O petróleo na Foz do Amazonas e o terreiro mais antigo do Pará
Uma curadoria do melhor do jornalismo digital, produzido pelas associadas à Ajor. Novos ângulos para assuntos do dia
🔸 A Polícia Federal intimou Jair Bolsonaro (PL) a depor no inquérito que apura a troca de mensagens com teor golpista entre empresários ao longo de 2022. O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes decidiu prorrogar por 60 dias a investigação em torno de Luciano Hang, da Havan, e Meyer Nigri, da Tecnisa. Este último travou diálogo com Bolsonaro no Whatsapp no qual o então presidente atribuía ao ministro do STF Luis Roberto Barroso uma “interferência” para derrubar a PEC do Voto Impresso no Congresso Nacional. A CartaCapital informa que o ex-presidente deu ordem expressa ao empresário para o disparo da informação falsa. “Repasse ao máximo”, escreveu Bolsonaro. Seu depoimento está marcado para 31 de agosto.
🔸 A exploração de petróleo na Foz do Amazonas ganhou ontem novo capítulo. A Advocacia-Geral da União (AGU) publicou um parecer que contraria o Ibama e afirma que a Avaliação Ambiental de Área Sedimentar (AAAS) não é indispensável para o licenciamento de empreendimentos de exploração de combustíveis no país. O epbr lembra que, quando negou a licença para a Petrobras em maio, o Ibama alegou a necessidade de realização de estudos de caráter estratégico, a AAAS, na bacia do Amazonas. Ao discordar do órgão sobre o licenciamento, o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, solicitou o parecer à AGU em julho.
🔸 O STF decidiu equiparar ofensas a pessoas LGTBQIA+ ao crime de injúria racial. O pedido partiu da Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Intersexos (ABGLT). Segundo a entidade, a equiparação é necessária para assegurar proteção à população LGBTQIA+. O Notícia Preta explica que, com a decisão da Corte, atos de discriminação e ofensas de cunho LGBTfóbicos e transfóbicos poderão ser punidos de forma mais rígida. Isso porque outras penas previstas em crimes contra honra são mais brandas.
🔸 A pena dos policiais condenados pela morte do pedreiro Amarildo aumentou. O Superior Tribunal de Justiça (STJ) ampliou o tempo de prisão de três PM’s envolvidos no assassinato e no desaparecimento de Amarildo Dias de Souza, caso que ocorreu há dez anos na Favela da Rocinha, zona sul do Rio de Janeiro. O Voz das Comunidades pondera que os agentes não estão presos e, portanto, seguem em atividade na capital fluminense.
📮 Outras histórias
Precursor no culto de matriz africana na Amazônia, o terreiro mais antigo do Pará completa hoje 133 anos. Localizado na periferia de Belém, o Terreiro de Mina Dois Irmãos tem sua origem atrelada à chegada do tambor de mina à região. Trata-se de uma crença que surgiu no Maranhão e que, a partir do Pará, tornou-se uma das mais populares religiões da Amazônia. À Alma Preta Danilo Barbosa, historiador e mestrando em Ciências da Religião pela Universidade do Estado do Pará (Uepa), explica que o tambor de mina carrega influências das tradições indígenas e do culto aos orixás. Uma de suas características é a louvação aos voduns, entidades espirituais que representam reis que viveram em terra. A reportagem conta a história do terreiro paraense e conversa com Mãe Eloísa de Badé, que carrega o legado iniciado por Mãe Josina no dia 23 de agosto de 1890.
📌 Investigação
“O fim do genocídio da população pobre e preta das periferias”: era esta a principal demanda de um protesto no último domingo em Pirituba, na zona oeste da cidade de São Paulo. O pedido de justiça é em nome de Jorge Eduardo Rodrigues Filho, jovem morto pela Polícia Militar em novembro do ano passado. A Ponte conta que imagens de câmeras mostram que o jovem, que completaria 22 anos na semana passada, teria se rendido dizendo: “Perdi, senhor”. Mesmo assim, Luiz Guilherme Pascoaloto da Silva e Matheus Luciano de Oliveira Barros teriam atirado sete vezes contra o garoto. O material em vídeo usado no inquérito vem das câmeras corporais dos próprios policiais. Nenhum deles, porém, ativou o áudio dos equipamentos desde o início da ação. “Só porque a gente é pobre, se estivermos num canto a gente já está enquadrado, já é insultado, já é violentado, agredido, isso não pode acontecer”, diz Agatha Andreza Pires Ferreira, mãe de Jorge.
🍂 Meio ambiente
Tida como uma forma de imersão cultural e de turismo, a observação de aves pode ser praticada de forma acessível, como atividade recreativa e por conta própria. A Fauna News conta alguns dos elementos necessários para a prática. Ter uma base de conhecimento sobre a avifauna local, utilizar aplicativos que auxiliam a atividade, instalar comedouros e usar binóculos, por exemplo, já permitem a apreciação das diversas espécies. Nos Estados Unidos, cerca de 65% dos observadores de pássaros já optam por fazê-lo de forma independente, a partir dos próprios quintais ou parques. Dentre as principais vantagens, está a conscientização sobre a região, a criação de uma conexão maior com as espécies do entorno e a valorização dos espaços locais de natureza.
📙 Cultura
Millôr Fernandes completaria 100 anos nesta semana. Biógrafo do artista, Paulo Roberto Pires conta que o desenhista, jornalista e dramaturgo foi também um “excelente arquivista” e documentou quase integralmente seus 70 anos de trabalho. O Headline narra a trajetória de Millôr por meio das memórias que ele próprio arquivava e que foram cedidas ao Instituto Moreira Salles (IMS). Por ocasião do centenário, o IMS disponibiliza em seu site quatro mil desenhos de Millôr. Quanto à biografia assinada por Paulo Roberto Pires, o escritor diz que ela deve estar nas livrarias no final de 2024. “Esse é um sujeito que sai da extrema pobreza e precariedade, inclusive afetiva, que perdeu os pais muito cedo e foi viver de favor com a família. É, portanto, alguém que entende o valor do empenho intelectual que começou a exercer desde cedo. Ele nunca parou de trabalhar, vai e vem o tempo inteiro, está sempre estudando. O arquivo é uma continuação disso”, afirma o biógrafo.
A 35ª Bienal de São Paulo terá uma sauna lésbica. A obra é formada por trabalhos das artistas Malu Avelar, Ana Paula Mathias, Anna Turra, Bárbara Esmenia e Marta Supernova e pretende proporcionar um espaço para o encontro e a escuta das diversas lesbianidades. Ao Nonada Malu Avelar conta que, ao ouvir histórias sobre saunas gays, refletia sobre a possibilidade de um espaço lésbico que partisse de experiências coletivas com base na linguagem artística. A partir dessa reflexão, ela passou a convidar pessoas para as edições da Sauna Lésbica, que hoje se consolida como um coletivo. As artistas revelam que o grupo também é uma forma de convite para acionar a imaginação – o próprio nome parte da ideia de visualizar a sauna como um lugar de cura e relaxamento, e não de forma sexualizada.
🎧 Podcast
Por que a coleta seletiva é vista como um trabalho inferior? Elenita Rodrigues, catadora e cofundadora da Cooperativa Vera Cruz, discute a valorização dos catadores e o papel da mulher negra na pauta socioambiental no episódio 13 do “Cena Rápida”, produção do Desenrola e Não me Enrola. Ela e a pesquisadora socioambiental Ana Sanches contam como as catadoras viabilizam o que nem mesmo as políticas públicas conseguem realizar e como se articulam em torno de soluções de problemas ambientais. Ao mencionar a invisibilização de mulheres negras como agentes ativas na agenda do meio ambiente, elas questionam a desvalorização de determinados corpos e trabalhos devido ao racismo e à herança colonial.
👩🏽💻 Tecnologia
O salto da Inteligência Artificial desperta temores superestimados, segundo especialistas. O Fast Company Brasil lista contrapontos de profissionais da área que não são convencidos pelo potencial destrutivo da tecnologia. Segundo Yann LeCun, chefe de IA da Meta, por exemplo, “não chegaremos a uma inteligência artificial em nível humano, nem mesmo em nível de um cachorro ou gato”. Para Nick Clegg, o próprio “hype”, ou a alta do assunto, está à frente da capacidade de tais tecnologias. Os especialistas acreditam que os recursos são bastante limitados e que, de certa forma, compará-los à inteligência humana é subestimar a humanidade. Para o filósofo Noam Chomsky, sistemas como o ChatGPT “estão em fase de evolução cognitiva pré-humana ou não humana”.