A paralisia do Congresso e as incertezas de Lula no 'PL da Devastação'
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🔸 Em vídeo: “Não vou me humilhar”, afirmou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sobre uma possível conversa com o mandatário dos Estados Unidos, Donald Trump. “No dia em que minha intuição disser que Trump está pronto para conversar, não hesitarei em ligar para ele. Mas hoje minha intuição diz que ele não quer conversar”, disse Lula. Ontem, a taxa dos EUA sobre produtos brasileiros subiu para 50%, de acordo com o tarifaço imposto por Trump. O Metrópoles traz a entrevista de Lula na íntegra. O presidente completou que planeja avaliar uma reação ao tarifaço com parceiros do Brics, como os presidentes da Índia, Narendra Modi, e da China, Xi Jinping. “Vou tentar fazer uma discussão com eles sobre como é que cada um está dentro da situação, qual é a implicação que tem em cada país, para a gente poder tomar uma decisão.”
🔸 A propósito: o governo brasileiro formalizou um pedido à Organização Mundial do Comércio (OMC) contra as tarifas aplicadas pelos EUA. A CartaCapital explica que essa etapa funciona como uma tentativa de mediação: o Brasil pede explicações ao governo dos EUA, e os dois países têm um prazo para tentar chegar a uma solução negociada. Se não houver acordo, Brasília pode solicitar a abertura de um painel na OMC – uma espécie de tribunal internacional que analisa possíveis violações das regras do comércio global e pode determinar medidas corretivas. O problema: a tendência é que esse processo demore. Isso porque o sistema de apelação da OMC está paralisado desde o primeiro mandato de Trump, quando os EUA se recusaram a nomear juízes para o órgão.
🔸 Enquanto isso, no Congresso… O PP e o União Brasil orientaram suas bancadas a não registrarem presença no Plenário ontem, em meio à obstrução das Casas Legislativas promovida pela oposição. A ausência é uma resposta à decisão do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), que determinou a prisão domiciliar de Jair Bolsonaro (PL), e coincide com protestos de aliados bolsonaristas. Segundo o Congresso em Foco, em nota oficial assinada pelos presidentes nacionais das siglas, Antonio Rueda (União) e Ciro Nogueira (PP), a Federação União Progressista declarou que a orientação ocorre “diante do legítimo movimento de obstrução feito pela oposição” e defendeu o diálogo como “único caminho possível para encontrarmos soluções que devolvam a normalidade dos trabalhos no Congresso Nacional”.
🔸 Na mira de Trump, os minérios críticos e as terras-raras, essenciais para a transição energética global, são abundantes no estado do Amazonas: há estanho e columbita-tantalita em Presidente Figueiredo, nióbio em São Gabriel da Cachoeira e potássio em Autazes, Nova Olinda do Norte e Itacoatiara. Em relação às terras-raras, que contém metais usados em turbinas eólicas e motores elétricos, entre outros, destacam-se o projeto Apuí e o projeto Ema, da empresa Brazilian Critical Minerals, voltados à exploração de argilas iônicas. O Amazonas Atual conversa com especialistas e explica que a exploração é complexa, por fatores como falta de infraestrutura e alto custo. A pesquisadora Andrezza Alencar cita ainda o contraste entre a riqueza mineral e a pobreza estrutural no interior do Amazonas: “São estados e municípios carentes em abastecimento, sistemas de transporte, asfaltamento, água, energia elétrica e saneamento ambiental deficientes e uma população desguarnecida do básico em detrimento da riquíssima oferta de matérias-primas que exportamos. E ninguém parece se dar conta disso”.
🔸 Falando em Amazônia… diante do alto preço e da escassez de hospedagens para a COP30, Belém corre para ampliar a oferta de hospedagem. A cidade espera 50 mil pessoas, mas enfrenta desafios para garantir a presença de países pobres, povos indígenas e sociedade civil. Um acordo entre o governo do Pará e a associação de hotéis prevê 500 quartos com preços entre US$ 100 e US$ 300. O Amazônia Vox detalha a crise em Belém e lembra que a inflação dos preços às vésperas da Conferência do Clima das Nações Unidas não é exclusividade do Brasil. Nas COPs anteriores, o padrão se repetiu: US$ 500 por noite no Egito (COP27), US$ 400 em Dubai (COP28) e mais de US$ 600 no Azerbaijão (COP29). A plataforma oficial de hospedagem da COP brasileira foi lançada em 1º de agosto, com 2.700 quartos cadastrados, mas os preços continuam altos: até R$ 27 mil por dia em hotéis centrais e casas por temporada a R$ 4 mil a diária.
📮 Outras histórias
Trabalhadores da reconstrução da Ponte Juscelino Kubitschek, que liga Tocantins e Maranhão, paralisaram as atividades nesta semana depois de quatro meses sem receber salários integralmente. A Gazeta do Cerrado informa que vídeos dos trabalhadores mostram denúncias de não pagamento de horas extras e falta de adicional de insalubridade, apesar das condições severas de trabalho. A greve compromete o cronograma da obra, prevista para dezembro de 2025, e ocorre durante uma fase crucial dos serviços. A reconstrução da ponte tem sido acompanhada de perto pela população do Tocantins e do Maranhão desde a tragédia em 2024, quando o colapso da antiga estrutura causou a morte de 14 pessoas e deixou três desaparecidos. O desabamento ocorreu com veículos em trânsito, provocando comoção em todo o país e a urgência de restabelecer a ligação entre Estreito (MA) e Aguiarnópolis (TO).
📌 Investigação
Sem o conhecimento da comunidade, a Agência Nacional de Mineração (ANM) autorizou a empresa Brasmet a realizar pesquisas para exploração dentro do quilombo Kalunga do Mimoso, no sul do Tocantins. Os requerimentos minerários cobrem 5.049 hectares, quase 9% do território, onde vivem cerca de 270 famílias. “Não temos conhecimento dessa pesquisa. Fiquei surpreso”, afirma Eudemir de Melo da Silva, vice-presidente da Associação Kalunga do Mimoso. A Repórter Brasil revela que a comunidade nem sequer sabia da existência da demanda por terras raras em seu território até o contato da equipe de reportagem. Especialistas e o Ministério Público Federal do Tocantins (MPF-TO) consideram que mesmo nessa etapa seria obrigatória a consulta prévia, conforme a Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT). A situação se repete em outras 40 áreas protegidas da Amazônia Legal, onde há 157 pedidos semelhantes.
🍂 Meio ambiente
Reunidos em Genebra, países negociam estratégias para enfrentar a crise do plástico. Representantes de mais de 180 nações buscam um acordo que aborde toda a cadeia do material. Divididos, os países tentam conciliar propostas de redução da produção com as pressões da indústria para focar na reciclagem. A Eixos destaca que o Brasil alinha-se aos petroestados, defendendo soluções no pós-consumo. “O combate à poluição precisa gerar desenvolvimento sustentável, inclusão e inovação, e não criar barreiras para quem produz, emprega e investe”, afirma André Passos Cordeiro, presidente da Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim), que integra a comitiva brasileira. A Organização das Nações Unidas alerta que a ênfase excessiva na reciclagem ignora o volume crescente de plástico no mundo – 436 milhões de toneladas por ano – e cobra medidas mais eficazes para conter a crise ambiental.
📙 Cultura
“Quem não pode ir à África, que vá à Bahia”, costuma dizer Nelson Maca, poeta, performer e professor que faz da literatura um espaço de memória, confronto e reinvenção. Em sua obra, ele conecta ancestralidade negra, resistência e corpo, valorizando Exu e o tambor como escolas de poesia. “Tem poesia que não vem da lira. Tem poesia que vem do corpo e do tambor. O tamborismo é a minha metáfora desconstrutora do lirismo”, afirma, em entrevista ao Nonada. Nascido no Paraná e radicado na Bahia, ele inspira movimentos culturais como o “Sopapo Poético” e lança em 2025 “Thank You, Exu”, um livro de poemas que reinterpreta o orixá longe da demonização ocidental, ressaltando suas múltiplas facetas.
🎧 Podcast
A menos de cem dias para a COP30, o Brasil precisa avançar para cumprir promessas que tem feito à comunidade internacional. No “Entrando no Clima”, produção d’O Eco, Márcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima, analisa os progressos obtidos até aqui e os desafios que permanecem pelo caminho. O episódio também destaca temas como a decisão histórica do Conselho Internacional de Justiça, a chegada do Dia de Sobrecarga da Terra e o “PL da Devastação”. Na última semana, Lula recebeu uma carta assinada por entidades ligadas aos setores produtivos – indústria, mineração e agropecuária – solicitando a sanção do projeto. Já representantes da sociedade civil, da comunidade científica e do meio político pressionam pelo veto à proposta. A repórter Cristiane Prizibisczki comenta as incertezas em torno do posicionamento do presidente Lula frente ao projeto de lei: “Talvez ele vete apenas algumas coisas e apresente uma nova versão aos setores produtivos”.
🧑🏽⚕️ Saúde
Pesquisadores têm explorado o uso de psicodélicos no tratamento da depressão em uma iniciativa conduzida pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). A substância psicoativa DMT – conhecida das populações originárias por sua presença na jurema e na ayahuasca – tem apresentado resultados promissores. O estudo integra o livro “A Ciência Encantada de Jurema”, de Marcelo Leite, que relata, em artigo no Outras Palavras, a aposta em novas abordagens diante das limitações da psiquiatria convencional. “A vantagem da DMT é ser uma medicação diferente, com mecanismos de ação diferentes e diferentes contraindicações”, afirma Emerson Arcoverde Nunes, psiquiatra que participou dos primeiros estudos com ayahuasca. As últimas inovações farmacológicas no tratamento da depressão surgiram há quase meio século, com os inibidores seletivos de recaptação de serotonina, neurotransmissor cujo circuito também é ativado pelos psicodélicos.