O desafio da participação social para o PT e a partida de Erasmo Carlos
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🔸 “O governo Lula foi um governo poroso, que se abriu para a sociedade, mas a participação social foi limitada porque atendeu a uma elite, à sociedade organizada, com consciência e experiência de organização. Nós não conseguimos dialogar com a grande massa.” A afirmação é de Gilberto Carvalho, cientista político e fundador do PT, um dos amigos próximos de Lula. Em entrevista à Pública, ele afirma que não vai integrar a nova gestão, mas será a interface do partido com o governo para um projeto de educação popular, aos moldes de Paulo Freire, a fim de estimular a participação das parcelas não organizadas da população. Ele avalia de forma crítica o PT e diz que o partido envelheceu e perdeu contato com as periferias – hoje “ocupadas pelo tráfico, pela milícia e pelos neopentecostais”: “Não é mais o mundo do ABC, do movimento sindical, da carteira assinada, é o mundo da informalidade, desse salto de comunicação que a internet trouxe, como é que nós vamos pensar essa participação?”.
🔸 O PL, partido de Jair Bolsonaro, segue tentando questionar o resultado das eleições – mas só no segundo turno. Sem provas, a legenda pediu ontem ao Tribunal Superior Eleitoral a invalidação dos votos computados em 279 mil urnas de modelos anteriores a 2020, que, segundo estudo encomendado pelo partido, teriam supostas irregularidades. Minutos depois, o presidente da Corte, Alexandre de Moraes, emitiu um despacho lembrando ao PL que “as urnas eletrônicas apontadas na petição foram utilizadas tanto no primeiro turno, quanto no segundo turno das eleições de 2022”. O ministro pediu que a legenda apresente em 24 horas novo pedido que abranja ambos os turnos das eleições. A CartaCapital detalha o caso e lembra o porquê de o PL fechar o foco no segundo turno – os dados do primeiro turno, afinal, deram ao partido a maior bancada na Câmara dos Deputados, com 99 eleitos.
🔸 A propósito: o Nexo conversa com dois especialistas para analisar a iniciativa de Waldemar da Costa Neto, presidente do PL, de anular votos do segundo turno. Eles também avaliam como o alinhamento do partido ao golpismo impacta as relações políticas no país.
🔸 O julgamento de policiais militares que participaram do massacre do Carandiru foi suspenso ontem. O que estava em jogo era a definição das penas a serem cumpridas por 74 agentes da PM já condenados pela ação no presídio que terminou com a morte de 111 presos, em outubro de 1992. A defesa dos policiais pediu para que haja redução nas penas estabelecidas pelo Tribunal do Júri em 2013 e 2014. Ao todo, as sentenças somam mais de 600 anos de prisão pelos homicídios qualificados. A Ponte explica que o adiamento do caso é mais um capítulo de um processo que se arrasta na Justiça há décadas.
🔸 “Em geral a gente acredita que o apelido Tremendão, colado à figura de Erasmo Carlos (1941-2022), nasceu com o mundo, como talvez as nebulosas e as galáxias. Mas ele surgiu no calor da Jovem Guarda, em meados dos anos 1960, e pouquíssimos sabem sua real origem.” No Farofafá, Jotabê Medeiros conta de onde veio o apelido do cantor e compositor que morreu ontem, aos 81 anos. Erasmo estava internado num hospital do Rio de Janeiro para tratar de uma infecção pulmonar. Nascido na Tijuca, bairro da zona norte da capital carioca, tomou gosto pelo rock na adolescência e, nos anos 1960, frequentava o Bar Divino, onde conheceu Tim Maia e Jorge Ben. Na mesma época, conheceu Roberto Carlos, seu grande parceiro musical. O Metrópoles relembra a trajetória do Tremendão.
📮 Outras histórias
Chegou a Copa do Mundo e, com ela, a tradição de pintar as ruas das quebradas com as cores da seleção. “A rua é pequena, mas são todos muito unidos. Decidimos numa sexta à noite fazer a pintura e no sábado de manhã começamos a arrecadar. Um morador deu tinta, o outro pincéis, quem não tinha como ajudar varreu a rua toda. Outro chamava a gente para almoçar e levava água o tempo todo”, conta Odivan da Silva Cardoso, morador do Rochdale, em Osasco. O Desenrola e Não Me Enrola traz uma fotorreportagem das atividades em Rochdale e no Parque Regina, Campo Limpo, zona sul de São Paulo.
Governador reeleito do Paraná, Ratinho Jr. (PSD) contrariou o próprio discurso e enviou à Assembleia Legislativa do estado proposta para aumentar o número de secretarias. O Plural mostra que a maior parte das novas pastas vem do desmembramento das supersecretarias que o próprio Ratinho criou no primeiro mandato, alegando “inchaço” do governo. Agora, o governador afirma que o aumento é necessário para tornar o serviço mais eficiente.
📌 Investigação
Uma história de lobby na Copa. Para completar o álbum de figurinhas, é necessário comprar muitos litros de Coca-Cola, já que existe uma página dedicada apenas a figuras que são obtidas nos rótulos do produto. Mas a relação entre a multinacional e a Fifa é de longa data. O Joio e O Trigo mergulha nessa história e revela que o Mundial era um evento pouco lucrativo e, às vezes, trazia prejuízos. Quando o brasileiro João Havelange se tornou presidente da entidade, em 1974, a Fifa se abriu para tornar o futebol um produto, além de angariar patrocínios de gigantes do mercado. Adidas e Coca-Cola foram as primeiras parceiras.
🍂 Meio ambiente
Os ipês na Amazônia. Segundo estudo da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), há mais de 40 milhões de ipês amarelos e roxos aptos para produzir madeira apenas no Acre e em Mato Grosso, e a produção poderia triplicar na região. O Eco faz um alerta: para especialistas, o número pode estar errado, já que tem como uma de suas bases os chamados inventários florestais, conduzidos por madeireiras que tendem a inflar os dados. A preocupação é que o estudo da Embrapa leve a uma exploração insustentável ou ilegal em áreas preservadas da floresta equatorial.
A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) do Amazonas pretende denunciar à Comissão Interamericana de Direitos Humanos os ataques e ameaças de morte contra indígenas Kanamari ocorridos no dia 9 deste mês, dentro da Terra Indígena Vale do Javari. O caso de uma mulher Kanamari que teve arma apontada no peito por um pescador ilegal foi revelado pela Amazônia Real na semana passada. Ameaças como essa são recorrentes na região. “Não vou permitir que meu povo indígena seja violado”, disse à reportagem Adriana Inory, que pertence ao povo Kanamari e é a primeira mulher indígena a assumir a presidência da Comissão de Amparo e Defesa dos Direitos dos Povos Indígenas da OAB-AM.
📙 Cultura
Com o tema “Ver o invisível” e homenageando pela primeira vez uma autora negra, Maria Firmina dos Reis, a Festa Literária Internacional de Paraty (Flip) traz, entre hoje e domingo, discussões literárias nas ruas da cidade. A edição também tem pela primeira vez três pessoas negras na curadoria. Uma delas é a poeta e editora da Figura de Linguagem, Fernanda Bastos. Ela conversa com o Nonada sobre o evento: “A Maria Firmina para nós tinha esse lugar de ser uma autora que está ali, mas muitas pessoas se negam a ver”.
“Nunca tinha ouvido falar de profissionais de arquitetura que vinham da mesma realidade que eu, da favela”, afirma Ester Carro, de 28 anos, cria do Jardim Colombo, em Paraisópolis, na zona sul de São Paulo. A Agência Mural apresenta a arquiteta das favelas, líder do projeto Fazendinhando, cujo objetivo é transformar um lixão em espaço comunitário de lazer e formação de crianças e adultos. A ideia foi inspirada na revitalização do Parque Sitiê, no Morro do Vidigal, no Rio de Janeiro.
🎧 Podcast
Futebol, corrupção e poder. O podcast “Sequestro da Amarelinha”, produção da revista piauí e Rádio Novelo, ganhou o episódio extra “Vai se Qatar”. Após um ano do lançamento, os apresentadores José Roberto de Toledo e Jamil Chade recebem a jornalista Milly Lacombe para contar as mudanças dos últimos 12 meses em relação à Fifa, à CBF e à Copa deste ano. “Na escolha do Qatar como sede da Copa, quem perdeu foram os Estados Unidos. E agora está óbvio, já que os EUA farão a próxima Copa em 2026, que houve uma retaliação contra as pessoas e o esquema corrupto que elegeu o Qatar para fazer a Copa de 2022”, contextualiza Toledo.
🙋🏾♀️ Raça e gênero
Dona Zilda, Miriam Pereira, Maria Cristina e Márcia Gazzarolli são exemplos de quatro mães que vivem em dor e usam a luta coletiva para buscar justiça para seus filhos, assassinados pelas Forças do Estado, sozinhos ou em massacres. O Nós, Mulheres da Periferia reúne seus relatos para não deixar cair no esquecimento a realidade de mães, em maioria, negras e periféricas, que convivem com a existência de uma máquina de assassinar jovens. “Seu filho completa certa idade, e você já fica com medo, porque a polícia já vai revistar, bater documento. Na periferia não tem liberdade, é um cárcere a céu aberto”, afirma Miriam.