O novo subtipo do vírus HIV e quem ganha com o imposto zero da carne
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🔸 Pesquisadores descobriram um novo subtipo do vírus HIV circulando no Brasil. A nova variante apareceu em amostras de sangue de pessoas soropositivas do Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro e Bahia, segundo estudo da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). A Agência Bori explica que o subtipo resulta da combinação genética dos tipos B e C do HIV, que são prevalentes no Brasil. “Nosso estudo mostrou que as variantes encontradas nas diferentes regiões geográficas são descendentes de um mesmo ancestral. Assim, é possível especular que ela já está amplamente disseminada no país”, afirma Joana Paixão Monteiro-Cunha, autora da pesquisa. Outros estudos precisam ser feitos para avaliar, por exemplo, diferenças na transmissibilidade. Também ainda não existem evidências de que a nova variante exija mudanças nos tratamentos existentes.
🔸 Falando em ciência… O interesse pela pós-graduação no Brasil está em queda. Números da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) mostram que 21% das vagas de mestrado e 25% das vagas de doutorado ficaram ociosas em 2020. Nos anos seguintes, também houve queda no número de alunos nesses cursos. O Nexo explora as causas e consequências do desinteresse dos estudantes na pós-graduação, lembra que a pandemia teve impacto nisso e destaca a falta de reajuste nas bolsas de pesquisa entre 2013 e 2022. A incerteza sobre emprego depois do doutorado também distancia os recém-formados da pós.
🔸 Em julho, o agronegócio do Brasil comemorou o título de maior exportador de algodão do mundo, superando os Estados Unidos. A expansão da monocultura por aqui se dá principalmente no Cerrado, mas, ao contrário de soja e milho, o algodão ganha outro status, com selo de “sustentabilidade” atribuído a ele por produtores e certificadores internacionais, como a Better Cotton, com sede na Suíça. “Entretanto, um cultivo em monocultura com uso intensivo de fertilizantes e agrotóxicos, com expulsão do trabalhador do campo e sem beneficiar as comunidades locais não pode ser chamado de sustentável, já que viola os princípios básicos deste conceito”, escreve Yamê Reis, em artigo na Carta Capital. Socióloga e embaixadora Fashion Revolution Brasil, ela destaca que a Better Cotton afrouxou o rigor de protocolos de auditoria e aprovação de registros de produtores em nome do lucro.
🔸 Falando em agro… Quem se beneficia com o imposto zero sobre a carne? Embora a princípio a medida pareça favorecer a todos, a resposta aponta em outra direção. O Joio e O Trigo conversou com especialistas e, segundo eles, a alíquota zero representa uma vitória do agronegócio. A medida beneficia os mais ricos e, de quebra, pode prejudicar o meio ambiente. O economista Eduardo Fleury sintetiza a questão: “Em princípio, se fala: ‘ótimo, as pessoas mais pobres vão poder comprar carne com alíquota zero’. Mas qual o problema? Quando vemos o perfil de consumo das famílias, os 10% mais pobres consomem pouca carne. Já os 10% mais ricos gastam muito mais com consumo de carne”. A defesa do imposto zero também não passou sem o lobby do agro, com entidades como a Associação Brasileira de Frigoríficos (Abrafrigo), que reúne gigantes do setor como Marfrig e Masterboi.
📮 Outras histórias
Quarenta famílias vítimas das enchentes no Rio Grande do Sul corriam risco de despejo do antigo Hotel Arvoredo, em Porto Alegre, que passaram a ocupar depois do desastre climático sem precedentes no estado. O Matinal conta que foi só na última sexta-feira que as vítimas receberam a notícia de que poderiam lá permanecer. O Supremo Tribunal Federal (STF) suspendeu a reintegração de posse do edifício, que havia sido expedida pelo Tribunal de Justiça do Estado (TJRS) no dia 14 de agosto. “Para evitar prejuízos maiores às dezenas de famílias que já se encontram fragilizadas pela catástrofe climática, e levando em consideração a possibilidade de solução administrativa do conflito pelo Ministério da Reconstrução, entendo que o deferimento da liminar é medida que se impõe”, escreveu o ministro Gilmar Mendes na decisão.
📌 Investigação
Recorrentes, acusações falsas contra os Guarani-Kaiowá da Terra Indígena (TI) Panambi-Lagoa Rica, no Mato Grosso do Sul, incitam a população a reagir contra as comunidades. A Agência Pública teve acesso a um relatório do Ministério Público Federal que mostra que as “autorreintegrações” no estado viraram rotina e constituem um cenário em que milícias armadas rurais têm sido organizadas pelos proprietários rurais e efetivamente empregadas para promover ataques a grupos indígenas. Segundo o Conselho Indigenista Missionário (Cimi), os ataques ocorridos no início deste mês na TI, que deixaram 11 indígenas feridos, foram motivados por desinformação. Na ocasião, corria a informação de que os Guarani-Kaiowá haviam retomado mais áreas do que as delimitadas pela Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai).
🍂 Meio ambiente
Focos de incêndios detectados na MG-010, rodovia estadual de Minas Gerais, se espalharam pelo Vale do Espinhaço, atingindo unidades de conservação, como a APA Morro da Pedreira e o Parque Nacional da Serra do Cipó. Este, por sua vez, foi fechado para visitação devido ao fogo, que durava cerca de uma semana e saiu de controle na madrugada dessa segunda. “Atearam mais fogo e parece que fizeram isso da estrada mesmo”, relata um brigadista. O Projeto Preserva detalha ainda que unidades de conservação estaduais, como o Parque Estadual Serra do Brigadeiro, na Zona da Mata, também foram atingidas. As chamas atingiram a porção sul do parque – uma área de Mata Atlântica restaurada –, e outros incêndios já estão na zona de amortecimento na porção norte.
📙 Cultura
“Investigar a diáspora africana, o Brasil colonial e a escravidão me fez entender com mais profundidade os meus ancestrais e me afeiçoar deles. A negritude se fortaleceu em mim. Saquei realmente de onde vim e para onde desejava ir.” A escritora Ana Maria Gonçalves escreveu um clássico da literatura brasileira sobre a escravidão – “Um Defeito de Cor” – e levou cinco anos para fazê-lo. Os dois primeiros se centraram apenas na pesquisa, que, ao fim, levaria à bibliografia com 52 livros. A revista piauí perfila a autora, mostra como ela escreveu a obra e por que se tornou um clássico – que virou enredo no desfile da Portela, uma das mais tradicionais escolas de samba cariocas, e norteia uma exposição homônima no Sesc Pinheiros, em São Paulo.
🎧 Podcast
De volta ao Brasil, o Manto Tupinambá é testemunha do genocídio indígena, praticado desde a invasão europeia até hoje. Os Tupinambá foram um dos primeiros povos encontrados pelos europeus no litoral brasileiro. A série “genocídios.BR”, do “Guilhotina”, podcast do Le Monde Diplomatique Brasil, narra a história do artefato, confeccionado com penas de guará vermelho há mais de 300 anos, sua importância para o povo Tupinambá e como ele simboliza as violações sofridas pelos indígenas. “A gente não considera como um objeto, mas como um ancestral. Ele tem uma espiritualidade. A gente está entendendo um fio da história que não foi contada. O manto foi feito por mãos de mulheres, que também o portavam. Até então, a história narrada é sempre voltada para o patriarcado, para a versão masculina, nunca feminina”, afirma a antropóloga e liderança indígena Glicéria Tupinambá, conhecida como Célia Tupinambá.
👩🏾🏫 Educação
Acesso a livros, contação de histórias, teatro de fantoches e aulas com músicas são algumas das estratégias utilizadas por educadoras e coletivos para aproximar as crianças do universo da literatura e promover uma educação de qualidade no ensino infantil nas periferias de Salvador (BA). A Entre Becos visitou algumas das unidades com atividades dinâmicas e destaca os impactos positivos dessas práticas na educação. “A oralidade fica mais rica, elas comentam ou recontam a história, que é importante. Quando trago um personagem com o cabelo encaracolado ou crespo, escuto: ‘parece com o cabelo da pró, parece com o meu cabelo’. A construção da identidade da criança é uma habilidade conquistada, a autonomia dela também”, afirma a professora Dayse Lordelo, da creche e pré-escola Primeiro Passo, no bairro de Cassange. A matéria é resultado das Bolsas de Reportagem “A Primeira Infância como Pauta Prioritária”, promovidas pela Associação de Jornalismo Digital (Ajor) e pela Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal.