O PL do Veneno aprovado e o trabalho invisível de tradutoras

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🔸Às vésperas da Conferência do Clima, a COP28, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), publicou uma pauta de urgência para votar projetos ambientais. Deixou de fora, porém, a regulamentação do mercado de carbono, compromisso firmado pelo Brasil na COP26, em 2021, e um dos projetos mais esperados desta edição. O Congresso em Foco informa que a pauta, por outro lado, inclui propostas para o fomento na produção de combustíveis sustentáveis, bem como o Programa de Aceleração da Transição Energética. A viagem de Lira para a conferência em Dubai está prevista para o dia 4.

🔸 A propósito: a COP28 é presidida pelo CEO de uma petrolífera. Trata-se do sultão Al Jaber, dos Emirados Árabes Unidos, à frente da Empresa Nacional de Petróleo de Abu Dhabi (Adnoc). Não à toa ele enfrenta críticas: lidera a conferência climática da Organização das Nações Unidas (ONU) enquanto supervisiona a expansão da produção de petróleo e gás. Sua nomeação gerou indignação entre ativistas, mas recebeu elogios do enviado especial dos EUA para o Clima, John Kerry. O Intercept Brasil revela como influentes agências de relações públicas vêm moldando a reputação do sultão para torná-lo a cara da luta contra mudanças climáticas no país.

🔸 O Senado aprovou ontem o PL do Veneno, como ficou conhecido o projeto de lei que afrouxa as regras para o uso de agrotóxicos no país. Um dos principais aspectos do texto é que ele concentra o registro de novos produtos no Ministério da Agricultura, esvaziando atribuições da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). O Metrópoles mostra o que diz a bancada ruralista ao defender a proposta e o que dizem parlamentares alinhados à pauta ambiental. A saber: se sancionado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o projeto poderá liberar a entrada de agrotóxicos com graves níveis de risco para a saúde humana e para o meio ambiente.

🔸 Uma onça sobrevivente no Pantanal. Em 2020, quando foi registrado o recorde de focos de incêndios no bioma, uma onça-pintada teve as duas patas dianteiras queimadas, além de problemas respiratórios pela inalação de fumaça e desidratação. Passou por tratamento com células-tronco e teve alta em outubro daquele ano. Agora, em meio a uma nova onda de incêndios que atinge o Pantanal, reapareceu. O Nexo conta que Ousado, como foi batizado o felino, foi visto de novo na natureza – desta vez, sem ferimentos graves. 

🔸 “A indicação para os mais altos cargos jurídicos do país está cada vez mais parecida com a indicação para cargos de governo. O presidencialismo de coalizão, com o Centrão, com tudo, chegou ao Judiciário – poder que também tem coronéis, ciosos de emplacar seus apadrinhados em cargos na Justiça e nos demais poderes”, avalia Rafael Mafei, em artigo na revista piauí sobre a indicação de Flávio Dino, atual ministro da Justiça, para a vaga no Supremo Tribunal Federal (STF). Segundo Mafei, o requisito de “notável saber jurídico”, previsto na Constituição para o cargo na Corte, foi enterrado. “Isso não é de hoje, nem começou com Lula, pois, se vale para Cristiano Zanin, vale também para André Mendonça e Kássio Nunes, além de indicados por Fernando Henrique Cardoso.”

📮 Outras histórias

• Indicado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), o reitor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Carlos André Bulhões, não comparece nas reuniões do Conselho Universitário (Consun), do qual é presidente, além de ignorar as decisões do órgão ao longo de sua gestão. O Matinal teve acesso ao documento do Consun que denuncia o reitor por isolamento, por prejudicar as matrículas de cotistas e também por uma possível intervenção indevida da reitoria em favor da inscrição de uma candidata no vestibular da instituição.

📌 Investigação

• Presidente da CPI das ONGs, o senador Plínio Valério (PSDB-AM) já apresentou pedidos de pesquisas para exploração de ouro em áreas preservadas da Amazônia, em região marcada por povos indígenas e reservas ambientais. A Agência Pública apurou que foram cinco requerimentos, somando uma área de cinco mil hectares em São Gabriel da Cachoeira (AM) na década de 1980. Questionado, o senador disse que se tratava de uma “apuração jornalística” para mostrar como essas entidades estariam atuando para impedir a exploração de recursos naturais. Embora tenha afirmado que nunca teve o propósito de fazer mineração de ouro e que seu foco eram as ONGs, Valério não respondeu sobre o nome do veículo de comunicação com que atuava, tampouco informou se a suposta reportagem chegou a ser publicada.

🍂 Meio ambiente

• “A gente percebe, por exemplo, que um dia a estrada está fechada, no outro ela está aberta, e você não viu ninguém tirando [as árvores]”, afirma a dona de casa Maria do Carmo Batista, que ouve às escondidas o som das motosserras que desmatam a Área de Proteção Ambiental Embu Verde, no município de Embu das Artes, na Grande São Paulo. A região é uma Unidade de Conservação Municipal Ambiental de Uso Sustentável e abriga fragmentos de Mata Atlântica em bom estágio de conservação. A Agência Mural relata que os moradores têm visto o avanço do desmatamento e da especulação imobiliária no local. Segundo o boletim do Sistema de Alertas de Desmatamento (SAD) Mata Atlântica, o município foi o que mais destruiu a floresta na região metropolitana.

📙 Cultura

• “Trabalho invisível” do mercado editorial, as tradutoras do coletivo “Quem Traduziu?” reivindicam reconhecimento por meio de uma campanha que vai desde comentar nas páginas de jornalistas e críticos literários não as mencionam até exigir a impressão de seus nomes nas capas das edições traduzidas. O Le Monde Diplomatique Brasil conta que as integrantes do grupo movimentaram debates sobre o tema na Festa Literária Internacional de Paraty (Flip) na última semana em Paraty (RJ). Esse levante em busca de reconhecimento do trabalho veio quase exclusivamente de mulheres e traz à tona também o papel do gênero na tradução.

🎧 Podcast

• Quando chegou em Itacoatiara (AM), o pastor Arison Farias de Aguiar tinha apenas um carro popular. Hoje, conta com dois automóveis que, juntos, somam cerca de R$ 600 mil, além de manter três casas na cidade e um sítio. O religioso é responsável pelo projeto Resgatando Cativos, com o suposto objetivo de resgatar e recuperar usuários de drogas, e divulga o dia a dia dos internos em lives no Facebook. Além de monetizar o conteúdo, ele recebe doações do público. O quarto episódio da série “O Pastor”, da “Rádio Escafandro”, produção da Rádio Guarda-Chuva, mergulha em evidências dos saltos nos números das contas bancárias do pastor, da pastora e de seus filhos.

🙋🏾‍♀️ Raça e gênero

• Mais de 60% das brasileiras que sofreram violência doméstica e familiar não denunciaram à polícia, revelando um alto Índice de Subnotificação Policial. Os dados são do Mapa Nacional da Violência de Gênero, levantamento da Gênero e Número, em parceria com o Instituto Avon e o Observatório da Mulher Contra a Violência (OMV), do Senado Federal. O relatório também aponta que três em cada dez mulheres passaram por algum tipo de violência no Brasil, sem reconhecê-la e nomeá-la. O chamado Índice de Subnotificação Desconhecida representa situações em que mulheres não nomeiam a violência doméstica e familiar, mas, quando apresentada a exemplos, admitem já terem passado por violações.