A onda de calor para quem vive nas ruas e os PMs youtubers
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🔸 “O financiamento da moradia precisa de estabilidade”, afirma o pesquisador Marcelo Neri, do Centro de Políticas Sociais da Fundação Getúlio Vargas, a FGV-Social. À Agência Nossa, ele explica que a diminuição de recursos no Sistema Único de Assistência Social (Suas) para a população em situação de rua coincide com o momento em que a necessidade aumentou – durante os anos de pandemia. Segundo o relatório “População em Situação de Rua”, do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania, a Bahia é o estado com a maior alta anual – houve um aumento de 90% de pessoas vivendo na rua em 2022 em comparação a 2021. Em números absolutos, o estado de São Paulo continua liderando o quadro.
🔸 A propósito: a onda de calor é ainda mais cruel para quem não tem casa. Na cidade de São Paulo, mais de 53 mil pessoas vivem nas ruas, de acordo com os dados do CadÚnico. A Agência Pública acompanhou o dia de algumas delas na última sexta, quando os termômetros da Praça da República, no Centro, marcavam 35ºC. Muitos relataram que o principal desafio nos dias quentes é conseguir água. A Prefeitura montou uma operação para minimizar os impactos, mas Robson Santos contou à reportagem que os funcionários não quiseram lhe dar água antes das dez horas da manhã: “Eles estavam bebendo água. Eles podem, eles tem lar, aí a sede tem que esperar, quem está em situação de rua. Isso é o cúmulo”.
🔸 Em delação premiada, o ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro (PL), Mauro Cid, afirmou que o ex-presidente teria se reunido com as Forças Armadas com objetivo de discutir detalhes de um suposto plano de golpe. As informações foram divulgadas pela jornalista Bela Megale, no jornal “O Globo”. O Terra reúne o que se sabe até o momento sobre o depoimento de Cid à Polícia Federal. O ex-ajudante teria dito que Bolsonaro recebeu pessoalmente uma minuta contendo rascunho de um documento com um projeto golpista. As investigações agora buscam descobrir se esse é o mesmo encontrado na residência do ex-ministro da Justiça Anderson Torres.
🔸 Bolsonaro, por sua vez, segue inelegível. O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) formou maioria na última sexta para negar o recurso da defesa do ex-presidente e manter sua inelegibilidade por oito anos. A ação analisada pelo TSE foi apresentada pelo PDT em 2022 e o acusou de espalhar desinformação sobre o sistema eleitoral brasileiro em uma reunião com embaixadores estrangeiros. O Nexo informa que a defesa de Bolsonaro agora pode tentar recorrer ao Supremo Tribunal Federal, argumentando que o caso envolve questões constitucionais.
📮 Outras histórias
Desde 2018, a Escola Afro-Brasileira Maria Felipa, em Salvador (BA), atua para colocar em prática uma gestão escolar decolonial e antirracista. A idealizadora da escola, Bárbara Carine Soares Pinheiro, estava em processo de adoção de sua filha quando resolveu desenvolver a iniciativa: ela acreditava ser necessário encontrar um espaço educacional que fortalecesse a identidade de uma criança negra. Em artigo no Porvir, a diretora Cristiane Coelho compartilha como os saberes ancestrais negros e indígenas constroem o currículo e apoiam o dia a dia da unidade.
📌 Investigação
“E se eu jogasse ele daqui, hein? Pode não, os direitos humanos não deixam”, afirmou um policial militar, identificado como Águia 66, em operação filmada pelos próprios agentes e publicada no Águia 95, canal de Youtube do PM Afonso Henrique. A Marco Zero mostra como membros da Polícia Militar de Pernambuco têm lucrado com vídeos monetizados na plataforma com imagens realizadas em serviço. Além dos que usam a fama das redes sociais para adentrar na política, há os que montam seus próprios negócios, caso de André Coelho. Atualmente, o agente tem um podcast no qual entrevista outros policiais e vende curso de PM para o público.
🍂 Meio ambiente
A área de garimpo no país aumentou 65% nos quatro anos de governo Bolsonaro, passando de 159 mil para 263 mil hectares. Os dados são do Mapeamento Anual de Mineração e Garimpo do MapBiomas. Apenas em 2022, a atividade teve uma expansão de 35 mil hectares, equivalente a uma cidade como Curitiba. O Projeto Colabora detalha as informações do documento e ressalta que, em territórios indígenas, a área garimpada em 2022 foi 265% maior do que a registrada em 2018. As cinco terras com maior avanço da atividade garimpeira foram Kayapó, Munduruku, Yanomami, Tenharim do Igarapé Preto e Sai-Cinza.
Ainda sobre garimpo: o desembargador Orlando de Almeida Perri, do Tribunal de Justiça do Mato Grosso (TJ-MT), atuou em um julgamento para decidir se proprietários de imóveis particulares em reserva legal poderiam garimpar em suas terras. O problema, no entanto, é que Perri é sócio majoritário (85%) da MVP Participações, empresa de mineração com duas autorizações para pesquisa de minério de ouro aprovadas pela Agência Nacional de Mineração. Segundo a Repórter Brasil, a MVP tem negociação com Valdinei Mauro de Souza, o Nei Garimpeiro, acusado pelo Ministério Público Federal de lucrar R$ 33 milhões com ouro produzido com mercúrio ilegal.
📙 Cultura
“Eu apenas desenho como elas seriam no meu mundo.” A artista plástica Paloma Barbosa propõe a inclusão de pessoas com deficiência (PcDs) a partir da releitura das princesas da Disney: Merida, do filme “Valente”, usa um andador; Moana, Pocahontas e Mulan têm pernas mecânicas; Branca de Neve não possui um dos braço; Jasmine, de “Aladdin”, usa de muletas; Elsa, de “Frozen”, se locomove de cadeira de rodas, Maribel, de “Encanto”, é cega. À Agência Mural, Paloma conta que decidiu criar a série de ilustrações “Princesas Reais” por não ter se sentido representada durante a infância. “Eu resolvi fazer as princesas para curar essa Paloma criança que não se viu e a Paloma adulta, que queria uma princesinha PcD.”
O racismo religioso está entre os principais catalisadores do apagamento de capítulos importantes da história negra para os povos da diáspora. Uma dessas faces é revelada no livro “Sacerdotisas Voduns e Rainhas do Rosário: Mulheres Africanas e Inquisição em Minas Gerais (Século 18)”, organizado por Aldair Rodrigues e Moacir Maia. Na Quatro Cinco Um, a escritora Cidinha da Silva resenha a obra e destaca sua importância para descrever a violência inquisitória em Minas Gerais e a utilização do racismo religioso como modo de controle social de negros escravizados.
🎧 Podcast
Gracilda Gonçalina Amajunepá é parteira indígena do povo Umutina-Balatiponé, do Mato Grosso, e herdou o ofício da mãe há mais cinco décadas. O primeiro episódio da temporada “Justiça Reprodutiva”, do podcast “Cirandeiras”, produção da Rádio Guarda-Chuva, mostra o papel das parteiras tradicionais em cuidar e acolher mulheres em um dos momentos mais importantes de suas vidas reprodutivas. Além de Gonçalina Amajunepá, o programa recebe a enfermeira obstétrica e ativista pelos direitos reprodutivos há 30 anos, Paula Viana, para abordar o tema da ética do cuidado.
✊🏽 Direitos humanos
Autonomia, atendimento humanizado e educação inclusiva e sem capacitismo são alguns dos sonhos que profissionais e familiares gostariam de ver como prioridade da rede brasileira de pesquisa e desenvolvimento em síndrome de Down, proposta do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação. O Lunetas traça a importância de preencher lacunas de informação e tratamento para melhorar a qualidade de vida dessa população. Atualmente existem poucos dados sobre a situação educacional e a saúde física e mental de pessoas com síndrome de Down no país.