A nova previsão de cheias no RS e o descarte de plástico no país
Uma curadoria do melhor do jornalismo digital, produzido pelas associadas à Ajor. Novos ângulos para assuntos do dia
🔸 Com chuvas volumosas no fim de semana, rios voltaram a subir no Rio Grande do Sul. Em Porto Alegre, o Guaíba pode enfrentar uma cheia ainda maior que a da semana passada, segundo Instituto de Pesquisas Hidráulicas (IPH) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). O Agora no RS destaca que, segundo os pesquisadores, o pior momento deve ocorrer entre hoje e amanhã, quando as águas dos rios contribuintes chegarão à capital gaúcha. O nível do Guaíba, então, pode chegar a 5,5 metros, superando os 5,35 metros registrados no último dia 5. Com o solo encharcado e as bacias hidrográficas sobrecarregadas, a cheia deve ser também mais rápida do que a da semana passada. A Defesa Civil confirmou ontem 143 mortos desde o início das chuvas.
🔸 Apenas sete das 23 estações de bombeamento de águas pluviais que formam o sistema de drenagem de Porto Alegre estão em funcionamento. O Matinal informa que as outras 16 foram desligadas por riscos de choque elétrico. Doutor em recursos hídricos e integrante do IPH, o professor Fernando Dornelles explica que a melhora no alagamento da capital depende do funcionamento das bombas – o que deve demorar. Isso porque algumas delas estão cobertas por mais de dois metros de água. “O que eu vejo de perspectiva, para baixar a água, só quando o nível do Guaíba descer”, afirma Dornelles.
🔸 O frio deve agravar os problemas no estado. As temperaturas caem a partir de hoje e podem chegar a 5ºC na região metropolitana e abaixo de zero nas serras do sudeste gaúcho. Não por acaso parte do valor arrecadado pelo Pix SOS Rio Grande do Sul será usado para a compra de 30 mil cobertores. Mas, como explica o Sul21, o foco da campanha segue na entrega de dinheiro diretamente nas mãos das vítimas das enchentes, para que definam o uso de acordo com suas necessidades. Um comitê gestor dos valores doados decidiu que cada família contemplada receberá R$ 2 mil. Até sábado, a conta havia arrecadado mais de R$ 93 milhões.
🔸 Em 30 anos, mais que triplicou o número de desastres em decorrência das chuvas no Rio Grande do Sul. A última década concentra quase a maioria (48,4%) do total de desastres no período monitorado. Os dados são do Atlas Digital de Desastres no Brasil. A Agência Lupa revela ainda o custo dos eventos extremos por causa das chuvas nos últimos 20 anos no estado, além dos municípios mais atingidos. Já o Metrópoles apurou que, quando se considera o número de atingidos, o desastre no Rio Grande do Sul lidera a lista de cinco maiores catástrofes causadas pelas chuvas no Brasil nos últimos dez anos – o desastre no estado foi mais grave que os de Petrópolis, Pernambuco, Minas Gerais e São Sebastião.
🔸 “Enquanto não se entender a relevância da adaptação, essas tragédias vão continuar acontecendo, cada vez piores e mais frequentes”, afirma Suely Araújo, coordenadora de Políticas Públicas do Observatório do Clima. O Colabora mostra que parlamentares gaúchos e gestores, mesmo depois das chuvas de 2023, não deram prioridade à prevenção. De um total de R$ 83 bilhões de orçamento, o governo e a Assembleia Legislativa do estado aprovaram R$115 milhões para ações climáticas e apenas R$ 50 mil para a Defesa Civil.
🔸 Em meio ao desastre no Sul, o Congresso derrubou vetos de Lula ao PL do Veneno. Agora, o registro será centralizado no Ministério da Agricultura, uma demanda da bancada ruralista. O Congresso em Foco explica que os produtos não passarão mais pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e pelo Ibama, órgãos que avaliariam os riscos à saúde e ao meio ambiente.
🔸 O Maranhão tem 31 cidades em estado de alerta por causa das chuvas intensas que ocorrem no estado desde abril. Mais de mil famílias estão desabrigadas e quase 3.000 desalojadas. O governador do estado, porém, minimiza o problema. A Alma Preta conta que, nas redes sociais, Carlos Brandão (PSB) reconhece que municípios estão em estado de calamidade, mas nega que existam pessoas desabrigadas por causa do volume de chuvas.
📮 Outras histórias
Quando começou o próprio negócio, Maria Casciana de Araújo, de 42 anos, deixava a filha mais velha cuidando do mais novo para poder trabalhar. Ela mantém um trailer de bebidas na Praça do Parque União, uma das favelas que formam o Complexo da Maré, no Rio de Janeiro. Lá, segundo o Censo de Empreendimentos da Maré, publicado pela Redes da Maré em 2014, cerca de 40% dos empreendimentos são administrados por mulheres. O percentual é próximo dos registrados pelo estado do Rio de Janeiro. O data_labe lembra que a diferença está no recorte racial: a cada dez mulheres que são donas de negócios e operam estabelecimentos comerciais como loja, escritório, entre outros, apenas quatro são negras.
📌 Investigação
Uma propriedade do fazendeiro Bruno Heller é considerada pela Polícia Federal como um dos maiores pontos de desmatamento da Amazônia, com mais de 6,5 mil hectares destruídos entre Novo Progresso (PA) e Altamira (PA). A InfoAmazonia apurou que a família Heller já foi multada 26 vezes pelo Ibama por infrações ambientais nos dois municípios, além de Itaúba (MT). A maioria das autuações estão relacionadas a danos à flora, classificadas como desmatamento ilegal. Juntos, cinco integrantes da família somam dez embargos, de 2003 a 2021. Segundo a PF, é possível que as propriedades localizadas no Pará sejam de Bruno Heller, apesar de estarem registradas em nome de familiares, que seriam seus “laranjas”. Uma delas fica ao lado dos limites da Terra Indígena Baú, em Altamira, onde avançam atividades agropecuárias, exploração de madeira e de mineração.
🍂 Meio ambiente
As recicladoras de plásticos no país enfrentam cenários de ociosidade de até 40% da capacidade instalada. Dados da Associação Brasileira da Indústria do Plástico (Abiplast) indicam que a produção do setor, em 2022, alcançou 6,7 milhões de toneladas, mas apenas um quarto foi para a reciclagem. O problema se torna ainda maior quando é contabilizada a quantidade do material que chega às praias e ao Oceano Atlântico – anualmente são 325 mil toneladas, segundo o relatório “Um Oceano Livre de Plástico”. O Eco detalha as soluções possíveis para a cadeia do plástico no Brasil, como repensar os modelos de produção e consumo e criar uma regulação que incentive a reciclagem pós-consumo.
📙 Cultura
Em áudio: a crítica literária Ligia Gonçalves Diniz e o historiador Júlio Pimentel Pinto afirmam que atualmente há pouco espaço para a imaginação do leitor dentro das narrativas, calcadas sobretudo na experiência. O “451 MHz”, produção da Quatro Cinco Um, recebe os profissionais para tratar da construção imaginativa provocada pelos livros, o papel da crítica literária hoje e a produção da autoficção. Eles também compartilham suas referências como leitores. “Fui formada por uma série de romances e poemas escritos por homens, tratando de experiências masculinas e, por meio desse processo, vivi a experiência desses homens, calcei os sapatos deles. A vida da leitora mulher é meio ambivalente”, conta Diniz.
🎧 Podcast
A memória de um povo é também a possibilidade de continuidade da vida com seus saberes e suas identidades. Mas isso acaba por ser um direito garantido apenas às classes privilegiadas. O “Cena Rápida”, produção do Desenrola e Não Me Enrola, conversa com José Eduardo, um dos responsáveis pelo Acervo da Laje, espaço de memória artística, cultural e de pesquisa sobre o Subúrbio Ferroviário de Salvador (BA), e com Adriano Sousa, historiador e pesquisador do Centro de Pesquisa e Documentação Histórica Guaianás, que preserva movimentos sociais e culturais ligados a quatro bairros da zona leste de São Paulo. O episódio mostra como as iniciativas atuam para documentar e valorizar a história dos territórios periféricos e seus moradores.
💆🏽♀️ Raça e gênero
“Como uma mulher indígena, ter filho é um meio de resistência nesse sistema em que a gente não é muito bem aceito e sofre preconceito”, afirma Walela Soeikigh Paiter Bandeira Suruí, do Paiter Suruí, que vive na Terra Indígena Sete de Setembro, em Rondônia. “Na minha cultura, a criança é um ser protegido que vai virar guerreiro de forças”, completa. A revista AzMina narra como mulheres, das florestas às periferias dos grandes centros urbanos, educam seus filhos para criar melhores possibilidades de futuro e adiar o fim do mundo diante da emergência climática, do racismo e de diversos tipos de violência.