Os parques contaminados por agrotóxicos e o homenageado da Flip 2025
Uma curadoria do melhor do jornalismo digital, produzido pelas associadas à Ajor. Novos ângulos para assuntos do dia
Oi, gente!
Hoje é o último dia para responder à pesquisa da Brasis, até 18h. Se você ainda não respondeu, clica aqui e conta pra gente como podemos aprimorar a curadoria de notícias da newsletter.
Muito obrigada e bom fim de semana!
🔸 A aceitação da denúncia contra Jair Bolsonaro (PL) “é uma luz no fim do túnel para um tribunal que há tempos anda tumultuado com investigações complexas. Inquéritos, mesmo os mais complicados, devem caminhar para uma conclusão”, afirma Rafael Mafei, em artigo na revista piauí. Ele analisa as questões em debate no Supremo Tribunal Federal (STF) e destaca que o julgamento expôs uma das fragilidades estruturais da Corte: os réus julgados diretamente pelo STF não têm direito a recurso, nem à figura de um juiz de garantias, como ocorre em outras instâncias. Ainda assim, segundo Mafei, o tribunal buscou reforçar sua estabilidade e jurisprudência, ao evitar mudanças de regra motivadas pelo caso de Bolsonaro. A próxima fase, porém, pode trazer divergências. Ministros como Luiz Fux já manifestaram incômodo com as penas aplicadas aos acusados dos atos de 8 de janeiro. “Mas vale notar que, nesse ponto específico, a situação de Bolsonaro e dos outros sete réus julgados com ele não é a mesma da turba do 8 de janeiro”, avalia. Ao contrário dos executores dos atos, eles teriam atuado estrategicamente, por meses, para fomentar o ambiente golpista – o que pode justificar um tratamento penal mais severo.
🔸 A decisão de tornar réus Bolsonaro e sete de seus aliados marca o início da fase de instrução do processo penal. O Correio Sabiá explica que, a partir de agora, serão reunidas provas que permitirão à Corte formar uma decisão sobre a culpa ou a inocência dos acusados. Essa etapa inclui oitiva de testemunhas, interrogatório dos réus, apresentação de perícias e alegações finais. Só ao final dessa fase, o STF julgará o mérito do caso. Por ora, Bolsonaro responde em liberdade, mas o Supremo pode decretar sua prisão preventiva, caso entenda que há risco de fuga ou tentativa de interferir no processo.
🔸 Enquanto seu pai se torna réu no Brasil, Eduardo Bolsonaro (PL-SP) segue nos Estados Unidos, onde é assessorado pelo advogado de imigração Paulo Calixto. Este, por sua vez, atua como representante do Instituto Liberdade, fundado por Paulo Generoso – ex-sócio do deputado e citado pela Polícia Federal como apoiador da tentativa de golpe, com histórico de divulgar desinformação. A Agência Pública apurou que o instituto, registrado como uma organização sem fins lucrativos, funciona no mesmo endereço do escritório de Calixto, em Dallas, cidade do Texas onde Eduardo Bolsonaro está. Segundo o currículo de Calixto publicado num site dedicado à emissão de vistos nos EUA, o advogado tem experiência “com questões complexas de imigração”. Atualmente com visto de turismo, o filho de Bolsonaro avalia, segundo ele próprio, pedir asilo político – algo que, segundo o deputado, “um advogado” estaria “recomendando fortemente”.
🔸 A extrema direita quer conquistar 16 novas cadeiras no Senado em 2026 para obter a maioria absoluta (41 dos 81 senadores) – e, assim, controlar pautas como o impeachment de ministros do STF. Atualmente, PL, PP, Republicanos e Novo têm 25 cadeiras. No ano que vem, 54 estarão em disputa. O Intercept Brasil mapeou onde estão as vagas que a extrema direita está de olho e lembra que os partidos precisam vencer em 27 delas e já têm 11 senadores em busca da reeleição. As cadeiras estão concentradas nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste. No Norte e Nordeste, a meta é conquistar mais seis, mirando estados bolsonaristas como Acre, Rondônia, Roraima e Pernambuco.
📮 Outras histórias
Entre 2023 e 2024, as denúncias de racismo e injúria racial no Nordeste dobraram: o número de casos passou de 508 para 1.024, segundo dados do Disque 100 da Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos. A Agência Tatu mostra que Maranhão, Rio Grande do Norte e Piauí lideram o crescimento, com altas de até 300%. Mas o aumento acompanha uma tendência nacional: no Brasil, as denúncias subiram 104% no período. Segundo especialistas, mudanças legislativas recentes – como a equiparação da injúria racial ao crime de racismo, tornando-o imprescritível e inafiançável – e a criação de instrumentos como as delegacias especializadas contribuíram para o maior acesso à Justiça e o aumento nas notificações.
📌 Investigação
A Europa está no epicentro da violência de gênero contra brasileiras e da disputa pela guarda dos filhos. Em 2023, 808 mulheres pediram ajuda aos consulados em casos de disputa de guarda, 680 delas apenas no continente europeu. A região também se destacou na busca por auxílio em situações de subtração de menores, representando 54 dos 96 casos. A Gênero e Número revela que a violência vicária – quando o agressor utiliza principalmente os filhos para causar sofrimento à vítima – é uma prática comum. Com frequência, as mulheres brasileiras perdem na Justiça estrangeira. É o caso de Gislayne Macedo, que perdeu a guarda da filha ao impedir que a menina fosse à casa do pai depois de ser vítima dele em agressões físicas e sexuais.
🍂 Meio ambiente
Dois dos parques nacionais mais antigos do país – Itatiaia e da Serra dos Órgãos –, localizados entre Rio de Janeiro e Minas Gerais, estão contaminados por agrotóxicos, revela um estudo publicado na revista científica “Environmental Pollution”. O trabalho identificou 17 tipos de pesticidas nas duas unidades de conservação. Segundo O Eco, as maiores concentrações foram de clorpirifós, disulfoton, diuron, carbaril e carbendazim. Este último, aliás, está proibido pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) desde 2022. “A vida aquática é a mais ameaçada porque as substâncias persistem nos ambientes. Plantas e animais desses lagos e alagados alimentam outras espécies”, diz o pesquisador Cláudio Taveira Parente, um dos autores do artigo. Não é possível afirmar com precisão de onde chegaram os agrotóxicos nas áreas protegidas, mas o estudo explica que substâncias como o clorpirifós podem se espalhar por mais de 400 quilômetros desde onde foram aplicadas.
📙 Cultura
Popular entre as novas gerações, o poeta curitibano Paulo Leminski (1944-1989) é o autor homenageado da 23ª edição da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), que acontece de 30 de julho a 3 de agosto, na cidade histórica do litoral fluminense. A Quatro Cinco Um destaca que a escolha de Leminski pela organização do festival tem a proposta de trazer novas leituras de sua obra. “A poesia é uma expressão muito cara ao Brasil, país que tem uma relação tão íntima com a música, e o Leminski é uma espécie de embaixador dessa relação, por sua compreensão profunda de que a poesia e a música se misturam para comunicar melhor”, disse Ana Lima Cecilio, curadora da Flip, na divulgação do nome escolhido. O autor fez parcerias com artistas conhecidos da música brasileira, como Caetano Veloso, Moraes Moreira, Jorge Mautner, Guilherme Arantes e Itamar Assumpção.
🎧 Podcast
O professor de Direito Constitucional Marcelo Labanca, da Universidade Católica de Pernambuco, lembra que, quando começou a dar aulas, os debates eram sobre a Constituição como limite ao poder do Estado e também como promover mais direitos sociais. Nos últimos anos, ele percebeu um deslocamento dos temas de direitos fundamentais para a arena política. No “Sem Precedentes”, produção do Jota, Labanca conta que se tornou um desafio lecionar a disciplina, sobretudo na pós-graduação, e que a névoa na interpretação sobre atores políticos e Judiciário não é um fenômeno exclusivo do Brasil, mas mundial. “A gente está preso em um tipo de discussão que a gente não deveria estar mais.”
💆🏽♀️ Para ler no fim de semana
Contrariando as barreiras impostas a pessoas com deficiência, o botânico Vinícius Bueno foi o principal responsável pelo trabalho de descoberta de três novas espécies de margaridas na Serra do Espinhaço, em Minas Gerais. Há 20 anos, o cientista foi diagnosticado com a Síndrome de Charcot-Marie-Tooth, doença neurológica degenerativa que afeta os nervos periféricos do corpo, causando fraqueza muscular e dores. O Conexão Planeta conta que o amor de Bueno pela botânica, porém, foi maior que o preconceito que sofreu ao longo da carreira. “Durante meu mestrado, tive uma avaliação de que meu trabalho teria um menor impacto e mérito devido a eu não ter feito as atividades de campo”, recorda. “Quando defendi a minha tese, não houve nenhum demérito por causa dessa questão.” Nas últimas décadas, o pesquisador já esteve envolvido na descrição de 20 novas espécies de plantas brasileiras para a ciência.