Os oceanos na pauta da COP30 e o que CEOs de big techs dizem sobre IA
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🔸 Entre as promessas feitas na COP e os resultados concretos, há uma longa distância marcada por entraves burocráticos e operacionais. Na Amazônia, o desafio é fazer com que as metas internacionais se traduzam em soluções visíveis para quem vive no bioma. E o principal instrumento de canalização de recursos do financiamento climático no Brasil é o Fundo Amazônia, criado em 2008 e gerido pelo BNDES para captar doações e apoiar ações de combate ao desmatamento e de desenvolvimento sustentável na região. O Vocativo detalha o percurso do dinheiro a partir da análise de três projetos financiados pelo fundo. Dois deles estão no Amazonas e um no Pará. Em comum, os três enfrentam a carência de infraestrutura como um dos principais obstáculos. Um exemplo é o ProAmazon, em Lábrea (AM), criado para fortalecer o combate a incêndios florestais. O projeto já recebeu R$ 21,5 milhões de um total de R$ 45 milhões, mas o dinheiro só saiu em agosto de 2024, em meio à segunda estiagem recorde, após denúncias de que apenas R$ 23 mil haviam sido destinados ao programa de controle do desmatamento.
🔸 A COP30 quer incluir o ambiente marinho no tratado final do encontro e, pela primeira vez, a conferência tem uma enviada especial para tratar dos mares em suas plenárias, a bióloga e professora brasileira Marinez Scherer. A Repórter Brasil explica que, apesar de cobrir 70% do planeta e absorver cerca de 30% do carbono liberado na atmosfera, os oceanos seguem como tema periférico nas negociações. A pauta ganhou força desde a COP26, em Glasgow, e foi impulsionada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em junho passado, na França. Foi lá, na 3ª Conferência das Nações Unidas sobre Oceanos, que Lula lançou as NDCs azuis [sigla em inglês para Contribuições Nacionalmente Determinadas, especificamente focadas em oceanos]. A reportagem lembra que as regiões costeiras podem perder até 20% do PIB até o fim do século com a elevação do nível do mar. Hoje, menos de 1% do financiamento climático vai para soluções oceânicas.
🔸 Para uma plateia lotada, o cacique Raoni, de 93 anos, desafiou os planos de Lula de explorar petróleo na Amazônia. “Me escutem com atenção: vamos nos unir! Vamos ter força. Nós não podemos permitir que essa perfuração aconteça. Nós temos que ser fortes e continuar lutando para que não seja feita essa perfuração”, afirmou Raoni. Referência mundial na defesa dos direitos dos povos indígenas, ele subiu a rampa ao lado de Lula no dia da posse do presidente, em janeiro de 2023. A Agência Pública conta que o cacique está na COP ao lado de uma delegação do povo Kayapó de mais de 20 pessoas, para demonstrar apoio aos “parentes” do Oiapoque. Embora a licença concedida pelo Ibama à Petrobras na Foz do Amazonas seja para um poço-teste, as lideranças descrevem impactos já sentidos no município, como a expansão urbana com sete novos bairros e o temor de invasões.
🔸 Mulheres e meninas são cerca de 80% das pessoas deslocadas pelas mudanças climáticas e desastres naturais. O debate de gênero, porém, fica às margens da COP. A revista AzMina reconstitui a trajetória da pauta nas negociações do clima. Depois de entrar oficialmente nas conferências em 2001, em Marraquexe, o tema ficou anos marginalizado e só ganhou fôlego em 2011, com a decisão que estimulou equilíbrio de gênero nas delegações. Em 2014, surgiu o Programa de Trabalho de Lima, atualizado em 2019 com metas em capacitação, liderança, coerência de políticas, implementação sensível a gênero e monitoramento. Agora, a COP30 deve aprovar um novo plano de ação. O governo criou o Grupo de Trabalho Mulheres na COP30 e nomeou a primeira-dama Rosângela Lula da Silva, Janja, como enviada especial para articular a agenda.
🔸 A COP precisa ir além da gestão da emergência climática e inaugurar um novo modelo capaz de atender aos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e garantir um futuro digno às próximas gerações. É o que defende Paulo Artaxo, coordenador do Centro de Estudos Amazônia Sustentável, da Universidade de São Paulo (USP). Em artigo no Conversation Brasil, ele propõe cinco eixos centrais: transição acelerada dos fósseis para renováveis, desmatamento zero nas florestas tropicais até 2030, financiamento climático eficaz, adaptação com foco nos mais vulneráveis e reforço do multilateralismo. “A principal tarefa da COP 30 é inequívoca: encerrar a era dos combustíveis fósseis e acelerar a transição para uma matriz energética limpa e de baixas emissões em todos os setores econômicos e países”, afirma.
📮 Outras histórias
Maria Antônia Araújo tem 61 anos e é auxiliar de cozinha do Bom Prato de Paraisópolis, a segunda maior favela de São Paulo, desde 2021. Moradora da comunidade, ela descreve uma rotina intensa: chega às 7h, organiza a produção de legumes, faz a seleção de frutas, o preparo de saladas com higienização rigorosa (e amostras de 100g de tudo o que é servido), para que o restaurante abra às 10h30. A partir da conversa com a auxiliar de cozinha, o Desenrola e Não Me Enrola mostra o dia a dia no Bom Prato de Paraisópolis, parte do programa estadual que serve refeições a R$ 0,50 (café) e R$ 1,00 (almoço e jantar). “É uma alegria ter essa unidade no nosso território e servir pessoas que muitas vezes não têm nada para comer. Às vezes, essa é a única refeição do dia. Quantas vezes já tiramos do próprio bolso para ajudar quem não tem nem um real para comer’’, conta Maria Antônia.
📌 Investigação
Gigante do setor de carnes, a JBS tem em sua cadeia grileiros de terras do Projeto de Desenvolvimento Sustentável (PDS) Terra Nossa, em Novo Progresso e Altamira, sudoeste do Pará. O PDS, criado em 2006, tem 149,8 mil hectares previa abrigar mil famílias que receberiam, cada uma, um lote de 20 hectares. Segundo O Joio e O Trigo, quase 20 anos depois, apenas 298 lotes foram demarcados e distribuídos. Já a área de Reserva Legal seria coletiva – 80%do projeto –, porém nunca foi demarcada pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), e hoje está nas mãos de grileiros que ilegalmente exploram madeira, garimpam e criam gados – que chegam ao mercado nacional e internacional por meio da JBS. “É 20 hectares, né?”, diz o agricultor Cleve Gonçalves da Silva sobre a área que tem direito. “Mas eu não estou com ela [a área] toda, estou com 17 desses 20. Eles fizeram uma cerca dentro do sítio, estão criando gado lá em cima.”
🍂 Meio ambiente
“A monocultura significa um grande desequilíbrio em relação à natureza. Na natureza, na medida em que você vai desequilibrando, ela reage e busca restabelecer o seu equilíbrio”, afirma o agrônomo Paulo Petersen, enviado especial para Agricultura Familiar na COP30. “Com a monocultura vai aparecer praga, degradação do solo, desertificação. Isso nada mais é do que um sintoma de desequilíbrio. A agricultura familiar trabalha com essa diversidade de produção que se aproxima muito mais de como funciona a natureza.” Em entrevista à Eco Nordeste, o pesquisador explica que essa é a primeira Conferência do Clima que fala em agricultura familiar. “Só muito recentemente os temas da agricultura e da alimentação passaram a ser entendidos como importantes porque os sistemas alimentares são responsáveis por uma grande parte das emissões de gases de efeito estufa. Aqui no Brasil chega a 73%.”
📙 Cultura
Primeira romancista brasileira, Maria Firmina dos Reis (1825-1917) tem um legado que inspira meninas e mulheres negras na atualidade. O romance “Úrsula” – em que assina com o pseudônimo “Uma Maranhense” – foi publicado em 1859 e é considerado o primeiro livro de autoria de uma escritora negra no Brasil e primeiro romance feminino antiescravista. “A Firmina é uma precursora porque está muito fincada no tempo dela, dialogando com as possibilidades de futuro. Ela vivia numa sociedade escravista, mas era uma mulher republicana”, afirma Luciana Diogo ao Nós, Mulheres da Periferia. Doutora em Literatura Brasileira, ela é pesquisadora da obra da maranhense há mais de 10 anos e criadora do site Memorial de Maria Firmina dos Reis. “Até 2017, tínhamos quatro ou cinco edições de ‘Úrsula’. De 2017 para cá, temos mais de 30 edições de ‘Úrsula’ no mercado.” Além do romance, Maria Firmina escreveu contos e poemas e fundou uma das primeiras escolas mistas (com meninas e meninos juntos nas salas de aula) do país.
🎧 Podcast
“A tecnologia é uma contingência. O nosso desafio é lidar com ela”, afirma o engenheiro Jorge Ávila, professor da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio). No “Conversas com a Inteligência”, produção do Canal Meio, o pesquisador aborda como o avanço acelerado da tecnologia, sobretudo a inteligência artificial, questiona a própria lógica e o papel do trabalho humano. Ávila reflete sobre até que ponto as máquinas podem substituir os seres humanos e quais os riscos e oportunidades dessa nova era digital. “O aparecimento do ChatGPT em novembro de 2022, para mim, produziu um efeito avassalador.”
📲 Tecnologia
Da utopia à especulação, os discursos dos CEOs das big techs apresentam volatilidade e contradições internas. Enquanto em 2016 e 2017, Mark Zuckerberg, da Meta, exibia um otimismo quase utópico e falava sobre salvar vidas e encontrar novos planetas, o período entre 2024 e 2025 marca uma aceleração de especulações: Dario Amodei, da Anthropic, passou a fazer estimativas alarmantes de 50% de desemprego em setores básicos. O Núcleo reúne o posicionamento de executivos em relação à IA nos anos de 2016 a 2025 e explica que essa escalada retórica tem um fundo comercial e coincide com um crescimento explosivo nos investimentos em IA: o financiamento global em empresas relacionadas à IA excedeu US$ 100 bilhões em 2024, um aumento de mais de 80% dos US$ 55,6 bilhões em 2023. Esse valor representa 33% de todo investimento de capital de risco global.




