As primeiras medidas de Trump e a fila de espera nas creches do país
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🔸 Donald Trump tomou posse ontem, nos Estados Unidos, com o anúncio de uma série de retrocessos, como a promessa de reverter políticas de diversidade e limitar as identidades de gênero em apenas duas categorias: feminino e masculino. “Vamos forjar uma sociedade que não enxergue cores e que seja fundamentada no mérito individual”, afirmou. O Mundo Negro lista as medidas já anuciadas, entre elas, uma ordem executiva para extinguir iniciativas de inclusão racial e para redefinir o conceito de gênero em todos os níveis do governo federal. Para especialistas em direito civil, as mudanças podem reverter décadas de progressos em equidade racial e de gênero no país.
🔸 “Com a volta de Trump à Casa Branca, entramos em uma nova era, a do populismo empresarial”, escreve Natalia Viana, em coluna na Agência Pública. Trata-se, segundo ela, da superação do período anterior, do populismo digital, no qual “líderes populistas se utilizavam das redes para chegar ao poder, manipular a opinião pública e criar falsas realidades”. A jornalista explica: “Nessa nova roupagem do trumpismo, misturam-se interesses empresariais com interesses de governo, aliados a uma visão da sociedade que acredita que pesos e contrapesos não deveriam servir para os grandes capitalistas. Melhor dizendo, paira uma ideologia que acredita piamente que os ricos são ricos porque merecem, afinal souberam gerir suas empresas, e que o governo deve ser gerido como uma startup”.
🔸 Em tempo: várias empresas vêm reduzindo suas iniciativas de diversidade e inclusão. Boeing, Ford, Harley Davidson, Lowe’s, Walmart e, mais recentemente, McDonald’s estão na lista. A Fast Company Brasil analisa o impacto dessas medidas para as mulheres no mercado de trabalho e mostra como líderes de empresas podem trabalhar para assegurar conquistas já alcançadas. O cenário não é favorável. Segundo um dos maiores estudos sobre mulheres no mercado dos EUA, o número de empresas que identificaram a diversidade de gênero como uma prioridade caiu de 87% em 2019 para 78% em 2024.
🔸 Sobre a relação do governo Lula com Trump: ao contrário do primeiro mandato de Lula (quando o então ministro da Fazenda, Antonio Palocci, e o presidente do PT, José Dirceu, foram enviados a Washington), ainda não há uma iniciativa concreta para criar pontes diretas com os republicanos do presidente dos EUA. Em análise no Jota, Vivian Oswald afirma que o governo Lula precisa criar canais de diálogo com o governo Trump para administrar uma relação bilateral – marcada pela imprevisibilidade do presidente do novo mandatário. Hoje as comunicações se dão via Embaixada brasileira em Washington, mas o Planalto avalia que será preciso adotar novas estratégias.
📮 Outras histórias
Primeira mulher trans travesti a se formar em Jornalismo pela Universidade Federal de Alagoas (Ufal), Diana Maria Justino de Souza, 25 anos, fez da história de travestis em situação de rua em Maceió o tema de seu trabalho de conclusão de curso. O Eufêmea narra a história da jornalista que partiu de Arapiraca para Maceió em 2018 a fim de fazer faculdade. Recebia uma ajuda mensal de R$ 200 que a mãe enviava para custear o transporte até a universidade. Ao longo do curso, viveu o processo de adequação de gênero. “Sempre fui uma mulher que impunha muito respeito, então não enfrentei casos graves de discriminação. No entanto, precisei orientar [colegas] sobre como deveriam me tratar e como se dirigir a mim”, conta.
📌 Investigação
Tráfico de drogas, queimadas, expulsão por fazendeiros e omissão do governo local colocam em risco o povo Chiquitano, no Mato Grosso, na fronteira com a Bolívia. Apesar da presença histórica na região e de ser oficialmente considerado indígena nos dois lados da fronteira em que residem, essa população enfrenta a resistência das autoridades locais em reconhecê-los como indígenas. O Colabora destrincha a luta dos Chiquitano em um cenário de violência e violação de direitos. “Meus avós não foram só explorados pelos fazendeiros, mas também pelo Exército brasileiro. O Destacamento Militar de Fortuna, sede do Exército, ficava dentro do nosso território e eles acreditavam que o povo Chiquitano deveria trabalhar para ganhar apenas refeição”, relata o líder indígena José Parava.
🍂 Meio ambiente
No encontro do rio Tramandaí com o mar, no litoral norte do Rio Grande do Sul, os pescadores artesanais e os botos pescam em conjunto há gerações. A presença desses mamíferos aquáticos indica onde está o cardume. Quando o boto aparece na superfície, os pescadores jogam suas tarrafas, e ambos conseguem seu alimento. Segundo o Sul21, essa interação deu origem ao documentário “Pesca do Boto”, dirigido pelo antropólogo Olavo Ramalho Marques, que narra a interação de cinco pescadores com os golfinhos. o filme foi produzido antes da obra da Corsan/Aegea que pretende levar esgoto de Xangri-lá para o rio Tramandaí, com impactos para a pesca e para a vida aquática na região.
📙 Cultura
Poetas brasileiros foram vítimas de censura, tortura e assassinato durante a ditadura. Os versos de nomes consagrados – como João Cabral de Melo Neto, Hilda Hilst e Murilo Mendes – e de outros relegados pelo mercado editorial testemunham traumas pessoais e foram reunidos no livro “Memorial Poético dos Anos de Chumbo: Uma Antologia”, organizado pelos professores Marcelo Ferraz, Nelson Martinelli Filho e Wiberth Salgueiro. Em entrevista à Mangue, Ferraz fala sobre o processo de agrupar os poemas e a sobrevida do conteúdo das obras no Brasil contemporâneo. “A atualidade dos poemas nos remetia constantemente a essa zona incômoda de persistência da ditadura”, afirma.
🎧 Podcast
Com uma trajetória extensa na educação ambiental, o casal Rusty de Sá Barreto e Sineide Moreira Crisóstomo fundou, em 2001, o Ecomuseu Natural do Mangue, no bairro Sabiaguaba, em Fortaleza. A iniciativa é um museu a céu aberto, entregando uma experiência imersiva aos seus visitantes, com aulas de campo que celebram as riquezas dos manguezais. O “Manguetown, Ceará”, produção d’O Eco, conta a história do casal de ambientalistas. Em 2020, o Ecomuseu foi reconhecido como patrimônio histórico-cultural e natural da capital cearense devido à sua contribuição para a preservação e a conscientização ambientais.
👩🏾🏫 Educação
Em 44% dos municípios brasileiros, há fila de espera para crianças de 0 a 3 anos nas creches. Apesar de não ser obrigatório na educação básica, a falta de acesso à uma educação de qualidade na primeira infância prejudica o desenvolvimento das crianças e acirra ainda mais as desigualdades sociais, como destaca o Lunetas. “Na teoria, se fala que as mães têm direito de trabalhar, mas não há incentivo. O certo seria que pudéssemos trabalhar e ter as creches para cuidarem de nossos filhos com dignidade”, relata a servidora pública Daniela Salgado, que terá que matricular os filhos gêmeos de 1 ano e 9 meses em uma escola particular em Brasília (DF) para continuar trabalhando.