A pressão por petróleo na Foz do Amazonas e as críticas a ‘Emília Pérez’
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🔸 Depois de Lula se manifestar a favor da exploração de petróleo na Foz do Amazonas, Marina Silva voltou a dizer que se trata de uma decisão técnica e negou ser pressionada pelo presidente. Em entrevista à Agência Pública, a ministra comenta a questão à luz da proximidade da COP30, afirma que Lula mantém sua defesa da redução do uso de combustíveis fósseis, mas reconhece que, se queimar mais petróleo, o país vai comprometer o plano de ser uma liderança ambiental. “Esse debate está posto para todos, produtores e consumidores. Mas a decisão sobre a política energética brasileira não é do Ministério do Meio Ambiente nem do Ibama. Ela é do Conselho Nacional de Política Energética, do qual o ministério faz parte e dele participa com voz e um voto”, afirma.
🔸 Embora a ministra negue a pressão, o Ibama instruiu seus técnicos a priorizar a análise da solicitação da Petrobras para perfurar um poço na Bacia da Foz do Amazonas. A Sumaúma revela que os especialistas do órgão receberam um ofício pedindo prioridade para o tema em fevereiro, em meio a declarações públicas de Lula e de aliados políticos, como o novo presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil), em defesa da liberação da licença. O Ibama já negou o pedido em 2023 devido a falhas no plano de atendimento à fauna e riscos ambientais elevados. A Petrobras respondeu às exigências do órgão, mas técnicos seguem apontando inconsistências. A decisão final caberá ao presidente do Ibama, Rodrigo Agostinho – e pode abrir caminho para outros projetos de exploração petrolífera na região.
🔸 A Funai proibiu a exibição de um filme feito a partir de uma expedição liderada por Bruno Pereira em 2019. O indigenista – que seria morto em 2022 por um grupo envolvido com a pesca ilegal e o narcotráfico – ajudou o diretor Bruno Jorge a contactar um grupo isolado de korubos. Apesar de ter estreado ainda em 2022 em festivais e recebido prêmios, como o de melhor documentário no Festival de Brasília, “A Invenção do Outro” teve a exibição suspensa pela Justiça Federal no ano passado, depois de uma ação da Funai. Na revista piauí, Bernardo Esteves explica o imbróglio e lembra que a própria Fundação Nacional dos Povos Indígenas autorizou o filme e pagou as despesas de Bruno Pereira à época da captura de imagens. Agora, cinco anos depois da expedição, o órgão quer que o diretor mostre o filme aos korubos e consiga autorização para veicular suas imagens.
🔸 Nos últimos cinco anos, o Ensino Médio em São Paulo registrou uma queda de 35% na carga horária de Ciências Humanas. Trata-se de uma redução de 253 horas. Sociologia e Filosofia foram as mais afetadas, com cortes de 62,9%, seguidas por Geografia, que teve uma redução de 25,9%. Os dados são da Rede Escola Pública e Universidade (Repu), que analisou informações da Secretaria de Educação de São Paulo. A CartaCapital detalha a pesquisa e mostra que, no Ensino Médio Noturno, a situação também é crítica: a carga horária de Ciências Humanas foi reduzida em 23,8% nos últimos cinco anos.
🔸 Falando em educação: no Rio Grande do Sul, as aulas da rede estadual foram suspensas em razão do calor excessivo previsto para esta semana – marcas perto e acima de 40ºC são esperadas em boa parte dos municípios do estado. O Sul21 lembra que o sindicato de profissionais de educação do estado entrou na Justiça pedindo o adiamento do início do ano letivo para 17 de fevereiro. O juiz reconheceu o risco do calor extremo para docentes, funcionários e alunos das escolas estaduais. Para o sindicato, a decisão “é uma vitória fundamental para a segurança e o bem-estar de toda a comunidade escolar, diante de um cenário preocupante, no qual inúmeras escolas não possuem a estrutura necessária para enfrentar temperaturas que podem ultrapassar os 40°C”.
📮 Outras histórias
“Carnaval é o divertimento do povo e, para a gente que trabalha, movimenta em todos os níveis a economia”, afirma o ambulante Emerson dos Reis, 50 anos. Morador de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, ele se desloca para o ensaio da Imperatriz Leopoldinense, na zona norte do Rio de Janeiro, a fim de vender bebidas. O Voz das Comunidades mergulha nos ensaios da Imperatriz e da Mangueira para mostrar como os ensaios de rua das escolas impulsionam a economia local e refletem a conexão da escola com a comunidade. “A gente lida com muitos valores, como ancestralidade e pertencimento. Isso vai nos dando ingredientes necessários para que a gente chegue na avenida e faça um grande desfile”, diz o diretor de Carnaval da Imperatriz, André Bonnate.
📌 Investigação
Usuários do Telegram criam livremente imagens de abuso infantil a partir de ferramentas de inteligência artificial dentro da própria plataforma. Em parceria com o Pulitzer Center, o Núcleo identificou 83 bots com palavras-chave associadas a deepnudes – prática de gerar imagens ou pornográficas com IA, sem consentimento. Desses, 33 estavam ativos e funcionando, e 23 (70%) criavam material de exploração sexual de crianças e adolescentes. As ferramentas usadas se dividiram em dois tipos de geração de conteúdo criminoso: as que trocavam cabeças de crianças por corpos adultos e as que preservavam as características infantis. Este último pode indicar que há presença de imagens reais de crianças nos bancos de dados usados para treinar os modelos de linguagem das tecnologias.
🍂 Meio ambiente
“Os warazú (os não indígenas) falam muito da crise climática, mas nós, indígenas, convivemos com os estragos provocados pelo desmatamento e ganância há décadas”, escreve Paulo Cipassé Xavante, gestor ambiental e professor da escola Wederã, na Terra Indígena Pimentel Barbosa, no Mato Grosso. Em artigo no Conversation Brasil, ele aborda as queimadas que destruíram grande parte do Cerrado no ano passado, incluindo o território indígena, onde o fogo “começou no final de agosto de 2024 e queimou dia e noite até outubro”. “O impacto do fogo criminoso que atravessou mais de 28 aldeias em toda a região na biodiversidade e no nosso dia a dia tem sido muito grande. Vimos cotias, tatus, jacarés correndo das chamas, desesperados, mas muitos morreram carbonizados. As árvores frutíferas que plantamos perto da aldeia viraram cinzas”, lembra.
📙 Cultura
Indicado a 13 categorias no Oscar 2025, o filme “Emília Pérez” é alvo de críticas da comunidade trans e de mexicanos. Dirigido pelo francês Jacques Audiard e estrelado pela atriz espanhola Karla Sofía Gascón, o longa retrata a transição de gênero de um narcotraficante mexicano. É, segundo os críticos, permeado por estereótipos, seja com relação à identidade trans, seja pela forma como representa a cultura mexicana. A revista O Grito! reúne algumas análises negativas da obra. “A maior problemática do filme é como ele retrata a transição de gênero de uma forma maniqueísta, ou seja, de uma coisa para o seu oposto, da água para o vinho”, escreveu a transpóloga Renata Carvalho em suas redes sociais.
🎧 Podcast
O clima deixou de ser prioridade política em países do Norte Global. Para além de Donald Trump, o avanço da direita no Parlamento Europeu e em países-membros trouxe uma agenda mais conservadora. O “Economia do Futuro”, produção da Rádio Guarda-Chuva, recebe o advogado Bruno Galvão, baseado em Berlim, na Alemanha, para analisar o contexto político europeu e as relações com a pauta climática, como o regulamento anti-desmatamento, o que tem impacto direto no Brasil. “Eu particularmente não vejo uma força política grande o suficiente para desconstruir o que foi construído. Pode ser que a pauta não tenha tanta força, pode ser puxada para um lado mais conservador, mas acabar com a construção do Green Deal [conjunto de políticas da Comissão Europeia para o meio ambiente e o clima], acho difícil”, explica.
🙋🏽 Raça e gênero
As notificações de violência contra homens trans aumentaram em 161% entre 2019 e 2023, de acordo com o Ministério da Saúde. A região Sul foi onde a violência mais cresceu, com um salto de 284%. A faixa etária mais afetada é a dos jovens adultos, entre 19 e 30 anos, que representaram dois em cada cinco ocorrências em 2023. Entre os homens trans negros, o número de notificações de violência cresceu 116%. Já entre brancos, o aumento foi de 245%. Em reportagem visual, a Gênero e Número destrincha os dados que revelam como a transfobia afeta essa população e a necessidade de políticas públicas de proteção. As agressões físicas, psicológicas e sexuais foram os tipos de violência mais comuns. Os casos registrados dentro da própria residência das vítimas tiveram um aumento de 177% no período.