A prisão de Fernando Collor e os primeiros meses sem celular nas escolas
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🔸 O ex-presidente Fernando Collor de Mello foi preso hoje em Maceió (AL) pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Ele foi condenado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) em 2023 a 8 anos e 10 meses de prisão em um desdobramento da Operação Lava Jato. Ontem, o ministro Alexandre de Moraes rejeitou os últimos recursos de sua defesa, informa o Congresso em Foco. A decisão ainda será analisada pelo plenário do STF. O ex-presidente é acusado de receber R$ 20 milhões em propinas para beneficiar contratos da BR Distribuidora. Ele perdeu bens, pagará multa e está inabilitado para cargos públicos.
🔸 O presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), decidiu não pautar ainda o PL da anistia, que prevê perdão aos envolvidos nos ataques golpistas de 8 de janeiro de 2023. Segundo ele, líderes de bancadas que somam cerca de 400 deputados consideram prematuro levar o tema ao plenário. Motta afirmou que manterá o diálogo, mas que “não há consenso sobre o assunto”. A CartaCapital conta que ontem líderes do Centrão decidiram retirar o apoio ao projeto de lei. Embora muitos tenham assinado o pedido de urgência, a avaliação interna é que o texto tem pouca força política, traria desgaste com o STF e teria vida curta no Congresso. PSD e Republicanos puxaram o recuo.
🔸 Em discussão no Senado, o novo Código Eleitoral propõe unificar sete leis em um único texto e traz mudanças relevantes no combate à desinformação, no uso de inteligência artificial em campanhas, nas regras para cotas de gênero e na participação de agentes de segurança nas eleições. A Lupa explica os seis pontos que estão em jogo nos debates do novo código. Um dos principais tópicos é o endurecimento das punições para quem divulgar fake news e conteúdos que coloquem em risco a integridade do processo eleitoral. A pena pode chegar a quatro anos de prisão, além de multas que podem alcançar R$ 120 mil. O projeto também responsabiliza plataformas digitais de forma solidária, caso não tomem medidas para conter a disseminação de mentiras.
🔸 Sete em cada dez vereadoras eleitas nas capitais brasileiras se declaram cristãs. Das 179 mulheres eleitas para as câmaras municipais, 125 se identificam com o cristianismo: 55 são católicas, 47 evangélicas e 23 de identidade cristã não especificada. A Agência Pública obteve acesso a um levantamento inédito do Instituto de Estudos da Religião (Iser), que mapeou a identidade religiosa das eleitas. Quando se cruza dados de religião com raça, as vereadoras cristãs são predominantemente mais brancas, 55,86% frente a 43% negras. A maioria das evangélicas pertence a igrejas pentecostais e está filiada a partidos de direita. Já entre as afrorreligiosas, o perfil é majoritariamente negro e vinculado à esquerda. Para Magali Cunha, pesquisadora do Iser, o percentual de candidatas que se identificam como cristãs sem declarar denominação reflete a estratégia de tentar ampliar o eleitorado sem polarizar.
📮 Outras histórias
Um super-herói capoeirista enfrenta um vírus que gera ódio entre as pessoas em Salvador. Este é o mote de “A Lenda do Badauê”, folheto ilustrado de Eddy Azuos. Aos 35 anos, morador do bairro de Paripe, no subúrbio ferroviário de Salvador, ele é artista, ilustrador, publicitário e designer. A Entre Becos conta que Eddy pensou no projeto a partir da polarização política intensificada durante as eleições de 2018. “Tentei imaginar uma resposta para a violência daquela disputa eleitoral. Muitos artistas buscaram responder, de forma mais lúdica. Quando estamos sob pressão social forte, aí é que os artistas aparecem. Quis dar minha contribuição”, diz o artista, que homenageia o mestre Moa do Katendê, assassinado em 2018. “Queria um personagem preto, que lutasse contra o mal, uma coisa bem clichê da ficção de desenho animado, mas que fosse com nossa cara.” Eddy agora busca apoio para imprimir os folhetos e lançou uma campanha de financiamento coletivo na internet.
📌 Investigação
Apesar do alto número de eventos climatológicos registrados na Amazônia Legal em 2024, como estiagens e secas, os desastres hidrológicos – alagamentos, enxurradas e enchentes – foram mais frequentes nos últimos 28 anos. A InfoAmazonia analisa que a região está cada vez mais vulnerável aos desastres naturais influenciados pelas mudanças do clima. Entre 1995 e 2024, houve um aumento de 1.789% nos registros de eventos climáticos na Amazônia: foram 1.425 ocorrências no ano passado, contra 37 no início da série histórica do Sistema Integrado de Informações de Desastres da Defesa Civil. As zonas costeiras, como a Foz do Amazonas, são as principais áreas de vulnerabilidade: cerca de 29% dos municípios estão sob risco de inundação. As comunidades locais têm relatado alterações frequentes na Foz do Amazonas, como invasão salina, inundações, erosão e acreção.
🍂 Meio ambiente
O desmonte e a fragilidade de estruturas e instrumentos estatais de planejamento urbano contribuem para agravar os danos de eventos climáticos, como a cheia histórica de 2024 no Rio Grande do Sul, como mostra o estudo “Diretrizes do Planejamento Urbano e Regional para Uma Transição Sociotécnica Resiliente na Região Hidrográfica do Guaíba”, realizado por 13 pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. A “Climática”, newsletter do Matinal, explica as relações entre a precarização das políticas públicas de planejamento urbano e o desastre ocorrido. “A Metroplan [Fundação Estadual de Planejamento Metropolitano e Regional] foi toda desestruturada e desmobilizada. Era uma fundação que se preocupava justamente com o olhar sobre toda a Região Metropolitana e um dos assuntos era a prevenção das inundações, um problema recorrente dessa região”, afirma a pesquisadora Luciana Miron.
📙 Cultura
Nas Olimpíadas de Paris, no ano passado, o uniforme da delegação brasileira foi ornamentado por bordados de Seridó, patrimônio cultural imaterial do Rio Grande do Norte. Trazido pelas esposas de colonizadores portugueses no início do século 18, a técnica é símbolo de identidade da região do Seridó, presente em 12 municípios do Sertão potiguar. Na série “Tamborim”, a Cajueira reúne bens e tradições que são patrimônio cultural imaterial do estado, das festividades, como o Carnaval de Caicó e a Festa do Bom Jesus dos Navegantes, à culinária, como ginga com tapioca e o grude de goma de Extremoz. Esta, por sua vez, preserva suas raízes afroindígenas da região, passada de geração em geração. A receita é feita com goma de mandioca e coco ralado, cozida no fogo à lenha, em formas de palha de coqueiro e folhas de banana.
🎧 Podcast
A derrota por 7 a 1 para Alemanha na Copa do Mundo de 2014 quase faliu uma pequena editora independente, a Lote 42. Fundada um ano e meio antes, a empresa tinha seis livros no catálogo e aproveitou a euforia da competição para uma estratégia de marketing diferente: a cada gol que o Brasil levasse, seria oferecido 10% de desconto nas obras. Os donos da Lote 42, Cecilia Arbolave e João Varella, estavam preparados para a eventualidade da seleção sofrer até quatro gols. O “Rádio Novelo Apresenta”, produção da Rádio Novelo, narra a história do dia em que milhares de pessoas conheceram a editora e extravasaram o gosto da derrota – que se tivesse sido por mais um gol teria levado a loja à falência. “Foi uma demanda absurda. Muita gente ao mesmo tempo querendo comprar. E tinha gente querendo comprar, não sabia nem o que era”, conta Varella.
💆🏽♀️ Para ler no fim de semana
“Tudo no celular é fácil, manipulável e responde a todo o prazer da criança. A aprendizagem sistematizada escolar exige da criança um tempo maior; exige uma dedicação e habilidade que não está sendo adquirida por conta dos vídeos de 15 segundos de plataformas como o TikTok”, afirma a psicopedagoga Flávia de Souza. Quase metade dos jovens brasileiros se declaram viciados em celular, segundo levantamento do Instituto Papo de Homem, em parceria com a Natura e com o Pacto Global da ONU no Brasil. O Colabora destaca que a dependência dos smartphones pode ser semelhante à adicção por substâncias psicoativas, com prejuízos como irritabilidade e ansiedade quando o acesso é restrito, quadro observado nos primeiros meses do ano letivo de 2025, o primeiro com celulares proibidos nas escolas.