A posse de Dino no STF e a prática de 'greenwashing' no Bradesco
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🔸 “Neste primeiro momento, o que se sabe é que separar o Dino político do jurista não será fácil, nem para ele, nem mesmo para os espectadores que o acompanham — vide a forma como ele foi sabatinado no Senado. O Dino político é conhecido, o magistrado, nem tanto”, escreve a repórter Flávia Maia, em artigo no Jota, sobre Flávio Dino, que tomou posse no Supremo Tribunal Federal ontem. Segundo ela, embora ele tenha atuado durante 12 anos na magistratura, está fora dela há 18 anos. Sua carreira na política o ajudará a transitar nos Três Poderes, e o que se verá é se essa “flexibilidade significa maior respeito à atividade de cada Poder ou uma maior interferência e tensão”. Espera-se dele uma postura mais ativista na “omissão legislativa, ou seja, em temas que os parlamentares não querem discutir” – “ainda mais se envolver grupos vulneráveis”, completa Maia.
🔸 A propósito: Dino vai herdar pautas que estavam sob a relatoria de Rosa Weber, desde a investigação sobre a atuação do governo Bolsonaro durante a pandemia até o pedido do PL para que abortos provocados por terceiros tenham punição equiparada à do crime de homicídio qualificado. O Congresso em Foco lembra a trajetória política do novo magistrado, de 55 anos, que poderá ficar 20 anos no Supremo.
🔸 “Ele é defensor histórico das pautas populares e continuará, creio, fortalecendo as nossas pautas de lutas”, avalia Rosa Negra Ferreira, coordenadora nacional do Movimento Negro Unificado (MNU). A Alma Preta ouve representantes dos movimentos negro e indígena sobre as expectativas de atuação de Dino na Corte. A reportagem conta que o fato de ele ser o único ministro do STF a se autodeclarar pardo aumenta a expectativa desses setores sociais sobre seu mandato. Para Dinaman Tuxá, advogado e coordenador nacional da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB), “por mais que o Flávio Dino não tenha feito uma grande contribuição para a pauta indígena dentro do Ministério da Justiça”, a APIB acredita que ele será um “constitucionalista”.
🔸 Áudios manipulados por inteligência artificial com vozes de políticos em declarações polêmicas indicam os riscos do uso de IA nas eleições municipais, marcadas para outubro. No fim do ano passado, por exemplo, um áudio com a voz do prefeito de Manaus, Davi Almeida (Avante), circulou em grupos de Whatsapp com ofensas a professores. Segundo ele, o áudio foi manipulado. A Lupa relata casos similares em outras cidades do país e conversa com especialistas no tema. O perito em computação forense, Diogo Lopes, explica que as ferramentas de IA estão incorporam elementos como a entonação de voz e o sotaque da pessoa. Com a avanço da tecnologia, a verificação, para leigos, é tarefa difícil.
📮 Outras histórias
“O que já era ruim se tornou um caos.” A situação dos estudantes do quilombo de Manoel Antônio, na zona rural de Vitória da Conquista, é assim definida pela líder comunitária Ramônica Mendonça. Segundo ela, não bastasse existir apenas uma única unidade de ensino ativa no território que abriga oito comunidades quilombolas, o acesso é precário. O Conquista Repórter conta que, em dias de chuva, o transporte escolar não consegue circular nas estradas de terra, e os estudantes precisam caminhar cerca de oito quilômetros para conseguir pegar um ônibus.
📌 Investigação
Criminosos conseguem vender acesso a fotos e vídeos de abuso infantil no Telegram. Os termos usados por eles são específicos e poderiam ser facilmente banidos da plataforma se existisse moderação. O Aos Fatos identificou 35 grupos do tipo, que juntos reuniam cerca de 2 milhões de membros. A partir de R$ 5,90, os usuários conseguiam assinaturas e acesso ilimitado a conteúdos ilegais. A reportagem também encontrou 22 chaves Pix, sendo 15 registradas em nome de pessoas físicas e sete de microempreendedores individuais (MEIs), com indícios de possível uso de laranjas.
🍂 Meio ambiente
A partir do monitoramento que registra as ocorrências ambientais de todo o país, o Plano Clima, do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima, selecionou 1.038 cidades brasileiras consideradas mais vulneráveis às mudanças climáticas. O documento define a política nacional e a criação de metas e estratégias futuras sobre o tema, em frentes de mitigação e adaptação. Segundo a InfoAmazonia, 200 (19%) desses municípios estão na Amazônia Legal. Apenas Amazonas e Maranhão concentram 60% das cidades da região escolhidas pelo plano.
📙 Cultura
“Minha escrita nasce do incômodo de não me ver representada nas histórias que lia”, afirma a escritora e drag queen Aritana Tibira. “Tenho o hábito desde a adolescência e, especificamente, gosto de literatura de horror e terror. São histórias desse gênero que costumo retratar em minhas narrativas. Em grande parte, as histórias se passam em bairros periféricos da cidade de Manaus”, completa. A Amazônia Latitude narra a trajetória da literatura periférica da capital do Amazonas, desafiando as normas do mercado editorial tradicional. Tibira, por exemplo, produz de maneira artesanal seus próprios livretos ou fanzines, publicações de poucas tiragens e feitas a baixo custo.
🎧 Podcast
Apesar de todas as publicidades em que afirma enfrentar as mudanças climáticas e neutralizar a emissão de carbono, o Bradesco foi o branco privado no país que mais emprestou dinheiro a potenciais desmatadores entre 2010 e 2023. A prática é conhecida como “greenwashing”, quando uma empresa ou marca se diz mais sustentável do que realmente é. A “Rádio Escafandro”, produção da Rádio Guarda-Chuva, mergulha no histórico dos discursos do banco sobre o meio ambiente e também sua relação com a agropecuária – setor que mais emite gases de efeito estufa no país.
💆🏽♀️ Para ler no fim de semana
Nascida em Cacimbinhas, no Sertão de Alagoas, a professora Cícera Efigenia Dias, de 44 anos, tem para si a missão de educar crianças e adolescentes de modo mais leve e divertido utilizando a literatura de cordel de forma pedagógica por sua melodia e estrutura dinâmicas. “Eu comecei a escrever cordel traduzindo conteúdos que deveria trabalhar em sala de aula para essa linguagem poética. Com isso, eu trazia a turma para perto de mim, e encontrei uma maneira mais prazerosa para eles aprenderem o conteúdo”, conta Cícera em entrevista à Revista Alagoana. Para ela, o cordel traz também a memória da infância, época em que se reunia com a família ao redor da mesa de jantar e ouvia seu avô declamar versos de cordéis que colecionava.