Os policiais na delação sobre o PCC e as casas sem banheiro no Nordeste
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🔸 Duas explosões foram ouvidas ontem na Praça dos Três Poderes, em Brasília, e um corpo foi encontrado próximo ao prédio do Supremo Tribunal Federal (STF). A Esplanada foi isolada para uma varredura da Polícia Militar do Distrito Federal. As explosões ocorreram por volta das 19h30. Segundo o Metrópoles, uma testemunha afirmou que um homem acionou a bomba contra si mesmo na frente do STF e que ele ainda teria tentado lançar os explosivos contra a Estátua da Justiça. A Polícia Federal já abriu um inquérito para investigar o caso.
🔸 Projeto de Lei sobre regulamentação da inteligência artificial (IA) deve voltar à pauta do Congresso ainda neste ano. O texto, porém, será bem diferente da última versão apresentada pelo relator da comissão, o senador Eduardo Gomes (PL-TO), em junho. A nova proposta deve estar mais alinhada aos interesses da indústria e do setor de tecnologia, segundo fontes ouvidas pelo Aos Fatos. Na primeira semana de novembro, circulou entre grupos de parlamentares e ativistas um substitutivo não oficial para o PL 2.338/2023, formulado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), uma das responsáveis pelo fracasso na votação do último relatório apresentado. O novo texto retira a exigência de relatórios de avaliação de impacto algorítmico e da base de dados públicas de IA, medidas de transparência presentes no projeto anterior.
🔸 A propósito: de quem são os projetos de lei sobre IA na Câmara dos Deputados? Embora o tema da regulação esteja em alta no mundo todo, a esquerda abandonou o debate após a derrota do PL 2.360/23, conhecido como “PL das Fake News”. O Núcleo mostra que os deputados do Centrão apresentaram mais da metade das 125 propostas sobre IA. A maioria dos projetos são de parlamentares do Partido Liberal (PL), Republicanos, União Brasil, Progressistas (PP) e Movimento Democrático Brasileiro (MDB). A reportagem apurou ainda que 63 propostas, na verdade, visam alterar alguma lei já existente para incluir mudanças relacionadas à inteligência artificial. Apenas oito projetos buscam criar alguma forma de regulamentação.
🔸 “Nós moradores de favela somos afetados por essa violência diariamente. Independente de ser envolvido no tráfico ou não ser envolvido, nós somos criminalizados por morar em uma favela”, afirma Fátima Pinho, coordenadora do Movimento Mães de Manguinhos. A organização participou de um ato ontem em Brasília, com objetivo de pressionar que o Supremo Tribunal Federal (STF) julgasse a Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental 635 (ADPF 635), conhecida como ADPF das Favelas. A Agência Pública detalha que a ação mira a adoção de medidas que possam frear e reverter políticas de segurança pública “historicamente pautadas no racismo e na violência contra territórios negros e favelados”. A ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, acompanhada de sua mãe, também esteve presente na manifestação. O julgamento foi iniciado, mas a votação ainda será agendada.
🔸 Em áudio: a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo anunciou o afastamento de policiais civis suspeitos de corrupção. O órgão não disse quantos e nem o nome deles, mas são agentes citados na delação premiada do empresário Vinícius Gritzbach. Outros dois policiais foram presos devido a acusações de extorsão feitas pelo empresário. Gritzbach foi executado na última sexta-feira, no Aeroporto Internacional de Guarulhos, em São Paulo. Envolvido em uma guerra interna no Primeiro Comando da Capital (PCC), o empresário decidiu fazer delação premiada sobre a facção criminosa. O “Durma com Essa”, podcast do Nexo, explica o que se sabe sobre o caso e as relações do crime organizado com a polícia. O episódio também resgata a história do surgimento do PCC.
📮 Outras histórias
Com nove cemitérios espalhados pela cidade, as lápides e os túmulos guardam a história e memória de Foz do Iguaçu (PR). Ao percorrer os locais, é possível conhecer o presente e o passado da cidade, entre sobrenomes alemães, austríacos, poloneses, italianos, paraguaios e argentinos. Com procedimentos distintos para enterrar seus mortos, o município abriga também um cemitério islâmico e um indígena. O H2FOZ conta que, no cemitério mais antigo da cidade, o São João Batista, foi implantado um projeto inédito no Paraná para preservar a história dos falecidos: a partir de um QR code instalado nos túmulos, é possível ao visitante ou familiar saber mais sobre o finado.
📌 Investigação
Apesar de afirmar em sua política que não financia atividades com trabalho análogo à escravidão, o Banco Daycoval administra um fundo de investimentos – no valor de $ 78 milhões – que negocia ativos da Agropecuária Rio Arataú, cujo nome está na “lista suja” do trabalho escravo. A Repórter Brasil detalha que, em dezembro de 2021, cinco trabalhadores foram resgatados na Fazenda Arataú, no Pará, em condições precárias, sem registro formal, vivendo em barraco de lona, sem água potável ou instalações sanitárias. “Tinha uma poça de água que a gente usava para beber, cozinhar e tomar banho. Era muito ruim. A água muito suja”, relata João (nome fictício). Esse é o segundo caso de trabalho análago à escravidão no local: outro já havia sido registrado em 2007.
🍂 Meio ambiente
Ovos de tucanos, araras e psitacídeos menores foram apreendidos no Aeroporto Internacional de Guarulhos e enviados ao Centro de Manejo e Conservação da Fauna Silvestre (Cemacas), da Prefeitura de São Paulo, no mês passado. Os 21 ovos de aves silvestres brasileiras passaram por um processo de identificação e, atualmente, exigem condições específicas para seu desenvolvimento. O Fauna News relata que o monitoramento do tráfico de ovos silvestres se intensificou em 2023, quando foram apreendidos ovos de araras-vermelhas no mesmo aeroporto, e de tucanos em Foz do Iguaçu (PR). Essa foi a primeira vez que o Cemacas recebeu ovos provenientes do tráfico, iniciando uma etapa colaborativa de cuidado e apoio para garantir a sobrevivência das aves.
📙 Cultura
Em apenas um ano, o livro “Bem-vindos à Livraria Hyunam-dong”, da escritora sul-coreana Hwang Bo-reum, vendeu mais de 250 mil cópias na Coreia do Sul e foi traduzido para mais de 20 idiomas. Considerada um marco da “literatura de conforto” – gênero que busca oferecer alívio emocional –, a obra explora questões sociais com sensibilidade e profundidade. Em entrevista ao Catarinas, a autora compartilhou suas vivências e abordou os temas abordados no livro, como o papel da mulher na sociedade coreana, as dificuldades de se encaixar nas expectativas sociais e a cultura do trabalho. “Para muitas pessoas na Coreia, o trabalho frequentemente fala mais alto que a vida. Trabalhamos para viver, mas muitas vezes sentimos que estamos vivendo para trabalhar. Por isso, acredito que, às vezes, as pessoas deveriam parar um minuto e refletir não só sobre a relação que têm com o trabalho, mas sobre a ideia de ‘trabalho’ em si”, afirma.
🎧 Podcast
Traduzir como se o autor tivesse escrito em português. Para o diplomata e tradutor Jorio Dauster, o ofício de tradução deve ser fiel à intenção literária do escritor. No “Diálogos com a Inteligência”, produção do Canal Meio, Dauster discute sua tradução do clássico “O Apanhador no Campo de Centeio”, de J.D. Salinger. A obra foi publicada pela primeira vez em 1951 e causou controvérsias na sociedade estadunidense pós-Segunda Guerra Mundial, sobretudo por sua linguagem, o que levou a sua proibição em diversas cidades dos EUA. O tradutor explora a complexidade do livro e conta como se encantou pela tradução ao trabalhar com a obra: “Me tornei tradutor hoje, com mais de 80 obras, a partir do ‘Apanhador’, com o qual me apaixonei”.
✊🏽 Direitos humanos
No Nordeste, 46% dos domicílios em favelas não têm banheiro, impactando cerca de 4,6 milhões de pessoas. A Agência Tatu analisou os dados do Censo Demográfico de 2022, que revelam que, apesar de 1,6 milhão de residências terem banheiro exclusivo, 287 mil utilizam fossa não ligada à rede de esgotamento sanitário, outros 272 mil domicílios possuem fossa rudimentar ou buraco como forma de descarte sanitário e em 96 mil residências os dejetos sanitários vão para o rio, lago, córrego ou mar. As condições precárias de saneamento refletem a falta de infraestrutura nas favelas, sobretudo nas capitais, expondo desigualdades históricas no acesso a serviços básicos.