A partida de Ziraldo e a posse de Ailton Krenak na ABL
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🔸 Um dos mais importantes cartunistas do país, Ziraldo morreu aos 91 anos, no último sábado. Criador do célebre personagem Menino Maluquinho e um dos fundadores do jornal O Pasquim, Ziraldo Alves Pinto nasceu em 24 de outubro de 1932, em Caratinga (MG), e começou a carreira ainda nos anos 1950. A revista O Grito! lembra que ele foi uma voz proeminente contra a ditadura militar e chegou a ser preso logo após a decretação do AI-5. Em sua defesa pela democracia, criou personagens icônicos como a Graúna, Ubaldo e os Fradins. Seu primeiro livro infantil, o clássico “Flicts”, saiu em 1969, mas foi no fim dos anos 1970 que passou a se dedicar inteiramente à literatura infantil-juvenil.
🔸 Dono do X (antigo Twitter), Elon Musk usou a rede para atacar Alexandre de Moraes, ministro do Supremo Tribunal Federal que, entre outros casos, investiga as milícias digitais responsáveis pela disseminação de informações falsas e ataques às urnas eletrônicas. Num comentário no perfil do magistrado, o empresário questionou o porquê de “tanta censura no Brasil”. A CartaCapital informa que apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), incluindo seu filho Eduardo Bolsonaro (PL), curtiram o comentário de Musk. O bilionário, aliás, insinuou que vai fechar o escritório do X no Brasil.
🔸 A propósito de desinformação: sem regulação pelo Congresso e diante das omissões das plataformas, fica maior o desafio que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) tem pela frente, a seis meses das eleições municipais no país. Segundo especialistas ouvidos pela Lupa, outro problema é a falta de transparência nos critérios que a Justiça Eleitoral vai usar para a remoção de conteúdos enganosos. Embora o TSE tenha aprovado em fevereiro uma resolução que inclui a proibição do uso de deepfake (manipulação de vídeos, áudios ou fotos) e a restrição ao uso de IA nas propagandas, há lacunas que abrem espaço para interpretações. Uma das questões levantadas é a de que, sem moderação, as plataformas removam conteúdos em massa temendo penalizações. “Caso as big techs retirem algo que não era violador, podem ser responsabilizadas pela retirada de discurso legítimo”, diz Filipe Medon, advogado especialista em Direito Digital.
🔸 “Tô nem aí.” Depois da frase do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, sobre as denúncias de violações nas operações policiais na Baixada Santista, as mortes voltaram a acontecer. O Notícia Preta explica que, antes da fala, as ações viviam um período de dez dias sem vítimas. No dia seguinte à afirmação do governador, a PM matou um homem em Santos e outras 18 pessoas até o fim de março, segundo levantamento do jornal Folha de S.Paulo. Oficialmente, a Operação Verão registrou 56 vítimas fatais. “Nessas mortes a gente tem pessoas deficientes, pessoas que faziam uso de muleta, pessoas cegas, uma mãe de família com seis filhos. A gente não acredita na segurança pública que mata, e não acredita na segurança pública que encarcera em massa”, afirma o ouvidor da Polícia do estado, Cláudio Aparecido da Silva.
🔸 “O ‘eu não estou nem aí’ de Tarcísio equivale ao ‘eu não sou coveiro’ de Bolsonaro. Não basta empilhar cadáveres, é preciso tripudiar sobre eles”, escreve Fernando de Barros e Silva em artigo na revista piauí. Ele afirma que o governador de São Paulo “está fazendo com a Polícia de São Paulo o que Bolsonaro não conseguiu fazer com a Polícia Federal”. “A bolsonarização está em curso: em 21 de fevereiro, no meio da matança, o governador anunciou a mudança, de uma só vez, de 34 coronéis em funções de comando na Polícia Militar. Os cargos mais importantes da PM paulista agora estão sob a direção de oficiais que fizeram carreira na Rota.”
📮 Outras histórias
“Uma universidade próxima a você muda a sua história.” A afirmação de Alexandra Félix, 25, estudante de ciências humanas, sintetiza o sonho de moradores da Cidade Dutra, Grajaú e Parelheiros, na zona sul de São Paulo. Eles estão em campanha por uma universidade na região – o movimento reuniu mais de 1.200 assinaturas nas ruas, mais de 400 na petição online, segundo a Agência Mural. A reivindicação é antiga, de 1997, mas voltou a ganhar fôlego em 2023, com o anúncio do aumento do orçamento das universidades pelo governo Lula. “É muito sofrido levar duas horas para chegar, sendo que é um tempo que você poderia estudar, ter lazer ou descanso. Não tem a ver só com a qualidade de vida, mas sobre sonhar outras possibilidades”, completa Alexandra, que também é coordenadora do cursinho Vladimir Herzog na Rede Emancipa, movimento social de educação popular.
📌 Investigação
O serviço doméstico lidera os novos registros na “lista suja” do trabalho escravo no país. A escravidão doméstica representa 43 dos 248 patrões que entraram para o cadastro de empregadores responsabilizados pelo crime. Em segundo lugar, está a criação de animais, incluindo fornecedores da JBS. A Repórter Brasil detalha as atualizações da lista, que tem ao todo 654 patrões responsabilizados, e mostra como o trabalho análogo à escravidão se perpetua no Brasil ainda hoje. Um dos novos registros é o de André Luiz Mattos Maia, que submeteu uma funcionária doméstica a 72 anos de trabalho escravo – um recorde em termos de escravidão contemporânea. Maria de Moura foi resgatada em 2022, aos 85 anos. “Em casos como este, ouvimos sempre a afirmação de que a vítima é ‘como se fosse da família’”, explica Alexandre Lyra, auditor fiscal do trabalho que acompanhou o resgate.
🍂 Meio ambiente
Mamíferos da Caatinga correm risco de extinção devido às mudanças climáticas. O tamanduá-bandeira e o tatu-canastra são algumas das espécies que podem desaparecer do bioma. O Fauna News explica que, mesmo com o cumprimento das metas do Acordo de Paris para mitigar a emergência climática, há a previsão de aumento de 2,7° C no Norte da América do Sul até 2060. Um estudo realizado por pesquisadores das universidades Estadual de Campinas (Unicamp) e federais de Minas Gerais (UFMG) e da Paraíba (UFPB) indica que as zonas áridas estão particularmente em risco, podendo acarretar a defaunação dos mamíferos na região. “De maneira geral, a região estudada passará a ter faunas mais pobres em espécies e funções”, explica o biólogo Mathias Mistretta Pires.
📙 Cultura
“Anatomia de uma Queda” e a morte de Ana Mendieta: o que o filme vencedor do Oscar de melhor roteiro e o trágico fim da artista cubana têm em comum? Dirigido por Justine Triet, o longa expõe a saga de uma escritora, acusada pela morte do marido, também escritor, encontrado morto após cair da varanda de casa. Ana Mendieta, por sua vez, morreu em 1985, depois de cair da janela do apartamento do companheiro, o escultor Carl Andre. Ele foi absolvido da acusação, bem como a escritora protagonista do filme. No “451 MHz”, podcast da revista Quatro Cinco Um, a atriz e escritora Fernanda Torres e Branca Vianna, presidente da Rádio Novelo, exploram a relação entre os enredos.
🎧 Podcast
Filósofo, escritor e ambientalista, Ailton Krenak tomou posse na Academia Brasileira de Letra (ABL). Tornou-se o primeiro indígena a entrar para a instituição, majoritariamente composta por homens brancos. Conhecido pelo discurso histórico na tribuna da Assembleia Nacional Constituinte em 1987, ele construiu um caminho de luta em defesa da população indígena. O “Olho d’Água”, produção da Amazônia Latitude, conta a história do novo imortal, conversa com outros escritores e amigos de Krenak, e destaca a importância de sua nomeação para a ABL: “Seguindo a tradição indígena, seu conhecimento é transmitido principalmente pela oralidade. A maior parte de sua obra é baseada em transcrições de discursos, conversas e entrevistas”.
✊🏽 Direitos humanos
Nas redes sociais, mãe e filha autistas lutam contra estereótipos. Moradora da cidade do Crato, no Ceará, a pedagoga Tainã Feitosa de Matos, 29 anos, é mãe de Nicole, 6 anos. Ambas foram diagnosticadas com Transtorno do Espectro Autista. “De certa forma, sinto um grande alívio em saber que sou autista e que ela também é. Vou lutar ao máximo para que ela não passe pelas mesmas dificuldades que eu passei”, diz a mãe. Tainã Feitosa conta ao Eufêmea que ela própria teve um diagnóstico tardio, já adulta, e explica como isso dificultou a compreensão dos desafios que vivia quando criança. Hoje, ela usa o Instagram para espalhar essa história e derrubar preconceitos. “Já ouvi dizer que minha filha é muito bonita para ser autista. Também já ouvi que ‘além de ser mulher, ainda é autista’. Comecei a ouvir coisas bizarras, então passei a pensar em uma maneira de reverter isso. Eu queria mostrar ao mundo que ela não é assim.”
Grauna foi criada pelo Henfil.