A potência do Brasil no judô e um santuário em risco na Amazônia
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🔸 O Brasil fechou o fim de semana com ao todo dez medalhas nas Olimpíadas. Na sexta, a judoca Bia Souza, de 26 anos, protagonizou a vitória da primeira medalha de ouro do país em Paris. Em sua primeira participação nos jogos, ela derrotou a israelense Raz Hershko. Crescida em Peruíbe, no litoral de São Paulo, foi levada ao judô pelos pais ainda criança por ser “muito arteira”. Na adolescência, mudou-se para São Paulo para se dedicar integralmente à carreira de atleta. “Beatriz Souza, mulher negra de 26 anos, que não nasceu em berço de ouro, é um espelho de tantos negros brasileiros, que sem quaisquer privilégios mergulham de cabeça em um sonho e dão a vida por ele”, escreve o jornalista Cláudio Nogueira, em artigo na Alma Preta. Logo após a conquista, a própria judoca mandou um recado: “Mulherada, pretas e pretos do mundo todo: é possível! Acreditem. A gente pensa que está pagando muito caro, mas vale a pena quando a gente consegue”.
🔸 Para entender: por que o Brasil é uma potência no judô? A modalidade, afinal, é a mais vitoriosa do país em Olimpíadas – são 28 medalhas em todas as edições dos jogos e, desde 1984, o esporte garante ao menos uma medalha na competição. Nas Olimpíadas de Tóquio, o Nexo explicou a origem do judô no Brasil, que remonta aos anos 1910, nos primórdios da imigração japonesa. Para especialistas, o fato de o país abrigar a maior comunidade japonesa fora do Japão contribuiu para a popularização e formalização do ensino do esporte.
🔸 A atleta brasileira Izabella Rodrigues da Silva teve uma crise de ansiedade às vésperas de competir nas classificatórias. Na disputa pelo arremesso de disco, ela ficou na 17ª posição e não se classificou para as finais. O Esporte News Mundo conta que, na noite anterior à prova, Izabella não conseguiu dormir e teve até náuseas. “Não sei nem o que dizer, realmente estou muito desapontada. Eu tive muita crise de ansiedade durante a noite, pela manhã, e na hora da prova não consegui realizar o meu movimento que queria tanto fazer”, lamentou. Ela precisava atirar o disco para uma distância de 64 metros, mas alcançou 61,68 metros. A reportagem lembra que cada vez mais atletas vêm expondo problemas relacionados à saúde mental.
🔸 Enquanto mulheres buscam ajuda para interromper a gravidez de forma legal, organizações autoproclamadas pró-vida as enganam: levam a crer que oferecerão apoio, mas, na verdade, terminam por dificultar o acesso de mulheres a seus direitos. A revista AzMina mostra como entidades usam táticas questionáveis para dissuadi-las e ainda recebem apoio financeiros de parlamentares da extrema direita. Exemplo disso é a Casa Mãe Oásis da Imaculada, em Belo Horizonte, que recebeu R$ 150 mil do deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG). Os recursos públicos são usados para promover agendas antiaborto, mascaradas de apoio às mulheres. Entre os parlamentares, é uma mulher a campeã de relações com grupos ditos pró-vida. A deputada federal Chris Tonietto (PL-RJ) já destinou emendas para a Associação Virgem de Guadalupe e o Centro de Reestruturação para a Vida (Cervi), sediadas em São José dos Campos e São Paulo.
📮 Outras histórias
Um grupo de teatro que surgiu na Rocinha se espalhou por outras regiões do Rio de Janeiro. Criado há mais de dez anos, o Bando Cultural Favelados, cuja sede é um pequeno apartamento na favela da zona sul carioca, tem hoje 250 alunos em diversas regiões da cidade e concentra aulas semanais na Biblioteca Parque Estadual, no centro da cidade. O Fala Roça resgata a trajetória do grupo, que ganhou reconhecimento internacional com um prêmio de direitos humanos da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), e até recebeu visita do ator Danny Glover, estrela de “Máquina Mortífera”. Alguns alunos já receberam bolsas para cursos de artes cênicas nos Estados Unidos, entre Califórnia e Nova York.
📌 Investigação
O desmatamento da Amazônia é responsável pela maioria das emissões brasileiras de gases do efeito estufa. Ao redor da BR-319, rodovia que conecta Manaus (AM) a Porto Velho (RO), foram desmatados 24,8 mil hectares de floresta em 2023, o que resultou na emissão de 8,7 milhões de toneladas de gás carbônico (CO2). A partir de dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), a InfoAmazonia analisou as categorias fundiárias – terras indígenas, unidades de conservação, assentamentos, terras de uso militar e florestas públicas não destinadas – mais conectadas à devastação da vegetação e, consequentemente, às emissões que levam à mudança climática: 69% do desmatamento no eixo da estrada aconteceu em florestas públicas não destinadas, áreas do poder público sem um uso oficialmente determinado pelo Estado. Esses territórios são vulneráveis à grilagem, e o desmate é um dos principais meios para os grileiros tentarem forjar a posse da terra.
🍂 Meio ambiente
Um dos principais santuários ecológicos da Amazônia, o Parque Estadual Cristalino II, em Alta Floresta (MT), está no centro de um imbróglio jurídico e corre o risco de desaparecer. O motivo é uma ação de anulação da unidade de conservação movida pela empresa privada Sociedade Comercial do Triângulo Ltda. O processo, que tramita no Tribunal de Justiça do estado desde 2011, teve no ano passado um parecer favorável à empresa, que afirma ter propriedades na região – títulos que a Advocacia-Geral da União (AGU) declarou como fraudulentos. Segundo o Conexão Planeta, pesquisadores publicaram em julho uma carta conjunta na revista científica “Science” alertando que a decisão da Justiça mato-grossense abre um precedente perigoso que pode levar à anulação de outros parques estaduais e agravar, ainda mais, a crise climática.
📙 Cultura
Denise Maria, de 28 anos, é cabocla de lança do Maracatu Feminino de Baque Solto Coração Nazareno, em Nazaré da Mata (PE). Foi no grupo e na cultura popular que Denise encontrou forças e apoio após ser vítima de violência doméstica. “Eles têm que saber que a gente é mulher, mas a gente não está no mundo para abaixar a cabeça para eles”, afirma. A revista O Grito! explica que a figura do caboclo de lança do Baque Solto é historicamente vinculada aos homens, cenário que tem mudado com as novas gerações. “O caboclo de lança é um personagem alegórico muito simbólico dentro desse brinquedo e trata uma relação de embate fictício, com a guiada que serve também como instrumento de luta. O caboclo trata de uma virilidade, uma masculinidade”, afirma a historiadora e pesquisadora Carmem Lélis. “Uma mulher nesse papel é muito forte e representativo”, completa.
🎧 Podcast
Em 2010, o ET Bilu viralizou nos programas de TV e na internet. Apesar de ter virado uma piada nacional, o grupo que lançou o suposto extraterrestre ao mundo, o Projeto Portal, está cada vez mais influente – sobretudo no Mato Grosso do Sul – com ideias anticientíficas perigosas. O “Ciência Suja”, produção da NAV Reportagens, mostra que eles defendem que a Terra é convexa e que descendentes de alienígenas fundaram a primeira civilização humana no meio da Amazônia, a chamada Ratanabá, além de questionar as vacinas contra a Covid-19 e até mesmo o impacto da ação humana nas mudanças climáticas.
🧑🏽⚕️ Saúde
“A saúde privada quer que o SUS se deteriore cada vez mais. Na disputa econômica e política, ela está ganhando com enorme vantagem. A saúde suplementar deveria ser auxiliar à saúde pública”, afirma o pesquisador Eduardo Magalhães Rodrigues, ao Intercept Brasil. Pós-doutor em em economia política pela PUC de São Paulo, ele analisou as conexões acionárias dos 200 maiores grupos empresariais do Brasil e descobriu que as sete gigantes do setor – Rede D´Or, DASA, Eurofarma, Notre Dame, Amil, Aché e Hapvida – não exercem o oligopólio apenas no mercado de saúde: “Elas sentam em uma mesa e determinam quais serviços vão ser oferecidos, em qual qualidade e a que preço. A maior parte dos planos de saúde são apenas caça-níqueis. São poucos e caríssimos os que oferecem um serviço de qualidade”.