O novo alvo do agronegócio e a autora brasileira mais lida do país
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🔸 Em quase 22 anos, o Brasil registrou 5 milhões de focos de queimadas, segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). A Agência Lupa analisa os dados e mostra que quase metade dos focos entre 2003 e 2024 se concentrou nos estados do Pará, Mato Grosso e Maranhão. Em média, por ano, foram 231,2 mil queimadas, mas esse número foi impulsionado nos primeiros anos da série histórica (de 2003 a 2007). Desde então, os registros anuais têm ficado abaixo da média – o que pode mudar em 2024, já que, em apenas nove meses, o país já contabilizou 198,1 mil queimadas. Ao longo de todo o período analisado, a cidade de São Félix do Xingu, no Pará, responde por 2,2% de todos os focos documentados no país. Em seguida, estão Corumbá (MS), Porto Velho (RO), Altamira (PA) e Novo Progresso (PA).
🔸 O Brasil tentou adiar, mas a União Europeia decidiu manter a lei antidesmatamento para a data prevista: a regulamentação será implementada a partir de 30 de dezembro de 2024. O Eco conta que o governo brasileiro enviou carta à cúpula da UE em que afirmou que a lei é “unilateral e punitiva” e ainda viola as regras multilaterais de comércio. Organizações da sociedade civil brasileira criticaram a postura do governo Lula. “É inadmissível que, com o país inteiro em chamas e às portas da COP30, autoridades do governo brasileiro se comportem como porta-vozes de parte de um setor da economia bastante implicado na perda de biodiversidade”, declarou, em nota, o Observatório do Clima. De acordo com a nova regulamentação, importadores europeus de uma série de commodities, como carne, soja, couro e madeira, terão de garantir que nenhum produto produzido em área desmatada (legal ou ilegalmente) entre no mercado europeu.
🔸 O Rio Negro, em Manaus, está prestes a alcançar a marca da seca histórica de 2023, quando atingiu 12,7 metros de profundidade. O Amazonas Atual informa que, apenas entre domingo e segunda, o nível da água desceu 17 centímetros. A descida já indica, segundo especialistas, uma nova seca recorde. “As descidas estão muito acentuadas em Manaus e, se continuar com essa média de descida de 19 cm por dia, em uma semana poderemos ultrapassar a marca histórica – que é de 12,70 metros registrada em 2023”, estima Artur Matos, coordenador nacional dos Sistemas de Alerta Hidrológico do Serviço Geológico do Brasil (SGB).
🔸 Apesar dos efeitos extremos da crise climática, o país deve cortar verbas para a transição energética em 2025, segundo relatório do Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc), divulgado ontem. A CartaCapital lembra que a mudança de fontes tradicionais de energia (os combustíveis fósseis) para outras mais sustentáveis está na lista de ações necessárias para atenuar os efeitos da crise. O relatório aponta uma redução de quase 18% no orçamento previsto para transição energética em 2025 em relação a 2024. “Enquanto o Plano Plurianual estabelece como meta promover a participação de energias renováveis, aumentar a eficiência energética e ampliar a capacidade de adaptação às mudanças climáticas, o orçamento revela um cenário contraditório: parte significativa dos recursos está sendo alocada para sustentar a indústria de combustíveis fósseis”, avalia Cássio Cardoso Carvalho, assessor político do Inesc.
📮 Outras histórias
Para os moradores da Lomba do Pinheiro, um dos bairros mais populosos de Porto Alegre, a prefeitura abandonou a região. Lideranças comunitárias afirmam que lá, onde vivem mais de 50 mil pessoas, falta o básico: água, energia, saneamento básico, acesso à educação. No especial “Raio-X das Periferias”, o Sul21 ouve as demandas de quem mora e enfrenta os problemas do bairro. “A falta de água, no verão, é o ponto mais horroroso. Estar fazendo 35 graus e não ter água para beber, não ter como tomar um banho, é um descaso muito grande com a comunidade”, diz Geisa Farias, coordenadora da cozinha solidária Esmeralda. Os moradores reclamam também do transporte público precário e da falta de opções de lazer na região.
📌 Investigação
Com crescimento de 339% nos registros desde 2015, os bioinsumos são o novo alvo dos grandes produtores rurais e da indústria química. Os caminhos de regulamentação dos produtos biológicos, como cepas de bactérias, leveduras e fungos, no entanto, fizeram a bancada ruralista divergir. O Joio e O Trigo mergulha no interesse do agronegócio pelos bioinsumos e revela como o debate sobre a multiplicação desses materiais feita no estabelecimento rural – conhecida como “on farm” – tem dividido as gigantes do setor de agroquímicos e os latifundiários. Enquanto a indústria quer que o produtor multiplique apenas o material genético comercializado, o produtor quer acesso às cepas e às tecnologias necessárias para multiplicar os microrganismos, com a possibilidade de compra direta de bancos genéticos. Por fim, os pequenos produtores, que já utilizam o método, ficam excluídos das decisões políticas – e podem ser prejudicados pelas exigências da regulamentação.
🍂 Meio ambiente
Por meio do esporte, a iniciativa Muiraquité mobiliza a população de Bragança (PA) para a proteção ambiental na região que marca o encontro das águas doces da bacia do rio Caeté com o Oceano Atlântico. A Amazônia Vox mostra como a organização usa o esporte, como canoagem e vela, para construir uma nova percepção sobre o meio ambiente e o papel das pessoas na conservação. “Quando você consegue entender essa conexão da água, da natureza com o esporte, você passa a viver e se sentir parte dessa natureza”, conta o professor Ubiratan Pinheiro, um dos fundadores da Muiraquité. Ao lado de Moisés Abbade, ele realiza projetos educativos com as comunidades locais para promover a preservação dos mangues amazônicos da região.
📙 Cultura
“Não sou uma autora de composição. Não tenho caderno nem nada mapeado. Deixo a história fermentar dentro de mim e, na medida em que escrevo, aprendo sobre cada personagem”, afirma Carla Madeira, escritora brasileira mais lida do país. Autora de “Tudo é Rio”, “A Natureza da Mordida” e “Véspera”, que somam cerca de 840 mil exemplares vendidos, ela é um dos destaques da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), entre 9 e 13 de outubro em Paraty (RJ). Em entrevista à Quatro Cinco Um, a escritora fala sobre seu quarto romance, feito a partir da dor do luto: ela perdeu a amiga e sócia Simone Moreira, em fevereiro de 2023. “Levei um ano me recusando a ouvir a história que estava em minha cabeça. No auge da minha dor, quando perdi Simone, passei a escrever, pensando em como uma criança lidaria com a morte.”
🎧 Podcast
Por trás do conflito entre os moradores da vila de Dois Rios, em Angra dos Reis (RJ), e a Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), existem interesses que não se relacionam com a garantia de moradia da comunidade. Há, por exemplo, um fio que liga a história à família Bolsonaro. O último episódio da minissérie “Dois Rios”, da “Rádio Escafandro”, produção da Rádio Guarda-Chuva, destrincha as desavenças locais que podem estar em um grande emaranhado de interesses políticos e econômicos, com possibilidades de abrir contratos para parcerias público-privadas, concessões privadas e especulação imobiliária para o turismo. O próprio ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) já havia citado que tinha pretensão de transformar a região na “Cancún brasileira”.
🙋🏾♀️ Raça e gênero
Apesar de a lei que combate a violência política de gênero ter sido aprovada em 2021, 58% das prefeitas brasileiras em exercício afirmam já ter sido vítimas de violência política de gênero, e 66% afirmam ter sido alvo de ataques, ofensas e discurso de ódio nas redes sociais, segundo o Monitor da Violência Política de Gênero e Raça, do Instituto Alziras. Foram registrados mais de 170 casos entre 2021 e 2023. A revista Afirmativa destaca que assédio em ambiente institucional, deslegitimação de candidaturas e impedimento no exercício do poder são algumas das faces da violência política de raça e gênero. “A forma que mulheres, pessoas negras e LGBTQIAP+ são expostas e levadas ao máximo em sua autodefesa demonstra o requinte de crueldade do sistema político”, afirma Thânisia Cruz, presidente da Elas no Poder, organização que busca aumentar a participação de mulheres na política.