As pesquisas, o Censo nas favelas e o medo da violência política
Uma curadoria do melhor do jornalismo digital, produzido pelas associadas à Ajor. Novos ângulos para assuntos do dia
🔸 As intenções de voto em Lula e Bolsonaro estão estáveis. Na pesquisa Datafolha divulgada ontem à noite, Lula manteve os 45% do último levantamento. Já Bolsonaro oscilou um ponto para baixo, de 34% para 33%, como mostra o Portal Terra. Enquanto isso, a avaliação do candidato do PL piorou. O percentual que o considera ruim ou péssimo aumentou de 42% para 44%. Já o de pessoas que o avaliam como ótimo ou bom caiu para 30%, como detalha O Antagonista.
🔸 Ao contrário do que indicam as pesquisas… as publicações com mais interações nas redes sociais divulgam dados que dão como certa a vitória de Bolsonaro, além de defender falsas teorias segundo as quais os institutos de pesquisa foram comprados por Lula e pelo PT. A Agência Pública analisou as publicações mais compartilhadas com o termo “pesquisa eleitoral”.
🔸 A propósito: a Lupa explica como são feitas as pesquisas eleitorais, a diferença entre esse trabalho e o das enquetes e como devem ser lidos os levantamentos.
🔸 Falando em desinformação… No terceiro episódio do Ora da Verdade, série do Aos Fatos, @orathiago explica o que é o pânico moral é como ele é usado para desviar o assunto de questões realmente importantes.
🔸 Se as mulheres ocupam apenas 15% das cadeiras no legislativo federal, elas também representam 34,4% das atuações desfavoráveis às próprias mulheres. No ranking Elas no Congresso, que olha para parlamentares e ações de gênero, o primeiro lugar é de uma mulher, Erika Kokay (PT-DF), com 27 projetos de lei, todos favoráveis aos direitos das mulheres. O último lugar é também de uma mulher – a deputada Chris Tonietto (PL-RJ), autora de 20 projetos avaliados como desfavoráveis. Veja na revista AzMina quais parlamentares jogaram a favor e contra as mulheres.
🔸 De 2019 para cá, a Câmara gastou R$ 708,5 milhões com despesas dos parlamentares, como alimentação, hospedagem e passagens aéreas. O valor poderia bancar o auxílio emergencial de R$ 600 para quase 1,2 milhão de famílias. Para monitorar os gastos dos deputados, o Congresso em Foco criou uma ferramenta, o Cartão da Transparência. O cidadão pode escolher deputados para observar e acompanhar seus gastos.
🔸 O que faz um deputado federal? Como funcionam os mandatos coletivos? O Projeto Movimenta, do Nonada, responde em quadrinhos a essas e outras questões relacionadas às eleições.
📮 Outras histórias
O Censo nas favelas. Se as comunidades entraram na pesquisa do IBGE em 1949, elas nunca foram vistas em sua complexidade. À época, aliás, o objetivo era dizer que as famílias precisavam ser removidas. Embora a visão tenha mudado, a pesquisa segue com limitações nesses territórios. O Censo 2010, por exemplo, diz que só 25% dos domicílios do Complexo da Maré têm esgoto a céu aberto no entorno. Mas basta caminhar por lá para ver que a realidade é pior. Por isso, a própria favela já realizou um Censo, em 2019, e agora tem o Cocôzap, projeto que mapeia os problemas de esgoto, lixo e água na Maré, para expor as lacunas deixadas pelos órgãos oficiais de pesquisa. O data_labe, em parceria com o Maré de Notícias, conta essa história da favela como protagonista da produção de dados.
📌 Investigação
Segue o agronegócio em terra Xavante. Superintendente de Assuntos Indígenas do Mato Grosso, Agnaldo Santos é o responsável por articular a “parceria agrícola” de lavoura mecanizada entre produtores de soja e os indígenas. A reportagem d’O Joio e o Trigo ouviu o servidor: “Os parceiros deles foram os próprios fazendeiros vizinhos do lado. É uma parceria. Na verdade, é tipo um arrendamento, mas eles estão dentro trabalhando, os indígenas”. No entanto, a prática de “arrendamento” é vedada pela Constituição e pelo Estatuto do Índio.
🍂 Meio ambiente
Matéria-prima de trabalho escravo. Em decisão inédita, a Justiça do Trabalho condenou a Sisalândia, produtora de sisal com sede na Bahia, por ter comprado matéria-prima produzida com mão de obra de trabalhadores em situação análoga à escravidão. É a primeira vez nesse setor que a Justiça entendeu que uma empresa se beneficiou indiretamente de violações aos direitos humanos em sua cadeia produtiva e a condenou. A Repórter Brasil detalha a situação e o histórico do setor.
Jovens pela justiça ambiental. A partir de entrevistas com 45 jovens empreendedores sociais e líderes de organizações da região, a Agência Bori identificou as inovações da juventude para se organizar pela defesa do meio ambiente. Uma delas é o uso da comunicação para promover o debate sobre a emergência climática.
📙 Cultura
Do Cais do Valongo, maior porto de desembarque de escravizados das Américas, ao Museu Memorial – Instituto Pretos Novos. Acompanhado das atrizes Zezé Motta e Taís Araújo, o Notícia Preta faz um passeio pela região conhecida como Pequena África, na Zona Portuária do Rio de Janeiro. O projeto é parte do Circuito de Oficinas de História e Cultura Afro-brasileira do Instituto Pretos Novos.
🎧 Podcast
Com os números da Covid nos menores patamares desde abril de 2020, “nunca estivemos em melhor posição para acabar com a pandemia”, como afirmou o diretor-geral da Organização Mundial da Saúde, Tedros Adhanom. O podcast Durma com Essa, do Nexo, explica o que é preciso para que a crise seja dada por encerrada.
✊🏽 Direitos humanos
Medo da violência política. Era domingo de primeiro turno, em 2018, quando o documentarista Guilherme Daldin, vestido com uma camiseta com rosto do ex-presidente Lula, foi atingido por um motorista que jogou o carro em cima dele e de seus amigos. De lá para cá, a escalada de violência com motivação política aumentou. A revista piauí mostra que 67,5% das pessoas têm medo de serem agredidos fisicamente em razão de suas escolhas políticas ou partidárias, segundo uma pesquisa sobre violência e democracia nas eleições de 2022.
Em tempo: o Le Monde Diplomatique Brasil faz uma análise de como se constroem as narrativas dos crimes e discursos de ódio no contexto eleitoral, especialmente com a finalidade de reforçar e manter as hierarquias sociais.
💆🏽♀️ Para ler no fim de semana
O “pedagogo da revolução”. Era assim que Paulo Freire se referia a Amílcar Cabral, herói da independência de Guiné-Bissau e Cabo Verde, que acreditava que a libertação do povo viria por meio da educação. O Alma Preta conta sua história e lembra que ele também foi um dos principais teóricos marxistas e decoloniais do século.
A ancestralidade mora no cotidiano. Do cantar e comer ao modo de lavar as roupas. No Desenrola e Não Me Enrola, Agnés Roldan escreve sobre a necessidade de entender “a ancestralidade como parte de nós, e não como um organismo distante”.