O novo inquérito contra Eduardo Bolsonaro e a partida de Preta Gil
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🔸 Em nova decisão ontem, o ministro Alexandre de Moraes proibiu Jair Bolsonaro (PL) de divulgar entrevistas nas redes sociais sob pena de prisão. Segundo o magistrado, o uso desses artifícios para divulgar informações em redes sociais seria burlar as medidas cautelares determinadas na última sexta-feira, quando o ex-presidente passou a usar tornozeleira eletrônica. O Metrópoles informa que, pela nova decisão, Bolsonaro está proibido de divulgar entrevistas – em vídeo, áudio ou texto – na internet, mesmo que por meio de perfis de aliados ou terceiros. A escalada se deve principalmente à atuação de Eduardo Bolsonaro (PL-SP) nos Estados Unidos. Segundo a Procuradoria-Geral da República, foi ele quem articulou a pressão sobre o Judiciário brasileiro e contribuiu para o tarifaço imposto por Donald Trump ao país.
🔸 A propósito: Eduardo Bolsonaro é suspeito de ter antecipado informações sobre o tarifaço a aliados no mercado financeiro. A Advocacia-Geral da União pediu ao Supremo Tribunal Federal (STF) que investigue se houve uso de informação privilegiada para lucrar com a alta do dólar – uma operação de até US$ 4 bilhões horas antes do anúncio oficial da sobretaxa, em 9 de julho. Em coluna na Agência Pública, Natalia Viana explica que a investigação apura se Eduardo e o blogueiro Paulo Figueiredo, que se reúnem com figuras próximas a Trump, como Steve Bannon, repassaram a informação a empresários. “Se Eduardo e Figueiredo tiveram acesso a essa informação e contaram para alguém, o entendimento da Justiça brasileira pode ser que esse movimento financeiro faz parte de uma campanha internacional para pressionar o STF”, escreve a jornalista. Ontem à tarde, segundo o Jota, Alexandre de Moraes atendeu ao pedido da AGU e abriu uma investigação sobre as operações suspeitas no mercado de câmbio.
🔸 Uma ex-lobista das big techs está por trás da investigação dos EUA contra o Brasil. O documento usado por Trump foi redigido por Catherine Gibson, advogada do escritório Covington & Burling, um dos maiores escritórios de advocacia do país, que representa empresas como Meta, Microsoft e OpenAI. O Intercept Brasil revela que, agora no governo dos EUA, Gibson criou o arquivo em PDF cujo conteúdo mira regulações brasileiras sobre redes sociais, o Pix e até o comércio informal da 25 de Março. O pedido de investigação foi feito pelo presidente republicano na mesma carta em que anunciou a tarifa de 50% sobre produtos brasileiros. A atuação da advogada levanta suspeitas de conflito de interesse e de que big techs estejam por trás das medidas de Trump. Segundo a reportagem, o Covington defende a Meta em mais de 2 mil processos e já a assessorou nas compras do WhatsApp e do Instagram. A ofensiva acontece semanas depois de o STF decidir que plataformas digitais podem ser responsabilizadas por conteúdos de usuários, derrubando parte do Marco Civil da Internet.
🔸 Enquanto isso, no Congresso… a oposição definiu suas prioridades para o segundo semestre: a aprovação da anistia aos envolvidos nos atos de 8 de janeiro (na Câmara) e o impeachment do ministro Alexandre de Moraes (no Senado). O Congresso em Foco conta que os parlamentares fizeram o anúncio após reunião do PL em defesa de Bolsonaro. Além da anistia, outro foco da Câmara será a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 333/2017, aprovada no Senado, que prevê extinção do foro especial por prerrogativa de função nos casos de crime comum. Hoje, 60 parlamentares respondem a processos no STF.
📮 Outras histórias
Na Rocinha, um mês após o incêndio que destruiu barracas e lojas na Feira Mix da Via Ápia, feirantes ainda enfrentam prejuízos e dificuldades para retomar o trabalho. “Não sobrou nem um cabide. Parei para contabilizar o prejuízo dos produtos queimados e perdi em torno de R$ 12 mil”, lamenta Samia Soares Karam, 37 anos, que saía da Pavuna, na zona norte do Rio de Janeiro, com um carrinho de supermercado até a favela da zona sul para vender vestidos. O Fala Roça mostra como estão os feirantes depois da tragédia. “Fiquei muito traumatizada. Perdi toda a minha mercadoria exposta e também a do estoque. Roupas, ferros, cabides, toda uma vida de trabalho foi perdida”, conta Raquel Queiroz, 41 anos, que vendia seus produtos na feira da Rocinha desde 2020. O incêndio, que atingiu também um trailer e uma farmácia, é um dos 18 registrados na favela em 2025.
📌 Investigação
Gerador de vídeos artificiais hiperrealistas do Google, o Veo 3 vem sendo usado para disseminar teorias da conspiração, discursos de ódio contra minorias e desinformação no TikTok. O Núcleo analisou hashtags relacionadas ao Veo 3 na rede social e mostra que os vídeos acumulam milhões de visualizações, além de não deixarem claro que o conteúdo foi gerado por IA. Os conteúdos usam também deepfakes políticos misturados com misoginia. Um vídeo deepfake da primeira-dama Rosângela Silva, conhecida como Janja, circulou recentemente no Reddit e TikTok. No vídeo artificial, ela afirma que “acabou de chegar de Paris e já pegou um UberFAB para ir ao ginecologista. O bom é que eu tenho qualquer avião da UberFAB ao meu dispor e não preciso pegar transporte público que nem você”, fazendo referência ao avião da Força Aérea Brasileira.
🍂 Meio ambiente
Espécie endêmica da Caatinga e ameaçada de extinção, 162 araras-azuis-de-lear morreram eletrocutadas ao redor da Reserva de Canudos, na Bahia, nos últimos seis anos. O número corresponde a 7% de toda a população existente da espécie – cerca de 2.300 animais, segundo o último censo, em 2022. O levantamento foi realizado pelo projeto Jardins da Arara de Lear, cujos próprios ornitólogos e zoólogos encontraram a solução técnica para o problema: isolar os transformadores e aumentar a distância entre um cabo e outro, evitando que as aves encostem em dois fios simultaneamente. A Marco Zero conta que, em 2022, a Neoenergia/Coelba, empresa responsável pela rede elétrica na região, começou a fazer as modificações, e o efeito foi imediato, com a queda de mortes de 46 (2022) para 28 (2023). No entanto, a empresa alterou apenas os ramais indicados como prioritários, deixando os cabos elétricos das regiões vizinhas sem a proteção adequada.
📙 Cultura
Mulher preta e bissexual, Preta Maria Gadelha Gil Moreira, conhecida como Preta Gil, defendeu ao longo de sua vida a liberdade dos corpos, atuando como uma voz na luta contra o racismo, a gordofobia e a LGBTQIA+fobia. Filha do músico Gilberto Gil com Sandra Gadelha, sobrinha de Caetano Veloso e afilhada de Gal Costa, cresceu cercada pela música e pela efervescência da geração Tropicália. A artista lançou seu primeiro álbum em 2003 e era presença marcante em carnavais com seu tradicional Baile da Preta e em programas de televisão que celebravam a cultura popular brasileira, além de atuar como empresária no campo do marketing de influência e na gestão de talentos. O Mundo Negro revisita a trajetória de Preta Gil, que morreu no domingo, aos 50 anos, em decorrência de um câncer no intestino que a acometia desde janeiro de 2023.
🎧 Podcast
No recém-lançado livro “Só Bato em Cachorro Grande, do Meu Tamanho ou Maior”, a escritora Cidinha da Silva reúne 81 lições de vida e formação política que aprendeu com Sueli Carneiro ao longo de quase quatro décadas de convivência com a filósofa. Carneiro é uma das principais referências do feminismo e do movimento negro no Brasil e fundadora do Geledés Instituto da Mulher Negra. Em conversa com a educadora Bel Santos Mayer no “451 MHz”, produção da Quatro Cinco Um, Cidinha fala sobre a obra e sua amizade com Carneiro. “Esse livro me libera de uma responsabilidade grande, porque é um livro que eu precisava fazer e entregar como presente para Sueli pelos seus 75 anos de vida. É também um ponto de chegada e coroa um período grande de trabalho: ano que vem completo 20 anos de carreira literária.”
✊🏾 Direitos humanos
O número de tiroteios por disputas entre grupos armados nas regiões metropolitanas de Recife, Salvador e Rio de Janeiro aumentou 36% no primeiro semestre deste ano, com 253 registros, contra 186 no mesmo período em 2024. Ao todo, 108 pessoas foram mortas e 64 ficaram feridas. No ano passado, foram 80 mortos e 60 feridos. Relatório do Fogo Cruzado esmiúça os dados nas três regiões: em Pernambuco, foram mapeados 18 tiroteios motivados por disputas entre diferentes grupos, em 2024 foi apenas um. Já no Rio de Janeiro, mais da metade dos 154 confrontos mapeados está concentrada no Morro dos Macacos, Complexo do Fubá, Catiri e Complexo do Juramento. Por fim, na Bahia, o número de tiroteios se manteve estável, mas houve uma alta de 26% no número de baleados nas disputas territoriais. O número de crianças e adolescentes atingidas também cresceu – foram 21 baleados no último semestre, contra 11 na primeira metade de 2024.