O governo na CPI dos atos golpistas e a partida de Palmirinha
Uma curadoria do melhor do jornalismo digital, produzido pelas associadas à Ajor. Novos ângulos para assuntos do dia
🔸 Alvo de ofensivas da oposição na Câmara, o governo conseguiu costurar, por meio de Rodrigo Pacheco (PSD-MG), presidente do Senado, um arranjo que lhe garante maioria na Comissão Mista Parlamentar de Inquérito (CPMI) dos Atos Antidemocráticos. Segundo o Congresso em Foco, do total de 32 cadeiras, 17 vagas serão de governistas – oito do Senado e nove da Câmara. A semana passada foi amarga para o governo, com o adiamento da votação do PL das Fake News e, em seguida, a derrota na votação de alterações no novo marco do saneamento. A sequência de reveses, combinado com o grande volume de inquéritos em discussão no Congresso, como a CPI das Lojas Americanas ou a do MST, pode levar ao esvaziamento da comissão dos atos golpistas.
🔸 “Lula esvaziou a criação de uma CPI no calor dos acontecimentos, quando havia se formado na opinião pública um sentimento quase unânime de repúdio aos vândalos. Se fosse instalada em fevereiro, na abertura do ano legislativo, num ambiente ainda aquecido, a comissão seria um instrumento eficaz contra o golpismo.” Para Fernando de Barros e Silva, a comissão, agora, dará microfone a figuras como Damares Alves e Magno Malta, que terão plateia e holofotes para repisar o discurso bolsonarista. Em artigo na revista piauí, ele afirma: “Criar tumulto no país e fabricar material fantasioso para alimentar seus seguidores pelas redes sociais – eis dois objetivos bastante palpáveis para a extrema direita na CPI.”
🔸 Para garantir a aprovação do PL das Fake News, o deputado Orlando Silva (PC do B-SP) defendeu fatiar o texto e tirar dele o trecho sobre pagamentos a veículos jornalísticos e direito autoral. Em sua participação no Festival 3i, evento de jornalismo independente promovido pela Ajor, o relator do PL disse ainda que as empresas de tecnologia utilizaram os artigos que tratam desse tema como um “cavalo de Troia” no debate. A Lupa informa que a proposta encontra rejeição em setores de esquerda, mas também de alguns deputados do “centrão” e da oposição. O Mobile Time lembra que, no evento, o deputado reconheceu que a Anatel é a candidata com maior probabilidade de ser escolhida como órgão regulador das plataformas digitais.
🔸 A Organização Mundial de Saúde (OMS) anunciou o fim da emergência de saúde da Covid-19. Para isso, o órgão analisou a conjuntura do último ano e concluiu que a pandemia está em tendência de queda, redução da mortalidade e da pressão sobre os sistemas de Saúde. O Marco Zero explica que o fim da emergência, no entanto, não significa o fim da pandemia. Em abril, foram mais de 17 mil mortos pela doença no mundo, um nível ainda alto para ser considerada uma endemia. A reportagem ouve pesquisadores e cientistas sobre o anúncio da OMS. O imunologista Gustavo Cabral aponta para o impacto no desenvolvimento científico: “Quando estamos em uma emergência de saúde pública, o suporte e a atenção são muito maiores do que em uma situação ‘normal’. É natural que os investimentos caiam, só não pode diminuir a ponto de afetar pesquisas importantes para o combate da Covid-19”.
🔸 Há pelo menos 69 células neonazistas de três a 40 pessoas em Santa Catarina. O estado só fica atrás de São Paulo, onde foram mapeados 99 grupos. Os dados foram coletados pela antropóloga Adriana Dias em 2020. O Portal Catarinas entrevista o doutor em História Social João Klug para explicar o que caracteriza o neonazismo, sua relação com o racismo e por que há tantas células no estado do Sul. “Algumas pessoas dizem de forma explícita que aqui tem neonazistas, porque foi onde teve maior volume de imigrantes alemães. Eu diria que parcialmente isso é verdade, mas aqui tivemos também muitos alemães que combateram o nazismo e pagaram o preço por isso. (...) É uma conjuntura econômica, trabalhista, de sindicatos que nunca foram combativos, raramente o centro-esquerda teve uma projeção. Tem uma tolerância com discursos que começam em tom de piada, que tem um cunho racista, machista, misógino”, afirma Klug.
📮 Outras histórias
Todas as quintas-feiras, entre 8h e 10h, mulheres se reúnem na Primeira Igreja Batista da Rocinha. Não estão lá para liturgias, e sim para aulas de segurança e autonomia a fim de reagir quando sofrem um puxão de cabelo no bar, são empurradas numa briga ou mesmo importunadas no metrô a caminho do trabalho. O Fala Roça conta que o Programa Empoderadas está na favela da zona sul do Rio de Janeiro desde 2019. Ensina técnicas para que mulheres enfrentem e previnam a violência física e psicológica em casa, na rua e até em transportes públicos. Segundo o Instituto de Segurança Pública (ISP), no Rio de Janeiro, a cada cinco minutos uma mulher é vítima de algum tipo de violência.
O problema da adoção tardia no Nordeste. Enquanto 78,9% das crianças em unidades de acolhimento da região têm mais de 6 anos, 84,7% das pessoas com interesse em adotar (cadastrados no Sistema Nacional de Adoção) buscam crianças mais novas, que tenham até 6 anos. A Agência Tatu analisa os dados do Painel de Acompanhamento do Conselho Nacional de Justiça e mostra que o interesse na adoção diminui conforme avança a idade das crianças. Para aquelas que estão chegando perto dos 18 anos, a tensão aumenta, já que, ao atingir a maioridade, elas devem deixar as casas de acolhimento. “Como são crianças que passaram por traumas familiares, já são por si só mais sensíveis emocionalmente”, diz Álvaro Farias, coordenador geral de Acolhimento Institucional de Maceió.
📌 Investigação
Foi rápido. Uma semana se passou entre a aprovação da urgência do PL das Fake News e o adiamento da votação. O cenário que parecia favorável ao projeto logo se tornou pouco propício, pela reação das plataformas e dos grupos de direita. A campanha de desinformação segundo a qual o PL iria censurar versículos da Bíblia, por exemplo, fez a Frente Parlamentar Evangélica orientar voto contra a matéria. Das fake news à ofensiva das plataformas contra o texto, o Aos Fatos detalha os pontos principais do revés e aponta as estratégias do governo para reverter a situação.
🍂 Meio ambiente
“Se pegar um livro de educação ambiental, você vai achar lá coisas muito importantes, mas dificilmente vai achar alguma coisa que foi escrita para ou por favelas. Então, diz muito pouco sobre a realidade de quem mora em favela e periferia, sobre a relação de um morador de favela com o ambiente.” A explicação é de Carlos Alexandre Pereira, coordenador do projeto Muda Maré, que teve início em 2011 e é formado por pessoas negras, da comunidade LGBTQIA+, moradores de periferias e da Maré, complexo que abrange 16 favelas na zona norte do Rio de Janeiro. O Maré de Notícias destaca que pensar a educação ambiental a partir da perspectiva das periferias significa incluir na pauta as questões do racismo ambiental, da soberania alimentar e dos movimentos civilizatórios.
Para instalar viveiros de camarões, uma empresa desmatou uma área de manguezal perto da foz do rio São Francisco, em Brejo Grande (SE). O Ministério Público Federal obrigou a empresa a interromper o empreendimento e restaurar o trecho desmatado. Segundo o InfoSãoFrancisco, além dos danos ao meio ambiente, a implementação do negócio coloca em risco uma comunidade quilombola que ocupa o local e depende do mangue para sua subsistência. Os manguezais, aliás, são ecossistemas legalmente protegidos, definidos pelo Código Florestal como áreas de preservação permanente.
📙 Cultura
Palmira Nery da Silva Onofre sofreu violência doméstica por décadas. Quando as filhas estavam crescidas, ela deu um basta: deixou o marido e passou a fazer doces e salgados para sustentar a família. Nascida em Bauru, em 1931, ela estreou na TV em 1994, quando tinha 63 anos. Ficaria conhecida como Palmirinha logo depois de ser convidada por Ana Maria Braga para ser cozinheira fixa no programa “Note e Anote”, na Record. O NaTelinha lembra a trajetória da avó cozinheira que ficou no ar por décadas, em emissoras como TV Gazeta, Record e Band. Palmirinha morreu ontem, aos 91 anos, vítima do agravamento de problemas renais crônicos.
Para permitir shows e eventos musicais em escolas públicas, a Lei Rouanet mudou. A nova lei, sancionada na sexta-feira, inclui no texto da lei de 1991 um novo dispositivo que trata do “estímulo à participação de artistas locais e regionais em projetos desenvolvidos por instituições públicas de educação básica que visem ao desenvolvimento artístico e cultural dos alunos”. Segundo o Farofafá, a intenção de levar cultura às escolas públicas já havia sido mencionada pela ministra Margareth Menezes em visita à Cinemateca Brasileira.
🎧 Podcast
Eliza Capai teve uma gravidez desejada interrompida e costurou seu relato pessoal com o de outras mulheres que passaram pela dor da perda no documentário “Incompatível com a Vida”. O luto se agrava com os julgamentos sociais e o despreparo do poder público. A diretora participa do “Pauta Pública”, produção da Agência Pública, e mostra como a arte é saída para humanizar o debate sobre o aborto, que caminha tão lentamente no país. Segundo dados da Pesquisa Nacional de Aborto, realizada pela UnB em 2016, aos 40 anos, 1 em cada 5 mulheres no Brasil já fez um aborto.
✊🏽 Direitos humanos
Dois jovens negros, Lucas Mitrzrael Silva de Oliveira, 26 anos, e Samuel Mohamed, 27, estão presos desde janeiro acusados de participar de um “golpe do pix”. Na semana passada, familiares e amigos empunhavam cartazes no bairro da Brasilândia, na periferia da zona norte da cidade de São Paulo, com o texto: “O que está por trás da manutenção da prisão de Lucas e Samuel é o racismo do Estado dos ricos”. Os dois não foram reconhecidos pelas vítimas nem portavam objetos roubados. A Ponte destrincha o caso e destaca que familiares têm imagens de uma câmera de segurança provando que os dois estariam em uma adega na hora do crime.