O perfil da violência no Brasil e o volume dos rios amazônicos
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🔸 Se as mortes violentas no Brasil chegaram ao patamar mais baixo em 12 anos, todos os tipos de violência contra crianças e adolescentes cresceram no país em 2022. Mais de 102 mil menores de idade foram vítimas de violência no ano passado, segundo o 17º Anuário Brasileiro de Segurança Pública, divulgado ontem pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública. A Ponte destaca a violência policial contra jovens entre 12 e 17 anos: a polícia matou um adolescente por dia no Brasil em 2022, um aumento de 17% com relação a 2021. A reportagem detalha os números do anuário que indicam que homens e jovens negros continuam morrendo mais – 76,5% dos mortos eram negros, chegando a 86% em intervenções policiais. Os casos de racismo cresceram 67% em 2022 – e o número pode estar subnotificado. “Assim como foi possível observar entre as vítimas de maus-tratos, também nos crimes letais o racismo vai se consolidando como fator que atua no incremento do risco de se tornar vítima de violência na medida em que as crianças vão ficando mais velhas”, escrevem, em nota do estudo, as pesquisadoras Sofia Reinach e Betina Warmling.
🔸 O aumento da violência contra a mulher, da homofobia e da transfobia foi brutal no último ano. De acordo com o anuário, em 2022 o país registrou o maior número de estupros desde o início da série histórica, em 2011. Em média, foram 205 estupros por dia no ano passado. Os crimes de homofobia ou transfobia tiveram um crescimento de 53,6%, informa a Agência Diadorim. As maiores taxas por 100 mil habitantes foram registradas no Distrito Federal, no Rio Grande do Sul e em Goiás. O próprio anuário, porém, aponta que os casos relacionados a LGBTfobia e racismo podem estar subnotificados e lembra que “o Estado demonstra-se não incapaz, pois possui capacidade administrativa e recursos humanos para tanto, mas desinteressado em endereçar e solucionar essas questões”.
🔸 A polícia da Bahia é a mais letal do país. O estado desbancou o Rio de Janeiro que, nos últimos anos, ocupava essa posição no Anuário Brasileiro de Segurança Pública. Segundo o Terra, em 2022, as polícias da Bahia foram responsáveis pelo equivalente a 22,7% do total de 6.430 mortes causadas pelas polícias. O Nexo apresenta os números do documento em sete tópicos, das mortes de crianças e adolescentes aos crimes na Amazônia. Quanto à distribuição geográfica da violência no país, os estados do Norte e do Nordeste ainda estão entre os mais letais do país, e o Amapá foi o líder de mortes violentas intencionais em 2022.
🔸 Em tempo: o laboratório de dados do Instituto Fogo Cruzado produz indicadores inéditos sobre violência nas regiões metropolitanas do Rio de Janeiro, do Recife e de Salvador. Recém-lançados, os relatórios do primeiro semestre nos três estados trazem informações como o perfil das vítimas e os locais de disparo. No Grande Rio, os primeiros seis meses do ano foram marcados por uma explosão no número de vítimas de balas perdidas e disputas na Zona Oeste. Salvador registrou aproximadamente quatro tiroteios por dia entre janeiro e junho de 2023. Já na região metropolitana de Recife mais de mil pessoas foram baleadas no primeiro semestre.
🔸 Das 26 jogadoras convocadas para representar o Brasil na Copa do Mundo feminina, 32% são de estados da região Nordeste. Quatorze delas disputam o Mundial pela primeira vez, e 12 são veteranas. Quanto à idade, a faixa etária mais comum na equipe é entre 21 e 24 anos e 25 a 30 anos. A Agência Tatu analisa o perfil das jogadoras da seleção brasileira, que estreia na Copa na segunda-feira, às 8h, em partida contra o Panamá.
📮 Outras histórias
Na Bahia, estudantes pedem a reformulação do programa Mais Futuro, que oferece estágio e auxílio financeiro a fim de garantir a permanência dos universitários em situação de vulnerabilidade socioeconômica nas instituições públicas estaduais. O Conquista Repórter conta que o programa não é reajustado há mais de seis anos, e o valor já não contempla as necessidades dos estudantes. “O aumento dos preços dos alimentos e de moradia não foi acompanhado por um reajuste proporcional no auxílio e ainda tem a questão de que não recebo a bolsa todos os meses, mas as contas sempre chegam”, diz Iure Brito, estudante de Jornalismo na UESB, campus de Vitória da Conquista. Ele é natural de Barra do Choça, que fica a 30km do município onde está a universidade.
📌 Investigação
Nem mesmo as denúncias de escravização de indígenas impediu que a Kinea Investimentos incorporasse a Agropecuária Schio ao portfólio do fundo KNCA 11, que também conta com a presença do frigorífico Frigol, investigado por compra de gado ilegal na Amazônia. A Kinea, porém, não é um caso isolado. A gestora de fundos Riza também apostou em um grupo de fazendeiros do Matopiba – região que se estende pelos estados de Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia – investigados por grilagem de uma área de 380 mil hectares. O Joio e O Trigo revela como fundos do agronegócio impulsionam empresas com histórico de crimes socioambientais.
🍂 Meio ambiente
Mais da metade das terras firmes, cerca de um quarto dos ambientes aquáticos e um sexto das florestas alagáveis da Amazônia não têm quase nenhuma probabilidade de ser foco de pesquisas. Estudo publicado na revista científica “Current Biology” pelo projeto Synergize, do CNPq, mostrou como essa distribuição é desigual. O Eco detalha a pesquisa, que indica ainda que fatores logísticos, como presença de meios de transporte e distância em relação a grandes cidades, estão entre os principais influenciadores da escolha do local de estudo. Áreas com menor probabilidade de investigação estão sujeitas a sofrer alterações mais severas por conta das mudanças climáticas ou outras formas de degradação causada pela ação humana.
O volume dos rios amazônicos acendeu alertas em pesquisadores e autoridades. Desde o começo do ano, cientistas advertem sobre os efeitos do aquecimento das águas do Pacífico, conhecido como o fenômeno El Niño, que pode chegar à categoria “extremo” até dezembro. Segundo a InfoAmazonia, o Norte do país vive agora o início do período de estiagem – o verão amazônico – com secas ainda mais agravadas. Em épocas normais, o fim da época seca no sul da Amazônia se dá em meados de outubro. Porém, já há alguns anos, o começo do inverno amazônico – o período chuvoso – tem se iniciado cada vez mais tarde e pode demorar ainda mais com o fenômeno e com as mudanças climáticas.
📙 Cultura
Uma exposição digital reúne os modos de vestir das mulheres povo Inỹ Karajá, que tem suas 27 aldeias distribuídas nos estados de Goiás, Tocantins, Mato Grosso e Pará, às margens do Rio Araguaia. Intitulada de “Ixitkydkỹ: Um Olhar Sobre Os Vestires Tradicionais das Mulheres Inỹ Karajá”, a mostra foi coordenada pela pesquisadora Indyanelle Marçal e contou com a curadoria das educadoras Waxiaki Karajá e Tuinaki Koixaru Karajá. “Os vestires plurais seriam em todas as formas, tanto no sentido do que era tradicional e com o tempo deixou de ser usado por diversos motivos, como o que resultou dessa interrelação cultural entre indígenas e não-indígenas”, afirma Indyanelle ao Projeto Colabora para o especial “Moda Indígena”.
Com a maior visibilidade desta edição da Copa feminina, crianças têm a oportunidade de ter mulheres como referências no futebol. O Lunetas lista sete conteúdos voltados ao público infanto-juvenil para celebrar a presença feminina nesse esporte, como músicas, séries, documentário, animações, livros e quiz. Entre os materiais indicados, está também uma trilha pedagógica que indica como professores podem abordar questões de igualdade de gênero no esporte em sala de aula.
🎧 Podcast
O médico Lair Ribeiro há décadas ganha dinheiro com cursos, livros e conteúdos que espalham desinformação científica. Óleo de coco para evitar Aids, dieta cetogênica para vencer o câncer e dióxido de cloro para tratar micose de unha e melanoma são algumas das informações – absurdas cientificamente – difundidas por ele, que já estimulou pessoas a abandonarem tratamentos aceitos pela ciência, inclusive para doenças graves. O último episódio da terceira temporada do “Ciência Suja”, produção da Rádio Guarda-Chuva, traça o perfil de Lair e mostra como ele influencia os negacionistas.
💆🏽♀️ Para ler no fim de semana
As apostas esportivas se tornaram febre entre os fãs de futebol e afetam sobretudo jovens periféricos. Pesquisa do Panorama Mobile Time/Opinion Box publicada em maio deste ano analisou o perfil do apostador brasileiro – a maioria é homem, jovem e de baixa renda. Os dados refletem a busca desse grupo por um “dinheiro extra”, mas a realidade é bem diferente. A Agência Mural destrincha a situação em reportagem especial, com uma narrativa híbrida entre texto, entrevistas e HQs, e lembra como as apostas podem afetar inclusive a saúde mental de quem joga.