Os enquadros da PM de São Paulo, o Carnaval de rua e as puxadoras de samba-enredo
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Oi, pessoal!
Depois de dois anos de pandemia, o Carnaval está oficialmente de volta. A Brasis aproveita para fazer uma pausa a partir de hoje e volta a circular na quarta-feira (dia 22).
Aproveitem a festa!
Boa leitura e até já.
🔸 A Polícia Militar de São Paulo enquadrou, em 17 anos, o equivalente à população brasileira. Foram 225,3 milhões de registros de abordagens policiais desde 2005 – a estimativa prévia do Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) estima em 207,8 milhões o número de habitantes no país em 2022. Prevista no Código Penal, a abordagem não demanda um mandado judicial desde que ocorra “quando houver fundada suspeita de que a pessoa esteja na posse de arma proibida ou de objetos ou papéis que constituam corpo de delito”. “Fundada suspeita”, porém, é um conceito subjetivo. A Ponte explica que o alto número de enquadros se deve à falta de um critério objetivo, às metas de produtividade da PM e ao viés racista. Embora a Secretaria de Segurança Pública não tenha dados detalhados de cada abordagem, pesquisas mostram que existe uma cor alvo na maioria dos casos. “Você pode ser rico, você pode ser milionário, mas você nunca deixa de ser negro”, resume o advogado Alexandre José Marcondes, 45 anos, enquadrado por um policial com arma em punho quando andava perto de sua casa, num bairro de classe média alta em São Paulo.
🔸 Uma força-tarefa para investigar o caso Marielle, agora com o Ministério da Justiça. Às vésperas de completar cinco anos, o assassinato brutal da vereadora Marielle Franco será investigado a partir de agora pela Polícia Civil do Rio, por promotores do Grupo de Atuação Especial no Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público do Rio de Janeiro e por integrantes da Polícia Federal. Segundo o ministro da Justiça, Flávio Dino, haverá intensificação das apurações nas próximas semanas. O Metrópoles lembra que, logo em sua posse, o ministro afirmou que resolver o caso, que se arrasta desde 2018, é “uma questão de honra”.
🔸 Em busca do controle de armas de fogo no Brasil. Os pedidos para registros de armas por civis tiveram uma queda de 60% em relação a janeiro de 2022. O número foi apresentado por Flávio Dino como resultado do decreto emitido no primeiro dia do atual governo, que impôs restrições ao registro e porte de armas no Brasil. Como informa o Congresso em Foco, houveram também 68 mil pedidos de recadastramentos de armas de uso permitido para caçadores, atiradores e colecionadores (CACs). Com o decreto, a regulação, antes feita pelo Exército, passou para a Polícia Federal.
🔸 Na terra Yanomami, o governo estuda novamente fechar o espaço aéreo, reaberto para permitir a saída dos garimpeiros da terra indígena. A abertura havia sido prorrogada até 6 de maio, mas, na avaliação do governo federal, o prazo ampliado está tornando o processo mais lento, segundo o Notícia Preta. A antecipação será analisada na próxima semana em articulação com a Polícia Federal, a Força Nacional e o Ministério da Defesa.
🔸 As bolsas de graduação, pós-graduação e iniciação científica, entre outras, terão aumento de 200% a partir de março. Os valores para quem cursava mestrado e doutorado não subiam há dez anos. No ano passado, o pagamento chegou a atrasar pelo contingenciamento de verbas do Ministério da Educação pela gestão de Jair Bolsonaro (PL). O Portal Terra detalha os aumentos e conta que o governo também anunciou que vai ampliar o número de bolsas.
🔸 Mais de 4 milhões de pessoas devem se reunir nos blocos de rua do Carnaval do Rio de Janeiro. Em São Paulo, a prefeitura estima um público de 15 milhões durante todos os dias de evento. Em Recife, o frevo dá o tom em 44 pólos de Carnaval. Já em Salvador são os circuitos que movem a folia, como o Barra-Ondina. Em gráficos e artes, o Nexo reúne informações sobre o Carnaval nas quatro capitais e conta a origem da festa de rua em cada uma das cidades.
📮 Outras histórias
Cinco meses (ou 150 dias) uma mãe ficou separada de sua filha de 2 anos. Maria (nome fictício) recebeu uma mensagem no celular informando que Nina havia sido levada para uma casa de acolhimento, em caráter emergencial, por suspeita de abuso sexual, denúncia feita pela escola. Embora o laudo do Instituto Geral de Perícias tenha apontado que não havia sinal de ato libidinoso, e o processo criminal tenha sido arquivado, Maria só reencontrou a filha agora, cinco meses depois. O Sul21 narra a saga desesperada da mãe solo, de 33 anos, que enfrentou tons acusatórios e deboches ao longo de todo o processo. Moradora da periferia de Porto Alegre, ela foi acusada de fazer uso de substância psicoativa (sem provas) e de ter perdido, por isso, a guarda de outra filha – esta, por sua vez, mora com o pai, por acordo entre os genitores. A repórter Fernanda Nascimento teve acesso com exclusividade ao processo e esmiúça a forma como Maria foi tratada pela Justiça.
A volta do Carnaval de Recife, depois da pandemia, também veio com um sabor amargo para quem faz a cultura popular de Pernambuco. A prefeitura da capital decidiu alterar o lugar onde ocorria, há 90 anos, o concurso das agremiações. Como relata o Marco Zero, a mudança dos bairros de São José e Santo Antônio para uma rua estreita, ao lado do Parque 13 de Maio, é motivo de tristeza e de desgaste financeiro para os organizadores. “É muito triste. Ali é nosso habitat, os bairros que exalam nossa cultura. Desde sempre foi lá, meu pai saía ali. O novo espaço da passarela é minúsculo”, diz a mestra Joana Cavalcante, do maracatu Encanto do Pina. Já a escola de samba Galeria do Ritmo precisou pagar para que um serralheiro cortasse dois metros de ferragem dos cinco carros alegóricos que não passam na rua.
📌 Investigação
Mais de 65 mil multas do Ibama prescreveram nos últimos 22 anos, o que significa que a autarquia deixou de arrecadar cerca de R$ 1,3 bilhão. A revista piauí teve acesso aos dados obtidos pela Fiquem Sabendo e pelo Data Fixers. As autuações ficaram paradas por anos por falta de servidores e recursos suficientes. O desmonte dos órgãos de fiscalização promovido pela gestão Bolsonaro paralisou também a digitalização dos documentos. A reportagem revela que existem pelo menos 77 mil multas em papel, sem cópia digital, em 13 unidades estaduais do Ibama. Há inclusive casos de papéis que sumiram nos arquivos, deixando infratores ambientais impunes.
🍂 Meio ambiente
O estrangulamento financeiro promovido pelo governo Bolsonaro deixou terras indígenas sem os recursos de mitigação ambiental dos impactos causados pela construção da BR-163, no trecho que liga os estados do Mato Grosso e do Pará. O Eco mostra que, até 2019, as ações eram feitas a partir de um Termo de Cooperação entre a Funai e o Departamento Nacional de Infraestrutura e Transporte (Dnit) e executadas pelo Instituto Kabu, nas Terras Indígenas Baú e Menkragnoti, e pela Funai, na Terra Indígena Panará. Desde o primeiro ano da gestão do ex-presidente, a renovação dos programas passou por um labirinto administrativo e uma série de questionamentos sobre sua legitimidade sem que nenhuma irregularidade tenha sido apresentada como justificativa.
Com a savanização da Amazônia, provocada pelo desmatamento e pelas mudanças climáticas, os mamíferos terrestres estão ameaçados, até os que vivem em áreas protegidas. É o que aponta estudo publicado na revista “Animal Conservation”, da Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos. A Amazônia Latitude alerta que, mesmo os animais com presença tanto na floresta quanto na savana, como onças e tatus gigantes, ficam vulneráveis a essas alterações. “A maioria das espécies amazônicas, quando podem escolher entre boas florestas e boas savanas, escolhem a floresta. Isso é verdade mesmo para espécies consideradas ‘generalistas’, que usam ambos os habitats. À medida que perdemos florestas, eles também sofrem”, diz Daniel Rocha, coordenador da pesquisa.
📙 Cultura
Presentes em vários setores das escolas de samba, mulheres ainda são exceção nos principais microfones dos carros de som. O Desenrola E Não Me Enrola narra as trajetórias de Raquel Tobias, Grazzi Brasil e Elci Souza, três mulheres negras que são referência para aquelas que querem puxar o samba-enredo. “Em 2018, eu viro intérprete da Vai Vai, a primeira mulher na história [da escola]”, afirma Grazzi, que também já foi intérprete da escola Paraíso do Tuiuti, no Rio de Janeiro. “Foi um momento histórico também, sendo uma mulher de São Paulo cantando no Rio de Janeiro é algo que praticamente não existe.”
Por falar no pioneirismo das mulheres negras: Mercedes Baptista foi precursora da dança afro coreografada no Brasil. Nascida em 1921, em Campos dos Goytacazes, no Rio de Janeiro, ela revolucionou os desfiles das escolas de samba e teve papel fundamental na valorização da cultura negra. A Alma Preta conta que a bailarina passou a integrar a ala dos carnavalescos da Acadêmicos do Salgueiro. Em 1963, a carioca chegou a ser chamada de “maluca” por críticos brancos da época, após coreografar o emblemático desfile em homenagem à Chica da Silva, em que bailarinos negros dançaram o minueto, uma dança europeia elitizada.
🎧 Podcast
Trinta anos. Este foi o tempo que a escritora Gaía Passarelli deveria esperar para ler uma carta que recebeu com um livro de uma tia em seu aniversário de 10 anos. O tempo passou, Gaía completou 40 anos e poderia, enfim, ler o que sua tia lhe escrevera. Mas não o fez. Passaram-se mais cinco anos, e nada. A produtora Natália Silva e Gaía quebram juntas o sigilo imposto em sua primeira década de vida. A curiosidade, que levantou os seguidores da escritora no Twitter, é sanada no novo episódio do “Rádio Novelo Apresenta”, produção da Rádio Novelo.
💆🏽♀️ Para ler no fim de semana
Cartola, Clementina de Jesus, Adoniran Barbosa e Chiquinha Gonzaga estão reunidos para trazer o samba para as crianças. A ideia é do músico, escritor e autor Cristiano Gouveia, no livro “Histórias Encantadas de Pequenos Sambistas”, em que as obras dos quatro artistas são misturadas com contos populares. Ao Lunetas, Gouveia relata que a ideia nasceu quando estava em uma livraria com seu filho e percebeu que os livros sobre o tema são mais biográficos e menos lúdicos. Para o autor, ritmos ligados à população negra e periférica ainda são marginalizados, e o propósito do livro é “permitir que as crianças possam ampliar o olhar sobre sua própria cultura”.