O megavazamento de senhas do Google e a crise no museu sobre a Amazônia
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🔸 Depois da primeira reunião presencial com Donald Trump, Lula disse que Brasil e EUA estabeleceram uma “regra de negociação” com canal direto entre os presidentes e equipes técnicas. Segundo o brasileiro, a conversa foi “surpreendentemente boa” e abre caminho para um acordo que trate de três pontos: a revisão do tarifaço de 50% sobre exportações brasileiras, a suspensão de sanções a ministros do Supremo Tribunal Federal e ao ministro Alexandre Padilha (e sua filha), e a correção do que chamou de “informações equivocadas” usadas pelos EUA. O Jota conta que Lula também disse ter entregue uma carta a Trump durante o encontro de domingo. “Portanto, não foram apenas palavras. Ele tem um documento sabendo o que o Brasil quer, e eu acho que nós vamos fazer um bom acordo”, disse Lula. As equipes econômicas dos dois países devem se reunir nas próximas semanas para discutir os parâmetros das negociações.
🔸 Não há data definida para uma nova conversa entre Lula e Trump, mas o vice-presidente, Geraldo Alckmin, afirmou que, entre os possíveis temas para outras reuniões entre os mandatários, estão terras raras, agronegócio e data centers. O Nexo ouviu dois especialistas em política internacional para analisar o que Lula e Trump ganharam com o encontro. “Foi uma vitória só pelo fato de haver essa conversa. (...) O que importa é a volta de uma normalidade na relação entre dois presidentes de dois dos maiores países do Hemisfério Ocidental: os EUA e o Brasil”, avalia Carlos Gustavo Poggio, professor de ciência política da Berea College, no Kentucky (EUA). Para Lia Valls, professora de economia política internacional da Uerj, Trump sabe que “é importante ficar bem com o Brasil”. “É o maior país da América do Sul e a maior economia da região”, destaca Valls. Ela lembra ainda que o Brasil “tem os minerais estratégicos de terras raras, que são elementos importantes para fabricação das baterias elétricas, de outros produtos ligados à questão da transição energética e dessas transformações da era digital”.
🔸 “O jogo com Trump é longo e sujo. Para vencer, Lula terá de conseguir reduzir as tarifas e derrubar as sanções que foram impostas contra autoridades judiciais brasileiras”, escreve o analista político João Paulo Charleaux, em artigo na CartaCapital. Segundo ele, o petista ainda precisa afastar a ameaça militar dos EUA contra a Venezuela, além de refrear as agressões à Colômbia. “Não porque Maduro e Petro sejam figuras exemplares, mas porque não se pode tolerar o tipo de hostilidade que Trump vem impondo à região como um todo. Apenas se alcançar esses objetivos é que Lula de fato poderá clamar vitória e receber os louros que seus apoiadores tentam, desde já, lançar-lhe sobre a cabeça”, completa Charleaux. Para ele, qualquer “simpatia circunstancial de Trump por Lula não pode esconder o fato de que o movimento ao qual o presidente norte-americano pertence é essencialmente avesso ao que Lula representa”.
🔸 Um megavazamento expôs 183 milhões de combinações de e-mails e senhas, incluindo contas do Gmail e de outros provedores. A descoberta foi feita pelo especialista em cibersegurança Troy Hunt, criador do site Have I Been Pwned, plataforma que permite descobrir se suas senhas ou informações pessoais já foram expostas na internet. A Lupa explica que, para verificar se foi afetado pelo vazamento, o usuário deve consultar a plataforma: se o e-mail aparecer em bases comprometidas, surge o alerta “Ah, não – pwned!” e o site lista quais serviços vazaram, quando e quais dados (nome, senha, telefone, endereço, data de nascimento).
📮 Outras histórias
No Curuzu, território de resistência negra em Salvador, a rua se transforma em quintal coletivo há oito anos, desde a criação da Crianças Fest Curuzu, uma ação feita pela comunidade para as crianças do bairro todo dia 12 de outubro. O Entre Becos narra a origem da festa, idealizada pelo motorista de ônibus Jorge Ferreira Rodrigues, nascido e criado no Curuzu. Hoje com 44 anos, ele conta com o apoio da comunidade, especialmente de seus amigos, o trabalhador autônomo Ernandes das Virgens, 39, e o personal Eric Medrado, 32. “Por ter tido uma infância muito dura, sem brinquedos, sem presentes, isso me deu vontade de realizar a festa. Também quis continuar o que os antigos moradores faziam. Chamei Ian, depois Eric chegou, e a gente teve a coragem de iniciar”, lembra Jorge. Na edição deste ano, a festa distribuiu 400 brinquedos. “A população é um dos nossos principais parceiros. Sem essa união, nada sairia do papel. Todo mundo ajuda como pode. É no braço, na disposição, na vontade de ver as crianças felizes.”
📌 Investigação
Apesar de abrigar o maior acervo do mundo sobre a Amazônia, o Museu Paraense Emílio Goeldi, em Belém, só tem recursos para existir até meados de novembro, em meio à COP30. A instituição está prestes a completar 160 anos e tem uma dupla função: de museu e instituto de pesquisa. É estratégico para a produção e difusão de conhecimento sobre a maior floresta tropical do planeta. Vinculado ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, seu acervo guarda 4,5 milhões de itens tombados em 19 coleções científicas. A Sumaúma revela que o museu pode fechar as portas em 2025: em maio, a direção oficiou as dificuldades à pasta responsável. Em junho, diretores de 17 unidades de pesquisa do Brasil, por ofício conjunto, manifestaram preocupação com cortes de verba. Em setembro, reduziu o expediente. Além do aperto recorrente apenas para existir, a instituição enfrenta um déficit de profissionais, com baixa de 32% no número de servidores em 20 anos. Se forem considerados apenas os pesquisadores, a perda chega a 45%. Dos trabalhadores que estão na ativa, cerca de 30% já poderiam se aposentar.
🍂 Meio ambiente
A Refinaria de Manaus (Ream) desmatou ao menos 4 mil metros quadrados de uma Área de Preservação Permanente na Amazônia. Foram retirados da floresta buritizeiros, açaizeiros, vitórias régias e outras espécies nativas. Em novembro de 2024, a empresa obteve autorização do Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (Ipaam), órgão ambiental estadual para a manutenção da via de acesso interno da refinaria, com um aviso de que seria “expressamente proibida a supressão vegetal e intervenção em área de preservação permanente”. No mês seguinte, teve permissão para obras necessárias à estabilização de taludes e prevenção de desmoronamentos que poderiam causar rompimento de tubulações de combustíveis – também sem licença para desmatar. A Agência Nossa apurou que as coordenadas registradas nas imagens de desmatamento não equivalem aos trechos autorizados pelo Ipaam para as obras. Segundo uma fonte ouvida pela reportagem, o objetivo da empresa era expandir sua área de operação. A Ream, antes Reman, era controlada pela Petrobras e foi privatizada durante o governo Bolsonaro.
📙 Cultura
“Lutar pela preservação das florestas e dos povos indígenas por meio da arte se deu pela facilidade de acessar o imaginário e o coração das pessoas, que há muito tempo estão desconectados da chamada Natureza.” Uýra é artista indígena travesti, ativista, bióloga e educadora. Desde 2016, realiza performances, instalações e projetos audiovisuais. Seu trabalho mais recente foi a exposição “Memórias de Alagamento”, realizada no Museu de Arte Moderna de Bogotá neste ano. A mostra reuniu instalações, vídeos, gravuras, stencil e fotoperformance que exploram a água como portadora de memória, resistência e identidade indígena, denunciando a destruição ambiental e o deslocamento forçado. Segundo a Emerge Mag, Uýra já participou de mais de 50 exposições coletivas, nacionais e internacionais, e cinco exposições individuais, incluindo sua estreia no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. “A arte contemporânea indígena, como bem disse o artista e escritor Jaider Esbell, é uma armadilha para atrair curiosos. Quando eles chegam perto, nós falamos de coisas importantes.”
🎧 Podcast
“A gente está acostumado a achar que o autoritarismo é um fenômeno que ocorre no aparelho de Estado quando tem um golpe de Estado. A minha ideia é que o autoritarismo é a alma e a constituição da sociedade brasileira”, afirma a filósofa e pesquisadora Marilena Chauí. O “451 MHz”, produção da Quatro Cinco Um, conversa com a professora sobre seu livro recém-lançado “Ideologia: Uma Introdução”, uma atualização do clássico “O Que É Ideologia”, publicado na década de 1980. Chauí explica por que considera o neoliberalismo um sistema econômico totalitário, cuja lógica empresarial penetrou em todas as esferas da vida. “Quando o neoliberalismo introduz a empresa como forma de todas as relações sociais, ele produz ideologicamente o retorno ao mundo calvinista, ao mundo do empresário de si mesmo, destruído pela falta do trabalho, pelo baixíssimo salário, pelo fato de ele estar no interior de uma divisão social que lhe parece irremediável.”
👩🏽🏫 Educação
Apesar de a Lei 15.100/2025 proibir o uso de celulares nas escolas, educadores afirmam que o uso excessivo de telas ainda preocupa, com impactos na saúde mental e concentração dos estudantes. A pesquisa “Percepções sobre Tecnologias Digitais”, da Fundação Itaú em parceria com a Equidade.info, ouviu estudantes, professores e gestores de 170 escolas de todas as regiões do Brasil, entre abril e maio deste ano. O estudo revela que 76% dos professores e 81% dos gestores acreditam que os estudantes não conseguem se desconectar. Já 56% dos estudantes afirmam ter dificuldade em diminuir o tempo que passam no celular ou no computador. O Porvir reúne os dados da pesquisa e como os educadores defendem o uso crítico das tecnologias nas escolas. “Neste momento em que vivemos, é preciso buscar esse equilíbrio: como tirar proveito do que a tecnologia oferece de bom, sem cair nas armadilhas do tempo excessivo que ela pode consumir”, afirma Alan Valadares, coordenador do Observatório Fundação Itaú.




