A prisão domiciliar de Bolsonaro e os 'caprichos e relaxos' da Flip
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🔸 O ministro Alexandre de Moraes determinou ontem a prisão domiciliar de Jair Bolsonaro (PL) por “flagrante desrespeito” a medidas cautelares impostas. A medida foi tomada depois de o ex-presidente falar por celular com manifestantes em Copacabana, no Rio de Janeiro, durante as manifestações no último domingo. O senador Flávio Bolsonaro, colocou o pai para falar no viva-voz brevemente e, depois, fez uma postagem no Instagram – que apagou. A Agência Pública destaca que, na decisão, o ministro afirma que Bolsonaro quebrou a medida cautelar imposta em 18 de julho para divulgar mensagens de “claro conteúdo de incentivo e instigação a ataques ao Supremo Tribunal Federal e apoio ostensivo à intervenção estrangeira no Poder Judiciário brasileiro”. A Polícia Federal cumpriu a ordem de prisão e apreensão de celulares em sua casa no fim da tarde de ontem, em Brasília. Bolsonaro não poderá receber visitas sem autorização judicial. Seu julgamento está previsto para setembro.
🔸 A decisão de Moraes impõe novas medidas cautelares ao ex-presidente, réu no STF por tentativa de golpe em 2022. O Metrópoles explica que, além de estar proibido de usar celulares, ele não pode receber visitas, exceto a de seus advogados regularmente constituídos e de outras pessoas previamente autorizadas pelo Supremo. O ministro manteve as proibições anteriores, como a de fazer contatos com embaixadores e autoridades estrangeiras, bem como de utilização de redes sociais, direta ou indiretamente por terceiros.
🔸 Mesmo fora do Brasil, o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) voltou a receber salário da Câmara após o fim de sua licença não remunerada, em 20 de julho. Segundo o Congresso em Foco, ele recebeu R$ 17 mil referentes aos 12 dias restantes do mês, período que coincidiu com o recesso parlamentar, quando as faltas não são contabilizadas. O salário completo do deputado é de R$ 46 mil. Eduardo está em solo americano desde março, atuando para tentar impor sanções contra autoridades brasileiras envolvidas nos julgamentos dos réus pelos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023. Com a volta do recesso parlamentar hoje, o cenário muda: a partir de agora, as faltas não justificadas passam a refletir em descontos salariais. Se acumular faltas em mais de um terço das sessões do ano, corre risco de perder o mandato automaticamente. Mantido o ritmo do primeiro semestre e a ausência prolongada, a cassação poderia ocorrer já em outubro.
🔸 Na corrida presidencial para 2026, Tarcísio de Freitas enfrenta seu pior momento. O estopim de sua situação se deu no momento do tarifaço de Donald Trump contra o Brasil. O governador de São Paulo justificou a ação do presidente dos Estados Unidos como uma resposta à “perseguição” a Bolsonaro. Em vez de criticar Trump, Tarcísio culpou Lula pela crise, adotando a narrativa bolsonarista. A piauí detalha a forte reação do empresariado paulista – que esperava uma defesa da economia local – à fala do pré-candidato. O governador então tentou remediar a crise com ações diplomáticas desastradas, como solicitar a liberação do passaporte de Bolsonaro para que ele negociasse com os EUA, mesmo inelegível e sem cargo público. Ao tentar agradar ao mesmo tempo Bolsonaro, o STF, o Centrão e o mercado, Tarcísio tem demonstrado fragilidade política. Mesmo a base bolsonarista o vê com desconfiança, e a própria família Bolsonaro, especialmente Eduardo, trabalha para minar sua posição como possível herdeiro político. Apesar disso, Tarcísio ainda é o nome favorito do mercado financeiro, mas o apoio perdeu entusiasmo.
📮 Outras histórias
Contratada via edital afirmativo, a professora Betta Alves fez denúncias de racismo na Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR) – e foi demitida em seguida. O Plural conta que ela entrou com ação trabalhista contra a universidade por ter sido desligada da instituição em dezembro de 2024, antes do término do contrato e logo depois de denunciar ofensas racistas das alunas de Psicologia, curso do qual era docente. Ela identificou que 54% dos trabalhos de sua turma continham plágio e, após cobrar os estudantes, passou a ser alvo de ofensas com teor discriminatório em grupos de WhatsApp. Quatro alunas reagiram com comentários como “ela deveria se colocar em seu lugar”. Betta afirma que a demissão interrompeu seu plano de saúde, essencial para o tratamento que faz contra um câncer. A PUC-PR nega irregularidades e diz que instaurou um processo para apurar as denúncias. A docente, porém, foi a última a ser ouvida, e a estudante que apresentou provas do racismo não foi chamada.
📌 Investigação
“Não sou obrigado a ficar ouvindo pastor. Eu vivo num Estado democrático de direito. Apesar de ser militar, e ter de cumprir ordens, não quero ouvir”, afirma Marco Bellorio, policial militar de São Paulo, que se recusou a comparecer a um encontro na Igreja Universal do Reino de Deus, de Edir Macedo. Após a recusa, foi aberto um processo disciplinar contra ele. O Intercept Brasil mostra como, por meio do projeto Universal nas Forças Policiais, criado em 2018, a igreja organiza encontros com pregação para as tropas fardadas nos templos, além de participação em eventos das forças de segurança. Sem acordos formais para utilização desses espaços, em fevereiro deste ano, 2,5 mil PMs estiveram em reunião na sede da Igreja Universal, em São Paulo, para escolher suas vagas de trabalho no início do ano.
🍂 Meio ambiente
A biodiversidade dos Campos Altitude de Santa Catarina, formações campestres únicas no Brasil, correm o risco de desaparecer nas próximas décadas devido ao aumento da monocultura de pinus. É o que alertou um grupo de pesquisadores catarinenses e gaúchos em uma carta-denúncia publicada em julho na revista científica “Science”. Segundo o Sul21, desde 2024, iniciou-se um imbróglio jurídico sobre a conversão dos campos pelas empresas do setor florestal, quando o Ibama aplicou uma multa à Klabin por estar em desacordo com a Lei da Mata Atlântica e as normas do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), que definem como Campo de Altitude quaisquer formações campestres acima de 400 metros de altitude em relação ao nível do mar. O Código Ambiental de Santa Catarina, porém, considera apenas os acima de 1.500 metros, criando um conflito entre as legislações estadual e federal. O ministro Gilmar Mendes, do STF, suspendeu todos os processos sobre o tema até que a Corte julgue o caso.
📙 Cultura
Cerca de 34 mil pessoas circularam durante os cinco dias da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), segundo a estimativa da Secretaria de Turismo do município fluminense. O número é 10% maior do que no ano passado. Com curadoria de Ana Lima Cecilio, a programação equilibrou a seriedade e o humor – ou, nas palavras da curadora, uma espécie de versão da ideia de “caprichos e relaxos”, título de um dos livros mais célebres do homenageado deste ano, o poeta Paulo Leminski. A Quatro Cinco Um reúne os destaques de um dos maiores festivais literários do país, como a situação humanitária em Gaza, abordada em diversas mesas. O historiador israelense Ilan Pappe, por exemplo, afirmou que houve pressão para impedir sua vinda a Paraty e explicou o contexto político e histórico da região, destacando a criação do Estado de Israel como um projeto colonial europeu.
🎧 Podcast
Herói da democracia para alguns, vilão para outros, Alexandre de Moraes é nome recorrente nas manchetes de jornais há alguns anos. Em 2022, o ministro do STF foi o protagonista inesperado da eleição mais acirrada do país como presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Já em 2023, era um dos principais alvos dos atos golpistas do 8 de janeiro e se tornou o relator do julgamento dos envolvidos. Dividido em seis partes, o podcast “Alexandre”, produção da Trovão Mídia e da revista piauí, mergulha na atuação do magistrado no TSE e os desdobramentos que levaram o ex-presidente Jair Bolsonaro ao banco dos réus.
🏃🏿♂️ Esporte
Para ser campeão nacional do WAR Muay Thai, uma das maiores competições profissionais da modalidade, Tony Diego venceu Marfio Canoletti, lutador renomado com experiência em MMA, kickboxing e muay thai, em março. Na ocasião, Tony levou 80 pessoas do Grajaú, zona sul de São Paulo, onde mora, para acompanhar o confronto. A Agência Mural mostra que a presença desses espectadores vai além de amigos do bairro: todos os dias, Tony ministra aulas para cerca de 90 alunos (50 adultos e 40 crianças) e divide seu tempo entre o tatame e o sonho de ensinar o valor do esporte em sua comunidade. Apesar da conquista do campeonato, o lutador ainda esbarra na falta de incentivo. “O atleta, hoje em dia, treina de quatro a cinco horas por dia, faz academia, preparação física, tem nutricionista e tempo para descansar. Eu não. Preciso correr atrás e cuidar da minha alimentação. Às vezes, nem dinheiro para comprar suplemento eu tenho”, afirma.
O podcast "Alexandre" está incrível!