O petróleo na foz do Amazonas e os festivais de cinema no agreste
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🔸 O Brasil pode tomar medidas excepcionais em caso de omissão do governo espanhol diante do décimo episódio de racismo contra o jogador brasileiro Vinícius Jr., do Real Madrid. O ministro da Justiça, Flávio Dino, lembrou o princípio da “extraterritorialidade” segundo o qual é possível que, “no caso de crimes contra brasileiros, mesmo no exterior, haja aplicação da lei brasileira”. O Portal Terra destaca também as falas de Silvio Almeida, ministro dos Direitos Humanos, em defesa de Vini Jr.: “A violência racista contra ele demonstra que existe um problema muito maior e que tende a se espalhar para muito além do campo e do estádio. Então, nós temos um problema político, de grande monta, o que justifica, inclusive, as manifestações por parte do Estado brasileiro”.
🔸 As punições foram nulas ou brandas nos nove episódios anteriores de racismo contra Vini Jr. no campeonato nacional espanhol, LaLiga. Entre os quatro casos que continuam pendentes, está aquele em que torcedores do Atlético de Madrid penduraram um boneco caracterizado como o brasileiro em uma ponte em Madri, simulando um enforcamento, em janeiro deste ano. O Nexo detalha como foram tratadas as ofensas racistas contra Vini Jr., mostra o papel da imprensa e como se comporta o presidente de LaLiga, Javier Tebas. Lembra ainda da entrevista com Marcelo Carvalho, diretor do Observatório da Discriminação Racial no Futebol, que defende punições desportivas como forma de obter mudanças a curto prazo: “A gente tem que ter perda de pontos, tem que ter perda de mando de campo, tem que ter exclusão de campeonato. Ou o cenário não muda”.
🔸 Em vídeo: Vini Jr. compilou as ofensas das quais foi alvo e publicou no Instagram ontem, como mostra o Esporte News Mundo. Na legenda, o jogador brasileiro lembrou que “não são casos isolados” e afirmou que o problema é “gravíssimo”. “As provas estão aí no vídeo. Agora pergunto: quantos desses racistas tiveram nomes e fotos expostos em sites? Eu respondo pra facilitar: zero. Nenhum pra contar uma história triste ou pedir aquelas falsas desculpas públicas. O que falta para criminalizarem essas pessoas?”, questionou.
🔸 O governo abriu uma consulta pública para elaborar uma política nacional de educação midiática. Segundo o texto, a administração federal terá seis eixos de atuação – entre eles, pactuar compromissos com as grandes empresas de tecnologia, como informa a Lupa. A consulta ocorre em meio aos debates sobre o PL 2.630, que trata da regulamentação das plataformas digitais no país. Além da regulação, o governo afirma que pode procurar as empresas para pensar em “designs alinhados à proteção de direitos no ambiente digital e à educação midiática”.
🔸 Depois de o Ibama negar licença para a perfuração de petróleo na foz do rio Amazonas, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse que considera “difícil” haver impacto sobre a Amazônia por ser uma exploração em alto-mar: “Se extrair petróleo na foz do Amazonas, que é a 530 km, em alto-mar, se explorar esse petróleo tiver problema para a Amazônia, certamente não será explorado. Mas eu acho difícil, porque é a 530 km de distância da Amazônia, sabe?” O Metrópoles lembra que a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva (Rede), já havia se posicionado contra o projeto. Tão logo o Ibama negou a licença, o senador Randolfe Rodrigues, líder do governo Lula no Congresso, rompeu com ela e também deixou o partido Rede Sustentabilidade.
🔸 A bancada ligada ao governo quer tirar do texto do novo arcabouço fiscal as travas que limitam os investimentos em educação, por meio do Fundeb. O fundo que promove o financiamento da educação básica pública estava fora do teto de gastos, regime fiscal implementado em 2016 durante o governo Michel Temer. Agora, no projeto que tem relatoria do deputado Cláudio Cajado (PP-BA), foi incluído entre os gastos do cálculo do limite, segundo o Congresso em Foco. O ponto gerou divergências entre governistas e até mesmo junto ao Ministério da Educação. Já os parlamentares querem convencer o relator a alterar o texto.
📮 Outras histórias
“Vivo aqui porque não tenho dinheiro para pagar um aluguel.” Mãe de três filhos, Adrielly da Silva Alvez Coffrau, de 23 anos, mora na Fazendinha, no Complexo do Alemão, na zona norte do Rio de Janeiro. Nos dias de chuva, o lixo das partes mais altas do morro desce com a água. Há risco de desabamento e falta saneamento básico. O Voz das Comunidades mostra que, também na região da Palmeira, as moradias não têm estrutura e correm o risco de cair. Mais de 70% dos moradores do Alemão consideram as condições ambientais do território como precária, segundo a pesquisa Juventudes em Movimento.
📌 Investigação
Terras de acusados de grilagem foram compradas pela Cosan e pela TIAA, organização financeira que gerencia fundos de pensão bilionários de professores e servidores públicos dos Estados Unidos. A maior parte das propriedades estão na região do Matopiba – que inclui os estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia –, considerada a nova fronteira do agronegócio. A gigante brasileira e a TIAA abriram empresas conjuntas, como a Radar Propriedades Agrícolas S.A. Esta, por sua vez, comprou a fazenda Parceiros do latifundiário José Valter Dias, acusado por agricultores de ter tomado as terras à força, expulsando centenas de pequenos proprietários das casas onde viviam havia décadas. A Agência Pública teve acesso a documentos de venda, registros de compra de terra, auditorias internas, apresentações e e-mails que revelam que a Cosan e a TIAA estavam cientes dos possíveis casos de grilagem. A reportagem teve colaboração da AidEnvironment e da Organized Crime and Corruption Reporting Project (OCCRP).
🍂 Meio ambiente
Comunidades quilombolas são escudos de proteção na Amazônia. São 148 quilombos titulados pelo Instituto Nacional da Colonização e Reforma Agrária (Incra) e outros 583 em processos de titulação. A InfoAmazonia apurou dados geográficos de 144 terras quilombolas, entre tituladas e com processo em andamento, e revela que 99% desses territórios mantiveram os registros de desmatamento praticamente inalterados nos últimos 13 anos, mostrando que a regularização é fundamental para garantir a floresta em pé. Nas comunidades Santa Fé do Guaporé e Jesus, localizadas entre os municípios de São Miguel do Guaporé e Costa Marques, em Rondônia, 98% da vegetação nativa do território está preservada, e os pequenos pontos de desmatamento indicam o uso da terra para o roçado. Lá, moram 53 famílias, que vivem da pesca, da caça e do cultivo da mandioca, milho e feijão.
Na contramão da emergência climática, o Ceará se prepara para instalar mais uma usina termelétrica movida pela queima de combustível fóssil. Com a instalação já licenciada pela Superintendência Estadual do Meio Ambiente (Semace), a obra será inserida no Complexo Industrial e Portuário do Pecém, na Região Metropolitana de Fortaleza. A Eco Nordeste explica que o projeto tem gerado resistência de ambientalistas, das associações indígenas e da comunidade acadêmica do estado. O Instituto Verdeluz, por exemplo, protocolou uma ação civil pública na Justiça Federal do Ceará, em que pede a suspensão imediata da instalação da nova termelétrica. A ONG ainda aponta que a poluição pelo pó de carvão, que gera e agrava problemas de saúde, chega a aldeias localizadas a mais de dez quilômetros de distância.
📙 Cultura
Festivais de cinema no agreste. O premiado cineasta pernambucano Leo Tabosa é diretor artístico de dois festivais em cidades do interior do Nordeste: a Mostra Curta Vazantes, no município de Vazantes, no Ceará, e o Cine Jardim – Festival Latino-Americano de Cinema de Belo Jardim, em Pernambuco. Tabosa relata as dificuldades de acesso ao audiovisual fora das capitais: “Passei minha adolescência na cidade de Caruaru, agreste setentrional, sem uma sala de cinema ou qualquer projeto de festival ou mostra de cinema. Fazer cinema para mim era algo muito distante da minha realidade”. Em entrevista à revista O Grito!, o cineasta aponta a necessidade de “políticas públicas voltadas para a efetiva democratização e interiorização do cinema”.
A HQ “Os Afrofuturistas – O Ataque dos Kips” une referências da mitologia africana e da cultura afro-brasileira. Roteirizada por Marcelo Lima e ilustrada por Renato Barreto, a obra é voltada para o público infanto-juvenil, ambientada na cidade de Salvador (BA) e permeada por gírias e citações da cultura baiana. “Gosto de ver que hoje adultos e crianças têm um leque bem maior de protagonistas negros e negras para se relacionarem, mas ainda é preciso muito mais”, afirma o roteirista. A Escotilha informa que, para celebrar o lançamento do quadrinho, Lima promove uma roda de conversa no dia 3 de junho, na capital baiana, para discutir afrofuturismo, literatura e infância.
🎧 Podcast
Informação e visibilidade para pessoas com deficiência (PCDs). O novo episódio do podcast “E-coar”, produção da Coar, reúne uma série de projetos voltados para a inclusão de PCDs, como o Eficientes, a primeira organização de jornalismo de Pernambuco focada nessa população, e o Vale PCD, um coletivo que atua na interseccionalidade das pessoas com deficiência que são LGBTQIA+, pensando em temas como acessibilidade, empregabilidade e saúde mental. “Ser empreendedora com deficiência no Brasil é difícil, porque o trabalho é pioneiro em muitas coisas e sem muitas fontes de dados”, explica Priscila Siqueira, do Vale PCD.
👩🏽💻 Tecnologia
“O GPS, o filme 3D, o videogame tiveram participações diretas de pessoas negras no seu desenvolvimento”, escreve Gabryele Moreira, física médica e mestre em ciências no programa de tecnologia nuclear da USP, em artigo no Headline. Ela descreve como essas tecnologias dependeram das mentes de pessoas negras, como Jerry Gerald A. Lawson, que ajudou a desenvolver o primeiro console doméstico com cartuchos equipados com games e o conceito de pausar um jogo. “Se pararmos para pensar, a nossa base matemática, física e química surgiram no Egito antigo. Portanto, inovações e tecnologias feitas por mãos negras são mais comuns e ancestrais do que pensamos”, completa.