durante anos, foi justamente esse contrato com as agências de checagem que serviu para Zuckerberg tirar o seu da reta, em bom português, livrando-se de investigações do Congresso e da Justiça americana”, completa a jornalista.
🔸 Está confirmado: 2024 foi o ano mais quente da história e também o primeiro a superar 1,5°C acima dos níveis pré-industriais. O Colabora detalha os dados oficiais recém-divulgados pelo instituto europeu Copernicus e, quando se olha para as anomalias mensais da temperatura desde 1940, o segundo semestre de 2023 e o primeiro semestre de 2024 foram os mais quentes da série, sob o efeito do fenômeno El Niño. Agora, os climatologistas estimam temperaturas um pouco mais baixas em 2025 – com uma anomalia de 1,41ºC em relação ao período pré-industrial. Mas o início do ano já pode mudar essa expectativa: a primeira semana de 2025 foi mais quente do que o mesmo período de todos os anos anteriores.
🔸 Falando em meio ambiente: o fogo que devasta Los Angeles, nos Estados Unidos, já deixou 24 mortos e centenas de milhares de desabrigados. Em análise n’O Eco, Fabio Olmos mostra como incêndios devastadores estão conectados ao impacto histórico da atividade humana nos ecossistemas. No caso da Califórnia, o uso do fogo como ferramenta de manejo remonta a milhares de anos e moldou o ecossistema. Estudos mostram que povos antigos utilizavam o fogo para caça, agricultura e defesa, promovendo transformações ambientais em larga escala. Essa prática, combinada à extinção da megafauna, criou ecossistemas mais inflamáveis, como os de hoje.
📮 Outras histórias
“Minha avó me ensinou, depois minha mãe, e agora compartilho com meus filhos.” Maria Helena, mais conhecida como Dona Boba, se refere ao trabalho com a palha de carnaúba, um produto tradicional na região onde mora, no litoral do Ceará. Ela e outras mulheres nas comunidades de Jirau e Cabreiro, em Aracati, trabalham com o produto para criar peças de artesanato. A Eco Nordeste conta que elas fazem parte do Projeto Carnaúba e Desenvolvimento Sustentável, que ofereceu treinamento a 40 mulheres da região. As peças criadas por elas chegaram a eventos de destaque, como a São Paulo Fashion Week. Por meio das vendas, aliás, Dona Boba já conseguiu reformar a casa e agora sonha em comprar um carro.
📌 Investigação
Falsidade ideológica e violação de direitos autorais são alguns dos crimes que marcam o mercado paralelo de monografias, artigos científicos e trabalhos de conclusão de curso. Por R$ 80, é possível encomendar um texto acadêmico de 20 páginas em sites de “bicos digitais”, como VintePila, em classificados de internet , como OLX, ou em plataformas especializadas, como StudyBay e TCC Nota 10. A Repórter Brasil destaca que as irregularidades ocorrem quando o contratante se apresenta como autor de uma obra feita por um terceiro. Em seus termos de uso, a StudyBay afirma que a conclusão da venda termina com a transferência dos direitos autorais para o solicitante – uma prática que não é completamente validada pela legislação brasileira.
🍂 Meio ambiente
Com o objetivo de escoar a produção de commodities do Mato Grosso, três projetos de ferrovias têm investimentos que ultrapassam bilhões de reais: a Ferrovia Vicente Vuolo, que será a primeira do segmento estadual no País, a Ferrogrão, e a Ferrovia de Integração Centro-Oeste (Fico). Segundo a Cenarium, o traçado ferroviário corta a Amazônia, o Cerrado e o Pantanal, preocupando especialistas. Mesmo na fase de projeto, os empreendimentos já estimulam o desmatamento na região. “Nós precisamos lembrar que em um estudo publicado no Scientific Reports aponta que alguns estados amazônicos, como Mato Grosso, podem fomentar o surgimento de uma nova pandemia, através de saltos zoonóticos que surjam por conta da degradação ambiental”, afirma o biólogo e pesquisador Lucas Ferrante.
📙 Cultura
“As narrativas sobre a Amazônia que estão em vigor, ao meu ver, são saturadas. O público precisa e anseia novas narrativas e novas formas de contar as histórias da Amazônia. Mas não existe esse espaço, a gente não consegue encontrar esse espaço dentro dos streamings e dentro dos festivais pelo Brasil”, afirma Rodrigo Aquiles, diretor e montador cinematográfico. O Nonada mergulha no cinema independente produzido no Norte do país e revela como as produções abordam questões sociais e culturais locais sem os estereótipos e as perspectivas exóticas que costumam ser difundidas sobre a região. Para além da floresta, os cineastas nortistas narram a complexidade da vida urbana, as lutas dos povos tradicionais e a relação dos povos amazônicos com a crise climática.
🎧 Podcast
Vencedor do Prêmio Jabuti na década de 1990 com seu livro de estreia, o poeta Carlito Azevedo encara a poesia como uma experiência que transforma, passando de uma expressão pessoal para se tornar um movimento vivo de reinvenção. No “451 MHz”, produção da Quatro Cinco Um, Azevedo fala sobre sua nova coletânea “Vida: efeito-V”, marcada pelas rupturas dos últimos oito anos de sua trajetória. “Na Rocinha, em Manguinhos e no Complexo do Alemão, vivi uma revolução. Não era só ensinar poesia; era ver como aqueles olhares reinventavam tudo que eu trazia, transformando cada texto, cada imagem, em algo que me devolvia uma nova forma de existir”, conta sobre as oficinas que ministrou em diversas comunidades do Rio de Janeiro.
👩🏾🏫 Educação
Cerca de 37,9% das crianças da cidade de São Paulo não estão na idade prevista, de 7 anos, segundo o “Índice Criança Alfabetizada 2023”, divulgado pelo Ministério da Educação (MEC) e pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). A Agência Mural mostra como a pandemia trouxe uma lacuna de aprendizado para uma geração em fase de alfabetização. “Essas crianças, que hoje têm 10, 11 anos, estavam naquele momento crucial da alfabetização, mas tiveram seu aprendizado completamente deixado de lado”, explica Fernanda Renner, professora alfabetizadora e coordenadora pedagógica do Pró-Saber São Paulo, organização que atua em Paraisópolis. “Hoje, quatro anos depois, ainda encontram dificuldades em compreender o sistema de escrita, não dominam o sistema alfabético e não conseguem ler de forma convencional.”