O passado escravocrata dos políticos e o legado de Pagu
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🔸 Ao menos 33 de 116 políticos importantes no Brasil têm um passado escravocrata. O número representa ex-presidentes desde o fim da ditadura, atuais governadores dos estados e um quinto dos senadores em exercício. O “Projeto Escravizadores”, investigação inédita da Agência Pública, mergulhou em cerca de 500 documentos, entre registros paroquiais e cartorários, jornais antigos em hemerotecas e arquivos públicos, e trabalhos acadêmicos de diversas universidades brasileiras, para identificar a genealogia desses políticos. O especial revela que ex-presidentes, senadores e governadores descendem de homens e mulheres que teriam alguma relação com pessoas escravizadas no país, desde o uso de mão de obra escravizada até a atuação para conter revoltas de pessoas negras. Entre eles, estão Fernando Henrique Cardoso, Fernando Collor de Mello, José Sarney, Raquel Lyra, Tarcísio de Freitas, Ronaldo Caiado, Tereza Cristina e Romeu Zema.
🔸 “O 20 de novembro é uma conquista de todo movimento negro”, afirma o deputado federal Valmir Assunção (PT-BA), autor do projeto de lei que propôs o feriado nacional da Consciência Negra. A Alma Preta lembra que ontem foi a primeira vez que a data foi feriado em todo o país. “Em 2015, o movimento negro baiano me incumbiu de propor a nacionalização do feriado da Consciência Negra. O meu projeto de lei tramitou por oito anos, enfrentou diversas resistências daqueles que achavam que o povo negro não merecia uma data específica para exaltar nossos heróis e nossas heroínas. Quando aprovamos a proposta em 2023, vi que a luta coletiva foi o fundamento”, detalha Assunção. O Mundo Negro resgata a cronologia da luta pela libertação da população negra, desde o 20 de novembro de 1695, quando Zumbi foi assassinado pelos bandeirantes, até a criação do Dia da Consciência Negra e sua nacionalização.
🔸 Ex-ministros de Jair Bolsonaro (PL) e militares da elite do Exército são suspeitos de planejar um golpe de Estado no fim de 2022, como revelou a Operação Contragolpe da Polícia Federal na terça-feira. O plano também incluía o assassinato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), de seu vice, Geraldo Alckmin (PSB), e do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes. O Terra reúne o que se sabe sobre a trama e destaca que, segundo a PF, a análise dos dados armazenados no aparelho celular do ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, Mauro Cid, mostra que o ex-presidente não apenas tinha conhecimento da minuta golpista, mas também participava ativamente da redação e ajustes do documento. Igor Gadelha, colunista do Metrópoles, mostra que, além dos ex-ministros e generais da reserva Braga Netto e Augusto Heleno, o general Luiz Eduardo Ramos, ex-ministro da Secretaria de Governo e da Secretaria-Geral da Presidência de Bolsonaro, também foi citado por Moraes na decisão que autorizou a prisão de quatro militares do Exército e um policial federal.
🔸 A propósito: a falsa narrativa de que houve fraude nas eleições de 2022 baseou a minuta golpista. A planilha dos militares envolvidos definia sete linhas de operações e cinco fases de atuação do golpe. Na coluna referente à linha operacional “Eleições limpas”, por exemplo, a tabela listava tarefas como divulgar a “base probatória de fraude eleitoral” e publicar “novos relatórios de irregularidades no processo eleitoral”, detalha o Aos Fatos. O documento alegava, por exemplo, que as urnas eletrônicas teriam dois códigos-fontes – desinformação já desmentida.
🔸 A declaração final do G20 defendeu a tributação do patrimônio dos super-ricos. Esta era uma das propostas principais do governo brasileiro. O documento trata a tributação progressiva como uma das principais ferramentas para reduzir desigualdades internas, fortalecer a sustentabilidade fiscal e promover um crescimento equilibrado. A CartaCapital traz a íntegra do compromisso assinado pelos países sobre o tema e ressalta os eixos prioritários da gestão do Brasil à frente do grupo, como inclusão social e combate à fome e à pobreza.
📮 Outras histórias
“A Jurema Sagrada é um culto religioso e espiritual. É afro-ameríndio por estar centrado nas tradições indígenas e afro-brasileiras. É mais típico na região Nordeste, principalmente na Paraíba, Pernambuco e Ceará”, explica Celson da Silva, adepto e precursor do culto da Jurema Sagrada em Imperatriz, no Maranhão. Também conhecido como Catimbó, o culto surge do sincretismo religioso. O Assobiar conta que, embora seja realizado no Terreiro de Sant’Ana há pelo menos sete anos, foi em julho deste ano que Celson conseguiu o sacramento para realizar o rito de forma oficial. O ritual agora faz parte da história da umbanda e do terecô em Imperatriz.
📌 Investigação
Na Terra Indígena Assunção, cerca de 531 km da capital Manaus (AM), o povo Kokama vive às margens de um rio Solimões seco em meio à estiagem histórica que atinge a bacia do Amazonas. A InfoAmazonia mostra que os rios Amazonas, Madeira, Solimões, Negro, Purus, além do afluente Paraná do Careiro, apresentam os níveis mais baixos em 122 anos de monitoramento em 68% das estações do Serviço Geológico do Brasil. A falta de água causa sérios impactos para comunidades ribeirinhas e indígenas. “Eu nunca imaginei que esse rio ficaria assim, mas o meu velho pai dizia que um dia o Amazonas se tornaria o Ceará. Isso aqui, esse mundão de rio, ele disse que um dia ia virar seca. Eu me lembro dessas palavras dele e hoje eu tô vendo”, relata a conselheira de saúde Maria Auxiliadora Kokama.
🍂 Meio ambiente
A criação do Parque Nacional Serra da Capivara, no Piauí, transformou a economia local a partir dos esforços da arqueóloga Niède Guidon, que buscou alternativas sustentáveis para a população. A pesquisadora implementou iniciativas como a criação de hotéis, pousadas, restaurantes e uma indústria cerâmica, além de apoiar o surgimento de grupos de apicultores e guias de turismo. Na Eco Nordeste, o jornalista Flamínio Araripe descreve intervenções cruciais para a preservação do patrimônio e do meio ambiente. Atualmente, a indústria cerâmica, que comemora 20 anos em 2024, emprega 40 pessoas e produz até 16 mil peças mensais. Segundo Antônio Marcos de Oliveira, gerente da indústria de cerâmicas, “as peças têm um detalhe local único, com a reprodução de figuras das pinturas rupestres do parque”.
📙 Cultura
“Novembro tem atividade quase todos os dias e nos demais meses praticamente você não existe”, diz a escritora Elizandra Souza sobre os convites no mês da Consciência Negra. Em entrevista ao Desenrola e Não Me Enrola, a jornalista, escritora e fundadora da editora Mjiba explica que a demanda por eventos que discutem a pauta racial aumenta neste mês. “É uma conquista a gente conseguir que pelo menos em novembro sejamos convidados, mas isso precisa avançar”, afirma. Ativista cultural desde 2002, ela critica a falta de presença negra em espaços institucionais que exploram a pauta antirracista como marketing. Em 2022, a Elizandra escreveu o texto “Chegou Novembro, Cuidado com os Convites”, com orientações sobre como convidar uma artista negra para trabalhar de maneira respeitosa e comprometida com o antirracismo.
🎧 Podcast
Primeira mulher presa no Brasil por motivos políticos, Patrícia Galvão, a Pagu, foi autora do primeiro romance proletário brasileiro “Parque Industrial” e se tornou um símbolo de luta e liberdade. O “Juicysantos Podcast”, produção do Juicy Santos, recebe a pesquisadora Lúcia Teixeira, autora da trilogia “Pagu”. A educadora compartilha histórias inéditas e detalhes sobre a escritora e sua influência na literatura, na arte e no ativismo político no Brasil. “Ela foi muito radical em suas posições durante a vida, até porque naquela época as mulheres nem poderiam votar”, afirma Teixeira.
✊🏽 Direitos humanos
Em discussão no Congresso e nas redes sociais, a rotina exaustiva da escala 6x1 afeta as crianças, prejudicando a qualidade de vida das famílias e o acesso a direitos. Ao Lunetas o diretor de Políticas e Direitos das Crianças do Instituto Alana, Pedro Hartung, explica como essa jornada de trabalho limita o tempo que mães, pais e cuidadores podem dedicar aos filhos, afetando o desenvolvimento emocional e social das crianças: “Proteger as crianças implica em cuidar das condições de trabalho dos adultos que cuidam delas”. A sobrecarga é ainda maior para as mulheres: 83% enfrentam jornadas duplas, e 45% não têm rede de apoio.