Os padrões do feminicídio e as altas temperaturas do planeta
Uma curadoria do melhor do jornalismo digital, produzido pelas associadas à Ajor. Novos ângulos para assuntos do dia
🔸 De cada cinco feminicídios no país em 2022, pelo menos um aconteceu aos domingos. “Para muitas brasileiras, domingo não é dia de festa, nem de missa, nem de churrasco, nem de pizza, nem de futebol. É dia de perigo e morte”, escrevem Fernanda da Escóssia e Vitória Pilar na revista piauí. O Fórum Brasileiro de Segurança Pública tabulou, com exclusividade para a revista, os dados sobre a distribuição dos feminicídios ao longo dos dias da semana. Sábados e domingos concentram 37% dos crimes desse tipo, o que ajuda a entender os padrões domésticos da violência contra a mulher: em 2022, 53,6% dos assassinatos foram cometidos por companheiros e 69,3% dos crimes ocorreram dentro de casa. “Observar padrões de um crime também ajuda a perceber se ele é evitável – caso do feminicídio. E permite traçar políticas de prevenção, focalizando essas políticas ao máximo. Um exemplo prático seria, por exemplo, dar prioridade a denúncias de violência doméstica durante os dias e horários de maior risco de feminicídio”, diz a reportagem.
🔸 Mais um capítulo no caso da tirolesa nos morros do Pão de Açúcar e da Urca, cartões-postais do Rio de Janeiro. O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) emitiu nota na semana passada descartando riscos estruturais decorrentes das construções, segundo parecer do Instituto Geotécnico do Rio de Janeiro (Geo-Rio), e afirma que a autorização para o projeto só se deu depois de análise do órgão. O Eco expõe um conflito de datas entre os documentos e a obra: a primeira autorização do Geo-Rio é de 21 de março, um mês depois de o Iphan já ter autorizado a tirolesa. Na nota emitida agora, o parecer tem data de 14 de julho. Segundo a engenheira mecânica Gricel Osório Hor-Meyll, integrante do Grupo Ação Ecológica (GAE), a conclusão do último documento do Geo-Rio “não permite de forma alguma inferir que não há possibilidade de rupturas no maciço”. A obra está embargada, mas 128 m³ de rocha dos dois morros já foram extraídos.
🔸 Na última sexta-feira, o planeta completou 17 dias seguidos com as temperaturas mais altas já registradas. O dia mais quente foi 6 de julho, com 17,23 ºC. “Dezessete graus parece pouco, não? No Rio de Janeiro, se sai de casa de cachecol quando os termômetros marcam algo parecido. Mas, veja, estamos falando de um valor médio para o planeta inteiro, que tem calotas polares congeladas fazendo a compensação (e, bem… elas também estão mais quentes)”, explica Giovana Girardi em coluna na Pública. Se não há ainda estatísticas sobre quantas pessoas estão morrendo por causa dessa onda de calor, sabe-se que o prognóstico não é dos melhores. Girardi lembra um estudo recente revista “Nature Medicine”, segundo o qual o verão de 2022 na Europa, até então o mais quente do registro histórico, pode ter causado mais de 61 mil mortes.
🔸 O Brasil faz nesta manhã sua estreia na Copa do Mundo de futebol feminino, em jogo contra o Panamá, adversário nunca enfrentado pelas brasileiras. Das 351 partidas oficiais disputadas pela seleção feminina desde 1986, 201 foram vitórias, 60 empates e 89 derrotas. O Nexo reúne em gráficos o desempenho do time. A julgar pela média de gols até hoje, o prognóstico é animador: a equipe brasileira marcou 2,66 gols por jogo – e sofreu apenas 0,98 gol por partida.
📮 Outras histórias
Panfletos LGBTfóbicos foram fincados no gramado do Parque Ramiro Ruediger, em Blumenau (SC), no dia em que representantes da ONG Mães do Amor organizavam um piquenique sobre cristianismo e inclusão. No texto de convocação para o encontro, elas escreveram que todas as mães são filhas de Deus, independentemente de sua identidade sexual e/ou de gênero. Já os panfletos que encontraram no parque diziam que os “pecadores”, a exemplo dos “homossexuais”, não são filhos de Deus. Ao avistar uma viatura da polícia, Tuane Elis Patricio tentou registrar um boletim de ocorrência pelo crime de LGBTfobia. Os policiais, porém, argumentaram que não sabiam como tipificar o crime. O Portal Catarinas conta como se desenrolou o caso.
📌 Investigação
Amplamente utilizados pelo público infanto-juvenil, o TikTok e o Kwai se tornaram espaços para promover links de grupos com conteúdos de abuso sexual de crianças e adolescentes. É o que revela o Núcleo ao analisar nas plataformas termos que são adotados há anos por criminosos. No TikTok, não foram encontrados vídeos explícitos com sexualização de menores de idade, mas usuários que conseguem disseminar acesso a sites em que esse conteúdo está disponível. Já o Kwai está inundado com milhares de comentários de vídeos sexualizando crianças e adolescentes. Desde fevereiro do ano passado, foram feitas pelo menos nove denúncias sobre o tema no site ReclameAqui.
🍂 Meio ambiente
A exploração de gás natural pela Eneva S.A., próximo a territórios indígenas do povo Mura, foi autorizada pelo Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (Ipaam), vinculado à Secretaria de Meio Ambiente do Estado do Amazonas (Sema), com base em um Estudo de Impacto Ambiental (EIA) apresentado pela Petrobras em 2013, informa a InfoAmazonia. A estatal vendeu o Campo Azulão em 2017 para Eneva S.A, que obteve a primeira licença de instalação em 2019, e a de operação em 2021, sem apresentar novos estudos. Os indígenas Mura que vivem em territórios perto do empreendimento alegam ter a caça e a pesca prejudicadas pelos impactos ambientais da extração de gás.
O Projeto Rural Sustentável (PRS) Caatinga apoia a agricultura familiar no semiárido a partir de Tecnologias Agropecuárias de Baixa Emissão de Carbono (TecABC), aliando a produção familiar rural à mitigação das mudanças climáticas, geração de renda e garantia de segurança alimentar às comunidades locais. A EcoNordeste mostra a diversidade da sociobioeconomia no bioma, como frutas nativas, mel, produção de palma, mandioca, cambuí e murta. Vice-reitora da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf), Lúcia Marisy destaca a necessidade de mais investimentos e iniciativas do tipo para o avanço do setor e para a conservação da Caatinga.
📙 Cultura
Batalha de poesias autorais, o Slam do 13 completa dez anos em 2023. Conduzida pelos poetas e produtores culturais Caio Feitoza, Maite Costa, Jéssica Campos, Santos Drummond e Thiago Peixoto, a iniciativa ocupa o Terminal Santo Amaro, na zona sul de São Paulo desde 2013. Além dos slams – competições de poesias faladas –, o grupo promove lançamentos de livros, shows, exposições e diversas manifestações culturais no local. “Há 10 anos, quando decidimos montar o 13, nossa missão era difundir esse movimento [do slam] que, até então, contava com apenas três comunidades, todas em São Paulo, mas nenhuma na zona sul”, afirma o cofundador Thiago Peixoto ao Desenrola E Não Me Enrola.
Na comemoração de 150 anos de nascimento de Santos Dumont, o museu na casa onde morou o “pai da aviação”, em Petrópolis (RJ), foi reinaugurado na semana passada. O 100fronteiras acompanhou o evento que marcou a reabertura do local, entre homenagens de artistas e de órgãos brasileiros. O acervo do museu foi enriquecido com novas peças, como a bandeira original hasteada por Dumont, mobiliário, quadro com a família e uma carta com o pedido de terra para a construção da casa – chamada de “Encantada” e projetada por ele em 1918. O lugar reúne memórias do aviador desde sua morte, em 1932, e também exibe objetos pessoais, como seu chapéu e algumas de suas invenções.
🎧 Podcast
No “Anedonia”, o cartunista Benett traz uma antologia de cartuns sobre o amor – ou sobre a impossibilidade dele. É nessa obra que o podcast “O Que Ler Agora?”, produção do Plural, abre a temporada dedicada a autores curitibanos ou radicados em Curitiba (PR). O jornalista Irinêo Netto conversa com Benett sobre o livro e sobre como ele cria as suas tirinhas, inclusive seu humor crítico em relação ao governo Bolsonaro. “O humor vai se transformando. Tem muita coisa que desenhei ou que escrevi que hoje já não vejo mais graça”, conta.
🙋🏾♀️ Raça e gênero
Ao se concentrar na punição, o Estado ignora o amparo às vítimas e a dimensão estrutural da violência – que passa pela pobreza, machismo, racismo e LGTBfobia. A revista AzMina reflete sobre a necessidade de um feminismo antipunitivista. Além de não ser eficiente para acabar com a violência de gênero, mulheres são mais castigadas por esse sistema. A cada ano, o encarceramento de mulheres pretas e pobres no país aumenta com base no racismo e na misoginia do Judiciário. Mesmo quando livres, as mulheres são as que mais sofrem as consequências do aprisionamento populacional, ao se tornarem responsáveis pelo cuidado de familiares e companheiros presos.