Os números do ensino superior e os robôs baseados em criminosos reais
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🔸 A saída de Nísia Trindade do Ministério da Saúde gerou críticas de especialistas, políticos e servidores públicos. A 8M, coletivo de profissionais da Fundação Oswaldo Cruz, pediu mais respeito às mulheres em posição de poder. O ex-ministro José Temporão classificou a demissão como “cruel”. “Uma perda significativa, por várias razões”, disse o Paulo Capel Narvai, professor titular sênior de Saúde Pública na USP. O Outras Palavras analisa a demissão da ministra, lembra que ela assumiu a pasta em situação difícil e, ainda assim, retomou alguns dos principais programas de outros governos, como o Farmácia Popular. Sua gestão também foi alvo de críticas, sobretudo durante a epidemia de dengue. Os desafios da pasta estão agora com Alexandre Padilha, que assume o cargo. Médico, doutor em Saúde Coletiva e deputado federal pelo PT, “ele é um político calejado e um administrador público competente”, avalia Narvai. “Mas, contra o centrão, ninguém nunca está suficientemente blindado”, completa.
🔸 A parcela de brancos com ensino superior é mais que o dobro da registrada entre pretos e pardos. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou ontem informações do Censo de 2022 da Educação. Nos últimos 22 anos, o número de pessoas pretas com ensino superior completo, com 25 anos ou mais, saltou de 2,1% para 11,7%. Já entre as pessoas pardas, o percentual foi de 2,4% para 12,3%. O Notícia Preta detalha os dados que apontam a maior presença de pretos e pardos na área de serviço social – a menor está em medicina. O levantamento também aponta que 40,5% da população preta e 40,1% da parda têm apenas ensino fundamental incompleto, contra 29,2% entre brancos.
🔸 O número total de brasileiros com ensino superior completo triplicou nas últimas duas décadas: foi de 6,8% em 2000 para 18,4% em 2022. No ranking de dez áreas definidas pelo IBGE, os cursos mais populares são relacionados a negócios, administração e direito. As graduações em tecnologia ocupam o 8º lugar. O TI Inside destaca que o número reforça a preocupação com a baixa oferta de profissionais qualificados em tecnologia, apontada no Relatório Futuro dos Empregos 2025, do Fórum Econômico Mundial. A demanda por especialistas em big data, IA e machine learning cresce rapidamente, e estima-se que 59% da força de trabalho global precisará de requalificação até 2030. O Distrito Federal tem a maior proporção de graduados em tecnologia, seguido por São Paulo e Amapá. No outro extremo, Maranhão e Bahia apresentam as menores taxas.
🔸 Um quilombo enfrenta uma rotina de medo no Tocantins. Na semana passada, fazendeiros incendiaram uma casa na comunidade quilombola de Rio Preto, que fica no município de Lagoa do Tocantins. Este não foi o primeiro ataque ao território, revela a Alma Preta. As ações violentas começaram em 2023, quando outro incêndio destruiu residências. Naquele ano, a comunidade foi certificada pela Fundação Cultural Palmares. Os fazendeiros, no entanto, ainda reivindicam parte do território. “Eles já fizeram ameaças pessoalmente contra nós. Tivemos casas queimadas, roças destruídas, residências demolidas com trator, estradas bloqueadas”, afirma uma liderança quilombola moradora da região.
🔸 O Supremo Tribunal Federal (STF) vai decidir se a Lei da Anistia se aplica a crimes como sequestro e cárcere privado cometidos durante a ditadura militar. A decisão terá repercussão geral, ou seja, servirá de referência para casos semelhantes. O Congresso em Foco explica que o julgamento em questão envolve três processos sobre o desaparecimento forçado do ex-deputado Rubens Paiva, do jornalista Mário Alves e do militante Helber Goulart. O Ministério Público Federal contesta decisões que arquivaram as ações contra os acusados com base na Lei da Anistia.
📮 Outras histórias
Rosilda de Oliveira Souza aprendeu o ofício do bordado na escola. Tinha sete anos, e os pontos eram ensinados nas aulas de arte das instituições ligadas à Fundação Ruralista, em Dom Inocêncio, no Piauí. No começo, Rosilda bordava para ajudar no orçamento da família. À medida que se aprimorou, levou o bordado para exposições em outras cidades e estados. O Meus Sertões conta que ela foi de aprendiz à monitora da fundação, cargo que ocupou por dez anos. O ponto-cruz lhe rendeu eletrodomésticos, a mobília da casa onde mora e reconhecimento. A reportagem lembra que o trabalho das bordadeiras da Fundação Ruralista foi considerado um dos melhores bordados do mundo em um congresso de artesanato da Unesco, em 1983. Mas as escolas foram municipalizadas, e o ensino com linha e agulha deixou de ser obrigatório cinco anos depois. Rosilda, por sua vez, ainda borda. Já fez um quadro de Nossa Senhora com Jesus, de 90 cm de altura por 70 cm de largura. Foram cinco meses bordando.
📌 Investigação
Plataforma que utiliza inteligência artificial para simular conversas com personalidades reais ou fictícias, a Character AI hospeda chatbots que emulam pessoas que promoveram tiroteios em escolas. Na ferramenta, amplamente usada por jovens, os usuários podem criar personagens interativos para entretenimento, aprendizado e até suporte emocional. O Núcleo identificou, no entanto, 151 robôs relacionados a oito atiradores escolares nos Estados Unidos, Brasil e Rússia. Sem controle de verificação de idade, não é necessário perguntar sobre crimes ou violência aos robôs que simulam os atiradores, eles mencionam massacres e propagam discurso de ódio por conta própria, segundo os testes feitos pela reportagem. O homem que inspirou um dos personagens matou nove pessoas, mas sua descrição na plataforma o apresenta apenas como “quieto”.
🍂 Meio ambiente
A manutenção da existência do caranguejo-uçá, típico da culinária do Norte e Nordeste e atrativo para os turistas, depende do respeito ao defeso, período de proteção ao ciclo reprodutivo do animal: de 30 de dezembro a 3 de abril, é proibido pescar o caranguejo. A Eco Nordeste conta como funciona a Caravana do Defeso, iniciativa da Secretaria do Meio Ambiente da Bahia e do Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos. O projeto percorre municípios da Baía de Todos-os-Santos e do Baixo Sul do estado para fortalecer o diálogo com pescadores, marisqueiras e comunidades tradicionais sobre a preservação dos ecossistemas costeiros. “Se não houver conservação, essas espécies podem se extinguir, afetando diretamente os pescadores e marisqueiros que delas dependem”, afirma Francisco, o Chico do Gelo, diretor de pesca do município de Valença.
📙 Cultura
“Quando vi aquele boneco gigante, achei muito bonito. No outro dia de manhã, já comecei a tentar fazer um boneco com um caixão de tomates, colocava uma meia e tentava imitar”, afirma Carlos Alberto Fernandes da Silva, o Carlos da Burra, que carrega um dos principais símbolos do Carnaval de Olinda em seus braços – o Calunga do bloco Homem da Meia-Noite. O Nonada narra a história do segurador do boneco de quatro metros e cerca de 50kg e resgata a trajetória do Homem da Meia-Noite, patrimônio vivo de Pernambuco desde 2006. “A gente está com o peso, mas parece mágica, quando chega na rua e vê o pessoal batendo palmas, aplaudindo a gente, eu penso que desaparece aquele peso, porque vem tanta energia. Eu gosto muito de ver as pessoas felizes com o que faço”, diz Carlos.
🎧 Podcast
“Existem algumas unidades de conservação na região que nos mostram uma vegetação frondosa que perde as folhas no período seco e retoma o verde no período chuvoso, que é a coisa mais linda de se ver da Caatinga”, afirma a jornalista Maristela Crispim, que cobre o bioma há mais de 30 anos. O “Bê-á-bá Biomas”, produção d’O Eco, mergulha em dados sobre biodiversidade, os serviços ecossistêmicos, as ameaças e as soluções socioambientais dos biomas brasileiros. Com características distintas, das árvores centenárias da Amazônia aos campos abertos do Pampa, eles têm em comum o avanço da destruição ambiental.
👩🏽🏫 Educação
Ao mesmo tempo em que reduziu o número de docentes nas escolas municipais, a Prefeitura de São Paulo começou o ano letivo com quase 94 mil estudantes dentro do programa São Paulo Integral. A iniciativa pretende aumentar o tempo de permanência dos alunos nas escolas. Segundo a Periferia em Movimento, diretores e professores afirmam que o programa tem sido implementado sem diálogo com a comunidade escolar e sem a estrutura necessária. Diversas unidades seguem com dois ou três turnos de aula – um deles com turmas na modalidade integral. “Se eu quero ter uma escola de educação integral que configure um bom atendimento, não posso ter escola de turno. E estamos falando de um processo de anos, não algo pra ontem ou pra amanhã”, afirma a professora Priscila Kodama, do Fórum de Educação Integral para uma Cidade Educadora e do Conselho Consultivo do Centro de Referências em Educação Integral.