O modelo dos presídios federais e os problemas na Lei Paulo Gustavo
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🔸 Depois da fuga inédita de dois detentos de um presídio federal, o ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, anunciou a construção de muralhas ao redor das cinco penitenciárias mantidas pelo governo. A unidade de Brasília é a única já cercada por um muro de proteção. O Metrópoles informa que a pasta também pretende implementar o sistema de reconhecimento facial para o acesso de visitantes e modernizar os sistemas de monitoramento em vídeo dos presídios. A Saiba Mais detalha as ações de busca pelos detentos e o que se sabe sobre a fuga até agora. Deibson Cabral Nascimento e Rogério da Silva Mendonça fugiram às 3h30 da madrugada da quarta-feira de cinzas. A ausência deles, porém, só foi detectada pelos agentes federais às 5h30, durante a contagem dos presos antes do café da manhã. Embora circulem informações de que a saída teria sido registrada por câmeras, não há confirmação oficial sobre as circunstâncias da fuga.
🔸 Como funciona um presídio federal? Elas têm um “sistema de vigilância avançado”, com captação de som ambiente e monitoramento de vídeo. Já as celas, com sete metros quadrados, são individuais, e o chuveiro é ligado uma vez por dia. O Nexo destrincha as regras e os números dessas unidades prisionais. Se o Brasil tem hoje 499 pessoas encarceradas nas penitenciárias federais, nas estaduais, a população carcerária em celas físicas chega a 644 mil pessoas.
🔸 Vinte tiroteios em 31 dias. A favela do Jacarezinho, no Rio de Janeiro, teve o maior número de tiroteios durante o mês de janeiro desde 2017. No Instagram, o Fogo Cruzado compila os números da violência armada na região e destaca que a maioria dos registros ocorreu durante operações policiais. “O que está acontecendo no Jacarezinho é resultado de políticas públicas feitas sem planejamento e sem monitoramento. É também resultado de uma escolha histórica dos governantes do Rio de não construir planos de segurança pública efetivamente”, afirma Maria Isabel Couto, diretora de dados e transparência do instituto.
🔸 A convocação feita por Jair Bolsonaro (PL) para um ato na avenida Paulista soa como um último recurso do ex-presidente, na mira da Polícia Federal. “Quantas pessoas estão dispostas a ir para as ruas defendê-lo?”, questiona Márcio Moretto, professor da Escola de Artes, Ciências e Humanidade da USP. A CartaCapital conversa com especialistas para analisar o que busca Bolsonaro com a convocação e sua capacidade de mobilizar apoiadores. Para Thomas Traumann, coautor do livro “Biografia do Abismo”, a forma como o ministro Alexandre de Moraes conduz as investigações deve levar à prisão preventiva do ex-presidente. “Agora, a reação do Bolsonaro é tentar mostrar algum tipo de força, dar um sinal: ‘se me prenderem, o país pega fogo’. O que ele quer é uma tentativa de demonstração de força, mas no fundo também de intimidação da Polícia Federal e do Supremo”, avalia Traumann.
📮 Outras histórias
Um casal de agricultores resgatou técnicas ancestrais para o cultivo de cogumelos na Ilha do Bororé, no distrito do Grajaú, na zona sul de São Paulo. Ligiane Oliveira, 40 anos, e Reginaldo Oliveira Santos, 44 anos, são adeptos da agricultura familiar e sustentável. Construíram um galpão de pau a pique, com as paredes feitas de barro, para manter o ambiente de cultivo agradável para os cogumelos no verão e no inverno. Isso porque, para que os shimejis se desenvolvam saudáveis, é preciso manter a umidade do ar acima de 80%. A Agência Mural conta como os dois começaram e fizeram crescer o negócio.
📌 Investigação
Em um grupo privado no Facebook, com 130 mil participantes, o agroinfluenciador Giovane Weber tenta engajar agricultores contra potenciais novas restrições ao cigarro eletrônico pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Os “vapes” são a aposta da indústria do tabaco para garantir novas gerações de fumantes e reverter avanços no controle do tabagismo. O Núcleo revela que, além de administrar o grupo com número que equivale a um membro de cada uma das 125 mil famílias agricultoras de fumo no país, Weber faz vídeos patrocinados pela Profigen (empresa de insumos agrícolas da Philip Morris), publicidades na fábrica da Japan Tobacco International e participa de iniciativas e publicações do Sinditabaco, sindicato patronal que representa empresas do tabaco.
🍂 Meio ambiente
“A gente corre atrás de financiamento e não consegue porque a terra também nunca teve o título definitivo passado para a gente. O Incra, que é a instituição que cuida, nunca resolveu esse problema”, conta a agricultora Francisca Jesus de Oliveira, do assentamento Vila Conceição, comunidade que fica a 30 quilômetros da cidade de Imperatriz (MA), sobre a falta de políticas públicas para os camponeses e a dificuldade de regularização fundiária. O Projeto Colabora explica que as mulheres agricultoras familiares do Nordeste são as que mais sofrem com a falta de acesso aos editais dos programas do governo voltados à produção rural.
📙 Cultura
Demora na publicação do edital, atrasos nos pagamentos aos contemplados, questionamentos sobre a lisura do processo, falta de expertise de pareceristas na seleção, mudanças de categoria de projetos concorrentes e premiação de empresas sem histórico de atuação na cultura. Estas são as principais denúncias de trabalhadores do setor cultural sobre a execução da Lei Paulo Gustavo. Segundo o Nonada, em Teresina (PI), por exemplo, um grupo de 50 fazedores de cultura denunciou a aprovação de uma empresa de espetinhos, sem histórico de atuação no campo cultural. As reclamações de irregularidades se repetem em todas as regiões do país.
🎧 Podcast
Quase aos 90 anos, os escritores Silviano Santiago e Ivan Angelo continuam escrevendo e criando projetos literários – em 2023, ambos lançaram novos títulos. Amigos de longa data, Santiago e Angelo começaram a escrever juntos, em 1961, e fizeram parte da chamada geração Complemento, movimento artístico em Belo Horizonte dos anos 1960. O “451 MHz”, produção da Quatro Cinco Um, conversa com os autores sobre suas trajetórias, as novas obras e a importância da cena belorizontina na literatura brasileira.
💆🏽♀️ Para ler no fim de semana
“As pessoas têm uma ideia de que ciência é química e física, ciências exatas. ‘É sério, o que você vai estudar no Carnaval?’, é o que perguntam. Mas a festa é uma chave para compreender Salvador, compreender a Bahia.” Professora na Universidade do Estado da Bahia (Uneb) e doutora em Antropologia, Cleidiana Ramos é uma estudiosa dos temas festa e memória, em especial o Carnaval. À revista AzMina a pesquisadora conta que ainda é questionada por pesquisar o assunto e explica que se interessou pela área a partir do impacto da folia na rotina das pessoas. “Me fascina a coexistência de um calendário civil e um calendário mágico.”