O perfil da Câmara e a maternidade na favela da Rocinha
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Oi, pessoal. Aqui é a Audrey, editora da Brasis. Entramos agora no sexto mês de disparo da newsletter, tendo vocês como leitores todos os dias. É uma honra. Foram seis meses de curadoria minuciosa e, agora, queremos afinar ainda mais o trabalho para apresentar uma seleção de histórias cada vez mais interessante. Para isso, precisamos saber um pouco mais sobre quem nos acompanha e elaboramos uma pesquisa – um questionário curto, com perguntas simples e diretas, para avaliar e melhorar a Brasis. É só clicar aqui.
Contamos com vocês.
Obrigada e boa leitura.
🔸 Uma operação de controle do espaço aéreo sobre a terra indígena Yanomami, em Roraima, teve início hoje, por meio de decreto assinado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Para enfrentar a crise humanitária na região e combater o garimpo ilegal, a Força Aérea Brasileira poderá interditar aeronaves suspeitas, como informa o Projeto Colabora. “Nós vamos tomar todas as atitudes para acabar com o garimpo ilegal, tirar os garimpeiros de lá, e vamos cuidar do povo yanomami, que precisa ser tratado com respeito”, afirmou Lula. Pelo decreto, os ministérios da Defesa, da Saúde, do Desenvolvimento Social e dos Povos Indígenas também ficam autorizados a tomar medidas para proteger os Yanomamis, como o transporte de equipes de segurança e de saúde, o abastecimento de água potável e a abertura de postos de apoio da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai).
🔸 Apesar dos esforços, há apenas dois helicópteros das Forças Armadas dando apoio logístico a servidores da Funai e da Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai) na terrra Yanomami. A informação, como conta a Agência Pública, está num ofício enviado por cinco membros da Defensoria Pública da União (DPU) aos ministros da Defesa, José Múcio, e da Justiça, Flávio Dino. Segundo os defensores, os helicópteros são cruciais para garantir o transporte de suprimentos e para que seja possível uma busca ativa de casos de desnutrição, malária e outras doenças na terra indígena. “Os relatos que chegam é que mães/pais buscam ajuda nos Polos-Base/Unidades Básicas de Saúde mais próximas de suas aldeias e caminham por dias com fome e as crianças morrem em seus braços durante a caminhada, não dando tempo de buscar atendimento médico ou alimentação”, diz o ofício.
🔸 Os deputados que tomam posse hoje em Brasília são homens brancos, com mais de 50 anos, donos de patrimônios milionários e filiados a partidos de centro-direita ou direita. São, portanto, muito distantes da realidade do povo brasileiro que devem representar, segundo a Constituição. O Congresso em Foco traça o perfil da nova composição da Câmara e lembra que, se as mulheres formam 51,1% da população do país, elas ocupam apenas 90 das 513 cadeiras da Casa, o equivalente a 17% das vagas. A concentração de renda também escancara a desigualdade dos deputados com relação ao povo: 45% dos parlamentares têm patrimônio declarado acima de R$ 1 milhão, enquanto a renda média mensal domiciliar per capita no país foi de R$ 1.353 em 2021.
🔸 A reeleição de Arthur Lira (PP-AL) na presidência da Câmara é tida como certa. Já no Senado, pairam dúvidas sobre a recondução de Rodrigo Pacheco (PSD-MG) ao posto. Concorre contra ele o senador Rogério Marinho, o candidato do PL, partido do ex-presidente Jair Bolsonaro. Além de explicar como funcionam os pleitos nas Casas, o Nexo analisa os interesses do PT. Na Câmara, Lira é o candidato de petistas, bolsonaristas e do centrão. No Senado, Pacheco tem o apoio da bancada do PT, do PDT e de nomes do MDB e do União Brasil. Lá, a disputa entre ele e Marinho já é vista como um “terceiro turno” entre Lula e Bolsonaro.
🔸 O Itamaraty vai enviar ofício à Espanha pedindo investigações sobre o mais recente caso de racismo sofrido por Vinicius Jr., em Madri. Um boneco negro com a camisa do jogador brasileiro foi pendurado em uma ponte da cidade com uma corda no pescoço, simulando um enforcamento. O Notícia Preta lembra que, depois de um desabafo de Vini Jr. nas redes sociais, Javier Tebas, presidente da LaLiga, respondeu em tom ríspido que jogador “deveria se informar melhor” ao citar as denúncias feitas pela liga.
📮 Outras histórias
A maternidade na favela. Iara Batista tinha 22 anos quando teve uma filha em meio à pandemia. Sozinha, lidou com os perigos de contaminação pela Covid-19, a vizinhança barulhenta e o ar poluído na parte alta da Rocinha, na zona sul do Rio de Janeiro. Se no ranking “Estado da Mãe do Mundo” o Brasil ocupa a 77ª posição entre os melhores países do mundo para a maternidade, o Fala Roça destaca que as crianças brasileiras que vivem nas favelas têm três vezes mais chances de morrer do que as de famílias com melhores condições financeiras. A reportagem lembra que, na comunidade, existem três unidades de saúde que oferecem acompanhamento para gestantes, mães e bebês.
📌 Investigação
Grávida pela segunda vez em um ano após vários estupros, uma criança de 12 anos não consegue acesso ao aborto legal. A juíza do caso, Maria Luiza de Moura Mello e Freitas, da 1ª Vara de Infância e Juventude de Teresina, nomeou uma defensora pública para defender o direito do feto, o que não é previsto pela lei. É o que revelam documentos da Defensoria Pública do Estado do Piauí obtidos pelo Portal Catarinas, em parceria com o Intercept Brasil. A menina expressou mais de uma vez o desejo de abortar e voltar a estudar, mas teve a autorização suspensa pelo desembargador José James Gomes Pereira. Em nova tentativa, o promotor Thiago Belchior ficou responsável por conduzi-la ao Atendimento às Mulheres Vítimas de Violência Sexual para realizar o procedimento, o que não aconteceu por desistência dos pais e da garota. Eles teriam sido persuadidos pela médica que a atendeu no abrigo católico onde está vivendo.
🍂 Meio ambiente
Primeira mulher indígena a assumir a presidência da Funai, Joenia Wapichana toma posse nesta sexta. Com apenas R$ 600 milhões de orçamento previsto para este ano, o que corresponde a 0,001% do orçamento da União, ela afirma que o órgão tem menos de R$ 90 mil para destinar a ações de demarcação de territórios indígenas e que será necessário usar o Fundo Amazônia. “O quadro hoje da Funai é lamentável, no sentido de que foi totalmente sucateada, desmantelada. É uma situação de penúria, de precariedade e onde servidores públicos foram perseguidos, desvalorizados e desorientados”, afirma ela, em entrevista ao InfoAmazonia.
Conhecida popularmente como erva-de-são-cipriano ou culhão-de-bode, a espécie Holoregmia viscid até hoje foi vista apenas no sul da Bahia e pode ser extinta com o agravamento das mudanças climáticas. Isso é o que indica estudo realizado por pesquisadores do Instituto de Ciências do Mar (Labomar) da Universidade Federal do Ceará. A pesquisa rastreou a ocorrência da planta nos últimos milhares de anos e projetou os cenários climáticos para os próximos 80 anos, a partir de um modelo matemático que utiliza algoritmos e variáveis ambientais. O Eco Nordeste detalha as possibilidades de ameaças à biodiversidade da Caatinga brasileira.
📙 Cultura
Memória, laços e arte são os traços que ancoram as Casas de Angola em Salvador e São Paulo. Apesar de não dividirem relações institucionais, ambas têm os mesmos objetivos. Na capital baiana, a instituição é gerida pela Embaixada do país africano: “Nós, de Angola, reconhecemos esses laços históricos que existem com o Brasil e reconhecemos também a importância da Angola ou dos angolanos que vieram, infelizmente escravizados para cá”, explica Benjamim Sabby, artista, produtor cultural e diretor do local. Já na capital paulista, o centro cultural foi fundado de modo independente por imigrantes angolanos. “São Paulo é onde tem a maior comunidade angolana no Brasil e uma das maiores comunidades africanas do Brasil. Creio que é legítimo ter esse espaço para poder fomentar a questão da cultura africana”, relata Isidro Sanene, idealizador da organização, à Alma Preta.
O artista e pesquisador Ian Habib mergulhou no arquivamento de histórias de pessoas trans no Brasil. Em 2020, foi fundado o Museu Transgênero de História e Arte (MUTHA), primeiro específico sobre a população transexual no país. A organização funciona como um espaço expositivo disponível online e ultrapassa apenas a arte, já que o acervo possui fotos e documentos que podem servir para pesquisadores das áreas da Saúde, do Direito e demais Ciências Humanas. O Nonada resgata as políticas e iniciativas de museologia voltadas à história LGBTQIA+.
🎧 Podcast
Banidos nas redes sociais ganham “perdão” de plataformas. A Meta decidiu deixar Donald Trump voltar ao Facebook, o que já havia acontecido no Twitter, após a empresa ser comprada pelo bilionário Elon Musk. Ele, por sua vez, além das demissões em massa nas big techs, é o tema do mais recente episódio do “Guia Prático”, produção do Manual do Usuário.
✊🏽 Direitos humanos
Encurraladas pelas crises social e sanitária, mulheres foram linha de frente para fazer com que as pessoas ao seu redor fossem menos impactadas pelos problemas trazidos pela pandemia desde seu início. Produtora cultural e ativista de Paraisópolis, periferia de São Paulo, Renata Alves lutou para que a ambulância chegasse o mais rápido possível nas casas da comunidade. A advogada Juliana Hashimoto prestou apoio jurídico a mulheres e seus filhos para terem acesso ao auxílio emergencial. Já a doméstica Regina Teodoro se levantou para lutar pelos direitos das trabalhadoras da área. Estas são as histórias do terceiro episódio da série “Por Nós, Por Elas”, da revista AzMina.
*Erramos: O aplicativo Contrate Quem Luta, do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST), não é restrito à prestação de serviços em tecnologia, ao contrário do que informou nota publicada na edição de ontem. Reportagem do Projeto Colabora conta que o CQL conecta militantes de diversas áreas de atuação a pessoas que precisam de prestadores de serviços.