A opinião pública sobre a anistia e o 'semeador de sumaúmas' de Belém
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🔸 O julgamento de Jair Bolsonaro (PL) entra numa semana decisiva no Supremo Tribunal Federal (STF). A partir de hoje, os ministros da Primeira Turma da Corte começam a votar pela condenação ou absolvição dos acusados. O Congresso em Foco mostra o passo a passo da pauta nesta semana. O relator Alexandre de Moraes abre os votos, seguido por Flávio Dino, Luiz Fux, Cármen Lúcia e Cristiano Zanin. A expectativa é concluir até sexta-feira, com sessões extras se necessário. Se houver maioria pela condenação, inicia-se a fase de dosimetria da pena, que define o tempo e o regime de prisão. As defesas tentam unificar os crimes de abolição violenta do Estado Democrático de Direito e tentativa de golpe, para reduzir penas, mas o STF tem rejeitado esse entendimento em casos anteriores. Bolsonaro também responde por organização criminosa armada, dano ao patrimônio da União e deterioração de bem tombado.
🔸 O ex-presidente não atacou só a democracia, mas também deixou um legado de destruição ambiental em seu governo (2019-2022). Durante a gestão Bolsonaro, o desmatamento da Amazônia cresceu 60%, houve recorde de invasões de terras indígenas e a maior onda de garimpo ilegal em 40 anos na terra Yanomami, com grave crise humanitária. O Eco lista as ações antiambientais e anti-indígenas do ex-presidente. Entre elas, está a nomeação de Ricardo Salles, condenado por fraude ambiental, para o Ministério do Meio Ambiente e o desmonte de órgãos de fiscalização. Houve ainda sabotagem do Ibama, com a perseguição a servidores, cortes em colegiados e o bloqueio de operações, além do desmonte da política climática, com a chamada “pedalada climática” que enfraqueceu a meta do Brasil no Acordo de Paris.
🔸 Enquanto o julgamento avança no STF, o Congresso discute a anistia aos envolvidos nos atos de 8 de janeiro. Com a adesão do Centrão à pauta, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) passou a pedir a mobilização popular contra o projeto. O Nexo analisa o peso da opinião pública para o debate. Segundo pesquisas recentes, a população é contrária à proposta – 55% rejeitam o perdão, de acordo com o Datafolha. Mas esse índice vem caindo desde abril, quando era de 63%. Já o bolsonarismo, mobilizado há meses nas ruas, tem conseguido pautar o debate e ampliar o apoio ao discurso de que os condenados seriam “pessoas comuns perseguidas pela Justiça”. Joscimar Silva, professor de Ciência Política na UnB, explica que a população brasileira e a latino-americana em geral não se mobilizam facilmente pela defesa da democracia. “Isso faz com a questão da anistia não seja um instrumento mobilizador tão forte quanto as questões sociais e econômicas. Há ainda o peso do passado autoritário e de várias impunidades encobertas pelas anistias políticas”, completa.
🔸 Falando em anistia… o governo convocou ministros de partidos do Centrão, como MDB, PSD e União Brasil, para discutir estratégias contra a proposta de perdão aos envolvidos nos ataques de 8 de janeiro. A reunião foi liderada por Gleisi Hoffmann, chefe do Ministério das Relações Institucionais. O Metrópoles apurou que a ministra apontou dois caminhos aos colegas: pediu para atuarem junto às bancadas de seus partidos a fim de reduzir a pressão pela votação e, também, reforçarem em público o discurso de que existem projetos mais urgentes a serem analisados, como o que amplia a faixa de isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil.
📮 Outras histórias
Quando uma sumaúma bicentenária caiu em Belém, Moisés Larrat se lembrou das sementes da árvore que havia recolhido do chão meses antes. “Quando ela caiu [em 2023], foi muito doloroso. Mas eu tinha as sementes. Tinha vida guardada”, lembra. Eram cerca de 300 delas, e Larrat as colocou para germinar na varanda do apartamento onde mora com a família. A Amazônia Latitude narra o trabalho do “semeador de sumaúmas” na capital paraense: ele plantou muda por muda, como se multiplicasse a vida da árvore-mãe que, por mais de dois séculos, foi testemunha silenciosa da história da cidade, plantada em frente à Basílica Santuário, onde todos os anos passam milhares de fiéis durante o Círio de Nazaré. Hoje, restam somente quatro mudas daquela “sumaúma-mãe”, já prontas para ganhar solo. O cuidado de Larrat, que trabalha sem patrocínio, é especialmente valioso para Belém – a capital menos arborizada do país, segundo o IBGE. Lá, apenas 44,65% das ruas tem, pelo menos, uma árvore.
📌 Investigação
Mulheres presas precisam improvisar o uso de panos, camisetas e colchões rasgados durante a menstruação por causa da ausência de produtos de higiene menstrual nas instituições. Desde 2024, o programa Dignidade Menstrual, coordenado pelo Ministério da Saúde, prevê a entrega regular de absorventes a pessoas em situação de vulnerabilidade, incluindo mulheres privadas de liberdade. Anteriormente, uma resolução de 2022 já obrigava as unidades prisionais a fornecer itens de higiene menstrual, água corrente, roupas íntimas adequadas e acompanhamento ginecológico. A Ponte apurou que esses direitos são descumpridos em presídios de São Paulo. Os relatos reunidos em cinco inspeções da Defensoria Pública do Estado revelam violações recorrentes, escassez crônica de insumos e descaso institucionalizado. No Centro de Progressão de Pena do Butantã, na zona oeste de São Paulo, as mulheres relataram que recebem apenas “um sabonete, um rolo de papel higiênico, um pacote de absorvente com oito absorventes, uma pasta de dente, uma escova dental e um aparelho de barbear”, entregues na chegada – sem reposição posterior.
🍂 Meio ambiente
“O desmonte na legislação ambiental baiana serviu de referência para o PL da Devastação”, afirma Margareth Maia, diretora do Instituto Mãos da Terra, organização focada no fortalecimento e aprimoramento de políticas públicas ambientais. Segundo a pesquisadora, na Bahia, as leis 12.212 e 12.377, ambas de 2011, deram “todas as condições para a operação do agronegócio no campo ser fracionada, dispensada de licenciamento e com fiscalização dificultada”. A primeira extinguiu dois órgãos estaduais, o Instituto do Meio Ambiente (IMA) e o Instituto de Gestão das Águas e Clima (Ingá). Já a segunda, criou a Licença Ambiental por Adesão e Compromisso (LAC). A Ambiental Media mostra as semelhanças entre as legislações baianas e o PL da Devastação, que teve trechos vetados pelo presidente Lula no mês passado. A nova lei já está em vigor, mas os vetos ainda serão analisados pelo Congresso.
📙 Cultura
A voz rouca e grave rendeu o apelido “Ro Ro” à Angela Maria Diniz Gonçalves ainda na infância. Uma das primeiras artistas brasileiras assumidamente lésbica, a cantora, compositora e pianista começou a carreira nos anos 1970, quando foi indicada pelo cineasta Glauber Rocha para tocar gaita no álbum “Transa”, de Caetano Veloso. No fim da década, a artista lançou o álbum “Angela Ro Ro”, em que nasceu seu primeiro sucesso “Amor, Meu Grande Amor”. Angela morreu ontem, aos 75 anos, no Rio de Janeiro, devido a uma parada cardíaca depois de ter realizado um procedimento cirúrgico. A artista tratava uma infecção pulmonar havia três meses. O Na Telinha revisita a trajetória da cantora, um dos grandes nomes da música popular brasileira.
🎧 Podcast
O avanço da tecnologia de inteligência artificial generativa abriu um novo capítulo na criação e circulação de imagens de abuso sexual infantil na internet. Em quatro episódios, o “Núcleo Investiga”, produção do Núcleo, mostra o que a jornalista Sofia Schurig encontrou em meses de apuração em fóruns da dark web, canais do Telegram e aplicativos de inteligência artificial. A repórter explica como as redes de abuso usam a tecnologia para disseminar conteúdo sintético ilegal e destrincha quem lucra, as falhas e lacunas legais que deixam crianças desprotegidas no ambiente digital. A investigação aborda desde como os modelos de IA funcionam – inclusive os de código aberto usados por criminosos – até a falta de responsabilização e regulamentação das plataformas.
🙋🏾♀️ Raça e gênero
Sob o mote “Feminicida não é herói”, um projeto de lei que proíbe a homenagem a feminicidas em ruas, avenidas e vias públicas, foi aprovado pela Câmara Municipal de São Paulo. A proposta foi organizada pela Bancada Feminista do PSOL, junto a organizações como Minha Sampa e Instituto Pólis. O texto cita um estudo que revela que, enquanto feminicidas dão nomes a ruas, praças e avenidas, mulheres que contribuíram com a sociedade nem sequer são lembradas. Entre os exemplos citados no projeto, estão os nomes de Peixoto Gomide e Moacyr Piza, homens que assassinaram mulheres e tiveram seus nomes em logradouros de São Paulo. A Revista Afirmativa informa que a proposta deve ir a uma segunda votação e, caso seja aprovada, será encaminhada para sanção ou veto do prefeito Ricardo Nunes (MDB-SP).