Os repasses do auxiliar de Lira e o trabalho infantil na produção de joias
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🔸 Lira na mira. A Polícia Federal encontrou anotações manuscritas de repasses de dinheiro a “Arthur” na operação feita nos endereços do principal auxiliar do deputado Arthur Lira (PP-AL), Luciano Cavalcante, e do motorista do auxiliar, Wanderson Ribeiro Josino de Jesus. Num caderno-caixa, com saldos, transferências e datas, o nome “Arthur” aparece 11 vezes ao lado dos maiores valores, que somam cerca de R$ 265 mil, apenas entre abril e maio deste ano. A informação foi revelada pela revista piauí, que detalha os repasses. Em 17 de abril, por exemplo, há um gasto de R$ 3.652 para “Hotel Emiliano = Arthur”. Quando vai a São Paulo, o deputado costuma se hospedar no Hotel Emiliano, nos Jardins. Procurado pela reportagem, Lira respondeu em nota que todas as movimentações financeiras têm “origem nos seus ganhos como agropecuarista e da remuneração como deputado”. Os documentos foram encontrados no carro do motorista, um Corolla que, segundo Wanderson de Jesus, também pertence a Luciano Cavalcante. Ele, por sua vez, é conhecido como o braço direito de Arthur Lira.
🔸 O julgamento que pode tornar Jair Bolsonaro (PL) inelegível será retomado amanhã. Se o ex-presidente não puder se candidatar, abre espaço para outro candidato nas eleições de 2026. O nome de Tarcísio de Freitas (Republicanos) é tido como o mais cotado, segundo analistas consultados pelo Congresso em Foco. Para o historiador Daniel Pradera, o governador de São Paulo consegue atrair votos de eleitores extremistas e também de moderados da direita. “O eleitorado do Tarcísio é o eleitorado de Bolsonaro, não há dúvida quanto a isso. Por outro lado, Tarcísio não fala as atrocidades que Bolsonaro falava”, afirma. Outro nome lembrado é o de Romeu Zema (Novo). Seu partido, afinal, é hoje a mais importante linha auxiliar do PL no Congresso.
🔸 Um parlamentar licenciado e um ex-deputado ainda ocupam apartamentos funcionais em Brasília. Doutor Luizinho (Progressistas-RJ) foi eleito, mas deixou o cargo para assumir a Secretaria de Estado de Saúde do Rio de Janeiro e deveria ter desocupado o imóvel em abril passado. Já Hildo Rocha (MDB-MA) nem sequer foi eleito e deveria ter saído em fevereiro. O Metrópoles conta que os dois terão que pagar indenização com base no auxílio-moradia, verba de até R$ 4.523 por mês que os deputados podem receber se não ocuparem um apartamento funcional.
🔸 Seis em cada dez rios na Terra Indígena Yanomami, em Roraima, sofrem os efeitos do garimpo e de invasões. É o que mostra levantamento feito por pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), entre outras instituições. Eles examinaram uma área de até 1 km ao redor das comunidades, a partir de imagens do Deter, sistema que reúne alertas de desmatamento, degradação e mineração. O Notícia Preta informa que a conclusão é de cerca de 62% da população Yanomami vive em áreas de risco.
🔸 Um marco no combate à violência policial no Brasil. Depois de cinco dias de julgamento, o Tribunal de Justiça do Ceará condenou ontem quatro policiais militares acusados de participação na Chacina do Curió, na região periférica de Fortaleza, que fez 11 mortos em 2015. Além dos homicídios qualificados, eles também foram considerados culpados por crimes de tortura física e psicológica. “Essa vitória é da nossa periferia, é do nosso povo periférico, é dos nossos jovens, é libertar os jovens das mortes. Nosso povo periférico precisava dessa resposta”, disse Edna Carla Souza Cavalcante, mãe de Álef Cavalcante, morto aos 17 anos. A Ponte narra o julgamento que durou mais de 60 horas e relembra o caso.
📮 Outras histórias
Moradores da Rocinha e do Vidigal pedem a volta do programa Ônibus da Liberdade. Criado pela prefeitura em 2004 e suspenso há anos, o projeto oferece transporte gratuito a alunos de escolas municipais onde os ônibus não chegam ou operam com intervalos que não atendem à necessidade dos estudantes. Segundo o Fala Roça, as duas favelas na zona sul do Rio de Janeiro já coletaram mais de 800 assinaturas numa petição pela retomada do serviço. No documento, mães relatam as dificuldades das crianças no deslocamento até a sala de aula. “Tenho um filho com síndrome de Down que estuda no Leme e é um parto para chegar à escola com ônibus lotado”, afirma Márcia Freitas.
Creuza, Creuzinha e Creuzona comandaram um “império de prostíbulos” em Sergipe ao longo de quatro décadas. A primeira morreu, a segunda está doente, e a terceira é dona do botequim Pingo de Ouro que, apesar de ter as paredes decoradas com pinturas de mulheres nuas, só vende bebidas. Creuza Bezerra dos Santos, a Creuzona, fará 80 anos em outubro. Ela conduz a última reportagem da série do Meus Sertões sobre o povoado Cruz da Donzela, em Malhada dos Bois, conhecido por abrigar dezenas de bordéis no quilômetro 22 da BR-101, ponto de parada de caminhoneiros de todo o país. Se hoje dorme numa cama de solteiro instalada dentro do bar, como cafetina, chegou a ter quatro casas e dezenas de propriedades no povoado. “As mulheres iam para os quartos e ganhavam o dinheiro delas, a gente faturava com a bebida. Sabe quanto ouço dizer que elas estão cobrando hoje? Cem reais, 80, 70. As mais fracas, mais necessitadas aceitam 50”, diz Creuzona.
📌 Investigação
Trabalho infantil e informalidade dominam o município de Limeira (SP), que responde por 60% da produção nacional de joias. Em 2009, após denúncias graves, o setor precisou de um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) para erradicar o trabalho infantil na região, mas a realidade é de inércia, com o agravamento do cenário desde o início da pandemia. Segundo a revista AzMina, a mão de obra de crianças e adolescentes é consequência direta da desigualdade social. As principais trabalhadoras da indústria são mães solo com o “trabalho de rua”, em que elas, em casa, fazem as etapas de soldagem, cravação/aplicação e montagem. “Falta dinheiro para o gás. Então, a mãe começa a trabalhar com joia e precisa fazer uma quantidade boa para render um pouco mais. É assim que as crianças acabam sendo incluídas”, explica uma assistente social de ONG do município.
🍂 Meio ambiente
O magnata do agronegócio estadunidense Bruce Rastetter usa a emergência climática para angariar investimentos milionários a fim de produzir etanol de milho na Amazônia Legal. Os negócios de Rastetter se vendem como carbono negativo, com a promessa de implantar um sistema para capturar carbono das usinas e armazenar o gás debaixo da terra. O sistema conhecido como CCS (Carbon Capture and Storage, em inglês), no entanto, ainda não se provou eficaz. Com a proibição da cana-de-açúcar na Amazônia e no Pantanal para evitar que a produção do etanol incentivasse o desmatamento e a invasão de áreas protegidas, o milho entrou em cena. Em parceria com O Joio e O Trigo, a InfoAmazonia revela que os próprios executivos da FS Bioenergia, empresa de Rastetter com empresários do agronegócio brasileiro, estão ligados ao desmate ilegal no Mato Grosso e no Amapá, onde a companhia mantém negócios.
A floresta em pé pode fazer com que o PIB da Amazônia chegue a R$ 38,5 bilhões anuais a partir de 2050, um crescimento de 67%. Esta é a conclusão de um estudo feito ao longo de quase três anos por 76 pesquisadores de diferentes universidades e instituições científicas do país. O Projeto Colabora explica que a pesquisa desenha uma Nova Economia da Amazônia, tendo como premissas a manutenção da floresta, a valorização da biodiversidade, a inovação, o respeito ao conhecimento dos povos originários e a descarbonização da economia brasileira. Os cientistas consideram inclusive a agropecuária e a mineração como parte desse processo, pensando na distribuição, utilização e regeneração das áreas já degradadas.
📙 Cultura
Gênero mais tradicional do São João, o forró tem perdido espaço para a pressão mercadológica do sertanejo. As principais festas do Nordeste, como em Caruaru (PE) e Campina Grande (PB), têm passado por uma descaracterização, o que afeta também os artistas populares que vivem do ciclo junino. “Desprestigiar o forró, os nossos artistas locais, é também desvalorizar a sobrevivência de toda uma cadeia produtiva da cultura tipicamente nordestina”, afirma à revista O Grito! o vocalista da banda Fim de Feira, Bruno Lins. O tema veio à tona especialmente nos últimos dias quando o cantor Flávio José, de 71 anos, reclamou no palco do São João de Campina Grande, após ter seu tempo de show reduzido devido a um suposto aumento no tempo da apresentação do sertanejo Gusttavo Lima.
“Eu vejo que identidade para mim, enquanto uma pessoa que está na favela e que é preta, é que a roupa também é comportamento.” Stefany Silva é empreendedora, diretora criativa e artista multidisciplinar do Brechó Jeans Ancestral. Moradora da Maré, conjunto de 16 favelas na zona norte do Rio de Janeiro, ela busca trabalhar o conceito de moda política, na qual o público possa vestir roupas que construam suas identidades, trazendo protagonismo para a favela e suas vivências. O Maré de Notícias mostra como surgiu a iniciativa e como ela se conecta com os moradores da comunidade.
🎧 Podcast
A ciência não foge da lógica colonialista – a pilhagem dos europeus aos países latinoamericanos e africanos vai além dos metais preciosos e persiste mesmo fora do período da colonização. O podcast “Bichos, Plantas e Histórias que Não Contaram para Você”, produção d’O Eco, mergulha no furto de Ubirajara, o fóssil único de um dinossauro brasileiro, natural da região do Cariri, no Ceará, e que foi levado ilegalmente em 1995 para o Museu de História Natural de Karlsruhe, na Alemanha, onde está à disposição de pesquisadores europeus, sem ter cumprido a legislação do Brasil sobre o transporte intercontinental de importação de bens destinados a pesquisas. Desde 2020, há uma mobilização liderada por paleontólogos que pede o retorno de Ubirajara ao Brasil, em um capítulo de luta contra o colonialismo científico.
🧑🏽🏫 Educação
O Plano Nacional de Educação (PNE) chegou ao seu último ano com uma década de fracasso. Aprovado em 2014 pelo Congresso e sancionado pela presidenta Dilma Rousseff (PT), o PNE listou 20 metas e diretrizes para a educação brasileira e deveria guiar as ações do governo federal e dos estados e municípios durante os dez anos seguintes. O Le Monde Diplomatique Brasil traz dados e histórias que retratam que o plano não só não atingiu suas metas, como retrocedeu em alguns pontos. Entre suas propostas estão erradicar o analfabetismo, oferecer o atendimento escolar universal a todos e diminuir a desigualdade educacional da população.