As pessoas trans nas Olimpíadas e uma competição com dopagem liberada
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🔸 Quatro décadas depois de surgir em Nova York, o breaking ganha status de modalidade olímpica. O elemento do hip hop entrou para as Olimpíadas na esteira de outros esportes – em Tóquio, surfe e skate foram incorporados. Em Paris, além do breaking, entrou também a canoagem slalom. Mas um debate ronda os passos da nova modalidade: é arte ou esporte? “Já existia todo um ecossistema competitivo. A Olimpíada é mais um evento desse tipo”, afirma Leony, b-boy brasileiro melhor ranqueado internacionalmente. Por meio de animações, a revista piauí destrincha os movimentos do breaking, aponta nomes de destaque na história do esporte no Brasil e explica os critérios a serem avaliados pelos árbitros em Paris. As batalhas acontecem hoje e amanhã na Place de la Concorde. Entre os homens, os favoritos à medalha são Victor Montalvo (EUA) e Philip Kim (Canadá). Entre as b-girls, os olhos devem se voltar para a chinesa Liu Qingyi, a holandesa India Sardjoe, a lituana Nicka e a japonesa Ami.
🔸 No Brasil, o sábado será do futebol feminino. A seleção disputa o ouro com os Estados Unidos. As mulheres têm sido destaque nas Olimpíadas de forma geral. Representatividade, força política e sororidade marcam a presença das atletas nos jogos. É uma mulher, por exemplo, a primeira atleta paralímpica brasileira a disputar as Olimpíadas – Bruna Alexandre foi convocada para o tênis de mesa. O Catarinas lista oito momentos históricos destas Olimpíadas protagonizados por mulheres. Há, inclusive, atletas que competiram grávidas, caso da esgrimista egípcia Nada Hafez e de Yaylagul Ramazanova, que representa o Azerbaijão no tiro com arco.
🔸 Porém… falta representatividade trans nos Jogos de Paris. Embora esta edição tenha número recorde de atletas LGBTQIA+ (mais de 190), apenas duas são trans ou não-binárias: Nikki Hiltz, do atletismo dos Estados Unidos, e Quinn, do futebol canadense. A Agência Diadorim explica que o desafio de aumentar a representatividade trans nas Olimpíadas se deve às novas regras da competição, com restrições duras às pessoas dissidentes de gênero. Se antes a participação de atletas trans era avaliada de acordo com o nível de testosterona, agora o Comitê Olímpico Internacional (COI) determina que cada federação estabeleça suas regras para a participação de atletas trans em cada modalidade. O que se viu foram vários órgãos esportivos trabalhando para restringir a inclusão de atletas trans – principalmente mulheres.
🔸 A propósito: a extrema direita mira suas ações discriminatórias nas Olimpíadas contra mulheres que não se encaixam em padrões tradicionais de gênero. O alvo são mulheres trans e, mais recentemente, mulheres cis racializadas, como a boxeadora argelina Imane Khelif. Após sua vitória nos jogos, ela foi acusada de ter uma vantagem injusta, apesar de ser considerada apta a competir segundo o COI. O Intercept Brasil aponta uma estratégia comum da extrema direita: a prática de “testes de gênero”, usados para tentar definir o gênero de atletas com base em critérios biológicos simplistas e muitas vezes discriminatórios, como níveis de testosterona ou variações cromossômicas.
🔸 Pantanal em chamas: com uma semana, agosto já ultrapassou o total de focos de incêndio registrados em julho. Por causa das mudanças climáticas, as condições de calor, seca e ventos tornaram-se 40% mais intensas, segundo o World Weather Attribution (WWA), grupo internacional de cientistas especializados em estudos sobre o clima. O Colabora detalha a análise dos pesquisadores que avaliam como “devastadora” a temporada de queimadas no Pantanal. “Os incêndios florestais do Pantanal deste ano têm o potencial de se tornarem os piores de todos os tempos”, afirma o meteorologista Filippe LM Santos, um dos 18 cientistas envolvidos no estudo da WWA.
📮 Outras histórias
Cem dias depois da maior enchente da história de Porto Alegre, 650 alunos ainda aguardam o retorno às aulas. Os estudantes são de seis escolas que não voltaram a funcionar nos bairros São Geraldo, Humaitá e Sarandi, entre as 14 alagadas desde 1º de maio. A “Matinal News”, newsletter da Matinal, conta ainda que, depois do desastre climático, dos mais de R$ 58 bilhões prometidos pelas três esferas de governo para retomada das atividades produtivas após a enchente, apenas 26% chegaram às empresas. Enquanto isso, no centro da capital, um grafite crítico ao prefeito Sebastião Melo (MDB) foi apagado pela administração municipal. Na sequência, uma tréplica foi feita sobre o muro pintado. Traz a frase: “Da memória ninguém apaga”.
📌 Investigação
Durante o governo Bolsonaro, o Ministério da Defesa monitorou pedidos por “intervenção militar” nas redes sociais e destacou tais publicações como “positivas” à pasta. O Núcleo obteve, via Lei de Acesso à Informação, relatórios de monitoramento feitos entre outubro de 2022 e janeiro de 2023 por uma ex-terceirizada do ministério, a Supernova Serviços de Informação. Foram mais de 200 informes diários com coleta de milhares de menções às Forças Armadas no Facebook e no Twitter/X. Cerca de 800 posts foram destacados e divididos como favoráveis ou críticos ao governo. Os perfis com mais conteúdos “positivos” foram um homem que fez 65 dias de lives pedindo golpe acampado no Comando Militar do Sudeste e o empresário bolsonarista Paulo Generoso, sócio do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e apoiador dos atos golpistas.
🍂 Meio ambiente
Pareceres técnicos de servidores do Incra apontaram irregularidades no processo de contratação de madeireiras para explorar uma área de 172 mil hectares dentro do Assentamento Agroextrativista Maracá, no Amapá. O órgão suspendeu o projeto em junho, mas sua superintendência voltou atrás após o governador do estado, Clécio Luís (Solidariedade), defensor do empreendimento, reunir-se com a cúpula do Incra em Brasília. A InfoAmazonia destaca que, apesar da decisão, o núcleo de gestão ambiental da autarquia mantém suas conclusões sobre as irregularidades e afirma que o projeto “não atende aos princípios da sustentabilidade econômica e social”. Os moradores do assentamento relataram também falta de transparência e não terem sido ouvidos de forma adequada sobre o tema.
📙 Cultura
“Eu queria que o leitor nordestino se sentisse valorizado, pois frequentemente somos vistos como chacota no Sul e no Sudeste”, afirma a escritora e poeta pernambucana Adelaide Ivánova. Em entrevista à Cajueira, a autora fala sobre seu livro “Asma”, que retrata uma personagem feminina forte, Vashti Setebestas, e aborda temas como como violência sexual, misoginia, mudanças climáticas e imigração, com a linguagem em “nordestinês”. “Ainda se falou pouco sobre o fato de eu ser uma autora nordestina escrevendo em nordestinês, com uma personagem principal que não é nascida no Nordeste, mas que vem de todos os lugares. A minha ambição é que ela seja uma mulher que representa todas as mulheres da classe trabalhadora do mundo”, destaca.
🎧 Podcast
Estão previstos para 2025 os Jogos Aprimorados (Enhanced Games), uma competição esportiva em que a dopagem é liberada. A iniciativa gerou polêmicas entre médicos e atletas, além de questionamentos sobre princípios e ética dos esportes, saúde e seus impactos na medicina. A “Rádio Escafandro”, produção da Rádio Guarda-Chuva, mergulha no tema da dopagem e antidopagem, desde os motivos para a proibição do uso de determinadas substâncias até seus efeitos na saúde. O episódio detalha como a iniciativa tem sido apoiada por um grupo de bilionários e questiona se os recordes mundiais seriam batidos se os atletas estivessem dopados.
💆🏽♀️ Para ler no fim de semana
“Heteroflexibilidade” existe? Pesquisadores e ativistas buscam entender o conceito a partir da sexualidade fluida e da autoidentificação. Em artigos acadêmicos que investigam o tema, a heteroflexibilidade é vista da perspectiva de homens e mulheres que mantêm relações sexuais com pessoas do mesmo gênero sem envolvimento romântico, algo que estaria restrito ao gênero oposto. A revista AzMina explora o conceito sob diversos ângulos, como a possibilidade de homofobia internalizada, mas também a da validade das vivências pessoais.