O sétimo ataque a uma escola em 2023 e as gestantes com HIV
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🔸 Em mais um ataque a uma escola, uma estudante de 15 anos foi morta ontem em Cambé, na região norte do Paraná. Outro jovem, de 17 anos, está internado. O autor dos disparos é um ex-aluno da Escola Estadual Professora Helena Kolody. Segundo o Plural, ele foi até a instituição para pedir documentos referentes ao histórico escolar. “Os alunos ficaram sem saber o que estava acontecendo, mas, pela movimentação, começaram a correr, porque parece que tava vindo alguém atirando”, disse a professora Nara Cordeiro. “E eu não sabia o que fazer, se eu voltava para ajudar os alunos que estavam lá [dentro da escola] ou se eu ajudava os meus alunos que estavam aqui.” O Headline conta que um professor conseguiu imobilizar o ex-aluno. “As forças policiais chegaram em apenas três minutos ao colégio depois do acionamento, o que evitou uma tragédia ainda maior”, afirmou o governador do estado, Ratinho Jr.
🔸 Em apenas seis meses de 2023, foram sete ataques a escolas – o maior número registrado desde 2002. Ao todo, 46 pessoas foram mortas e 93 ficaram feridas. De acordo com o Instituto Sou da Paz, as armas de fogo foram usadas em 48% dos atentados e causaram 76% das vítimas fatais. O grupo de agressores é formado exclusivamente por meninos e homens. O Metrópoles destaca que, em pelo menos 20 casos, houve o planejamento por semanas ou meses. “No ataque em Cambé, a polícia encontrou com o agressor anotações sobre ataques em escolas, incluindo o de Suzano, em São Paulo”, declarou o instituto. “Este diagnóstico reforça tanto um diálogo entre os casos e os autores, como reforça que há um prazo hábil para que funcionários, professores, alunos e pais possam notar mudanças de comportamento. Por isso, é necessário estruturar e preparar a comunidade escolar para identificar os sinais antes dos ataques e agir com eficácia.”
🔸 Enquanto isso, a regulação das redes sociais no país caiu num limbo. O Projeto de Lei 2.630, conhecido como PL das Fake News, que responsabiliza plataformas digitais por publicações que causem danos e pela disseminação de desinformação por contas automatizadas, saiu do radar dos deputados na Câmara. Tampouco o julgamento do Marco Civil da internet andou – foi adiado pelo Supremo Tribunal Federal, sem data prevista para a retomada. O “Durma com Essa”, podcast do Nexo, discute a necessidade de cobrar das empresas uma atuação mais responsável.
🔸 Minoria na CPI, mas potência no Telegram. Se a presença da oposição ao governo é menor na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) que investiga os atos de 8 de janeiro, em canais públicos do Telegram sua narrativa se sobrepõe à da base governista. É o que mostra levantamento da Lupa a partir do monitoramento de 98 canais de políticos na plataforma. De janeiro a junho, 34 canais produziram 368 publicações com o termo “CPMI” – 28 deles são de parlamentares da oposição e representam 2,3 milhões de visualizações, cerca de 94% do total. As publicações mais visualizadas estão no canal do deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG), que tem mais de 317 mil inscritos.
🔸 O “mínimo existencial” dobrou. Trata-se da quantia mínima de renda necessária para pagar despesas básicas, como luz e água, protegida por lei em casos de superendividamento. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) assinou ontem decreto que elevou o valor de R$ 303 para R$ 600. O RealTime1 explica que a medida permite que cerca de 15 milhões de pessoas possam repactuar dívidas, ao elevar a proteção ao consumidor em situação de superendividamento. No Twitter, Lula afirmou que o decreto é parte dos esforços do governo para “garantir crédito e condições de consumo para o povo brasileiro, contribuindo para o aquecimento da economia”.
📮 Outras histórias
O acesso à água não pode ficar condicionado aos consumidores que conseguem pagar pelo serviço. A partir do que especialistas definem como “mínimo vital de água”, uma ação civil pública da Defensoria do Rio de Janeiro quer garantir que moradores de favelas e bairros do subúrbio tenham abastecimento gratuito. “A água é um direito humano fundamental! Não pode ser tratada como mercadoria e ficar condicionada ao pagamento por pessoas que não podem arcar com o custo”, afirma ao data_labe o defensor público Eduardo Chow, que coordena o Núcleo de Defesa do Consumidor do órgão. Para calcular o número de possíveis beneficiados, a ação se vale de dados do Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome referentes ao Cadastro Único. Nele, estavam registradas em março deste ano quase 3,4 milhões de famílias no estado do Rio de Janeiro, mais de 70% em situação de extrema pobreza. As empresas de abastecimento ainda não apresentaram um plano para expandir a rede nas favelas, algo que está previsto no contrato.
📌 Investigação
Construída pelos militares, a Usina Binacional de Itaipu foi palco de violações de direitos humanos ao longo de sua obra, entre 1975 e 1984, com desaparecidos, mortos e mais de 40 mil acidentes de trabalho. Em abril de 1975, um operário foi agredido a pauladas por funcionários da empresa Adolpho Lindenberg, uma das construtoras da hidrelétrica. O médico paraguaio Agustín Goiburú, que esteve sob constante vigilância das Assessorias Especiais de Segurança e Informações – departamentos da usina que tinham militares em posição de comando e estavam diretamente ligados ao governo – integra até hoje o quadro de desaparecidos políticos da ditadura de Alfredo Stroessner, no Paraguai. A Agência Pública traz documentos e depoimentos exclusivos que ligam a hidrelétrica à truculência do regime militar.
🍂 Meio ambiente
A comunidade de Porto Esperança, em Corumbá (MS), sofre a pressão da disputa de suas terras pelo agronegócio e pelo transporte de minérios. Se já chegou a registrar a 600 famílias, hoje, o povoado centenário contabiliza cerca de 50. O êxodo dos moradores se deu sobretudo depois de 2014, quando uma fazenda de gado se avizinhou. Segundo O Eco, a implantação da hidrovia Paraguai-Paraná aumenta a presença de portos, estradas e ferrovias, afetando as comunidades e o Pantanal todo, no Brasil e em países vizinhos. Pessoas ameaçadas, animais mortos, roças destruídas e casas queimadas já são alguns dos impactos registrados pelo Ministério Público Federal.
Serra do Teixeira é o primeiro Parque Nacional da Paraíba, criado na Semana do Meio Ambiente, no início de junho. Localizado ao sul do sertão paraibano, na região de fronteira com Pernambuco, o parque alia conservação ambiental e turismo sustentável e congrega pinturas rupestres e vegetação de mata serrana com elementos da mata úmida e da Caatinga. Essa categoria de unidade de conservação também privilegia a realização de pesquisas científicas, como conta a Eco Nordeste. “O objetivo principal é proteger as espécies endêmicas da Caatinga, os sítios geográficos de beleza cênica, pinturas rupestres, remanescentes arqueológicos, pedológicos e garantir serviços ecossistêmicos”, afirma o professor e pesquisador José Etham Barbosa, da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB).
📙 Cultura
O sambista Lupicínio Rodrigues (1914-1974) foi um fenômeno musical sem se render ao eixo Rio-São Paulo. É o que afirma o músico, escritor e jornalista Arthur de Faria, que dedicou seu doutorado à biografia do cantor, nascido em Porto Alegre (RS): “É impressionante, porque, na geração dele – Lupi é de 1914 -, ele conseguiu uma coisa que nenhum outro compositor, dos importantes, conseguiu, que é entrar para o primeiro time de compositores de música brasileira sem ir para o Rio de Janeiro”. Ao Nonada Arthur também descreve a genialidade de Lupicínio, que compunha mesmo não sabendo tocar instrumentos. “Geralmente, as pessoas falam na letra dele, mas musicalmente ele é muito impressionante. Tanto é que, volta e meia, alguém faz um disco só de Lupicínio instrumental, porque a riqueza musical é mesmo muito grande”, diz.
Em busca de reivindicar e consolidar direitos de pessoas LGBTQIA+, obras buscam reconstruir a história do movimento no país. A Agência Diadorim lista cinco livros que narram essa trajetória desde os tempos coloniais, como “Devassos no paraíso: A Homossexualidade no Brasil, da Colônia à Atualidade” (1986), de João Silvério Trevisan, autor que fez parte do jornal “Lampião da Esquina”, importante publicação para a imprensa gay no Brasil, que circulou de 1978 a 1981. Outra obra da lista reúne a própria história da imprensa homossexual, além das que buscam trilhar as especificidades de cada letra dentro da comunidade.
🎧 Podcast
Grilagem e pistolagem ameaçam comunidades tradicionais de Fundo e Fecho de Pasto, especialmente no oeste da Bahia, onde o avanço do agronegócio está ligado a diversas violações. O segundo episódio da série especial “Território Vivo: O Combate às Mudanças Climáticas no Cerrado”, do podcast “Guilhotina”, produção do Le Monde Diplomatique Brasil, explica como se formaram essas comunidades e mostra como estão em risco. “Essa área é coletiva, do governo, e nos pertence há muitos anos – vem dos nossos antepassados, de avô, bisavô. Eu tenho mais de 55 anos e já conheci essas áreas desde o meu bisavô. Hoje uma boa parte das famílias está utilizando fechos de outras localidades porque foram expulsas”, conta Sandra (nome fictício), que vive em uma comunidade formada por mais de 40 famílias.
🧑🏽⚕️ Saúde
“A gente ainda fala muito pouco da questão do HIV e aids em relação à mulher, menos ainda sobre saúde reprodutiva”, afirma Jô Meneses, coordenadora de Programas Institucionais da ONG Gestos. Segundo estimativa do Índice de Estigma Brasil, de 2019, 8,9% das pessoas convivendo com o HIV afirmaram ter sido pressionadas a renunciar à maternidade ou à paternidade. O Lunetas explica que mulheres soropositivas podem ter bebês saudáveis, a partir do diagnóstico precoce e acompanhamento pré-natal. Meneses lembra também que é necessário informar sobre o HIV depois do pré-natal, “porque a conversa sobre a amamentação, por exemplo, quase não existe e é algo que vulnerabiliza as crianças para a infecção”.