A lista de obras destruídas e a origem dos ônibus dos ataques em Brasília
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🔸 Numa cena histórica, o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) caminhou ao lado da ministra Rosa Weber, do Supremo Tribunal Federal (STF), e dos governadores pela Praça dos Três Poderes até o prédio depredado da Corte. “Eles querem é golpe, e golpe não vai ter. Eles têm que aprender que democracia é a coisa mais complicada para a gente fazer, porque exige gente suportar os outros, exige conviver com quem a gente não gosta”, disse Lula na reunião com chefes dos Poderes e governadores estaduais. A CartaCapital narra o encontro em que o presidente criticou a ação das forças de segurança e prometeu que as investigações chegarão aos financiadores dos ataques criminosos em Brasília. De acordo com o ministro da Justiça e da Segurança Pública, Flávio Dino, mais de 1.500 pessoas foram presas em flagrante ou detidas em decorrência dos crimes.
🔸 A Agência Brasileira de Inteligência (Abin) alertou ao governo do Distrito Federal que havia, sim, risco de escalada de violência e destruição dos prédios públicos. O Metrópoles apurou que foram diversos os alertas enviados pela agência, contendo, inclusive, avisos sobre o aumento do número de ônibus fretados para Brasília. Agentes da Polícia Rodoviária Federal, aliás, criaram um “cinturão” viário nas principais rodovias de acesso à capital federal. Em menos de 24 horas, 49 ônibus envolvidos nos atos foram interceptados, e seus passageiros, conduzidos para unidades da Polícia Federal.
🔸 Desde a ordem do STF para que fossem dispersados em 24 horas, os acampamentos bolsonaristas viram a adesão cair, mas alguns golpistas ainda resistiam em cidades pelo país, como Salvador e Belo Horizonte. Reportagem do Portal Terra conta que, na capital baiana, por exemplo, cerca de 20 pessoas não deixaram a área em frente ao quartel general mesmo após o desmonte da estrutura. No Rio de Janeiro e em São Paulo, foi mais fácil. Na capital paulista, por volta das 13h30, apoiadores de Bolsonaro guardavam seus pertences em carros e caminhonetes para abandonar o local.
🔸 “Quando desarticulamos os aparatos de segurança do Estado, que ficam subordinados a interesses políticos, eles perdem a capacidade funcional de prestar boas informações sobre os riscos da integridade e da segurança nacional, tanto externos quanto internos. Qual é a qualidade dos relatórios da inteligência da Polícia, do Exército, da Abin, para os órgãos tomadores de decisão? Não há confiança na qualidade desses relatórios, porque houve uma desorganização enorme desses serviços.” Em entrevista ao Nexo, o cientista político Júlio César Cossio Rodriguez, professor da Universidade Federal de Santa Maria, afirma que o governo confiou de forma “irresponsável” nas informações recebidas dos órgãos de segurança e avaliou mal os riscos da violência que se viu no domingo em Brasília.
🔸 Em vídeo: a mais violenta tentativa de Golpe de Estado desde 1964. É assim que o jornalista Pedro Doria define, no Ponto de Partida, do Canal Meio, os ataques de domingo. Ele lembra que a multidão caminhou pela Esplanada dos Ministérios até a Praça dos Três Poderes sem qualquer resistência. “Quais as chances de ocorrer um ataque organizado em massa, contra o coração do governo federal, sem que a inteligência estivesse informada? Não há qualquer chance. O que aconteceu foi premeditado e muita gente permitiu que acontecesse”, afirma.
🔸 No saldo dos crimes, estão os profissionais de imprensa agredidos. Segundo o Sindicato dos Jornalistas do Distrito Federal, ao menos 12 foram agredidos. O Portal dos Jornalistas reúne alguns relatos e explica que as agressões incluem ataques físicos, socos, chutes, furto de celulares e equipamentos, e em casos extremos ameaças à mão armada, dentro do Congresso Nacional e da região da Esplanada dos Ministérios.
🔸 Falando em imprensa: Antonio Augusto Amaral de Carvalho Filho, o Tutinha, deixou a presidência do grupo Jovem Pan após os ataques de domingo. Em seguida, o Ministério Público Federal (MPF) anunciou que vai investigar a conduta da emissora na incitação dos crimes. O Portal Imprensa detalha o inquérito e destaca que o MPF informou que, num levantamento feito nos últimos meses, detectou que a Jovem Pan “tem veiculado sistematicamente fake news e discursos que atentam contra a ordem institucional”. Isso coincide, ainda segundo o MPF, com a “escalada de movimentos golpistas e violentos em todo o país”.
📮 Outras histórias
O Paraná teve forte participação nos ataques criminosos de domingo. Um canal criado para receber denúncias de cidadãos do estado protagonistas dos atos recebeu mais de mil interações em menos de 15 horas no ar. O Plural explica que a plataforma foi criada pelo diretório do Partido dos Trabalhadores (PT) para, no que foi chamado de “arrastão jurídico”, identificar participantes e financiadores das caravanas que partiram para a destruição em Brasília. “Recebemos desde vídeos, prints de gente daqui que foi até Brasília. Há pessoas de várias partes, de Londrina, de Maringá, de União da Vitória. Tem muita coisa que se repete, e agora temos de fazer esse trabalho para denunciar os nomes ao Ministério Público, ao Ministério da Justiça”, afirmou o deputado Arilson Chiorato, presidente do PT no estado.
📌 Investigação
De fato, o Paraná é o segundo estado, depois de São Paulo, com mais ônibus que transportavam bolsonaristas rumo a Brasília. Dos 86 ônibus identificados pela Polícia Federal logo após os ataques no domingo, levantamento inédito da Agência Pública mostra que 31 são de São Paulo e 23 do Paraná. De fora dos dois estados, há um veículo que pertence à empresa Rota Brasil Transporte e Fretamento, cujo único sócio é Izaul Moraes de Souza, natural de Goiás. Ele não só é apoiador ferrenho de Bolsonaro, como recebeu R$ 43 mil de seu governo. Outro ônibus, registrado em Franca, no interior de São Paulo, acumula multas e licenciamento não pago. Também pertence a um empresário bolsonarista.
📙 Cultura
Restauradores têm feito levantamentos do que foi destruído e o que pode ser recuperado após os ataques criminosos em Brasília. A pintura “As Mulatas”, de Di Cavalcanti, foi perfurada sete vezes com faca. A peça, no Salão Nobre do Palácio do Planalto, tem valor estimado em R$ 8 milhões. Já a escultura em bronze “O Flautista”, de Bruno Giorgi, foi completamente destruída. Outra escultura, feita em madeira pelo artista Frans Krajcberg, também foi quebrada. O valor de ambas é avaliado em cerca de R$ 300 mil. O Nonada lista as obras depredadas também no Congresso Nacional. O Senado, por exemplo, calcula que o prejuízo foi de cerca de R$ 3 a R$ 4 milhões, mas ainda será feita uma perícia completa do estrago.
Natural de João Pessoa, na Paraíba, o ator Anderson Oli, de 28 anos, mora no Morro do Timbau, no Complexo da Maré, no Rio de Janeiro, e faz parte do grupo de teatro Cia Cria do Beco. O jovem, que iniciou a carreira em projetos sociais de teatro no Museu da Maré, estará na tela da TV Globo a partir da próxima semana, interpretando o personagem Vitinho, em sua versão jovem, na novela das sete “Vai na Fé”. “Para mim, está sendo uma grande alegria ver o meu corpo naquele lugar, um corpo negro, nordestino e gordo, esses corpos sempre existiram e precisam também estar em evidência”, afirma ao Maré de Notícias.
🍂 Meio ambiente
Vinte e duas pessoas na Paraíba entraram em consenso para buscar alternativas em prol do desenvolvimento regional sustentável. Assim se formou a Cooperativa de Compartilhamento de Energia Solar Bem Viver, que traz um exemplo viável de geração de energia descentralizada, cooperativista e solidária. O Eco Nordeste aponta que a inovação proposta pela organização vai além: foi desenvolvido um sistema de calhas e cisterna para a coleta de água, com o uso dos módulos fotovoltaicos como telhado, o que permite aliar produção energética e suficiência hídrica, indispensável para os moradores do Semiárido paraibano.
A visão de mundo ocidental não é suficiente para garantir a sobrevivência humana, cada vez mais dependente de uma “alfabetização ecológica”, como descreve Jörg Elbers, no Le Monde Diplomatique Brasil. Isso porque a educação do Ocidente acaba por reduzir os processos em cadeias de causa e efeito, na contramão da vida no planeta, que depende de cooperação, parceria e trabalho em rede para existir. Elbers ainda cita a explosão da pandemia como um exemplo de interdependência e alienação da cultura ocidental com o meio ambiente.
🎧 Podcast
Uso do terror e dominação total. A partir da obra de seis autores, o episódio “Vivemos numa ficção científica”, do podcast A Terceira Margem do Reno, produção da revista Quatro Cinco Um, mergulha no conceito de totalitarismo, cunhado pela alemã Hannah Arendt e transformado em literatura pela romena Herta Müller, e passa pelas distopias dos regimes autoritários escritas pelo brasileiro Ignácio de Loyola Brandão, pela alemã Juli Zeh e pela francês Mathieu Bablet. Ao fim, a trajetória da pensadora francesa Simone Weil nos caminhos que buscam a liberdade.
🧑🏽🏫 Educação
Debates sobre xenofobia contra nordestinos chegam às crianças. Escolas da região buscam abordar o tema a partir da contextualização histórica e da educação midiática. O Lunetas mostra que os próprios estudantes questionam a razão do discurso de ódio entre pessoas de outras regiões contra eles. “Somos muito importantes para a história brasileira. O nordestino se sente afetado negativamente por vários motivos, um deles é o preconceito em relação ao sotaque. Outro é sempre definir o nordestino como um povo pobre, burro e sem cultura”, diz Felipe, de 11 anos.