A pré-candidatura de Eduardo Bolsonaro e o império do avestruz no país
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🔸 Eduardo Bolsonaro (PL-SP) se lançou como pré-candidato à presidência em 2026 em lives e entrevistas nos Estados Unidos, onde mora atualmente. A primeira vez que falou sobre o assunto foi em julho, em live com o blogueiro Paulo Figueiredo. Então, condicionou a disputa à acolhida do pai, Jair Bolsonaro (PL): “Eu aceitaria o desafio com a condição de ter o apoio do meu pai”. A gravação serviu como lançamento da pré-candidatura informal de Eduardo. A Agência Pública destrincha a empreitada do deputado que, desde julho, falou sobre a possibilidade de se tornar candidato em pelo menos mais sete entrevistas à imprensa e transmissões em seu canal de YouTube. A estratégia da pré-campanha se ancora na pressão externa e na chantagem diplomática, e ele levanta a possibilidade de as eleições brasileiras não serem reconhecidas pelos EUA caso ele ou seu pai não possam ser eleitos. “Não creiam vocês que o Trump vai reconhecer uma eleição no Brasil onde o líder das pesquisas da oposição não participa. Nem ele, nem o filho dele, onde vários candidatos vão ficar inelegíveis. É só esperar chegar perto da eleição. Isso aí não é democracia”, afirmou a um podcast ainda em julho.
🔸 O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) teve o primeiro encontro com Donald Trump ontem, em Kuala Lumpur. A conversa durou 50 minutos e foi marcada pelos pedidos para que Trump reveja as tarifas impostas aos produtos brasileiros. O Congresso em Foco narra o encontro dos presidentes e conta o que aconteceu em seguida. O chanceler Mauro Vieira, que estava na reunião, informou que o presidente dos EUA autorizou sua equipe a iniciar negociações imediatas para rever as tarifas. “Trump declarou que dará instruções a sua equipe para que comece um processo, um período de negociação bilateral, que deve se iniciar hoje ainda, porque é para tudo ser resolvido em pouco tempo”, disse Vieira.
🔸 No ano da COP30, telejornais brasileiros dedicaram menos de 1% da cobertura a temas climáticos, no período de abril a setembro de 2025. O levantamento foi feito no Brasil e na França pelas ONGs Data For Good, Quota Climat e Science Feedback em parceria com a Lupa e Fala. Na França, o tema corresponde, em média, a 4% da cobertura midiática. No Brasil, o estudo abrangeu o monitoramento de canais de TV abertos e fechados como Globo, Record, SBT, Band, Jovem Pan e CNN Brasil. O estudo vincula a baixa cobertura e narrativas enganosas à influência do agronegócio, que em 2024 respondia por 23,5% do PIB brasileiro e quase metade das exportações do país. “Esse papel central se traduziu em forte influência parlamentar por meio da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), que se tornou um dos mais poderosos grupos suprapartidários no Congresso Nacional”, diz o estudo. A mídia tradicional, como a Rede Globo, desempenhou um papel central nessa influência. Campanhas como “Agro é tech, agro é pop, agro é tudo” foram analisadas como estratégias de marketing que consolidam a imagem do agronegócio como moderno e essencial, ao mesmo tempo em que atenuam ou apagam debates sobre uso de agrotóxicos, conflitos fundiários e desmatamento.
🔸 Paralela à COP30, a Cúpula dos Povos por Justiça Climática que transformar Belém capital da resistência ao agronegócio e fortalecer alianças entre povos indígenas, quilombolas e comunidades tradicionais. A estimativa é reunir na cidade de 15 a 20 mil pessoas representantes de 1.100 organizações não governamentais, de base e movimentos populares do Brasil e de outros países. O Joio e O Trigo explica que a Cúpula dos Povos é um espaço ocupado por grupos historicamente excluídos das mesas de negociações climáticas. Mesmo com hospedagem inflacionada e respostas tardias dos governos, os movimentos confirmaram a ida ao evento, mas a falta de apoio do estado e da prefeitura para o alojamento inviabilizou o plano de um acampamento na Universidade Federal do Pará. A solução foi adaptar galpões na avenida Bernardo Sayão, que dá acesso à UFPA. Na pauta, estão a defesa dos territórios e críticas às “falsas soluções” como o mercado de carbono – impostas aos territórios por governos e grandes corporações.
📮 Outras histórias
Pequenos dispositivos acústicos instalados nas redes de pesca podem proteger os botos da Amazônia. Em contato com a água, os “pingers”, como são chamados, emitem pulsos de alta frequência percebidos pelos botos. O som funciona como um “farol” de aviso, afastando os animais da rede sem causar dano e sem espantar os peixes. O Amazonas Atual conta que os mecanismos foram testados com sucesso pela WWF-Brasil e a Sociedade para Pesquisa e Proteção do Meio Ambiente (Sapopema) na Floresta Nacional do Tapajós (PA). Houve redução de 40% nos danos às redes de pesca e aumento de até três vezes na quantidade de peixes capturados, sem registros de morte acidental de botos. O projeto parte do diagnóstico de queda no número de botos de rio. “O declínio dessas populações revela o impacto direto da degradação ambiental, do garimpo e da pesca predatória. Nosso trabalho, com as comunidades na Amazônia e no Cerrado, mostra que é possível mudar esse quadro. Quando pescadores e pesquisadores atuam juntos, adotando práticas de coexistência e tecnologias como os pingers, todos ganham: o boto, o peixe e o pescador”, afirma Mariana Frias, analista de conservação do WWF-Brasil.
📌 Investigação
Na Congregação Israelita Paulista (CIP), em São Paulo, o rabino sênior, Ruben Gerardo Sternschein está envolto em casos de assédio sexual e moral. Mulheres que chegavam procurando conversão ao judaísmo conviveram com as investidas do líder religioso, responsável por chancelar o processo – em geral, rigoroso e demorado. A revista piauí reconstrói a história de cinco mulheres que se envolveram com o rabino. A reportagem teve acesso a um documento de cinco páginas enviado a uma organização rabínica internacional, a Conferência Central dos Rabinos Americanos, com sede em Nova York, com relatos contra Sternschein. Beatriz conta que procurou o líder para desabafar em um momento de fragilidade emocional e diz que, quando começou a chorar, o rabino a abraçou colocando uma das mãos por debaixo da sua blusa, nas costas. “Eu me assustei com aquilo. Nunca esperei aquele tipo de reação da parte dele”, afirma. “Na época, eu pensava que eu era a queridinha do rabino. Hoje vejo que não passava de uma boneca inflável dele.”
🍂 Meio ambiente
O desmatamento da Amazônia provoca perdas bilionárias à economia brasileira, com impactos diretos sobre a geração de energia, a agropecuária, o abastecimento de água e as hidrovias. É o que revela estudo do Climate Policy Initiative, da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RIO), em parceria com o projeto Amazônia 2030. A Cenarium explica que, segundo a publicação, o desmatamento do bioma afeta os chamados rios voadores – correntes de umidade formadas pela evapotranspiração da floresta –, reduzindo as chuvas em outras regiões do país, o que compromete a base hídrica de setores estratégicos. As hidrelétricas Itaipu e Belo Monte, por exemplo, deixaram de gerar, juntas, cerca de 3.700 GWh por ano, o equivalente ao consumo anual de todo o estado de Rondônia, com prejuízo financeiro de mais de R$ 1 bilhão por ano.
📙 Cultura
“Produções frequentemente vendidas como narrativas de investigação sustentam uma espécie de voyeurismo da violência: a atração de observar corpos femininos violados, mutilados e silenciados. Aqui, o crime é envolto em uma estética específica: o cabelo despenteado, o sangue emoldurado pela fotografia, o choro transformado em performance”, afirma Ana Clara Pecis, criadora do História Guardada, projeto que úne história, literatura e arte com perspectiva feminista, antirracista e anticapitalista. Em coluna na revista AzMina, ela analisa a “cultura do true crime” e como as obras escritas por homens alimentam o fascínio pela dor feminina e desconsideram sua subjetividade. “No cinema e na TV, do cult ao mainstream, personagens imaginadas por homens permanecem no lugar da violência performática, da loucura ou se metamorfoseiam no ‘anjo do lar’, na definição de Virginia Woolf.”
🎧 Podcast
No fim do século 20, o avestruz chamou a atenção pela possibilidade de criá-lo para produzir couro de luxo, plumas densas e carne que seria como filé mignon de baixo colesterol. Foi a partir dessa perspectiva que Elisabete Maciel fundou a Avestruz Master, uma companhia que chegou a ser a maior criadora dessas aves das Américas. O “Avestruz Master”, produção da Rádio Novelo, narra sua ascensão, quando atraiu milhares de investidores com promessas de altos lucros rapidamente, e sua queda, em 2005, em meio a um escândalo de crimes financeiros. Hoje o que resta da empresa é uma dívida de mais de R$ 600 milhões.
✊🏾 Direitos humanos
Mães de crianças com deficiência em ocupações sofrem com a ampla negação de direitos, da dificuldade de acesso a terapias e medicamentos à falta de moradia digna. É o caso de Maria dos Prazeres, militante de uma ocupação na zona sul de Recife (PE) há duas décadas. Ela se organiza em um grupo para discutir direitos básicos. Enquanto sua moradia não sai, ela divide a casa com mais oito pessoas: duas mulheres adultas e seis crianças. Seus dois filhos, de 12 e 3 anos, têm autismo, síndrome rara e TDAH, respectivamente. Pelo menos mais uma das outras seis crianças também é atípica. A Marco Zero mostra como a luta por moradia digna atravessa mães e crianças atípicas e com deficiência.




