A operação contra Bolsonaro e os desafios das mães solo no Carnaval
Uma curadoria do melhor do jornalismo digital, produzido pelas associadas à Ajor. Novos ângulos para assuntos do dia
Oi, gente, bom dia.
O Carnaval se aproxima, e a Brasis aproveita para fazer uma pausa a partir de hoje. Voltamos a circular na próxima quinta-feira (dia 15).
Boa folia e até já.
🔸 O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) foi alvo de operação da Polícia Federal (PF) que investiga uma tentativa de golpe de Estado. Ontem pela manhã, os agentes foram à casa dele em Angra dos Reis, no Rio de Janeiro, e ordenaram que entregasse o passaporte. Bolsonaro foi proibido de entrar em contato com os demais investigados. Outros seis nomes, entre ex-ministros e ex-comandantes, como Anderson Torres (Justiça), Braga Netto (casa Civil) e Augusto Heleno (Gabinete de Segurança), foram alvos de buscas. Não só ex-assessores foram presos, como também o presidente do PL, Valdemar da Costa Neto – este, em flagrante, por porte ilegal de arma. O Nexo traça um panorama da operação, que cumpriu 33 mandados de busca e apreensão. Segundo a PF, “as apurações apontam que o grupo investigado se dividiu em núcleos de atuação para disseminar a ocorrência de fraude nas eleições presidenciais de 2022, antes mesmo da realização do pleito, de modo a viabilizar e legitimar uma intervenção militar, em dinâmica de milícia digital”.
🔸 São seis os núcleos envolvidos na trama golpista: de desinformação, militar, jurídico, operacional, de inteligência paralela e de oficiais de alta patente com influência e apoio a outros núcleos. O Congresso em Foco detalha a forma de atuação de cada um deles e seus integrantes. As apurações da PF indicam ainda que Bolsonaro participou de uma reunião, em julho de 2022, para discutir uma forma de não reconhecer a vitória do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas eleições e solicitou mudanças na minuta do decreto que determinaria um golpe de Estado. Se o texto original previa as prisões dos ministros Gilmar Mendes e Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), e do presidente do Congresso, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), Bolsonaro escolheu manter a determinação apenas contra Moraes.
🔸 O núcleo da desinformação produzia e disseminava conteúdos falsos para questionar o sistema eletrônico de votação e as eleições presidenciais de 2022. O objetivo era estimular bolsonaristas a permanecerem em frente aos quartéis das Forças Armadas a fim de “criar o ambiente propício para o golpe de Estado”. A Lupa mostra o que a PF já sabe sobre o funcionamento desse núcleo. Havia também a estratégia de vincular o PT ao crime organizado, destaca o Aos Fatos. Os conteúdos sobre o falso elo entre o partido e o PCC viralizaram durante as eleições de 2022, seja por meio de autoridades, como o próprio Bolsonaro, seja em correntes apócrifas no Telegram e no WhatsApp ou divulgados por veículos alinhados ao ex-presidente, como a Jovem Pan.
🔸 “Não haverá outro caminho para o MP e a PF se não pedirem a prisão [de Bolsonaro] e o STF a decretar”, afirma Lenio Streck, jurista e professor de Direito Constitucional. A CartaCapital conversa com especialistas para saber quais são as chances de o ex-presidente ser preso após a operação da PF. As opiniões divergem. O advogado constitucionalista Antonio Carlos de Almeida Castro, conhecido como Kakay, afirma que “se não tiver algo novo que justifique a necessidade da prisão”, os investigados poderiam responder em liberdade.
🔸 Análise em áudio: “A operação de hoje da Polícia Federal contra Bolsonaro e seus aliados, incluindo integrantes das Forças Armadas, comprova que as investigações do dia 8 de janeiro vão escalar muito rapidamente neste primeiro semestre”, avalia Felipe Recondo, diretor de conteúdo do Jota.
🔸 Na terceira operação policial do ano na Maré, um homem foi morto com um tiro à queima roupa. Depois que Jefferson Costa caiu no chão, os policiais deixaram o local, e o corpo foi colocado dentro de um carro. Outras duas pessoas ficaram feridas na Nova Holanda, uma das 16 comunidades que compõem o complexo de favelas na zona norte do Rio de Janeiro. O Maré de Notícias conta que foram mais de oito horas de operação só ontem – na quarta-feira, os policiais já haviam feito uma ação no complexo.
📮 Outras histórias
“Um afoxé é mais do que um grupo cultural, é uma forma de organização social, um quilombo.” A afirmação é de Lourival Santos, fundador e presidente do Ará Omin. O grupo foi limitado a uma única atuação neste Carnaval, bem como outros 15 afoxés de Recife (PE), que viram suas apresentações reduzidas. Eles se mobilizaram e conseguiram reunião na prefeitura, que sinalizou a possibilidade de garantir ao menos duas apresentações neste ano. A Marco Zero lembra que o afoxé foi reconhecido como Patrimônio Cultural e Imaterial desde 2022, por meio de uma lei municipal.
📌 Investigação
Dinheiro público pagou apólices de seguros agrícolas para lavouras ilegais dentro de fazendas embargadas ou em terras indígenas, onde a produção em larga escala é proibida. Fazendeiros incluídos na “lista suja” do trabalho escravo também assinaram contratos com seguradoras para suas produções. É o que revela o especial “Dossiê Seguro Agrícola”, da Repórter Brasil. A reportagem detalha casos que contrariam a legislação brasileira e colocam em xeque as políticas corporativas das maiores seguradoras multinacionais do planeta, como Brasilseg, Allianz, Tokio Marine, Mapfre, Fairfax, Porto Seguro e Essor.
🍂 Meio ambiente
Armadilhas fotográficas identificaram tatus-galinha, capivaras, gambás, mãos-peladas e pacas circulando por corredor ecológico entre os parques naturais municipais Chico Mendes e Marapendi, no Rio de Janeiro. segundo pesquisadores da Universidade Veiga de Almeida e da UFRJ, trata-se do primeiro registro de uma paca no Chico Mendes. À Agência Bori Natalie Olifiers, coautora do estudo, destaca a necessidade de que planos de manejo de áreas protegidas apresentem dados mais rigorosos: “Quando uma unidade de conservação é criada, se exige um plano de manejo com levantamento de espécies, mas, muitas vezes ele é insuficiente ou realizado com base em registros secundários, obtidos na literatura, o que pode resultar em uma lista de espécies inexata”.
📙 Cultura
Citado em diversas letras de músicas, o Baile do Helipa é um símbolo cultural que atravessa gerações em Heliópolis, maior favela de São Paulo. Descentralizado e sem uma organização fixa, os fluxos acontecem de sexta-feira a domingo, em diversas ruas ao mesmo tempo. A Agência Mural mergulha na história do baile e sua marca na comunidade. Morador de Heliópolis há mais de 30 anos e coordenador do Observatório de Pesquisa de Heliópolis – De Olho na Quebrada, Reginaldo Gonçalves conta que antes das ruas, becos e vielas serem tomadas pelo público, as primeiras manifestações aconteciam em uma quadra, com DJs e MCs, até que os mais jovens passaram a usar carros com paredões de som para fazer as apresentações, que se espalharam pela favela.
🎧 Podcast
Adolescentes na década de 1990, os irmãos Anunciação tentaram participar dos blocos de trio – em bairros de classe média alta – do Carnaval de Salvador, mas foram frequentemente reprovados. As recusas levaram os irmãos a se entenderem enquanto pessoas negras em um espaço branco. A rejeição fez com que o pai dos garotos decidisse fundar o próprio bloco de trio. O “Rádio Novelo Apresenta”, produção da Rádio Novelo, conta que a família criou uma manifestação para fazer frente à vivência racista contra os adolescentes, caso que revelou a segregação no carnaval da cidade mais negra do país.
💆🏽♀️ Para ler no fim de semana
“É impressionante que os companheiros e ex-companheiros se organizam para ir ao carnaval, eles estão sozinhos [sem os filhos]. E a mulher, quando tem criança, ou ela leva com ela ou tem que ter uma rede de apoio, que não é o pai da criança”, afirma Kiev Medeiros, de 50 anos, organizadora do bloco Prata Preta, no. Além de impactar a vida profissional, a maternidade solo também nega o lazer e a diversão às mulheres. A Gênero e Número ouviu mães solo trabalhadoras e foliãs para entender como elas conseguem equilibrar as demandas e aproveitar o carnaval diante da responsabilidade unilateral do cuidado com os filhos.