O PL da Anistia após ataque a Brasília e os indígenas no Grammy Latino
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🔸 Após o ataque a bombas a Brasília, bolsonaristas veem o PL da Anistia ficar mais distante. A proposta busca anistiar todas as pessoas que participaram de manifestações com motivação política ou eleitoral entre 8 de janeiro de 2023 e a data que a possível lei entraria em vigor. Embora deputados bolsonaristas afirmem que o ataque da última quarta-feira tenha sido um caso isolado, outros acreditam que o episódio atrapalhe a discussão do PL. O Nexo ouviu cientistas políticos sobre a repercussão das explosões e o impacto na proposta. “O reposicionamento da opinião pública vai fazer com que pelo menos por ora seja bastante difícil que esses atores venham a público defender uma anistia — especialmente uma anistia ampla, que possa chegar, eventualmente, a Jair Bolsonaro —, mas não acho que ela está completamente fora do quadro. Podemos esperar que isso volte para a mesa. Mas abrem-se outras possibilidades [de negociação]”, afirma Marjorie Marona, professora da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
🔸 Logo após o ataque, influenciadores e parlamentares de direita iniciaram uma operação nas redes sociais para tentar desassociar o caso do bolsonarismo. Algumas publicações retomam inclusive teorias da conspiração sobre Adélio Bispo, autor de uma facada em Bolsonaro na campanha eleitoral de 2018. O autor das explosões, o chaveiro Francisco Wanderley Luiz, o Tiü França, disputou o cargo de vereador no município de Rio do Sul (SC) em 2020, pelo PL, mas não se elegeu. Ao contrário do que diz a retórica direitista, as evidências apontam que Tiü França tinha um perfil conservador e era apoiador do ex-presidente, como detalha o Aos Fatos. Em depoimento à Polícia Federal, sua ex-companheira afirmou que o chaveiro tinha planos de assassinar o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), e que participava de grupos radicais. Aliás, ao menos 15 perfis neonazistas – que somam cerca de 18 mil seguidores – fizeram 22 posts em homenagem a Francisco. Os posts divulgam montagens que mesclam fotos do autor dos ataques a símbolos nazistas e novas ameaças ao Congresso e ao Supremo.
🔸 As ruas de diversas capitais do país foram tomadas por manifestações a favor do fim da escada de trabalho 6X1 no feriado da última sexta-feira. A autora da Proposta de Emenda Constitucional (PEC), a deputada federal Erika Hilton (PSOL-SP), discursou no ato que aconteceu na Avenida Paulista, em São Paulo. O Congresso em Foco informa que houve manifestações também em cidades como Rio de Janeiro, Belém, Belo Horizonte, Vitória e Porto Alegre. O texto ainda não foi protocolado, mas já ultrapassou as 171 assinaturas necessárias para iniciar a tramitação, com 233 signatários.
🔸 Em discursos a representantes da sociedade civil que participaram do G20 Social, às vésperas das reuniões do G20 entre os chefes de Estado no Rio de Janeiro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) fez referência à pauta em discussão no Brasil sobre a jornada 6X1: “O neoliberalismo agravou a desigualdade econômica e política que hoje assola as democracias. O G20 precisa discutir uma série de medidas para reduzir o custo de vida e promover jornadas de trabalho mais equilibradas”. Segundo a Agência Nossa, o petista ressaltou também o ineditismo do G20 Social, que reuniu a sociedade civil de várias partes do mundo para formular e apresentar suas demandas aos governantes das principais economias mundiais.
🔸 O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, fez uma parada rápida em Manaus (AM) ontem. O democrata é o primeiro chefe estadunidense em exercício a visitar a Amazônia. O Metrópoles conta que Biden anunciou um investimento de US$ 50 milhões (cerca de R$ 289,8 milhões) para o Fundo Amazônia, que tem o objetivo de captar doações para prevenção e conservação sustentável da floresta. A visita do presidente estadunidense à região aconteceu antes do início da Cúpula do G20, que ocorre hoje e amanhã.
📮 Outras histórias
“Qualquer ambiente precisa ter intérprete de Libras. Os surdos estão em todos os lugares. Também temos nossos artistas preferidos e, quando eles estão se apresentando e o show não tem acessibilidade, ficamos tristes. Queremos eventos preparados para nós”, afirma Ruth Ellen Santana sobre a falta de inclusão em espaços culturais em Vitória da Conquista (BA). Mesmo com leis de acessibilidade, o serviço de interpretação em eventos, sobretudo os realizados por empresas privadas, pessoas surdas têm acesso limitado à cultura. O Conquista Repórter destaca que os profissionais de tradução também enfrentam descaso para exercer o trabalho. “Nosso serviço só pode ser passado com qualidade se a gente tiver os materiais necessários. Então, ter uma equipe maior, um local para descansar, água e alimento à disposição”, explica o intérprete de Libras Huille Oliveira.
📌 Investigação
O gado que alimenta a devastação da Amazônia: frigoríficos exportadores que atuam na Amazônia Legal seguem sem rastrear seus fornecedores indiretos. A Sumaúma teve acesso ao estudo inédito do Radar Verde, que mostra que seis frigoríficos autorizados a exportar para a União Europeia – incluindo JBS, Marfrig e Minerva – afirmam ter controle sobre seus fornecedores diretos, mas nenhum implementou sistemas para rastrear as fazendas que vendem ou transferem gado a intermediários. Com o adiamento da Lei Antidesmatamento do bloco europeu, essas empresas ganham tempo para continuar adquirindo carne proveniente de áreas desmatadas. “O que estamos vendo é um ecossistema de leniência para garantir que carne contaminada com desmatamento continue a ser exportada”, afirma Paulo Barreto, pesquisador do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon).
🍂 Meio ambiente
As mineradoras Vale, Samarco e BHP foram absolvidas das acusações de crimes ambientais relacionados ao desastre de Mariana, que aconteceu em 2015. O rompimento da barragem de rejeitos controlada pelas empresas causou a morte de 19 pessoas e derramou 43,8 milhões de metros cúbicos de metais no rio Doce. Segundo a CartaCapital, a juíza Patrícia Alencar Teixeira de Carvalho, da Justiça Federal de Ponte Nova (MG), justificou a decisão pela falta de provas suficientes para comprovar que as empresas foram responsáveis pela tragédia. Apesar de reconhecer falhas administrativas e de comunicação dentro da Samarco, a magistrada afirmou que não foi possível estabelecer uma relação de causalidade. A sentença não afeta o acordo civil de reparação de R$ 170 bilhões, firmado em outubro deste ano, no que diz respeito à responsabilidade pelas reparações.
📙 Cultura
Indígenas Guarani Nhandewa do Paraná concorreram ao Grammy Latino 2024 na categoria “Melhor Performance de Música Eletrônica Latina”, com a faixa “Pedju Kunumingwe”, em colaboração com o DJ e produtor musical Alok. A canção integra o álbum “O Futuro é Ancestral”, que reúne canções gravadas com oito povos indígenas brasileiros. A Rede Lume detalha que Everton Lourenço e Igor Camargo (MC Igor), ambos da Terra Indígena Laranjinha, viajaram para Miami, nos Estados Unidos, para participar da cerimônia de premiação. A colaboração teve início em 2021, durante um protesto contra o marco temporal, quando Alok se uniu aos indígenas. “Desde criança, nas casas de reza, nunca imaginei que chegasse tão longe. Mas desde pequeno tinha esse sonho de ser artista”, afirma Lourenço. Embora não tenha sido premiada, a faixa celebra a transmissão de saberes tradicionais e a preservação da natureza e da cultura.
🎧 Podcast
Explicar a história da língua e a linguística histórica para o público de outras áreas. Esse foi o ponto de partida do escritor e tradutor Caetano Galindo para a produção do livro “Latim em Pó”. No “Fio da Meada”, produção da Rádio Novelo, Galindo, com 27 anos de experiência em linguística histórica, fala sobre a evolução do português falado no Brasil, a complexidade de traduzir obras estrangeiras e critica o preconceito linguístico. Para o autor, o objetivo de sua obra é levar o leitor a refletir sobre como “eliminar o complexo de vira-lata, fazer os brasileiros deixarem de ter vergonha do que é efetivamente nosso na nossa língua. E, no meio do caminho, mostrar para as pessoas o quanto essas coisas de que a gente foi ensinado a ter vergonha são quase sempre consequências da presença negra na história do Brasil e na nossa língua”.
👩🏾⚕️ Saúde
O diagnóstico de transtorno depressivo, déficit de atenção e transtorno do jogo faz parte da vida de Eva (nome fictício), de 55 anos, após se envolver com apostas online. Em apenas um ano de vício, ela perdeu ao menos R$ 300 mil e precisou recorrer a empréstimos com amigos, filhos e até agiotas. “Minha saúde mental está bem abalada, sinto desânimo, tristeza e revolta pelo que me aconteceu”, relata. Eva tentou parar várias vezes e, após uma recaída, teve de se mudar para o Rio Grande do Norte devido a dívidas com agiotas. Hoje, em tratamento psiquiátrico, ela ainda enfrenta os traumas do vício. Na série “Entre Bets e Perdas”, o Nós, Mulheres da Periferia revela o impacto dos jogos de azar online em mulheres periféricas. Segundo pesquisa do Instituto Locomotiva, 51% das pessoas que fazem apostas esportivas online sentem aumento da ansiedade, 27% têm mudanças repentinas de humor, e 26% sentem aumento de estresse.