A pior queimada do Pantanal e os sons debaixo do mar em Santos
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🔸 As queimadas no Pantanal nunca foram tão graves. Só nos primeiros 20 dias deste mês, o número de focos de incêndio no bioma foi quatro vezes maior do que o recorde para junho, registrado em 2005. Naquele ano, foram 435 focos no período. Agora, são 1.729, segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). O Colabora informa que as queimadas neste ano superam o registrado no mesmo período de 2020, pior ano da história de incêndios no Pantanal. A destruição é agravada pela seca – a última grande cheia no bioma ocorreu seis anos atrás. “Vemos estes incêndios se alastrando de forma muito rápida, ganhando uma força grande e a tendência é só piorar daqui para frente. Acho que esse é o sinal para que os órgãos públicos ajam em conjunto, cooperem para atuar quanto antes, não esperar a situação sair completamente fora de controle para tentarem atacar só na remediação”, alerta o biólogo Gustavo Figueirôa, do SOS Pantanal.
🔸 Os primeiros animais vítimas dos incêndios atuais são répteis e anfíbios. Isso por causa de seu deslocamento mais lento, que os impede de fugir a tempo do fogo. Desde a semana passada, biólogos e veterinários do Grupo de Resgate Técnico Animal Cerrado Pantanal (Gretap-MS) percorrem a região de Paraguai Mirim e do município de Corumbá em busca de animais a serem resgatados. O Fauna News lembra que, em 2020, mais de 17 milhões de vertebrados morreram vítimas da destruição. “[Agora] O fogo é muito recente, e ainda não houve necessidade de resgate. Os animais começarão a sentir os efeitos e consequente falta de alimento daqui um tempo”, explica Sérgio Barreto, biólogo do Instituto Homem Pantaneiro (IHP) e voluntário do Gretap-MS.
🔸 O governo do Mato Grosso do Sul decretou emergência nos municípios afetados pelos incêndios. Até domingo, 480 mil hectares já haviam sido consumidos pelo fogo. O governo federal, por sua vez, fez uma reunião de emergência sobre as queimadas ontem, no Palácio do Planalto. O Metrópoles conta que o grupo criado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para discutir mudanças climáticas agora tem o foco voltado para o enfrentamento aos incêndios no Pantanal e na Amazônia.
🔸 A propósito: começou ontem, em cinco estados, a greve de servidores do Ibama, ICMBio, Serviço Florestal e Ministério do Meio Ambiente (MMA). Paraíba, Pará, Acre e Rio Grande do Norte foram os primeiros a aderir ao movimento. Outros 17 estados devem engrossar a greve a partir da próxima segunda-feira, segundo a epbr. Depois de seis meses de negociações com Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos, não houve avanços: a Associação Nacional dos Servidores da Carreira de Especialista em Meio Ambiente (Ascema Nacional) alega que a proposta apresentada foi rechaçada em todas as conversas.
🔸 “Eles sabem que nossa reestruturação é uma questão de justiça e que não promovê-la tem um custo político enorme, pois revela uma incoerência retumbante deste governo.” A afirmação é de Wallace Rafael Rocha Lopes, analista ambiental e diretor adjunto da Ascema Nacional. Em artigo n’O Eco, ele explica que a categoria, “além de combater em campo facções criminosas fortemente armadas que se espalharam feito ratazanas pela Amazônia, ainda é responsável pela proteção direta de mais de 20% de todo o território nacional”. A Advocacia Geral da União (AGU) informou que vai acionar o Superior Tribunal de Justiça (STJ) pedindo a ilegalidade da greve. O diretor da Ascema questiona: “Será mesmo que este governo vai assumir, diante do Brasil e do mundo, uma postura persecutória contra os servidores da área ambiental, já tão assediados e humilhados no governo Bolsonaro?”.
📮 Outras histórias
Figurinos para as quadrilhas e decoração das festas juninas brotam da máquina de costura de Daiane Heisig. Empreendedora há 12 anos, a costureira sabe que, em outros meses, o volume de trabalho pode oscilar, mas nunca no mês de São João: “Eu posso afirmar que junho é um dos melhores meses do ano. Eu venho trabalhando, geralmente todos os anos, de dois, três meses antes, no intuito do São João”. O Site Coreto conversa com as mulheres que fazem a festa junina em Poções, na Bahia, seja nas máquinas de costura, seja na criação de alimentos e bebidas. Na frente da produção de licores, Sheila Cunha criou uma marca que carrega no nome o clima junino. A “Fogueira de Sabor” tem opções de café, doce de leite, amendoim e chocolate.
📌 Investigação
Com mais de 400 aerogeradores de tamanho equivalente a prédios de 43 andares, o projeto do Complexo Manacá, parque eólico da Quinto Energy, teve o licenciamento prévio aprovado pelo governo da Bahia – sem apresentar um estudo completo de impacto ambiental. A Repórter Brasil apurou que os municípios de Jaguarari e Campo Formoso, onde o empreendimento está planejado, ficam em áreas consideradas prioritárias para a conservação pelo governo federal. A região é classificada como de importância biológica “extremamente alta” e “prioridade de ação”. Em grande parte localizadas na Caatinga, as duas cidades ocupam uma extensão de serras com resquícios de Mata Atlântica e Cerrado Elas também abrigam nascentes de alguns dos principais rios do estado e são berço de diversas espécies ameaçadas de extinção.
🍂 Meio ambiente
Durante seis anos, 11 pesquisadores se dedicaram a monitorar os sons subaquáticos na Bacia de Santos, em São Paulo. O objetivo era identificar ruídos associados às atividades humanas de exploração e produção de petróleo e gás na área. O Correio Sabiá explica que, a partir do projeto, é possível ter dados fundamentais para modelagem acústica, estudo de impacto ambiental e orientação de políticas públicas, uma vez que entender os efeitos dos sons é essencial para a proteção dos oceanos. O método utilizado foi o Monitoramento Acústico Passivo (PAM, na sigla em inglês), que permite de modo não invasivo o monitoramento quase contínuo em grandes escalas, além de análises da biofonia (sons biológicos), geofonia (sons ambientais) e antropofonia (sons humanos).
📙 Cultura
“Bagaceira é o fim de uma festa. Depois das Festas de São Sebastião, eu via que o povo se reunia e continuava as comemorações, tinha uma mistura muito grande de vários ritmos. E eu vejo que isso ainda acontece hoje em dia, no final da festa toca brega, toca lambada, toca carimbó, toca guitarrada, essa bagaceira!”, afirma Dona Onete, a “rainha do carimbó”. “Bagaceira” também é o nome do novo álbum da cantora, lançado na última semana junto ao seu aniversário de 85 anos. Em entrevista à revista O Grito!, Dona Onete fala sobre os ritmos típicos do interior do Pará e da cultura da Amazônia que permeiam o novo trabalho. “Trouxe isso pra mostrar pro pessoal que não é só dentro da capital Belém que tem as grandes festas como de aparelhagem, como de carimbó mesmo, raiz. Tem outras coisas pelo interior.”
🎧 Podcast
No bairro de São José, em Porto Alegre, os moradores vivem a poucos metros de uma refinaria e respiram os gases tóxicos emitidos no processo industrial. Os impactos revelam as falhas de estudos ambientais e fiscalizações. O “Ciência Suja”, produção da NAV Reportagens, mergulha nas “zonas de sacrifício”, áreas próximas a grandes indústrias que causam impacto socioambiental. O episódio mostra a realidade do bairro gaúcho e também destrincha casos semelhantes em Pernambuco, Rio de Janeiro e São Paulo.
✊🏽 Direitos humanos
Segurança pública, educação e emprego e renda separam a população LGBTQIA+ das favelas de cidadania plena. A discriminação no ambiente escolar, por exemplo, faz com que esse grupo deixe de estudar. “Sofri muito bullying na escola e nas ruas da favela. Parei de estudar na 8º série para trabalhar”, conta Lorena Clarindo, travesti negra e moradora do Complexo do Alemão, zona norte do Rio de Janeiro. Segundo o Voz das Comunidades, corpos LGBTQIA+ também estão vulneráveis à política de segurança pública adotada nas favelas e à exclusão do mercado de trabalho. “Quando encaminhamos uma pessoa transexual a uma empresa, apenas envio o nome. Quando chegam lá e se dão conta que não é uma pessoa cisgênero, começa a problemática. Dizem que não se enquadra na vaga oferecida”, afirma Paloma Martins, coordenadora do projeto Emprega Mina.