O país mais transfóbico do mundo e a queda no mercado de livros
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🔸 O Brasil é o país mais homotransfóbico do mundo. Em 2023, a cada 34 horas uma pessoa LGBTQIAP+ foi vítima de morte violenta, segundo relatório do Grupo Gay da Bahia (GGB), organização não governamental que há 44 anos coleta esses dados. A Alma Preta destrincha os números e mostra que, pela primeira vez, a região Sudeste assumiu a posição de mais impactada por mortes violentas contra a população LGBTQIA+. Foram cem casos registrados no ano passado. Em segundo lugar, está a região Nordeste, com 94 casos. Cerca de 40% dos crimes ocorrem em espaços externos. “Persiste o padrão de travestis serem assassinadas a tiros na pista, terrenos baldios, estradas, motéis e pousadas, enquanto gays e lésbicas são mortos a facadas ou com ferramentas e utensílios domésticos, sobretudo dentro de seus apartamentos”, informa o relatório.
🔸 “Vivemos numa sociedade que nos castra a todo momento, a cada ação nossa. Não somente com pessoas trans, mas, para pessoas trans e outras pessoas excluídas e com mais dificuldades de acesso, a castração não só arranca a nossa capacidade inata de sonhar, mas também nos leva a deixar de acreditar nos sonhos, de saber o que significa sonhar.” Em coluna na Gênero e Número, Maite Schneider escreve sobre sua própria história – “um ser humano que a sociedade colocou na caixinha de trans, com 52 anos” – e encoraja pessoas trans a sonhar. “Se a capacidade de sonhar te foi arrancada, cultive-a numa parte ao menos do seu dia. No início, vai parecer exercício de autoajuda, algo forçado e até besteira. Insista, eu te peço! Acredite em mim, valerá a pena.”
🔸 As mulheres negras são os principais alvos de preconceito no Rio de Janeiro. Só no ano passado, a Polícia Civil registrou 890 casos de preconceito por raça, cor, religião e etnia, dos quais elas são as vítimas mais frequentes. O Notícia Preta informa que o Instituto de Segurança Pública (ISP) também identificou, entre janeiro e dezembro de 2023, 34 casos de ultraje a culto, que é determinado “ridicularização pública, impedimento ou perturbação de cerimônia religiosa”.
🔸 O racismo está na base da Operação Verão, a ação de segurança pública do Rio para a estação mais quente do ano. Segundo a Secretaria de Ordem Pública (SEOP), os agentes fiscalizam ambulantes e ônibus e apoiam o policiamento “na abordagem de jovens que vão às praias sem a presença de um responsável e que estão sem documentos”. O Maré de Notícias lembra que 71% dos usuários de transportes públicos na cidade são negros e destaca que andar sem documentos não é crime. “Durante os verões, os governos estadual e municipal têm se orgulhado das ações da ‘Operação Verão’. Esta é mais uma forma de cercear a circulação dos moradores das periferias, ferindo sua cidadania e o direito à cidade”, afirma a socióloga e cientista social Raquel Machado.
📮 Outras histórias
Na favela da Rocinha, convivem católicos, evangélicos, espíritas, candomblecistas, umbandistas e budistas. A diversidade religiosa da comunidade na zona sul do Rio de Janeiro é tema de reportagem do Fala Roça, que conversa com moradores de diferentes crenças. Se a favela concentra 40 templos evangélicos e sete católicos, também tem espaços para os praticantes do espiritismo, como a Casa Maria de Nazaré. Com duas sedes – uma no alto e outra na parte mais baixa do morro –, a casa foi fundada em 1962 e hoje atende a 400 famílias da comunidade.
📌 Investigação
De cada quatro decisões da Justiça, três foram desfavoráveis para as vítimas do rompimento da barragem da mineradora Vale, em Brumadinho (MG). Recém-divulgado pelo Núcleo de Assessoria às Comunidades Atingidas por Barragens (Nacab), um estudo analisou 319 processos julgados entre janeiro de 2019 e março de 2023 por 11 câmaras cíveis do Tribunal de Justiça de Minas Gerais. A Repórter Brasil detalha a pesquisa segundo a qual 75% das decisões foram desfavoráveis aos atingidos. O gari Alcione Oliveira Borges, de 45 anos, teve sua indenização de R$ 100 mil reduzida em 80% pelo tribunal de Minas após recurso da Vale.
🍂 Meio ambiente
Mais de 80% das espécies de árvores exclusivas da Mata Atlântica, bioma historicamente mais desmatado do país, estão ameaçadas de extinção. É o que revela pesquisa publicada neste mês na revista científica “Science”. Segundo O Eco, o estudo mapeia as quase 5 mil espécies de árvores e usa os critérios da União Internacional de Proteção da Natureza (IUCN) para criar uma “Lista Vermelha” das árvores ameaçadas da Mata Atlântica. “Se tivéssemos usado menos critérios da IUCN nas avaliações de risco de extinção das espécies, o que geralmente tem sido feito até então, nós teríamos detectado seis vezes menos espécies ameaçadas”, afirma Renato Lima, professor da Universidade de São Paulo (USP) que liderou a pesquisa.
📙 Cultura
Após o aumento do consumo de livros durante a pandemia, o mercado brasileiro viveu uma queda em 2023. Se entre 2017 e 2022, o crescimento foi de 38%, chegando ao pico de 58,6 milhões de livros vendidos, em 2023, houve uma redução de 7% em relação ao ano anterior. Segundo dados da Nielsen BookScan, foram 54 milhões exemplares vendidos, ainda acima do patamar pré-Covid. Na seção =igualdades, a revista piauí traça os hábitos de compra e venda de livros no Brasil. As lojas exclusivamente virtuais, como Amazon ou Mercado Livre, superaram o faturamento de livrarias. Em 2022, as vendas para o e-commerce representaram 35% da receita das editoras de livros, já as livrarias ficaram com 27%.
🎧 Podcast
Da cobertura da Guerra das Malvinas a refém em assalto como repórter, o jornalista Francisco José já dedicou quase seis décadas à arte de contar histórias, com coberturas marcantes. O “Vida de Jornalista”, produção da Rádio Guarda-Chuva, conversa com o profissional para revisitar sua trajetória da infância no sertão cearense, o início da carreira como repórter esportivo, com coberturas de Copa do Mundo – inclusive o Tricampeonato do Brasil em 1970 –, às reportagens especiais na Rede Globo.
✊🏽 Direitos humanos
Cerca de metade das crianças (44,4%) de até 6 anos beneficiárias do Bolsa Família não teve acompanhamento médico no primeiro semestre de 2023, como estabelecem as regras do programa. Entre as mulheres, 13,7% do total de inscritas que deveriam ter sua saúde monitorada não o tiveram. Na newsletter “Don’t LAI to me”, a Fiquem Sabendo compartilha os dados reunidos pelo Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome e obtidos via Lei de Acesso à Informação (LAI). Segundo o ministério, a redução de pessoas acompanhadas se deu a partir do período da pandemia.