O placar do julgamento de Bolsonaro e os brinquedos infantis com IA
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🔸 O ministro Alexandre de Moraes votou para condenar Jair Bolsonaro (PL) e outros sete aliados do núcleo central da trama golpista. Relator do caso, Moraes foi o primeiro a votar no julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF). O Canal MyNews informa que o magistrado pediu a condenação de Bolsonaro e os demais réus – Almir Garnier, Anderson Torres, Augusto Heleno, Mauro Cid, Paulo Sérgio Nogueira e Walter Braga Netto – por cinco crimes: tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado, participação em organização criminosa armada, dano qualificado e deterioração de patrimônio tombado. Moraes destacou ainda que o ex-presidente teve posição de líder da organização criminosa e, ao rebater a defesa, afirmou que houve uma tentativa de ruptura institucional: “a organização criminosa tomou de assalto as estruturas republicanas para se perpetuar no poder” e “tentou dar o golpe até os 45 minutos do segundo tempo”.
🔸 O ministro Flávio Dino deu o segundo voto pela condenação dos réus na ação penal. A única divergência com relação ao voto de Moraes está na dosimetria das penas. O Metrópoles explica que Dino defendeu a necessidade de penas maiores para os réus Bolsonaro, Braga Netto, Anderson Torres, Almir Garnier e Mauro Cid, mas considerou que é possível reduzir as penas de Paulo Sérgio Nogueira, Alexandre Ramagem e Augusto Heleno. O ministro disse ainda que o processo não é contra as Forças Armadas, mas contra indivíduos que atentaram contra a democracia, e rejeitou qualquer possibilidade de anistia ou indulto a crimes dessa natureza. A votação no STF será retomada hoje.
🔸 “Se não votarem a anistia, nós vamos parar o Congresso”, ameaçou Valdemar da Costa Neto, presidente do PL, ontem, em meio ao julgamento de Bolsonaro. Segundo ele, já há maioria para aprovar o texto e que a oposição usará a obstrução como “única arma”, mesmo que isso trave projetos populares, como o da isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil. O Congresso em Foco ressalta que o dirigente do partido rejeitou a ideia de uma versão mais restrita da anistia, defendida pelo presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), e disse que a prioridade da legenda é garantir a elegibilidade de Bolsonaro para 2026.
🔸 Nas redes e nas ruas, bolsonaristas adotam três estratégias para alegar que o ex-presidente é alvo de perseguição do Supremo: negar provas da Polícia Federal, desqualificar a delação de Mauro Cid e reciclar boatos antigos sobre urnas eletrônicas, eleições e o 8 de Janeiro. O Aos Fatos detalha como políticos e apoiadores de Bolsonaro recorrem à desinformação para tentar inocentá-lo. Áudios e relatórios da PF, por exemplo, foram distorcidos para sugerir que não havia indícios contra o ex-presidente. Já depoimentos de Mauro Cid foram recortados para parecer que ele inocentava Bolsonaro, omitindo trechos em que relatava alterações feitas pelo próprio ex-presidente na “minuta do golpe”. Também circularam alegações falsas de que o militar teria sido coagido – algo desmentido por seu advogado.
📮 Outras histórias
Lena Santos Máximo cresceu com linha e agulha, mas sem energia elétrica em Sítio Novo, município no interior do Rio Grande do Norte. Filha de costureira, ela e a mãe usavam a luz do poste da rua para costurar as encomendas que recebiam da vizinhança. O pagamento muitas vezes era feito com farinha, sabão ou o que o cliente tivesse disponível na despensa. Na vida adulta, Lena se tornou assistente social e, já aposentada, lançou livros de poesia e reencontrou o artesanato. A Emerge Mag revisita a história da artista que, depois dos 50 anos, passou a “viver plenamente”, como ela própria diz, criando bonecas de materiais reaproveitados que resgatam memórias afetivas e a ancestralidade negra e nordestina. Sua primeira exposição, “Guarda-Chuvas: Da Pobreza à Nobreza”, reuniu 25 bonecas que homenageiam personagens reais de sua vida, como a mãe, Dona Mocinha, que migrou para São Paulo para dar às filhas um futuro distante do trabalho precarizado.
📌 Investigação
Diante do avanço do debate sobre a regulação das plataformas digitais, as big techs atuam com um lobby antirregulação pelo mundo todo, com o objetivo de maximizar seus lucros. Essas empresas têm receitas maiores do que o Produto Interno Bruto (PIB) de diversos países, o que aumenta seu poder de barganha, sobretudo em países em desenvolvimento. “A Mão Invisível das Big Techs”, série investigativa transnacional e colaborativa liderada pela Agência Pública e pelo Centro Latinoamericano de Investigación Periodística (CLIP), identificou quase 3 mil ações de lobby das big techs realizadas em parlamentos e governos de todo o mundo, além de processos judiciais e projetos de lei envolvendo as regras do jogo na indústria de tecnologia.
🍂 Meio ambiente
Micro e nanoplásticos já estão presentes em sistemas de águas subterrâneas, fontes de quase metade da água potável consumida no mundo. A maioria desses materiais vem de produtos para a agricultura – como coberturas plásticas (mulches), recipientes de pesticidas e sacos de fertilizantes – que atravessam as camadas de solo e contaminam os lençóis freáticos. A Agência Bori reúne os principais pontos de um artigo publicado por pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) na revista científica “Anais da Academia Brasileira de Ciências”. Os cientistas indicaram que os biossólidos – resíduos orgânicos provenientes do tratamento do esgoto – fazem parte da dinâmica de contaminação quando usados como fertilizantes. “O processo de tratamento de esgoto remove contaminantes, mas muitos deles, incluindo microplásticos, acabam sendo agregados ao lodo por adsorção, e, portanto, reintroduzidos no solo ao aplicar os biossólidos”, explica Victor Moreira, um dos autores do estudo.
📙 Cultura
“A juventude é a força que mantém a cultura viva, mas muitas vezes não é convidada a assumir o protagonismo. No Conjuve [Conselho Estadual da Juventude], buscamos justamente criar espaços de decisão e participação, conectando os jovens com a sua própria história e com as ferramentas para transformá-la. A cultura local é estratégica nesse sentido: gera pertencimento, autoestima, renda e amplia horizontes”, afirma Thiago Souza, presidente do Conjuve de Alagoas e idealizador do Bobo Gaiato, que resgatou a tradição das máscaras carnavalescas no estado. Em entrevista à Revista Alagoana, o pesquisador e brincante fala sobre sua paixão pelas máscaras, a força da juventude na preservação cultural local e o legado do Mestre Gilberto, precursor da cultura mascareira em Porto de Pedras. “Depois de sua partida, senti que tinha uma nova missão: manter o seu legado não só na lembrança, mas no movimento prático, no compartilhamento do saber-fazer mascareiro. Cada vez que idealizo um projeto, que visto a máscara ou mobilizo a comunidade em torno da cultura, sinto a presença dele.”
🎧 Podcast
Apesar dos desafios do empreendedorismo nas periferias, artistas e produtores culturais buscam transformar a paixão e a criatividade em negócios financeiramente sustentáveis. No primeiro episódio da série “Criativos da Quebrada”, o Manda Notícias recebe três empreendedores culturais de territórios periféricos de São Paulo que atuam no mercado musical, desde a gestão de projetos e lançamento de artistas até a criação de espaços de produção criativa. Eles apresentam suas trajetórias no mercado musical e explicam a importância da articulação em rede e o papel das políticas públicas.
📲 Tecnologia
Com o objetivo de proporcionar mais interação, brinquedos que usam inteligência artificial e Internet das Coisas (IoT, na sigla em inglês) precisam de supervisão dos pais. O Lunetas ouviu especialistas sobre os novos produtos voltados a essa população, como pelúcias e bonecos que “falam” e respondem a dúvidas. “Se você junta essa capacidade de sedução da IA como uma conversação por voz dentro de brinquedos fofinhos e bonitinhos, há assim um cenário de vulnerabilidade. Isso porque as crianças ainda estão desenvolvendo o discernimento e a capacidade de análise crítica”, afirma o psicólogo Rodrigo Nejm. Já o advogado Marcelo Mattoso alerta para o uso dos dados, com a coleta de voz, imagem, localização e rotina, o processamento em nuvem e o uso comercial, que pode incluir perfilamento infantil – quando o brinquedo cruza informações de uso para inferir gostos e induzir escolhas, ajustando respostas, recomendações e até publicidade.