As pioneiras do futebol feminino e a crise na Cracolândia
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🔸 A Copa do Mundo feminina começou hoje e, pela primeira vez, em dois países: Austrália e Nova Zelândia. Também será a primeira vez que 32 países disputam o torneio – antes, eram 24. O governo decretou ponto facultativo nos jogos do Brasil e, segundo a ministra do Esporte, Ana Moser, profissionais poderão se ausentar durante a partida e até 2 horas horas após seu término. A Periferia em Movimento lembra que a seleção brasileira faz sua estreia na segunda, lista as convocadas e destaca os favoritos desta Copa. O Metrópoles informa que o Brasil já apareceu no primeiro jogo, na manhã de hoje, entre Austrália e Irlanda: a partida foi comandada pelo quarteto de arbitragem formado por Edina Batista, Neuza Back, Leila Moreira e Daiane Muniz.
🔸 Em áudio: a seleção brasileira participou de todas as edições do torneio, que começou em 1991. Na época, o evento foi praticamente ignorado pela imprensa. O “Papo Preto”, podcast da Alma Preta, conta quem foram as pioneiras do futebol feminino – muitas delas, mulheres negras como Miriam Soares, goleira da seleção em 1991, entrevistada do episódio. “A gente usava o material do masculino. Não tinha um material próprio para o feminino. A gente usava uns uniformes enormes”, lembra ela. O podcast ouve ainda Thais Picarte, que atuou na coordenação do Departamento de Futebol Feminino da Federação Paulista de Futebol, iniciativa central para a profissionalização do futebol feminino.
🔸 Ainda a Copa do Mundo: esta edição será a primeira em que a seleção brasileira é comandada por uma técnica mulher, a sueca Pia Sundhage. Ela também é a única estrangeira à frente da seleção brasileira em uma Copa, tanto no feminino como no masculino. Os homens ainda são maioria no posto de técnico: das 32 seleções que disputam o Mundial neste ano, apenas 12 são treinadas por mulheres. O Nexo reúne em gráficos dados sobre a presença majoritária de homens na função.
🔸 A desigualdade de gênero na ciência brasileira. Nas Ciências Agrárias, as mulheres chegam a 51% entre aqueles que obtêm o título de doutorado, mas são só 26% das professoras permanentes. Já na Economia, 37% são doutoras e 20% docentes, enquanto na medicina, há 61% de doutoras mulheres e 45% entre as professoras. A partir da pesquisa “Diversidade na Ciência Brasileira”, do Grupo de Estudos Multidisciplinares da Ação Afirmativa (GEMAA) em parceria com o Instituto Serrapilheira, a Gênero e Número traça um panorama das desigualdades de gênero no campo científico e aponta polícias públicas que podem ajudar a reverter o cenário.
📮 Outras histórias
Diante do desafio de sensibilizar e qualificar profissionais sobre o aborto legal, um grupo de Santa Catarina lançou a Cartilha de Atenção Humanizada à Interrupção Legal da Gravidez. O documento destaca, por exemplo, que não há limite gestacional para a realização do procedimento e lembra que não é preciso apresentar documentos comprovando violência sexual ou autorização judicial. O Catarinas detalha o trabalho do grupo que coletou dados sobre os serviços de interrupção legal da gestação no contexto catarinense. “A maioria dos municípios indicava como referência hospitais que não realizam ou que não são referência para realizar a interrupção legal da gestação”, afirma o promotor de justiça Douglas Roberto Martins, coordenador do Centro de Apoio Operacional da Saúde Pública do Ministério Público de Santa Catarina.
📌 Investigação
A presença de missionários evangélicos na Amazônia se intensificou no governo Bolsonaro. Embora esses grupos atuem na região desde os anos 1960, as investidas na conversão de indígenas ficaram mais acentuadas nos últimos quatro anos. A Repórter Brasil, em parceria com O Joio e O Trigo e o Le Monde Diplomatique Brasil, revela que alguns missionários são pilotos e usam aeronaves próprias para chegar a esses locais. Em geral, as organizações que os financiam têm sede nos Estados Unidos e fazem vaquinhas virtuais para financiar as ações, como a formação de pastores-pilotos e a tradução da Bíblia para o idioma nativo das comunidades. Esses grupos demonstram ainda mais interesse em chegar aos povos isolados – uma violação à Constituição Federal e aos tratados internacionais firmados pelo Brasil.
🍂 Meio ambiente
O Ministério do Meio Ambiente está trabalhando na integração de dados ambientais entre o Ibama, o Incra, a Funai, o ICMBio e todos os órgãos com competências na área. É o que aponta André Lima, secretário extraordinário de Controle de Desmatamento e Ordenamento Ambiental Territorial da pasta, em entrevista à InfoAmazonia. Batizado de Laboratório do Desmatamento Zero, o “Lab DeZ” busca centralizar as ações de combate a crimes na Amazônia, unindo uma série de bancos de dados de fiscalização, que atualmente existem, mas não se conversam. “Queremos colocar o Cadastro Ambiental Rural para rodar com todos os demais dados e usar esse conhecimento. Não dá para fazer fiscalização de forma presencial no Brasil inteiro. A tecnologia, portanto, é vital para esse trabalho”, explica.
Por falar em desmatamento: 82% da ação no Cerrado em propriedades privadas no primeiro semestre deste ano e os estados do Matopiba – Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia – responderam por 74,7% da área desmatada. No bioma todo, houve um aumento de 28% no desmate. Os dados são do Sistema de Alerta de Desmatamento do Cerrado (SAD Cerrado), monitoramento mensal e automático desenvolvido por pesquisadores do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam) com imagens de satélites do Sentinel-2, da Agência Espacial Europeia. Segundo o Projeto Colabora, a taxa preocupa os pesquisadores porque a temporada de seca no bioma, quando o desmatamento costuma ser maior, ainda está no começo.
🎧 Podcast
Raça, gênero e classe estão diretamente ligadas aos direitos territoriais dos povos e comunidades tradicionais do Cerrado e também às ameaças sofridas por essas populações. O último episódio da série especial “Território Vivo: O Combate às Mudanças Climáticas no Cerrado”, do podcast “Guilhotina”, produção do Le Monde Diplomatique Brasil, conversa com Emília Costa, do quilombo Santo Antônio do Costa, no interior do Maranhão, e Fran Paula, da comunidade Campina de Pedra, no Mato Grosso, para trazer a perspectiva da luta pelos territórios onde vivem. Já Carmen Silva, integrante do SOS Corpo – Instituto Feminista para Democracia, explica como o agronegócio que avança sobre essas comunidades também as deixa mais vulneráveis às mudanças climáticas.
📙 Cultura
“As minhas músicas andaram com as próprias pernas.” Idaulina Alves da Silva, a Mc Dandara, faz parte da primeira geração feminina do funk. Nascida em 1967, em Cururupu (MA), e abandonada pela mãe aos 6 anos de idade, sua trajetória na música começa em 1995, quando participou do Festival de Rap no Merck, concurso musical em Jacarepaguá, na zona oeste do Rio de Janeiro. Ela apresentou o “Rap da Benedita” e conquistou o primeiro lugar. Sua composição foi inspirada em Benedita da Silva, à época senadora do estado e uma das únicas mulheres negras na política. O Nós, Mulheres da Periferia narra a história de luta de Mc Dandara, que, agora aos 55 anos, ainda sonha em “estourar” musicalmente. “Sonho em gravar uma música com Ludmilla ou então um samba com a Alcione”, conta.
Nas ruas de São Paulo, está um homem atuante na luta pelos direitos humanos. Responsável pela Pastoral da Rua da Arquidiocese de São Paulo, o Padre Júlio Lancellotti trabalha junto a pessoas em situação de rua, distribuindo alimentos, agasalhos, abrigo e lutando contra a violência policial. Um pedaço de seu cotidiano está registrado agora no documentário “Júlio Lancellotti, o Padre Mais Anarquista do Brasil”, dirigido pelo fotógrafo e videorrepórter Caio Castor. “Ele tem uma construção coletiva tanto na convivência da população mais carente quanto no enfrentamento das autoridades por meio de ações direta. Isso marca muito”, afirma à Ponte.
✊🏽 Direitos humanos
A crise na Cracolândia, no centro de São Paulo, é justificativa para “política de exceção” e manutenção da especulação imobiliária, reforçada no Plano Diretor da cidade, pontua o bacharel em políticas públicas Aluízio Marino, um dos coordenadores do LabCidade, laboratório de pesquisa e extensão da USP. A Agência Pública conversa com o especialista, que destaca que a política no tratamento da região é a mesma nos últimos 30 anos e uma deliberada “aposta no erro”: “A história dos projetos para a Cracolândia e para o Centro, eles se cruzam. As operações policiais e os grandes projetos urbanísticos coincidem. E não é ao acaso que essa máquina de guerra se construiu”, diz.