O Pantanal em chamas outra vez e os problemas dos megaeventos
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🔸 Um Pacote pela Igualdade Racial foi assinado ontem, Dia da Consciência Negra, pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Com investimento de R$ 63,4 milhões, dez ministérios terão programas voltados para a reparação racial. “O que nós fizemos aqui hoje é o pagamento de uma dívida histórica que a supremacia branca construiu nesse país desde que ele foi descoberto. Queremos apenas recompor aquilo que é a realidade de uma sociedade democrática”, afirmou Lula. A CartaCapital lista algumas das ações do pacote, que inclui, por exemplo, o atendimento psicossocial de mães e familiares vítimas de violência e a produção de dados sobre comunidades quilombolas.
🔸 Em tempo: desde a chegada do primeiro navio negreiro ao Brasil, dois terços da história do país se passaram sob o regime escravocrata. A abolição em 1888 foi incompleta, sem políticas de reparação. Em 1837, por exemplo, a primeira lei de educação impedia negros de frequentar a escola. Ainda nos dias de hoje, um a cada 11 negros completou o ensino superior, enquanto um a cada cinco brancos concluiu a universidade. A Gênero e Número apresenta cinco gráficos para entender o impacto do racismo estrutural na educação, no mercado de trabalho, no acesso à saúde, entre outros aspectos básicos da vida dos brasileiros.
🔸 A eleição de Javier Milei na Argentina abriu a pergunta: quem vai representar o Brasil em sua posse? Durante a campanha, o deputado de extrema direita da coalizão A Liberdade Avança ofendeu o presidente brasileiro, que, por sua vez, decidiu não comparecer à cerimônia, marcada para 10 de dezembro. Segundo o Metrópoles, Lula avalia dois possíveis nomes para a missão – o vice-presidente Geraldo Alckmin ou o chanceler Mauro Vieira – e ainda não telefonou para Milei a fim de parabenizá-lo. Os dois mandatários, afinal, estão em campos opostos. Já no dia seguinte à vitória, o argentino anunciou que vai privatizar estatais, como a petrolífera YPF, e meios de comunicação. “Tudo o que puder estar nas mãos do setor privado, estará nas mãos do setor privado”, afirmou.
🔸 No Pantanal, as chuvas no fim de semana ajudaram a apagar focos de incêndio, mas estão longe de encerrar as queimadas no bioma. Segundo o Correio do Estado, a previsão é de que a chuva continue em vários municípios da região nos próximos dias, o que pode ajudar a controlar o fogo. Partes do Mato Grosso e do Mato Grosso do Sul estão em chamas, e os governos estaduais já decretaram situação de emergência. As queimadas no segundo semestre costumam ser recorrentes – é quando fazendeiros tentam expandir terras. O Nexo explica o que torna a situação atual ainda mais grave: além das temperaturas recordes e da falta de chuva na região, a biodiversidade local ainda não se recuperou da destruição de 2020, quando o fogo consumiu o equivalente a 26% da área do bioma.
📮 Outras histórias
Moradores da Rocinha, uma das maiores favelas do Rio de Janeiro, enfrentam mais de 15 dias sem energia elétrica, depois que transformadores e postes sobrecarregados pegaram fogo na comunidade. O Fala Roça conta que, no sábado, a Justiça do Rio determinou que a Light, companhia de luz, restabeleça o fornecimento de energia elétrica no local em 48 horas sob pena de multa diária de R$ 50 mil. Na sentença, o juiz afirmou: “Não pode ser ignorada, inclusive, a situação climática severa de calor que assola o país e particularmente a cidade do Rio de Janeiro, o que só acentua a necessidade do serviço”. A Light alegou que “as quedas de energia elétrica na comunidade ocorrem devido à sobrecarga na rede em função de ligações clandestinas, que na Rocinha chegam a 84% das residências”. Ontem, ainda havia moradores sem luz.
📌 Investigação
Com diversos alertas de riscos ambientais, a empresa Mogiana Mineradora opera obras para um aterro de inertes – espaço reservado para receber resíduos da construção civil com perspectiva de reuso futuro – em um trecho da Área de Proteção Ambiental da Várzea do Rio Tietê, no bairro Miguel Badra em Suzano (SP). Segundo a Agência Mural, os moradores da região têm se movimentado para impedir a operação. “Os animais que morreram, já morreram, as enchentes que vão acontecer nós vamos ter que arrumar um plano de contingência. Nós estamos no olho do problema”, afirma Rosenil Órfão, fundador do Movimento de Defesa da APA do Rio Tietê. A área serve de corredor ecológico para espécies de árvores, animais e insetos da Mata Atlântica, além de absorver os impactos de cheias do rio Tietê após períodos de chuva.
🍂 Meio ambiente
O desmatamento em terras indígenas teve mais 50% de redução em 2023, segundo os dados do Prodes, programa do Inpe que faz o mapeamento oficial das perdas anuais de vegetação nativa na Amazônia Legal. A InfoAmazonia explica que as informações coletadas foram calculadas entre agosto de 2022 e julho de 2023. No entanto, a redução efetiva se deu a partir de janeiro de 2023, com o aumento da fiscalização ambiental com a gestão de Lula, como na TI Apyterewa, no Pará, onde o desmatamento caiu 80%. A redução total na região foi de 22,3%.
📙 Cultura
A morte de uma jovem durante o show de Taylor Swift, no último sábado no Rio de Janeiro, escancara a falta de regulação e fiscalização dos megaeventos realizados no Brasil. Aos 23 anos, Ana Clara Benevides passou mal por causa do calor e sofreu uma parada cardíaca. No mesmo dia, milhares de pessoas desmaiaram. Era difícil comprar água (depois de longas filas, a preços caros) e são muitos os relatos de que, no posto médico, os profissionais sugeriam o uso de medicamento tarja preta, cujo efeito adverso inclui, entre outros, a desidratação. A Marco Zero detalha as denúncias do evento no Rio e expande o debate sobre os problemas dos megaeventos, que vão da falta de organização a estruturas precárias. A reportagem informa que a produtora T4F não assumiu responsabilidade sobre os problemas do show no Rio e lembra que a empresa foi alvo de denúncias de trabalho escravo durante o festival Lollapalooza, em 2023 e em 2019.
Em áudio: nas quebradas, a valorização da história e cultura negras acontecem o ano todo com iniciativas que buscam se disseminar aos saberes afro-brasileiros. O “Cena Rápida”, podcast do Desenrola E Não Me Enrola, recebe Wellington Braga, artista e cofundador do BatucAfro, projeto que já tem dez anos de trajetória na celebração da arte e cultura afrodiaspórica e popular em São Paulo. O episódio também conversa com Pollyana Almië, bacharel em História, com ênfase no viés racial, para abordar a desconstrução da visão colonialista e europeia nesse campo no país.
🎧 Podcast
“Modelo militar” e punições físicas são alguns dos conteúdos publicados em live no Facebook pelo pastor evangélico Arison Farias de Aguiar, responsável pelo projeto Resgatando Cativos, com suposto objetivo de recuperar usuários de drogas. O terceiro episódio da série “O Pastor”, da “Rádio Escafandro”, produção da Rádio Guarda-Chuva, mostra a participação de um cabo da Polícia Militar na iniciativa do líder religioso, na cidade de Itacoatiara (AM), além de ligações a blogueiros que constantemente infringiram a lei.
🙋🏾♀️ Raça e gênero
“Quando discutimos raça e gênero, existem grupos, inclusive no campo progressista, que vão ter uma dificuldade tremenda de identificar a importância desse tipo de assunto”, afirma Gabrielle Abreu, historiadora e integrante da coordenação nacional do Mulheres Negras Decidem, movimento formado em 2018 com objetivo de incentivar a representatividade na política institucional. “O Mulheres Negras Decidem valoriza a radical imaginação política de mulheres negras”, completa. Em entrevista ao Portal Catarinas, a ativista compartilha a trajetória da iniciativa e o saldo da campanha pela nomeação de uma mulher negra como ministra do Supremo Tribunal Federal (STF). “Essa discussão em torno da próxima vaga do STF deu uma arrefecida, naturalmente. Houve um ponto alto da campanha, há cerca de um mês e meio, dois meses atrás. Mas o movimento se mantém engajado. Seguimos mobilizadas, pressionando.”