O aumento de processos por racismo e os cigarros eletrônicos no país
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🔸 Acusado de matar Marielle Franco, Ronnie Lessa fez acordo de delação premiada com a Polícia Federal, segundo informações do jornal O Globo. Se homologado, este será o segundo acordo dos investigadores da PF no caso da execução da vereadora carioca, brutalmente assassinada em 14 de março de 2018. O primeiro foi feito com Élcio Queiroz, motorista que conduzia o carro de onde Lessa fez os disparos. A CartaCapital lembra que, na delação, Queiroz confirmou que o ex-policial executou Marielle e alegou ainda que a motivação dele seria pessoal.
🔸 Em 14 anos, os processos por racismo e intolerância religiosa cresceram 17.000%. Segundo levantamento do JusRacial, só em 2023 foram cerca de 176 mil ações em todas as instâncias da Justiça. A Alma Preta detalha os números da pesquisa, mostra as leis criadas para frear os casos no país e lembra que, quando o primeiro levantamento foi divulgado, em 1997, foram identificados apenas nove processos de racismo e intolerância religiosa no período entre 1951 e 1996 – cerca de dois registros por década. “O ingresso da questão racial na agenda pública do país fez com que as pessoas fossem se sentindo mais encorajadas a buscar o sistema de justiça para reclamar violações de direitos”, afirma o advogado e fundador do JusRacial, Hédio Silva Jr.
🔸 “Temos sempre presenciado democracias profundamente falhas. São democracias que estiveram ativamente engajadas com a exclusão, que têm coexistido com a escravidão, com a colonização e com o genocídio indígena. São democracias que coexistiram e foram moldadas pela supremacia branca.” A socióloga e ativista Angela Davis discorreu sobre democracia, branquitude e presídios numa palestra agora transcrita no livro “Democracia para Quem?”, que também reúne apresentações de Patricia Hill Collins e Silvia Federici. O Nexo traz a palestra de Davis publicada no livro recém-lançado pela editora Boitempo.
🔸 Cerca de 60 deputados vão disputar prefeituras pelo país neste ano. Levantamento do Congresso em Foco mostra que as pré-candidaturas se concentram no Partido dos Trabalhadores (PT), do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e no Partido Liberal (PL), do ex-presidente Jair Bolsonaro. Como ainda não foram oficializadas, as candidaturas podem aumentar ou diminuir, a depender dos acordos e alianças partidárias que devem se estabelecer até o mês de abril. O ex-ministro Ricardo Salles (PL), por exemplo, se diz pré-candidato à prefeitura de São Paulo. Seu partido, porém, ainda está dividido sobre a cidade.
📮 Outras histórias
Na tragédia de Brumadinho (MG), cinco anos atrás, Helena Taliberti e Vagner Diniz perderam os dois filhos, a nora e o neto que iria nascer. Os dois participaram das primeiras reuniões da Avabrum, a associação dos familiares das vítimas que cobra respostas do desastre causado pela Vale na cidade mineira. Em entrevista ao Projeto Preserva, Vagner Diniz critica o memorial criado pela empresa (sem a escuta dos moradores e vítimas) e a falta de ações concretas para prevenir novas tragédias. “Não dá para continuar do jeito que está, porque, se continuar desse jeito que está, vai acontecer de novo. Praticamente nada foi feito do ponto de vista de legislação, do ponto de vista de fiscalização e barragens com alto risco de rompimento continuam existindo”, afirma Diniz.
📌 Investigação
O Ministério das Relações Exteriores tem tentado dialogar diretamente com big techs no Vale do Silício, nos Estados Unidos, para melhorar a interlocução sobre política digital, como regulações de plataformas digitais e inteligência artificial. As empresas, porém, apresentam resistência em debater o tema. É o que revelam telegramas consulares obtidos pelo Núcleo. Países da América do Norte e Europa que estão na liderança tecnológica global avançam nos debates sobre essas políticas sem a participação dos países do Sul Global. “[Elas] tentam vender o próprio peixe e articular uma agenda que seja do interesse delas para mostrar uma parte positiva, quando o que se discute é muito mais abrangente”, afirma o diplomata Eugênio Garcia, que representa o Itamaraty no Vale do Silício.
🍂 Meio ambiente
“Não podemos depender do Estado. Eles fazem uma operação, depois os garimpeiros vão para outro rio, mas ainda em terras protegidas. Temos que falar da destruição deles. Eles acabam com tudo, perturbam a gente, trazem bebida, acabam com as comunidades”, afirma Jacir de Souza Macuxi, liderança da Terra Indígena Raposa Serra do Sol, em Roraima, e um dos responsáveis pela criação de uma das maiores organizações indígena do país, o Conselho Indígena de Roraima (CIR). À InfoAmazonia Jacir relata os longos 34 anos que levou para que o território onde vive fosse demarcado e como o garimpo impacta a vida dos povos indígenas.
📙 Cultura
Até a década de 1960, o mamulengo – teatro popular de bonecos nascido no Nordeste – era presença obrigatória nas grandes festas de rua em Pernambuco. Nos anos 1970, porém, a tradição entrou em decadência, com a morte de muitos mestres e a pouca entrada de novos brincantes. A revista O Grito! conta que, em Glória do Goitá, na Zona da Mata Norte pernambucana, Cida Lopes, de 34 anos, filha do mestre mamulengueiro, Zé Lopes, desenvolveu o projeto Pequenos Brincantes, que busca formar as crianças artistas que brincam mamulengo, cavalo-marinho e maracatu de baque solto, para não deixar que a tradição acabe.
🎧 Podcast
“A pedagogia desenvolvida nas prisões me tornou a professora que sou hoje.” A professora e pesquisadora de Artes Cênicas Viviane Narvaes atua desde o início de sua carreira em projetos que levam o teatro para dentro do sistema carcerário, que resultou na tese de doutorado: “O Teatro do Sentenciado de Abdias Nascimento: Classe e Raça na Modernização do Teatro Brasileiro”. O “Guilhotina”, produção do Le Monde Diplomatique Brasil, recebe Narvaes para conversar sobre o teatro desenvolvido pelo ator, dramaturgo e ativista Abdias do Nascimento no período em que passou encarcerado na penitenciária do Carandiru, em São Paulo, nos anos 1940.
🧑🏽⚕️ Saúde
Apesar da proibição da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e dos danos à saúde, os cigarros eletrônicos, conhecidos como “vape”, estão cada vez mais comuns entre os jovens, como detalha a Agência Mural. “O pod trouxe muita gente pra essa vida [tabagismo]. Eu conheço muita gente de 13, 14, 15 anos que usam sem se preocupar em esconder dos pais. O uso dos vapes é muito menos perceptível”, afirma Nicoly (nome fictício), de 19 anos. Segundo pesquisa da Fapesp, 80% dos jovens entre 18 e 34 anos já consumiram cigarros eletrônicos ao menos uma vez; na faixa dos 18 aos 24 anos, um em cada cinco jovens já fez uso do dispositivo.
Não sei qual é a das duas situações é pior para nossa juventude: vape ou bet.