As prisões por racismo no futebol e o vazamento de petróleo em Belém
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🔸 Na primeira condenação do país com base na Lei Vini Jr., o torcedor do Coritiba Alcione Tessari recebeu pena de três anos e 28 dias por injúria racial contra o fotojornalista Franklin de Freitas, durante um jogo em abril de 2024. A condenação inclui multa e indenização de R$ 2 mil por danos morais. A Alma Preta explica que a lei, sancionada em Curitiba no final de 2023, é uma resposta legal e simbólica ao racismo em ambientes esportivos e teve peso direto na sentença, segundo o juiz responsável, que considerou a existência de campanhas públicas contra o racismo nos estádios como agravante da culpa do réu.
🔸 A propósito: preso em flagrante por injúria racial contra outro atleta em campo, o jogador Miguelito, do América-MG, foi solto ontem depois de receber liberdade provisória da Justiça do Paraná. O meia boliviano havia sido preso no domingo numa partida contra o Operário Ferroviário, em Ponta Grossa. O Portal Boca no Trombone conta que o juiz entendeu que não havia elementos suficientes para manter o atleta preso preventivamente. O magistrado também determinou que o Ministério das Relações Exteriores solicite os antecedentes criminais de Miguelito à Bolívia e requisitou informações sobre registros em Minas Gerais, onde ele atua profissionalmente. O crime de injúria racial pode levar a mais de quatro anos de prisão.
🔸 O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) demitiu Cida Gonçalves do Ministério das Mulheres e anunciou que o cargo passa a ser ocupado por Márcia Lopes. Será a segunda passagem da petista pela Esplanada dos Ministérios – em 2010, sob o segundo mandato de Lula, ela foi a titular de Desenvolvimento Social e Combate à Fome. A CartaCapital resgata a trajetória da nova ministra, paranaense mestre em Serviço Social. Filiada ao PT desde os anos 1980, Lopes também foi vereadora em Londrina (PR) e presidenta da Rede de Pobreza e Proteção Social do BID. Recentemente, integrou a equipe de transição do governo e é irmã de Gilberto Carvalho, aliado histórico de Lula.
🔸 Aliás… Desde o início do governo, Lula já fez 12 trocas entre os 37 ministérios. As mudanças, no entanto, pouco alteraram a representatividade partidária, mostra o Congresso em Foco. Na dança das cadeiras, partidos como PT, União Brasil, PDT, PCdoB e PSOL mantiveram o mesmo espaço, e o PSB perdeu uma pasta com a saída de Flávio Dino para o Supremo Tribunal Federal (STF). Apenas Republicanos e PP ganharam um ministério a mais cada. Entre os principais motivos das mudanças estão pressões políticas, críticas internas e denúncias. Gonçalves Dias, por exemplo, deixou o GSI após ser flagrado com golpistas em 8 de janeiro de 2023; Juscelino Filho, das Comunicações, foi denunciado por corrupção; Carlos Lupi saiu da Previdência após investigações de fraudes.
📮 Outras histórias
Os casos de violência escolar no Nordeste quintuplicaram nos últimos dez anos. O problema é maior no Ceará, onde houve um aumento de 943% no mesmo período – o maior salto proporcional entre todos os estados brasileiros. É o que mostra levantamento da Agência Tatu a partir de informações do DataSUS. Segundo o Ministério da Saúde, o filtro “escola” inclui diversos ambientes educacionais, como universidades, colégios, creches, escolas públicas e privadas. As violências mais comuns são as físicas, mas também há registros de casos psicológicos e sexuais. A reportagem mostra o que os estados nordestinos estão fazendo para mitigar o problema. O Ceará, por exemplo, aprovou uma resolução com diretrizes de cultura de paz, justiça restaurativa e combate a preconceitos nas escolas.
📌 Investigação
Empresa de anabolizantes clandestinos, a Redshark usa anúncios nas redes da Meta e perfis em redes como TikTok, YouTube e Instagram para impulsionar promoções de esteroides e promover o uso de substâncias ilegais. O comércio de hormônios sem receita é proibido no Brasil e a prescrição médica para fins estéticos ou esportivos é vedada pelo Conselho Federal de Medicina. O Núcleo identificou, no entanto, cerca de 1.240 anúncios da empresa no Facebook e no Instagram promovendo seus produtos. A Redshark consegue driblar a moderação de anúncios das plataformas por meio de uma tática chamada de “contingência”, em que são usadas diferentes contas de propaganda, separadas do “perfil oficial”, para impulsionar os anúncios. Se uma delas ou o perfil principal caírem, é possível que a publicidade siga circulando nas redes sociais e os clientes sejam captados.
🍂 Meio ambiente
Ribeirinhos da ilha de Caratateua, em Belém, denunciaram vazamento de petróleo por um navio ancorado no Terminal Portuário de Outeiro. As imagens feitas pelos moradores da região mostram a água escurecida. A revista Cenarium conta que os pescadores artesanais não conseguem trabalhar mais: os matapis – armadilhas feitas com fibra da palmeira Jupati, usadas na pesca de camarões –, redes de pesca e cercas aquáticas foram cobertos pelo óleo. Há receio de contaminação mais profunda do solo e da água, o que pode prejudicar a biodiversidade por tempo indeterminado. “A nossa ilha é ferida por um crime ambiental que escancara o descaso com os territórios insulares e com quem vive aqui. O vazamento de óleo não foi apenas uma mancha na água. Foi uma ameaça à saúde, à pesca, à dignidade”, afirma o ambientalista João do Clima, morador de Caratateua.
📙 Cultura
“Desde 2008, Lady Gaga vem criando universos nos quais todes somos bem vindes, onde podemos ser quem quisermos, onde podemos escolher quem queremos ser. E esse sentimento de pertencimento ebulia por toda a praia de Copacabana”, escreve o jornalista e pesquisador Leonardo Rodrigues, em artigo na revista O Grito!. A cantora retornou ao Brasil após dez anos para se apresentar no Rio de Janeiro, num show que reuniu cerca de 2,5 milhões de pessoas na praia de Copacabana. O Farofafá detalha a apresentação, dividida em quatro atos e um epílogo – um “grande espetáculo cênico”, segundo o jornalista Eduardo Nunomura. “A integração entre a música e a cenografia não foi um simples acompanhamento para uma popstar, mas a razão de ser de uma narrativa performática complexa e envolvente com sua plateia. Cada ato, cada canção, era um fragmento de teatro em essência, concebido para impactar não apenas os ouvidos, mas também os olhos e a imaginação.”
🎧 Podcast
As commodities, como soja e milho, estão no centro dos sistemas alimentares – produção, distribuição, consumo e reaproveitamento dos resíduos – no Brasil. Relacionado com a concentração de terra e renda, esse modelo é responsável também por prejuízos socioambientais, devido ao uso de agrotóxicos e à perda de biodiversidade. “Vivemos uma situação que chamam de sindemia global. São várias pandemias: o modelo de produção que usamos provoca as mudanças climáticas, junto a uma questão de saúde, em que não conseguimos combater a fome ainda porque não conseguimos distribuir isso para todos, e, ao mesmo tempo, promovemos a obesidade e as doenças não transmissíveis”, afirma Francine Teixeira Xavier, cofundadora e diretora do Instituto Comida do Amanhã. O “Entrando no Clima”, produção d’O Eco, conversa com a gastrônoma e pesquisadora sobre a transição para sistemas alimentares mais saudáveis, sustentáveis e inclusivos.
🧑🏽⚕️ Saúde
Mais de 60% dos brasileiros evitam procurar atendimento médico quando precisam, segundo o primeiro módulo da pesquisa “Mais Dados Mais Saúde”, que ouviu 2.458 pessoas entre agosto e setembro de 2024. A Agência Bori mostra os principais motivos: superlotação e demora no atendimento (46,9%), burocracia no encaminhamento (39,2%), o hábito da automedicação (35,1%) e a crença de que o problema de saúde não era grave (34,6%). O levantamento mostra que há uma sobrecarga no sistema, mas também um comportamento recorrente de recorrer a soluções não médicas, o que pode agravar quadros simples. “São necessárias melhorias que garantam investimentos contínuos e aprimoramento dos serviços para promover maior equidade no cuidado à saúde da população”, afirma Luciana Sardinha, diretora-adjunta de doenças crônicas não transmissíveis da Vital Strategies, uma das organizações condutoras do estudo.