O palanque na ONU e a campanha com escolta das candidatas trans
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🔸 “Tenho feito a minha campanha com colete à prova de balas, carro blindado e escolta armada.” A frase é da candidata trans Duda Salabert (PDT), que busca o posto de deputada federal por Minas Gerais. As violências sofridas por ela e por outras candidatas trans, como Erika Hilton (Psol-SP) e Robeyoncé Lima (Psol-PE), são narradas em reportagem da revista piauí. As três já ocupam cargos eletivos, como deputadas estaduais ou vereadoras. Em tempo: nunca uma das 513 cadeiras da Câmara dos Deputados foi ocupada por uma pessoa trans.
🔸 Bolsonaro fez de palanque o púlpito da Assembleia Geral da ONU, em Nova York. O presidente se comportou como candidato à reeleição e falou da política doméstica brasileira, como avalia o Nexo. A poucos dias da eleição e preso ao mesmo patamar (de cerca de 30%) nas pesquisas de intenção de voto, Bolsonaro atacou Lula e apresentou uma versão fantasiosa do Brasil como um exemplo de proteção ambiental.
🔸 Verdades e (muitas) mentiras. O presidente deu informações falsas sobre o agronegócio, sobre a prisão do ex-presidente Lula, como mostra o Aos Fatos, que checou o discurso completo. Falou a verdade quando se referiu ao número de beneficiados pelo auxílio emergencial ou quando converteu o preço da gasolina em dólar. A Agência Lupa lembrou que Bolsonaro deu declarações falsas sobre meio ambiente nos quatro discursos que fez na abertura da assembleia. Das 30 frases classificadas como falsas ou exageradas nas quatro sessões, quase um terço era sobre esse tema.
🔸 Mais de mil civis foram mortos em chacinas policiais desde 2016 na região metropolitana do Rio de Janeiro. Em mais um levantamento inédito, o Instituto Fogo Cruzado detalha ainda a distribuição desigual da letalidade policial pela cidade. A Zona Norte, que concentra 87 bairros, é a mais afetada. “O Rio de Janeiro parece ter normalizado chacinas com mais de 20 mortos em operações policiais. Apostamos nas mesmas soluções – o tiro – há muitos anos”, afirma Cecília Oliveira, diretora executiva do instituto.
🔸 Ainda sobre segurança pública… A Ponte ouve especialistas sobre como o tema é tratado nos planos de governo dos candidatos à Presidência. O programa de Bolsonaro promete manter as Forças Armadas atuando na segurança pública, no que tange o “aumento e continuidade dos investimentos” e promete ainda, ampliar o excludente de ilicitude. Já nas propostas de Lula, chama a atenção o fato de a questão não ter aparecido no programa formalizado, embora ele fale sobre o tema em comícios e entrevistas.
📮 Outras histórias
Pela primeira vez na História do Brasil, negros são maioria entre os candidatos das eleições de 2022. Não é diferente no município de Mossoró (RN), onde mais de metade das candidaturas são pretas e pardas, com 21 concorrentes ao pleito. Em 2014, apenas cinco se autodeclaravam negros. A Saiba Mais trata do tema a partir de dois movimentos: as frentes de combate ao racismo e a ocupação de espaço.
“Pobreza energética.” Este é o nome dado a uma situação em que não se tem acesso à energia elétrica por limitações tecnológicas, físicas ou econômicas. Reportagem da Pública detalha um mapeamento do Instituto Pólis, que mostra que a distribuição de energia pelo país segue um padrão de raça e classe: as regiões onde há menor acesso e maior duração de interrupção no fornecimento são também as com predominância de população negra e de baixa renda.
📌 Investigação
O leite das crianças. O Joio e o Trigo parte do programa Leite Leve, iniciado em 1995 pelo então prefeito Paulo Maluf em São Paulo, para debater a ideia impraticável de “tirar o leite das crianças”, não exatamente pelo produto ser um alimento fundamental, e sim por ter se tornado moeda de troca. O Leite Leve, quando surgiu, prometia combater a desnutrição das crianças da Rede Municipal de ensino e até diminuir o índice de evasão escolar. Em quase 30 anos, o programa nunca passou por uma avaliação. Mas a pressão pelo leite das crianças vem de muito antes, desde a chegada da Nestlé ao Brasil.
🍂 Meio ambiente
O que está na agenda ambiental entregue por Marina Silva a Lula? O documento complementa o plano de governo do petista, que já previa o fortalecimento de órgãos ambientais, aceleração dos processos de demarcação de terras indígenas e combate ao desmatamento. Além disso, como conta a Amazônia Latitude, propõe a criação da Autoridade Nacional de Segurança Climática, uma entidade para estabelecer metas e verificar a implementação de ações para a redução das emissões de gases de efeito estufa.
Por falar em mudanças climáticas… a população de países pobres é a que mais sofre com elas, mas os ricos são globalmente responsáveis pela maioria das emissões de carbono. O portal A Economia B explica que é essa desigualdade que deixa a Agenda 2030 da ONU e o desenvolvimento sustentável cada vez mais distante.
📙 Cultura
Em meio ao apagão de dados sobre o setor cultural, os observatórios são as instituições que resistem. O extinto Ministério da Cultura tinha a ambição de implantá-los em todos os estados brasileiros a partir das universidades federais. O Nonada conta que, até 2016, esses núcleos foram criados na Bahia, Amazonas, Distrito Federal, Goiás, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul, mas apenas os da Bahia e do Rio Grande do Sul estão ativos.
“Obrigado pelo preconceito/ com que até hoje me aceitas./ Muito obrigado pela cor do emprego/ que não me dás porque sou negro.” Estes são versos de um dos poemas mais simbólicos do poeta Oliveira Silveira, que ilustram o racismo enfrentado em sua terra natal, o Rio Grande do Sul. O artista afro-gaúcho é um dos idealizadores do Dia da Consciência Negra, mas, em Porto Alegre, a data nunca se tornou feriado. A revista Quatro Cinco Um passeia pela obra de Silveira, caracterizada pelo pampa brasileiro e pela ideia de um africanismo pan-americano.
🎧 Podcast
É chegada a cruel temporada de tráfico de papagaios-verdadeiros. Entre setembro e dezembro, estima-se que 12 mil filhotes de papagaios-verdadeiros (Amazona aestiva) são vendidos ilegalmente na Região Metropolitana de São Paulo. O novo episódio de Silvestres, podcast do Fauna News, conversa com o presidente da ONG SOS Fauna, Marcelo Pavlenco Rocha, um dos maiores conhecedores do mercado ilegal dessas aves no Brasil.
🙋🏾♀️ Raça e gênero
A questão racial nos planos de governo de Lula e Bolsonaro: “Nos programas dos candidatos à Presidência, questões como geração de emprego e renda e trabalho informal, por exemplo, aparecem sem dados racializados”, escreve o cientista social Wellington Lopes, em análise no Desenrola e Não Me Enrola. Segundo ele, Bolsonaro não cita as palavras raça, negro, negra, negros, negras. Quanto a questões que atingem diretamente a população negra, como a guerra às drogas, Lula menciona a necessidade de revisão da política, em que 99,2% das vítimas fatais em decorrência de intervenções policiais no país são homens pretos.
Para além dos programas de governo, o racismo institucional. O Le Monde Diplomatique Brasil mostra que as desigualdades na distribuição dos recursos de campanha feita pelos partidos são gritantes. Candidatos brancos receberam dez vezes mais do que candidatos pretos.