Os números da violência no país e o hip hop nas Olimpíadas de Paris
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🔸 Mais de 80% dos mortos em ações policiais em 2023 eram pessoas negras. A taxa de mortalidade dos negros é 3,8 vezes maior do que a de brancos. As informações estão no 18o Anuário Brasileiro de Segurança Pública, lançado ontem. Embora o índice de mortes violentas intencionais – homicídios, latrocínios e lesões corporais seguidas de morte – tenha caído 3,4% no país, a taxa de 22,8 mortes por 100 mil habitantes ainda é alta. “No Brasil vivem aproximadamente 3% da população mundial, mas o país responde por cerca de 10% de todos os homicídios cometidos no planeta”, diz Renato Sérgio de Lima, presidente do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. A Alma Preta destaca que houve aumento de todas as formas de violência contra a mulher. Os registros de stalking (perseguição) aumentaram 34,5%, e os de importunação sexual, 48,7%. Os feminicídios cresceram 0,8%. Nesses casos, as mulheres negras são mais de 60% das vítimas.
🔸 A cada seis minutos uma mulher foi estuprada no país em 2023. Com 83.988 registros, trata-se do maior número da série histórica, que começou em 2011. Desde então, os casos de estupro cresceram 91,5%. A Paraíba Feminina informa que, do total de registros, 76% correspondem ao crime de estupro de vulnerável – quando a vítima tem menos de 14 anos. Roraima e Rondônia são os estados com mais casos registrados. Já a Paraíba é o que apresenta o menor índice do país.
🔸 O município mais violento do país é Santana, no Amapá. São 92,9 registros de mortes violentas por 100 mil habitantes, índice quatro vezes maior que a média nacional. De 2022, quando a cidade ocupava a 31 posição no ranking, para 2023, a violência explodiu, com aumento de 88,2% do indicador. A CartaCapital traz a lista das dez cidades mais violentas do país. Apesar de Santana liderar o ranking, a Bahia é o estado que concentra mais municípios na lista, segundo o Anuário de Segurança Pública.
🔸 A Secretaria de Segurança Pública de São Paulo mudou as regras para afastar policiais suspeitos de cometer crimes. “Sem alarde, sem comunicado à imprensa e sem divulgação no Diário Oficial”, como escreve o repórter João Batista Jr. na revista piauí. Ele teve acesso a um boletim interno segundo o qual só quem poderá tirar um policial das ruas é o subcomandante da PM, José Augusto Coutinho. Antes, comandantes regionais podiam afastar e solicitar investigação de militares envolvidos em ocorrências graves. Agora, eles precisam apresentar provas ou indícios para justificar a medida. “Essa nova mudança é muito grave, mostra o secretário [Guilherme Derrite] incidindo de forma política dentro da polícia”, avalia Cláudio Aparecido da Silva, ouvidor da PM de São Paulo.
📮 Outras histórias
Letícia Ferreira de Pinho tem apenas 25 anos e já está fazendo história. Mulher preta e periférica, ela é narradora esportiva. É uma exceção no ofício majoritariamente masculino e, como ressalta a Agência Mural, “ainda que a presença de mulheres brancas cresça no jornalismo esportivo, o número de mulheres negras com o mesmo destaque e reconhecimento é bastante restrito”. Moradora de Carapicuíba, na Grande São Paulo, ela se formou em jornalismo na Universidade Estadual de São Paulo (Unesp) em 2022 e, no ano seguinte, já começaria a narrar esportes. Já foi locutora de partidas de vôlei, basquete e futebol. Para ela, o destaque na carreira foi a narração do Paulistão Feminino de 2024, de uma partida do Realidade Jovem contra o Pinda Ferroviária.
📌 Investigação
Após reproduzir o clássico do samba brasileiro “Brincadeira tem Hora”, na versão de Zeca Pagodinho, o algoritmo do Spotify passou a recomendar as músicas seguintes ao programador Vinícius Ferreira. Entre as faixas indicadas, estavam pagodes com conteúdo de negacionismo eleitoral, com afirmações falsas, como de que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), institutos de pesquisa e o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), teriam “apoiado” Lula nas eleições presidenciais de 2022. Segundo o Intercept Brasil, a recomendação feita pelo algoritmo chama a atenção principalmente porque o Spotify, em maio de 2022, firmou com o TSE uma parceria para combater a desinformação eleitoral. Um assessor de imprensa da empresa afirmou à reportagem que a plataforma “revisou o conteúdo das músicas mencionadas” e optou pela manutenção das faixas em seu serviço.
🍂 Meio ambiente
O empresário João Vita Fragoso avançou irregularmente sobre uma área da União no Pontal de Maracaípe, em Ipojuca, em Pernambuco, e ergueu um muro de 576 metros de extensão, construído com o uso de máquinas pesadas numa área ecologicamente sensível, de manguezal e desova de tartarugas marinhas. Na primeira reportagem da série “Por Trás do Muro de Maracaípe”, a Marco Zero destrincha o caso e traz relatórios do Ibama e da Secretaria de Patrimônio da União (SPU) sobre a execução da obra, que apontam ao menos 11 problemas identificados, dos quais seis são classificados como irregularidades e cinco como infrações ambientais. Segundo o Ibama, a barreira causa impactos na dinâmica costeira, impedindo o depósito de sedimentos na parte alta da praia, necessário para evitar a erosão em épocas de ondas mais fortes.
📙 Cultura
Um dos cinco elementos da cultura hip hop, o breaking estreia como modalidade esportiva na Olimpíada de Paris, na próxima semana. Embora o Brasil ainda não tenha um representante na disputa, o b-boy e professor na zona leste de São Paulo Igor Teixeira é um dos palestrantes do Festival 24, organizado pelo Comitê Olímpico Internacional (COI) para falar a chefes de Estado sobre a valorização do esporte e das culturas urbanas. A Periferia em Movimento narra a trajetória de Igor, que sobreviveu às ruas quando criança, passando por diversos abrigos, onde conheceu o estilo de dança. “No abrigo, a gente sempre tinha a hora de ficar tranquilo lá, vendo MTV e outras coisas. Eu ficava olhando, assistindo [os vídeos de breaking] e eu gostava das batidas, né? E aí eu vi que a gente tinha talento pra isso!”, lembra.
🎧 Podcast
Quase cinco anos após a tragédia socioambiental do derramamento de óleo no litoral do Nordeste, há uma série de perguntas sem respostas, sobretudo porque as investigações foram encerradas em um ano e sem apontar responsáveis. O turismo foi afetado, pescadores ficaram sem sustento e animais morreram sufocados pelas manchas. O “Ciência Suja”, produção da NAV Reportagens, analisa o que ficou de lição sobre esse episódio, como a ciência pode se preparar para evitar que novos crimes ambientais desse tipo aconteçam e como as populações mais afetadas foram assistidas.
💆🏽♀️ Para ler no fim de semana
“Eu via várias deficiências, como a necessidade de falar sobre cannabis e menstruação, cannabis e endometriose, por exemplo”, afirma Ágata Cabral, fundadora da Pink – Headshop & Sexcare. Para ela, o mercado da maconha (feito por homens e voltado para homens) não atendia às necessidades das mulheres. Embora a legislação brasileira ainda seja proibicionista para o uso recreativo da planta, o mercado medicinal e de cosméticos avança com mais rapidez. O Nós, Mulheres da Periferia mostra como mulheres periféricas buscam se inserir nesse setor e os desafios encontrados. “É um mercado perfeito para pessoas brancas e ricas, de preferência do sexo masculino; nunca foi inclusivo”, relata a empreendedora Natalia Ferreira, criadora do Mundo Fankukies, empreendimento em que produz biscoitos canábicos com fins terapêuticos.